Diferenças escrita por Shinoda Yuuka


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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— Você é irresponsável! Continua agindo feito criança, mesmo depois de tudo o que passamos. Quando é que vai crescer, Masamune?

Poderia parecer um sermão vindo de um pai rígido e rabugento, mas não era bem isso. Date Masamune olhou com desdém para o homem que lhe repreendia, sentindo o sangue ferver. Como ele podia lhe tratar daquela maneira por causa de uma besteira? Depois de tudo o que passaram.

Shit! — resmungou em inglês, como de costume. — Esse é o problema com gente velha! — E saiu do cômodo, batendo a porta com força.

Treze anos: aquele era o tamanho da diferença de idade entre Masamune e seu namorado, Katakura Kojuro. No começo do relacionamento, quando tudo era novo e muito excitante, Masamune pensava que a enorme diferença de idade era apenas um número. Gostavam-se tanto, que aquele fato era inteiramente irrelevante. Mas na prática, não era bem assim. Com o passar dos anos, ambos foram percebendo que o “gostar” não era suficiente para manter um relacionamento estável. As diferenças começaram a pesar, e as brigas vieram como consequência.

No primeiro aniversário de namoro, Kojuro queria viajar com Masamune. Sugeriu ir passearem na cidade de Oshuu e visitar as antiguidades. Era daquele tipo de coisa que Katakura gostava, ambientes tradicionais do Japão. Gostava de falar de épocas que não viveu, enaltecer os ancestrais e os grandes líderes das eras passadas. E para Masamune, aquela era a maior ladainha. Qual o sentido em enaltecer essas coisas velhas? O jovem Date gostava mesmo era da cidade grande e suas atrações, suas luzes e influência de outros países. Era isso que queria em seu primeiro aniversário de namoro: viajar para Tóquio pela primeira vez. Andar de motocicleta, frequentar shows de rock e comer porcarias.

Graças a isso, a primeira grande briga dos dois aconteceu. A partir daí, elas passaram a ser frequentes. O relacionamento parecia estar por um fio. Como resolver aquela situação? Masamune temia que a solução fosse o término definitivo do namoro com o homem mais velho.

Conhecia-o desde criança. Kojuro trabalhava para o seu pai na empresa antes que ela falisse. Tinha 10 anos quando esse fato ocorreu, e todo o seu mudo mudou desde então. Perderam a casa e o dinheiro, e precisaram se mudar para o interior. Já não bastasse a situação financeira estar no limite, Masamune teve o infortúnio de ter contraído uma doença que lhe roubou a visão do olho direito. A situação da família parecia desesperadora, porém as coisas começaram a melhorar quando Kojuro e seus pais passaram a ajudar os Date. Deram emprego para os pais de Masamune e ofereceu cuidar do menino quando estavam fora.

Kojuro agia como um irmão mais velho, e o pequeno Masamune o adorava. Mesmo sendo criança, conseguia ver o que aquele “nii-san” estava fazendo por ele e sua família. Era imensamente grato, principalmente por ele lhe fazer companhia a todo o tempo. Kojuro era gentil na mesma medida em que era rígido. Era inteligente e o ajudava na escola. Sabia cozinhar todo o tipo de comida, desde almoços tradicionais, a sobremesas estrangeiras. E quando Masamune tinha medo, Kojuro estava lá, oferecendo um abraço. Ele era seu companheiro, e desejou estar sempre ao seu lado.

Sete anos se passaram. A situação da família Date havia finalmente mudado, graças aos Katakura. Não tinham tanto dinheiro como antes, mas possuíam o suficiente para voltarem a morar na cidade grande. No dia da mudança, Masamune chorou. Já era um rapaz de dezessete anos, porém chorava como um bebê. Ele não queria mais ir embora. Criara tantas memórias naquela cidade, ao lado de Kojuro. Seu coração adolescente estava ferido, principalmente por ter descoberto mais sobre si mesmo. O amor de irmão que nutria pelo Katakura havia se transformado em paixão. Não queria ficar longe dele. Não podia.

“Não chore, Masamune-sama” Kojuro havia o abraçado forte, como sempre o fazia. “Você será muito feliz na cidade. Vai andar de moto nas estradas, como sempre quis.” Masamune soluçava alto, agarrando-se ao corpo robusto. Como seria feliz sem aqueles braços lhe apertando? Era ali onde era feliz, com o rosto afundado no pescoço cheiroso. Não conseguia se imaginar vivendo sem ele por perto. Quem iria abraça-lo quando acordasse assustado no meio da noite? Quem iria dizer que era bonito, mesmo usando um tapa-olho? Gostava de ver o rosto irritado de Kojuro quando Masamune fazia algo irresponsável; a cicatriz na bochecha esquerda parecia até maior nesses momentos. “Eu vou morrer sem você, Kojuro” desabafou finalmente, escondendo ainda mais sua face. Estava vermelho até as orelhas, ficando mais envergonhado ao lembrar que seus pais e os pais de Kojuro estavam vendo a cena. Mas nada disso iria impei-lo de dizer o que estava sentindo. “Por favor, não me deixe ir. Meu lugar é aqui.” Masamune queria que apenas Kojuro entendesse aquela confissão. Ao romper o abraço, viu o rosto radiante do homem mais velho. Ao ver aquele sorriso, Masamune percebeu que Kojuro havia compreendido o significado de suas palavras.

Masamune não se mudou para a cidade grande com os pais. Preferiu ficar no conforto do campo, morando na mesma casa onde cresceu, junto a Kojuro. Não demorou muito para que eles percebessem que estavam muito mais do que apaixonados: eles precisavam um do outro. Começaram a se relacionar depois de poucos meses morando juntos.

Depois, bom, já se sabe o que aconteceu. Divergências, brigas e mais brigas...

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Masamune ao lembrar-se do que passou ao lado de Kojuro. Como tudo isso foi acontecer?

— Masamune-sama...

Um arrepio cortou o braço do jovem Date. Aquela voz grossa dizia o seu nome de forma respeitosa, como em muito tempo não acontecia. O tom doce e gentil voltou a estar presente na fala do namorado, e isso somado às lembranças, quase fez Masamune desmoronar.

— O que quer, ossan? — perguntou, forçando a voz até ela sair. Limpou os olhos rapidamente e se virou para Kojuro. — Veio me chamar de criança de novo?

— Desculpe.

O único olho visível do jovem Date cresceu em surpresa diante da fala.

— O que disse? — Masamune recuou. Kojuro nunca se desculpava, mesmo quando sabia estar errado.

— Eu, Kojuro, não devia ter chamado você de criança. Sei mais do que ninguém o quanto você amadureceu. Foi errado tratá-lo assim.

— Somos diferentes, Kojuro — desabafou o jovem, sentindo as lágrimas voltarem aos seus olhos. — Não é só a idade. Temos gostos e perspectivas praticamente opostas... Talvez seja por isso que brigamos tanto.

As palavras saíam embargadas, reforçando seu desgosto. Estava decidido a terminar aquele impasse. Não aguentava mais aquelas brigas constantes. Masamune reforçou em sua mente todas as frases relacionadas ao quão sofrido aquele namoro havia se tornado. Tinha dizer que precisavam seguir seus caminhos e acabar de vez com aquela dependência. Era isso, o que exatamente eles sentiam: aquela necessidade de ter o outro próximo não era paixão, e sim dependência. Respirou fundo e abriu a boca para falar, sendo interrompido imediatamente por um beijo inesperado.

Normalmente, os homens da família Katakura não agiam impulsivamente. Eram sábios e pensavam antes de agir, imaginando todas as consequências que uma ação poderia desencadear. Contudo, naquele momento, Kojuro agiu antes que pudesse raciocinar. Não conseguiu suportar ouvir aqueles absurdos saírem da boca de Masamune, por isso, resolveu beijá-la. Sem receio, sem delicadeza; apenas um beijo rápido e violento, por assim dizer.

— Por favor, não diga mais nada — implorou Kojuro. Abraçou o namorado com toda a força e intensidade possível. — Já sei o que quer dizer, então não o faça...

— Kojuro... — Masamune sussurrou contra o peito largo, inspirando o perfume forte que ele usava.

Masamune achava aquilo estranho. Mesmo após situações desgostosas como as brigas feias que o casal tinha, Kojuro sempre vinha abraça-lo. Desde bem novo, sempre era confortado por Katakura por meio de um abraço forte e apertado. Quando estava envolvido naqueles braços, o jovem Date esquecia-se de seus problemas. Só ali, naqueles braços, o rapaz conseguia afastar os pensamentos ruins, fazendo com que apenas coisas positivas passassem por sua cabeça. Aquele abraço era como uma luz calorosa, vasta e acolhedora.

— Eu vou morrer sem você, Masamune. — A frase soou familiar. O tom era suplicante e choroso, como o de alguém que sentia dor. — Por favor, não me deixe. O meu lugar é aqui.

As lágrimas correram novamente pelo rosto jovial de Date Masamune. Mas apesar disso, ele sorria. Aquela frase era exatamente a mesma que dissera a Kojuro no dia em que seus pais se mudaram. Havia finalmente entendido que iria cometer um equívoco há pouco.

Masamune era jovem, selvagem e aventureiro. Gostava de motocicletas, shows de rock e de fazer barulho. Kojuro era mais velho, tradicional e um homem do campo. Gostava de caminhadas, cuidar da horta e de silêncio. Eram diferentes, porém, muito parecidos. E era isso que Masamune havia se esquecido; da maior semelhança entre eles.

Eles se amavam.

— Meu lugar é aqui — repetiu Masamune, afastando o rosto do peito de Kojuro para poder olhá-lo nos olhos. — Em seus braços.

Não importava quantas diferenças aqueles dois tinham, pois elas eram sim irrelevantes. Afinal, havia algo que possuíam em comum.

— Eu te amo.

Confessaram em uníssono, reforçando que sentiam exatamente a mesma coisa. Não era dependência, ou paixão. A maior semelhança era lugar que mais amavam estar: nos braços um do outro.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e até a próxima!