Quadros e Pincéis escrita por sabrinavilanova


Capítulo 6
Capítulo Seis - Carmen Sandiego entra em ação


Notas iniciais do capítulo

Olá, seres humanos, como vão?
Faz o que? Meses da última postagem? Eu sinto muito não ter conseguido avisar como nos outros sites (a postagem de apenas avisos na história não é permitida), mas fui acometida com um horrível bloqueio criativo relacionado diretamente a Quadro & Pincéis. Mas estou aqui hoje, depois de uma alta de inspiração para trazer para vocês o último capítulo de apresentação de personagens.
Eu sinceramente espero que gostem. Até mais!



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Segurou o livro com mais força, respirando fundo ao mudar o peso do corpo de um pé para o outro. O entusiasmo era gritante em seu olhar, tanto que qualquer pessoa que passasse por ali, poderia comparar a expressão no rosto do homem com a de uma criança logo após ganhar um doce. Aquela era uma edição em capa dura muito bonita de um dos livros que mais gostava. Os dedos pararam sobre o título em alto relevo, "O Quarto em Chamas" era o nome, um livro bom demais para o que as críticas costumavam espalhar por aí.  

Daichi não podia negar a sua admiração pelo autor, ele era muito bom no que fazia. Aquele livro tinha um grande valor para si, aquela história… havia sido uma das melhores que havia lido na vida. A forma como o escritor construía as personagens pouco a pouco e desenvolvia o enredo de forma estupenda, atentando-se aos sentimentos e sensações de cada um ali. Sawamura conseguia sentir e entender as personagens. A descrição das cenas era algo que nem sabia como falar! Empregando os pensamentos e opiniões de Saiyuri e Nakugami, sempre com aquele quê de crítica a como todos levavam a vida.

O Daichi de 25 anos agradecia por aquilo e o de 28 também. 

Sawamura sabia bem que já não era mais adolescente e ainda mais que vivia na época das péssimas decisões, mas não exatamente das aventuras, mesmo que realmente gostasse da ideia. Ele agora tinha que trabalhar para pagar contas, para se alimentar, para poder ir para onde quisesse. Precisava de dinheiro para pagar seus cafés de sábado a tarde e os livros que gostava de comprar. 

Porém, ao mesmo tempo, sentia um grande peso por não conseguir se adaptar a vida adulta. Tinha certeza que não fora feito para aquilo. Não era criança e também não era adulto, não se sentia assim, mesmo que tivesse obrigações e toda aquela carga de responsabilidade que se esperava de um homem daquela idade.  

Depositou o livro novamente na estante, decidido de que não compraria aquela edição, já que tinha outras duas em casa. Girou os calcanhares, preparando-se para sair dali, mas antes disso notou os olhos caramelo olhando-o atentamente, observando cada movimento que fazia. Sorriu de forma gentil para o rapaz, mas não esperou para ver o sorriso que recebeu em contribuição, apenas abriu a porta de vidro e saiu do estabelecimento. 

― Hora de cumprir obrigações ― pensou alto ao sentar em sua moto e colocar o capacete. Hora de viver a vida.

 

oOo

 

Bateu as mãos duas vezes como se houvesse acabado de terminar o trabalho do dia, mesmo nem tendo começado, na realidade. A porta do estúdio estava aberta, o que era de se estranhar para um dia frio como aquele, quando a maioria dos estabelecimentos estavam a portas fechadas com o aquecedor em todo o seu desespero e clientes mais desesperados ainda pelo inverno congelante. 

Muitas pessoas não conseguiam se dar bem com o frio, ele sabia. E por isso se perguntava o porquê de aquela porta estar aberta. Não demorou muito para obter a resposta, já que a voz de Nishinoya se fez presente em alto e bom som. Daichi riu, já esperando o que viria a seguir. 

Kuroo estava inexplicavelmente ácido naquele dia. Inexplicavelmente significava que o rapaz estava dois pontos acima de sua média de acidez por palavra. Era engraçado ver (ouvir) a forma como aqueles dois tontos agiam, pareciam duas crianças discutindo pela coisa mais aleatória possível. Mal sabia como haviam saído da puberdade.

Daichi conhecera Kuroo há cerca de cinco anos, quando o rapaz ainda estava  cursando a faculdade. Era estranho pensar na trajetória deles até ali. Principalmente levando em conta a forma como seu relacionamento se desenrolou (anotação mental: nunca beber whisky com Kuroo na noite de ano novo, você pode acabar na cama dele, pelado, de manhã), mas o tatuador gostava de como a amizade havia se desenvolvido com o passar do tempo. Até porque aquele moleque com idade mental de seis anos era para quem gritava quando dava seus festivais de insegurança. E se Tetsuro era bom em alguma coisa, essa coisa era dar conselhos. 

As botas de couro bateram duas vezes o chão, apenas para chamar a atenção dos dois presentes ali. E Daichi quis rir ao ver a expressão exagerada de surpresa na face de Noya, ele era sempre espalhafatoso demais, mesmo que a situação não precisasse de tanta agitação. 

― O que você tá fazendo aqui? ― começou Kuroo, em um tom raivoso. ― Eu não te disse para ir descansar? 

― Não preciso descansar. ― Daichi jogou a cabeça para o lado ao sorrir ladino com a expressão de fúria fingida que seu amigo lhe lançava. Não deu muita atenção ao fato de que Nishinoya não tinha dito uma palavra sequer até aquele momento, só se concentrou em fechar as portas de vidro e tirar imediatamente a jaqueta que usava, sentindo assim o calor advindo do aquecedor ligado. 

― Não precisa é o caralho! Você tava delirando de febre ontem, duvido que você não esteja morrendo aí. ― Revirou os olhos. ― Folgas existem para descanso, não para voltar ao trabalho e foder com sua saúde. 

― Que amigo mais preocupado eu tenho ― debochou, pegando a máscara no bolso. ― Você não precisa se preocupar, sabe disso, não sabe? 

― Ele tá certo, Daichi-san. Era melhor ter ficado em casa, nem tem movimento por aqui hoje ― falou Nishinoya, com um olhar entristecido.

Tsc, se não tem movimento, por que não começamos a limpar as coisas? Um lugar agradável é um lugar limpo, minha mãe sempre diz isso. 

Kuroo bufou ao seu lado, recusando-se silenciosamente a fazer parte do que ele chamaria de “palhaçada”, Daichi tinha certeza que era o que ele estava pensando naquele momento. Era verdade que suas mãos ainda estavam um pouco geladas pela temperatura fora dali, os dedos coçavam um pouco e o nariz ardia, assim como os olhos, marejados pelo ar seco, mas o ânimo para trabalhar era o mesmo de sempre. E Tetsuro sabia que não era uma opção ficar parado, sabia, porque já tinha visto aquilo acontecer. 

― Noya, o que acha de um café? ― Daichi perguntou em um tom despretensioso, numa tentativa falha de aliviar a tensão no ar. Nishinoya mandou-lhe um olhar questionador, como se o perguntasse que ele estava de brincadeira consigo. ― Ah, vamos, eu pago se você for comprar. 

― Você é um desgraçado, sabia? ― Kuroo falou, ainda deitado na maca do outro lado do estúdio. ― Não precisa ir, Yuu, tem café na cafeteira. Você, se veio trabalhar, pare de ser um vadio preguiçoso, não jogue suas responsabilidades para os outros, irresponsável. 

― Uh! ― Noya soltou, deixando uma risada escapar. A irritação de Tetsuro sempre era animadora para qualquer um que o conhecia, já que todos sabiam que aquilo não passava de um drama muito mal feito. ― Parece que nosso felino está irritado, Daichi-san. 

― Será que deveríamos ligar para Kenma para acalmar o animalzinho dele? ― debochou. 

― Pelos deuses, se querem me chamar de gatinho, me deem uma coleira antes, seus filhos da puta. 

― Rosna mais, querido, rosna ― destoou Daichi, sorrindo atrás da máscara hospitalar branca que havia comprado pela manhã. ― Mas, sério, eu tô bem. Não se preocupe. 

― Você tem um péssimo senso de autopreservação. Mas saiba que se você desmaiar aqui, eu não te levo para o hospital, entendido? 

― Entendido, capitão. ― Ele riu, prestando uma continência. ― Agora, vamos começar? Que temos para hoje? 

― Já disse, limpeza ― falou, sem que voltasse a olhar para o amigo. Apesar de não demonstrar o mínimo de preocupação, Kuroo fervia por dentro. Só queria que Sawamura fosse embora logo, que parasse de ser um idiota uma vez na vida. Só que aquilo era uma tarefa quase impossível quando se tratava do rapaz tatuado. Tetsuro pensava, por vezes, que aquelas pequenas irresponsabilidades eram a forma mais sutil de Daichi tentar se matar, já que não era possível que o rapaz não tivesse o mínimo senso de responsabilidade para saber o momento de parar. E aquilo era o que mais o preocupava.

Escutou seu nome ser chamado em um tom baixo por Yuu, que agora sentava em uma das poltronas espalhadas pelo estúdio. A expressão cabisbaixa e o morder do lábio inferior já lhe diziam que o assunto era o mesmo que fora interrompido pela chegada de Daichi. E aquilo não deixou o tatuador nada contente. Odiava discutir sobre a vida dos outros quando não fazia parte da confusão. Mas aquela era a questão, a confusão de Oikawa o envolvia, assim como a Sugawara, a Tobio e a Kenma. Envolvia todos eles a partir do momento em que as coisas ficavam muito estranhas. 

Porque, enquanto Tooru se escondia, eles tinham que se mostrar, tentando fazer o mínimo de presença na vida dele, mesmo sabendo que Oikawa não queria. Oikawa nunca queria, aquele era o problema. Talvez o maior de todos. E aquilo o deixava inquieto, impaciente, Kuroo não sabia o que fazer, ficava a ver navios, esperando o momento em que seu ex-namorado fosse procurá-lo. Que ele, ao menos, tentasse falar, para que Tetsuro pudesse entender. Entretanto, tudo era uma bagunça na mente de todos eles, algo que não tinha um gosto bom, o gosto da bagunça era amargo. E o homem de cabelos pretos e tatuagem de gato não tinha o mínimo prazer em tê-lo na boca. Preferia emergir no doce aroma de certos cabelos loiros, na tentativa de encontrar um espaço, mínimo que fosse, para si. Pena que a vida era injusta demais para que pudesse fazer isso.

A sessão de sussurros de Nishinoya foi interrompida pelo leve soar do aparelho telefônico em seu bolso. Era a música do jogo favorito de Kenma, que havia ficado em sua mente de tanto vê-lo jogar. Sorriu ao ver o nome na tela, seu namorado não costumava ligar muito, talvez aquilo devesse deixá-lo preocupado, porém, ao contrário disso, sentiu a alegria aquecer o corpo. Porque amava a voz de Kozume, naquele tom baixo e entediado, costumeiro dele. 

Mas descobriu que estava completamente errado, a preocupação deveria ser o sentimento da vez ali. Deveria confiar mais em seu instinto. Já que as merdas estavam acontecendo a todo o tempo, não seria naquele momento que lhe dariam uma folga. Precisava ir para casa, precisava sair dali e se apressar.  

E mais, precisava comprar urgentemente um maço de cigarros. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do capítulo? Me deixem saber o que vocês estão achando da história, okay? Obrigada pela leitura, até o próximo capítulo!



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