V E N U S - Origin escrita por badgalkel


Capítulo 14
1.13 Faíscas




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Seus olhos seguiram a luz vagarosamente da esquerda para a direita, conforme seu médico havia solicitado. Fora necessária duas vezes consecutivas para que ele tomasse nota.

— Sabe me dizer o seu nome, querida? – Perguntou o doutor, fazendo com que a tensão impregnasse por toda a sala à espera da resposta.

Harriet limpou a garganta e respondeu com a voz nítida: - Chefe de Cirurgia, engenheira, química e Ph.D. em física Harriet Annabel Walter Stark. Filha de John Walter Stark e Giulia Genevieve Brown. Irmã de Howard Anthony Walter Stark, proprietário das Indústrias Stark, organização voltada a fornecer armas...

— Tudo bem, é o suficiente. – Interrompeu-a rindo. Todos os que assistiram respiraram aliviados. – Sabe me dizer o ano em que estamos?

— Acredito que seja 1942, se eu não permaneci em coma por meses. – Pronunciou ás risadas, completamente consciente.

— Certo. – O médico sorriu. – Consegue me dizer a última coisa a qual se lembra?

Harriet franziu o cenho e refletiu por um determinado tempo. Suas lembranças estavam bagunçadas e distorcidas. Era difícil ordena-las.

Por fim, abriu a boca algumas vezes antes de informar: - Acredito que esta informação seja confidencial até mesmo para o senhor, doutor. Contudo, posso revelar que houve uma explosão no laboratório qual eu trabalho e eu estava muito próxima do maquinário.

O profissional sorriu e deu duas batidinhas no topo da cabeça da jovem.

— Está funcionando perfeitamente.

— Obrigada, doutor. – Agradeceu vendo-o se afastar e dar espaço para as três figuras ansiosas se aproximar. – Oi gente.

— Mal posso acreditar. – Soprou Peggy. – É mais forte que pensei, pequena Stark.

— Não é uma pancada na cabeça que vai me desestabilizar. – Ela riu, deixando os outros desconfortáveis.

Afinal, não fora apenas uma pancada na cabeça. Não mesmo.

— Claro, o sangue dos Stark é forte. – Desconversou Howard.

— Olhe só para você! – A jovem saltou do leito, pegando todos de surpresa, enquanto rodeava um atônito Steve. – Da última vez que nos vimos você era pouco menor que eu e olha só...

— É! – Ele riu de leve. – Você, Erskine, Coronel Philips, Peggy e Howard fizeram um belo trabalho.

— Falando em Erskine, como foi a sua reação? – Indagou animada. – Deve ter ficado tão orgulhoso que dera certo. Ele punha muita esperança em você.

Os três se entreolharam, decidindo silenciosamente se revelavam para a garota ou não. Atitude que não foi despercebida por Harriet.

— O que foi? – Indagou com a preocupação crescendo aos poucos.

— Bom, Harrie... – começou Steve. – Não sei como lhe contar isso, mas o doutor Erskine faleceu.

Harriet arregalou os olhos, espantada. Pôs a mão sobre o peito e suspirou.

— Não. – Negou. – Como isso aconteceu?

— Assim que Steve saiu da cápsula um espião alemão infiltrado no meio dos governadores atirou diretamente no doutor. Morreu na hora. – Explicou Howard com pesar.

Harriet mordia o lábio inferior, tentando assimilar os acontecidos.

— E o assassino? – Perguntou olhando fixamente um ponto qualquer ao chão. Percebeu-se que sua visão estava desfocada.

— Steve o capturou, mas não conseguiu evitar que cometesse suicídio. – Peggy informou hesitante.

Harriet ficou por um tempo com a atenção ao ponto no chão e respirou fundo. Quando voltou os olhos para os três borrões a sua frente piscou várias vezes antes de perguntar, séria: - O que mais aconteceu? Por quanto tempo fiquei desacordada?

Howard limpou a garganta antes de falar: - Pois bem, acontece que perdemos todas as probabilidades de recriar o soro uma vez que Erskine não revelou a fórmula a ninguém.

Harriet assentiu enquanto apertava os olhos, indicando que continuasse.

— Você ficou em torno de uns 46 dias desacordada.

A jovem sentiu a respiração descompassada. A visão voltava ao normal por instantes e se tornava turva repetidamente. As pernas, trêmulas.

— Um copo de água, por favor. – Pediu com a garganta seca.

Steve correu para providenciar.

— Quer se sentar, Harrie? – Howard perguntou. A voz do rapaz já estava longe.

— Não... – respondeu com dificuldade. – Está muito claro aqui...

Dito isso, Peggy adiantou-se em fechar as cortinas das grandes janelas pelas quais os raios de sol invadiam o quarto.

— Acho melhor chamar o médico. – Howard disse, dando as costas e saindo pela porta rapidamente.

Harriet continuava tonta, portanto tentou focar a visão em um ponto especifico para se estabilizar. Quando mirou suas mãos pensou ter visto pequenas faíscas azuis passarem por seus dedos e só se apavorou ainda mais.

Steve havia retornado com o copo e ofereceu a ela. Ainda trêmula, ela procurou segurar o copo. Quando o vidro ficou entre a mão de Steve e Harriet, uma faísca mais forte surgiu.

— Au! – O loiro urrou, puxando a mão imediatamente e colocando o dedo na boca. – Tomei um choque.

— Deve ser só energia estática. – Peggy disse distraidamente. – Harriet, está melhor?

Harriet se sentiu ainda mais sufocada. A pele dela foi se tornando cada vez mais pálida e a boca se arroxeando.

Assim que Howard voltou com o doutor em seu encalço ele tirou o copo das mãos da irmã e a deitou no leito, visto que estava propícia a cair a qualquer momento. O médico aplicou-lhe uma dose cavalar de calmantes, que a fizeram adormecer quase que instantaneamente.

Passado o susto, o médico pediu que os três o acompanhasse até o lado de fora do quarto para sugerir: - Isto foi uma leve crise de ansiedade. Acredito que seja mais viável ir atualizando-a sobre os acontecimentos aos poucos. Seu sistema ainda está frágil e qualquer emoção extrema acarretará em crises assim ou até pior. Não sei exatamente o que esperar neste caso, visto que nunca antes na história houve algo parecido. Portanto, todo cuidado é essencial.

— Sim, muito obrigado doutor. – O irmão agradeceu, logo vendo o médico se afastar pelo corredor. – É isto. – Anunciou aos que restaram. – Harriet não pode saber o estado em que estava. Manteremos isto em segredo.

—x-

— Cuidado com o degrau. - Howard alertou segurando uma das mãos da irmã e sua cintura em apoio.

— Howard, eu bati a cabeça e perdi a consciência não a visão. – Ela respondeu, acrescentando mentalmente "Ao menos é o que espero. "

Estava estranhando toda a atenção redobrada que estava recebendo do irmão. Afinal, fora apenas uma pancada na cabeça. Certo?

— Todo cuidado é necessário, você ouviu as recomendações do médico. – Retrucou ele. – Ele já não queria lhe dar alta, só cedeu porque você é extremamente persuasiva.

— Onde deixo as bagagens, Srta. Stark? – Jarvis indagou com as malas quais Howard apenas enfiou os pertences da irmã e levou ao hospital em mãos.

— No meu quarto, Jarvis. Por favor.

— Não, Jarvis. – O mais velho discordou. Sentando-a no confortável e grande sofá da gigantesca sala de estar de sua casa. – Eu já estava querendo falar com você sobre algumas mudanças que serão feitas por aqui.

— Por Deus, Howard. – Ela revirou os olhos.

— Vamos colocar sua cama no meu escritório. Fica aqui no andar de baixo e você poupa o esforço de subir e descer essas escadarias. – Explicou. – Além do fato de que você não vai ficar em completo repouso, porque eu te conheço o suficiente para saber disso, pode administrar suas pesquisas de lá. A poupando de riscos maiores.

— Isso é ridículo, Howard. – Disse mal-humorada. – Eu estou me sentindo completamente bem. O que quer dizer que eu vou voltar ao quartel amanhã para dar continuidade nas pesquisas.

— De jeito nenhum! – Esbravejou desacreditado.

— De jeito nenhum, uma ova. – Retrucou imediatamente. – Eu não admito que me tranque aqui durante dez dias, um tempo que não podemos perder.

— Temos profissionais qualificados para ficar no seu lugar, pode ficar tranquila...

— Só por cima do meu cadáver. – Vociferou – Fiz parte das pesquisas tanto quanto você. Sei dados e as fórmulas de cor. Acredito que o Coronel Philips não se importe de eu desenvolver meu trabalho se vai lhe poupar o trabalho e tempo de pôr outra pessoa a par de tudo.

Howard socou a mesa de centro furioso.

— Pode fazer o drama que quiser, - ela riu debochada – não tenho mais cinco anos. Isso não cola mais.

— E, alguma vez, você já fez o que lhe pedi? – Suspirou derrotado retirando-se da sala junto de Jarvis enquanto uma sorridente Harriet negava com a cabeça.

Ao se certificar que estava sozinha no cômodo, o sorriso sumiu.

Ela se voltou para as mãos.

Quando as fechava sentia fagulhas crepitarem entre seus dedos. E quando abertas, se ela as chacoalhasse, emitiam-se por todos os lados.

— O que diabos está acontecendo comigo? – Murmurou apreensiva.

—x-

— Bom dia. – anunciou Harriet para a sala cheia de agentes e soldados.

— Srta. Stark. O que está fazendo aqui? – Coronel Philips indagou aproximando-se da jovem.

— Antes que comece as recomendações já adianto que estou me sentindo fabulosamente bem. – Declarou. – Como temos muito que fazer por aqui, decidi não me dar ao luxo de ficar simplesmente sentada sem progredir em nada.

Howard, que estava em seu encalço, bufou.

Harriet decidira ignorar as fagulhas que ela deduzira ser uma peça pregada por sua própria mente recentemente debilitada e se focar em assuntos realmente importantes. Quem sabe retornando a rotina agitada, o problema simplesmente desaparecesse.

— Já que a Srta. garante que está perfeitamente bem, não vejo porque não aceitá-la. – Dito isso Harriet piscou para Howard com um sorriso maroto, o que enfureceu ainda mais o mais velho. – E já que o fez, chegou na hora certa. Por favor, os dois me acompanhem.

Harriet e Howard seguiram o Coronel pelos corredores escuros da sede da Reserva Cientifica Estratégica. Ele parou de frente a uma porta trancada por senha. E assim que a digitou na caixa metálica junto à maçaneta a porta foi aberta.

Ao adentrarem o local o que mais lhe chamaram a atenção foi um cilindro metálico, com um formato anormal, posto ao meio da sala e rodeado de engenheiros conhecidos. Todos os cumprimentaram imediatamente, disfarçando a surpresa em ver Harriet tão disposta muito antes do esperado.

Howard se adiantou tirando o casaco e se aproximando do objeto enquanto dobrava as mangas.

— Harriet. – Steve chamou, deixando os papéis quais lia em cima de uma mesa qualquer e se aproximando. – Não era para voltar daqui dez dias?

— Eu determinei que sou minha própria médica e me liberei. – Disse rindo, enquanto abraçava o soldado rapidamente. – Puxa, ainda não me acostumei com o seu tamanho e todos esses... músculos.

— Você acha que eu me acostumei? – Perguntou rindo.

— O que temos aqui, Coronel? – Indagou ela ao cessar das risadas, indicando o cilindro.

— Nossos melhores engenheiros passaram dias tentando descobrir o que é. Não souberam me responder isto nem o que faz. – Informou. – Contudo, nosso melhor engenheiro não estava presente. Vamos ver o que Howard tem a dizer sobre tal objeto desconhecido.

— Não preciso de muito para lhe responder, Coronel. – Howard adiantou-se, analisando detalhadamente o cilindro e os relatórios informativos sobre o mesmo. – A única coisa qual tenho certeza é de que estamos longe de tecnologia como igual.

— E quem está? – Indagou um homem saindo do meio das sombras. Este usava um terno musgo elegante, chapéu da mesma cor e tinha impaciência explícita na face.

— Srta. Stark este é o senador Brandt. – O Coronel os apresentou.

O homem se aproximou e apertou a mão da jovem, propositalmente coberta por luvas. Ele olhou-a de cima a baixo vagarosamente, o que a deixou pouco desconfortável.

— Você disse Stark, Coronel? – Questionou com uma sobrancelha arqueada.

— Sim. Harriet Stark. – A mulher respondeu, estranhando o interesse do homem.

— A HIDRA lida com ciência obscura. – Peggy disse, tomando a frente do assunto, ao surgir de uma porta secundária. – É liderada por Johann Schmidt, que tem ambições maiores.

— É um culto. – O Coronel aproveitou a deixa, e comentou: - Adoram o Schmidt e o acham invencível.

— O que pensa em fazer? – Brandt perguntou, retornando ao assunto, enquanto Peggy cumprimentava Harriet com um aceno de cabeça.

— Falei com o presidente. – Respondeu Philips. – A RCE tem nova função agora. Direcionaremos a luta à HIDRA. Portanto Harriet, - disse mirando a jovem – certifique-se que está liberada para viajar. Porque você, Carter, Howard e eu vamos à Londres ainda esta noite.

Antes que um Howard aturdido pudesse se manifestar, Steve se adiantou: - Senhor, se vai atrás do Schmidt, eu quero ir.

— Você é uma experiência. – Desconsiderou. - Vai a Alamogordo.

— O soro funcionou. – Relembrou o soldado mirando Harriet, que assentiu.

— Pedi um exército, me deram você. – O Coronel disse. Finalizando com tristeza no olhar antes de se retirar: – Você... Não é o bastante.

— Com todo o respeito ao Coronel, - Harriet murmurou para Steve. – acredito que esteja descartando o principal. Com todas as probabilidades que o soro pode te oferecer, seria imbatível em combate.

— Concordo com a jovem. – Brandt pronunciou-se. – Já o vi em ação. E o mais importante é que o país o viu. Jornal. – Solicitou e um homem que estava pouco afastado deles prontamente o entregou. Com o informativo em mãos, indicou a matéria enquanto dizia: – Agora há filas de alistamento. Não se esconde um símbolo como esse no laboratório, filho. – O homem puxou Steve de canto e Harriet não pôde mais ouvir a conversa dos dois.

— Ameaça? – A jovem indagou à Peggy.

— Oferta de alguém do comitê governamental? – Disse sem tirar os olhos dos dois. – Sempre é uma ameaça.


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