V E N U S - Origin escrita por badgalkel


Capítulo 11
1.10 Promessas




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A luz alaranjada do pôr-do-sol banhava a extensão da base em Wheaton, dando-lhe um ar mais acolhedor e convidativo.

Com a escolha do soldado adequado para o projeto Renascimento, todos os outros foram dispensados dos testes e direcionados a divisões em campos de batalha reais. Na base estrategista então só sobrara o coronel, o pessoal da administração, os diversos profissionais envolvidos ao projeto e o escolhido.

— Muito bem rapaz, vamos começar os exames. Serão feitos todos os dias pela manhã durante uma semana. Assim, teremos noção do processo das vitaminas que serão aplicadas. Tudo bem?

— Sim, senhora. – O loiro respondeu educadamente.

— Ah não, por favor – a mulher sorriu – me chame de Harriet. 

— Steve. – Ele estendeu-lhe a mão em um cumprimento menos formal, qual ela retribuiu rapidamente.

— Devo dizer que é um imenso prazer, Steve. – Ela sorriu, adiantando-se para pegar a prancheta deixada em cima da maca de ferro.

— Igualmente, senhorita.

— Vou fazer algumas perguntas para começarmos. Com o decorrer do tratamento as farei novamente para obter resultados da evolução, tudo bem? – O rapaz assentiu – Steve, não precisa ter vergonha aqui. Preciso que seja o mais honesto comigo para termos resultados verdadeiros. Tudo bem? – Ele assentiu novamente – Ok, vamos lá. Você sente dores no peito quando pratica atividade física?

— Sim.

— Qual a intensidade desta dor? Insuportável, média ou suportável.

— Diria que é média para o suportável, ela vai e vem. – Respondeu refletindo seus treinos anteriores.

— Certo, - disse anotando na prancheta – No último mês você sentiu dores ao fazer as atividades físicas no campo?

— Sim.

— Você apresenta algum desequilíbrio devido à tontura e/ou perda momentânea da consciência?

— Não.

— Você já se submeteu a algum tipo de cirurgia, que comprometa de alguma forma a atividade física?

— Não.

— Já tomou ou toma algum tipo de medicamento para fortalecê-lo em atividades físicas?

— Uma vez, há uns dois anos.

Eles continuaram com o questionário de pouco mais de 50 perguntas. Logo em seguida Harriet pediu para que Steve corresse por uma hora na esteira, sendo monitorado por máquinas ligadas ao seu corpo.

— Sinto-me um rato no laboratório. – O rapaz comentou ofegante enquanto corria.

— Está quase para ser. – ela disse sorrindo. – Mas não se preocupe, não vou permitir que eles o engulam.

Steve sorriu e se concentrou em seus testes.

Harriet intensificou todos exames no primeiro dia, para que o processo fosse agilizado e terminado antes do prazo apresentado. Portanto, quando a noite caiu, Steve estava exausto.

— Me desculpe, peguei pesado com você. – Admitiu a doutora.

— Tudo bem, eu não me importo com isso. – Deu de ombros, sorrindo. – A senhorita é uma das poucas pessoas que me tratam de igual para igual, não como se fosse um objeto fácil que está a ponto de se quebrar.

Harriet analisou a frase do rapaz e assentiu.

— Eu te entendo, rapaz.

Logo eles se despediram e Harriet dirigiu-se a saída.

Tinha marcado de sair com Barnes, mas não idealizaram um lugar e nem estipularam horários. Sendo assim, seguiu para casa, para poder se banhar e assim que pronta se dirigiu à residência dos Barnes.

Um de seus guarda-costas se adiantou em sair e tocar a campainha, enquanto a jovem aguardava dentro do carro. Passados poucos minutos o rapaz apareceu e adentrou o carro, que de imediato saiu e começou a vagar pelas ruas de Nova York.

— Se me permite dizer, - Barnes começou – tenho que comentar que esta estonteante esta noite. Como sempre.

— É um dom. – deu de ombros charmosa, fazendo-o rir.

Ele puxou-a pela perna para mais perto, dedilhando vagarosamente a pele exposta. Harriet sorriu, a mão do rapaz já havia se acostumado em brincar com aquela parte de seu corpo automaticamente.

O jovem entrelaçou suas mãos e olhou diretamente naquele castanho que poderia ser comparado ao sol de uma manhã cinzenta. A tempestade que eles causavam a cada piscada era fascinante para ele.

— O que você fez comigo? – Ele soprou próximo aos seus lábios, sorrindo – Nunca me vi tão dependente de alguém como estou de você. Só de pensar que amanhã...

— Não pensaremos no amanhã então. – Interrompeu-o, acariciando seu maxilar com os dedos – Estamos vivendo o hoje e o hoje é aqui e agora, nós dois juntos.

— Tem razão. – Concordou puxando seus lábios com os dentes delicadamente para um beijo caloroso. O motorista automaticamente subiu a divisória de vidro do carro, dando-lhes privacidade.

Chegando ao restaurante foram diretamente direcionados a um espaço mais privado, onde havia uma mesa vazia dentre cinco. O restaurante luxuoso comportava dourado nas paredes e espelhos que iam do teto ao chão, aparentando ser maior do que realmente era. Todas com casais conversando alegremente e aproveitando a refeição, e assim o fizeram quando se sentaram.

Logo o garçom veio prestar seus serviços e lhes fornecerem os mais diversos pratos especializados da casa. Optaram por massa, afinal o dia fora longo e, ao menos Harriet, estava faminta.

Foram-lhes dado como cortesia da casa um belo vinho, servido por outro garçom cuidadoso o suficiente para deixá-los confortáveis o suficiente.

— E então... – começou Barnes – você sempre ganha vinhos em restaurantes por aí? Porque para mim, foi a primeira vez.

Harriet riu e assentiu, antes de dar uma bela golada no conteúdo em sua taça.

— Um dos diversos privilégios em ser uma Stark. – A jovem respondeu dando de ombros.

— Acredito que o chef e dono deste restaurante sejam velhos conhecidos da família. – Barnes provocou risonho.

— Os Pratt tem a honra de receber o famoso Howard Stark aqui todas as quartas-feiras. – Ela ri – Nenhuma delas seguidas da mesma companhia, claro.

— Galanteador, - o sargento entortou a boca, zombeteiro – típico dos Stark.

— Só se existir algum outro Stark que eu não conheça, - ela riu – Howard leva essa fama nas costas sozinho.

— Agora, falando sério. – Ele umedeceu os lábios – Nunca namorou antes?

Harriet sorriu e abriu a boca, sem ter nada o que comentar, logo em seguida riu.

— O que? – Ele indagou curioso.

— Namorar não é bem uma palavra que existia no meu vocabulário. – Ela explicou entre sorrisos – Eu sempre fui muito ocupada com os estudos, casos, teorias e projetos... – ela mordeu o lábio inferior – as únicas pessoas com quem eu me relacionei por toda a minha vida foram as que já trabalharam comigo.

— "As pessoas"? – Ele frisou. – Acho que Howard não carrega a fama sozinho, não?!

— Não, - ela riu – só fiquei com duas pessoas em todos os meus vinte anos. E as duas foram pessoas com quem eu trabalhei, isso que eu quis dizer. – Explicou ruborizada.

— Oh meu deus, - ele exclamou engasgando enquanto tomava um gole de vinho – Richard e Alex.

— Por Deus, - ela gargalhou – Claro que não!

— Não, eu só...

— Richard sempre teve namorada, desde quando o conheci na faculdade. – Explicou – Acredito que esteja até mesmo noivo.

Barnes riu e refletiu, assentindo enquanto desfrutava do macarrão que acabara de chegar.

Eram amigos, apenas.

Ele não tinha com o que se preocupar.

Até que...

— E o Alex...

  Harriet olhou aos lados de boca cheia, engoliu e por fim riu.

— Foi a muito tempo, não tem com o que se preocupar.

— Ah não, - ele fez uma careta, largando os talheres sobre o prato. – Eu gostava tanto dele.

— E não tem porque deixar de gostar. – Riu anasalada. – Somos grandes amigos e sempre fomos.

— Mas vocês...

— Quer mesmo saber sobre isso? – Dado que ele assentiu, mesmo hesitante, ela continuou: – Nós apenas... atendíamos necessidades um do outro.

— Oh não! – Ele tampou os olhos – Por favor, pare de falar. Essa imagem está viva em minha cabeça agora.

— Paramos quando percebemos que não tínhamos porque continuarmos já que éramos mais amigos do que amantes. Não nos gostávamos... deste jeito. – Agarrou a mão do rapaz do próprio rosto e a entrelaçou com a sua.

— Isso me deixa pouco mais confortável. – Soltou sarcástico – Mas se diz que não existe mais nada entre os dois...

— Somos apenas bons e velhos amigos. – Reforçou.

— Bom. – Soprou o rapaz, rindo.

— Mas e você?

— O que tem eu? – Indagou antes de enfiar o macarrão boca adentro.

— Aposto que já teve diversas conquistas, - ela arqueou a sobrancelha rindo. – No dia em que te conheci estava com duas ao seu lado.

— Eu posso explicar. – Disse calmo.

— Não precisa. – Ela riu. – Estou só lhe provocando.

— Eram companheiras, sim – ele disse, ignorando-a. – porém uma delas estava com o meu amigo. E, graças a uma doutora metida a sabe tudo, não terminei a noite com nenhuma porque era deveras "estúpido".

— Devia agradecer a tal doutora, - disse com a voz baixa e sedutora – deve ter lhe livrado de uma vida excepcionalmente comum.

— Ah, é. – ele recordou da conversa dos dois. – Ela estava apenas me preparando para o que estava por vir.

— E o que está por vir? – Murmurou quase que inaudível.

— Me diga você, Harrie. – Arqueou a sobrancelha – Vai me permitir de uma vez por todas ser um cavalheiro respeitoso e tradicional e fale com seu irmão?

Harriet mordeu o lábio inferior e aquela ruga estava marcada em sua testa, ela estava desconfortável. Ele já sabia a ler tão bem.

— Barnes, vamos esperar essa guerra acabar, está bem? – Ela acariciou seu rosto – E então lhe dou a resposta que tanto quer.

— Tudo bem, - ele assentiu – eu lhe dou o tempo de que precisa para aceitar o fato de que tem uma pessoa que está completamente apaixonada por você.

— Não é isso.

Desde quando assumiram ser recíproco o sentimento de ambos, Barnes tem sido intenso e projetando planos aos dois. Planos que Harriet nunca havia feito ou sequer pensado.

Viver ao lado de uma outra pessoa.

Nunca tivera isso, nunca havia sentido isso. Uma espécie de bactéria que aos poucos vai dominando cada parte de seu coração e influenciando nas suas decisões.

Influenciando em seu modo de pensar, de falar e até respirar ao lado de uma certa pessoa. Ela estava assustada com a intensidade desse sentimento.

Mais ainda, assustada com o impacto que causaria na sua vida se, por algum acaso, seus pesadelos se tornassem realidade e uma daquelas pessoas feridas fosse Barnes.

Ou pior, do que ele seria capaz se por algum acaso ela fosse uma daquelas pessoas feridas.

Ela se arrepiava só de pensar.

A perda.

Era um fator de grande peso em sua vida. A perda a fragilizou ao mesmo tempo que a fortificou. Porque em consequência dela, ela agiu focada em tudo o que acreditava que fosse o ideal de seu pai para a sua vida. Fez tudo o que ele sonhava para ela. Contudo, quando não tinha mais ideia do que seguir, se estagnou.

Preferiu se afastar do irmão, preferiu poupá-lo de questões que não poderia responder. Questões estas que ela ainda tenta ignorar. E se alienou.

Até seu irmão surgir com este novo projeto, e retirá-la da beirada do abismo que estava prestes a cair.

— O que é então? – Barnes indagou, trazendo-a de volta dos pensamentos.

— Tenho medo de te perder. – Admitiu rouca. – Tenho medo de me apegar completamente em você e você se for.

— Harriet... – soprou acariciando a lateral de seu rosto.

— Eu não suportaria. – Desviou de seus olhos azuis honestos. – Não suportaria outra perda. Não de outra pessoa que eu amo. Por isso não posso te amar enquanto isto não acabar... – ele tratou de limpar a lágrima solitária que escorreu de seu olho. – Pode parecer muito egoísta, mas me destruiria. Você me permitiu respirar ar fresco, e voltar ao abismo abafado me mataria.

— Me ouça com atenção. – Pediu sério, segurando as laterais de seu rosto. – Eu farei o máximo para me manter vivo. Por você. Lutarei de todas as maneiras porque eu sei que quando eu retornar você vai estar aqui me esperando, certo?

Ela assentiu.

— Ótimo! – Ele sorriu – é tudo o que eu preciso.

Na manhã seguinte Harriet o acompanhou até o aeroporto onde pegaria o avião que o levaria de volta a sua divisão. Ficaram o máximo que puderam juntos, com as mãos entrelaçadas e abraçados. Quando o Coronal Philips surgiu através da porta de vidro, o coração de Harriet parou.

— Olhe, - ele chamou-a a atenção, segurando as laterais de seu rosto, com o próprio bem próximo ao dela. – Isso não é um adeus. Nos comunicaremos toda semana. E assim que a guerra acabar... eu volto para você.

— Me prometa. – Pediu, com a voz rouca.

— Não vai se livrar de mim tão cedo. – Sorriu antes de selar seu último beijo.

Harriet assistiu-o se afastar enquanto um desajeitado Howard tentava lhe dar apoio. Ele não era muito bom com essas coisas, mas ela sabia que ele se importava.

Era um irmão muito protetor e ciumento. Não aprovava o namoro dos dois, mas sabia que era o melhor para a irmã. Há tempos não a via sorrir da forma que sorria quando estava com o Sargento.

Portanto acompanhou-a até em casa, mesmo com tanto a fazer, e garantiu pessoalmente que ela não ficasse sozinha nem por um instante.

Ao menos, a sensação de perda amenizar.


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