Mr. Clichê escrita por BCarolAS


Capítulo 6
Capítulo 6




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Darcy tinha ido em casa para alimentar Rony. Ele sempre ia naquele horário. Foi então que descobriu que sua geladeira estava quebrada e as comidas haviam estragado. Ele xingou uma série de palavras que se alguma mãe da rua escutasse ele receberia uma advertência escrita, como na época da escola. Então, ele saiu de casa pensando que teria que pedir o Carlão para dar uma olhada, e poucas pessoas eram tão enroladas na cidade quanto o Carlão, mas ou era isso, ou amarrar a geladeira na Harley e arrastar até Monte Alto. Foi quando ele viu Elisabeta chorando. E então tudo aconteceu como um efeito dominó e agora ele estava em casa tomando banho para jantar com ela e o filho. Ele estava pensando seriamente em encerrar a investigação. Aquilo era loucura. Não tinha como aquela mulher que estava de coração partido porque seu filho tinha sido um pentelho ter cometido algum crime. Darcy gostava da companhia dela. Elisabeta era uma boa amiga. E de alguma forma, sentia que ultimamente ela estava mais aberta. Desviava menos das perguntas. Ela tinha até falado com ele e a Lud que iria na próxima noite de microfone aberto.

Darcy saiu do banho e aparou a barba. Ele encarou o espelho e gostou do que viu. Estava bem. Seu celular vibrou e ele viu que tinham várias mensagens. De Ema, de Suzana, de uma mulher nova que ele encontrou em Monte Alto. Ema dizia que estava na cidade, que queria vê-lo. Suzana o convidava para ir até a casa dela, assim como a Julia. Ele respondeu as duas de Monte Alto que hoje não daria e disse a Ema que eles poderiam se encontrar mais tarde. Então ele se vestiu e foi para acasa de Elisabeta. Sua vizinha. Sua amiga.

— Ei Darcy! - Thomas estava sentado na porta, jogando uma bola de ping pong na parede e pegando. - Você veio!

— Claro que eu vim. Estou morrendo de fome.

— A comida da mamãe é boa. Menos o bolo de carne, o bolo de carne é péssimo. - Ele abriu a porta para Darcy. - Você ainda está chateado comigo?

— Não. Mas só porque eu estou confiando em que você não irá mais bater em nenhuma menina!

— Eu não vou. Eu prometo.

— Darcy, é você? - Ele escutou Elisabeta gritar de lá.

— Sim. - Ele entrou, seguido de Thomas. - Você está precisando de ajuda?

— Não. - Ela apareceu usando um avental e tinha um paninho de prato no ombro. Os cabelos estavam presos no topo da cabeça. Darcy sempre fica impressionado como ela conseguia ser bonita nas situações mais simples do dia. - Mas preciso saber se você tem alguma restrição alimentar.

— Detesto peixe.

— Isso não é restrição alimentar, é frescura. - Ela fez a careta de sempre. Ele sorriu em resposta. Era automático, toda vez que ela franzia o nariz daquela forma e mordia a ponta da língua ele sorria. Se sentia um cão de Pavlov. - Sério? Nenhum? - Ele balançou a cabeça, negativamente. - Nem mesmo sushi?

— Nunca vou entender como as pessoas gastam tanto dinheiro em peixe cru.

— É, realmente, nunca daria certo entre a gente. - Elisa riu. - Sinto muita saudades de comer sushi. Entretanto a Lud é vegetariana e eu não tenho outros amigos.

— Quando a Charlie vier você terá companhia. Ela adora essa coisa. Mas eu posso ir. Sempre existe o yakissoba. - Elisabeta inclinou a cabeça.

— Você está me chamando para sair, Clichê?

— Eu adoro yakisoba! - Thomas se meteu na conversa.

— Então eu e você podemos comer comida de gente, enquanto sua mãe come aquela porcaria. O que acha? - Ele pegou Thomas no colo.

— Podemos mamãe? - Thomas ria e esticava os dedos para tocar o teto, já que Darcy era bastante alto.

— Usar o meu filho para conseguir um encontro é um novo nível.

— Não é um encontro se seu filho está junto. - Ele sorriu de lado.

— E o que seria?

— Amigos comendo.

— Marca o dia. - Ela sorriu. - Agora eu vou terminar o nosso jantar, que não tem peixe. É macarrão, salada e frango.

Ela voltou para a cozinha, então Thomas se voltou para ele.

— Darcy, por que minha te chama de Clichê?

— É um apelido que ela me deu.

— E o que significa Clichê?

— Você faz umas perguntas difíceis, hein? Clichê é algo.. comum? Não exatamente comum. Vamos jogar no google. - e então ele parou. - Você tem quantos anos?

— Cinco! Vou fazer seis em setembro! - Ele disse feliz.

— Então você não sabe ler. Mas eu leio pra você.

— Sei sim. - ele estufou o peito. - Tia Cecília e tia Jane me ensinaram.

— Olha se você não é um prodígio. - Ele bagunçou os cabelos do menino. - São suas antigas professoras?

— Não, seu bobo. São minhas tias. Irmãs da mamãe. Você quer brincar de lego? Eu tenho uns legos muito legais. - Ele então fez a mesma careta da mãe. -Lego. Legais. - E subiu as escadas correndo, e rindo.

Darcy processou a informação. Ela havia lhe dito que tinha uma irmã. Lídia. Agora Thomas dizia que ele tinha essas duas tias… Se as três fossem irmãs dela, fazia mais sentido. Faltaria apenas uma irmã para as cinco netas de dona Rosinha. Talvez tenha sido só uma falha de comunicação naquele dia. Ele riu. Provavelmente ele criou toda uma teoria por falha de comunicação.

Thomas voltou com um balde de lego e despejou tudo no chão, e eles começaram a construir uma cidade. Darcy  sempre brincava com as crianças da rua, mas Thomas parecia sorver tudo que ele dizia como se fosse verdade absoluta. Era legal que ele o admirasse. Darcy se sentiu importante. Ele se distraiu verdadeiramente tentando montar uma viatura quando Thomas entregou o celular.

— Está tocando, Darcy. - Ele pegou o celular. Era Charlotte. Ele atendeu a videochamada.

— Charllie!

— Qual o nome dela? Você só some assim quando tem mulher envolvida na história! Nunca mais vi meu cachorro. Põe o Rony aí. Quero ver o meu bebê.

— Não estou em casa. - ele riu.

— Sabia! Quem é ela?

— Ele. - Darcy sorriu. A cara de Charlotte foi impagável.

— Acabaram as mulheres do Vale? - Então Darcy virou a câmera e mostrou Tom brincando com os legos.

— Tom, essa é minha irmã, Charllie. - Ele levantou a  cabeça e arregalou os olhos.

— Uau. Ela é linda. - E ele ficou encarando a irmã que acenava animada.

— E você é um fofo! Como vai Tom? Meu irmão está tentando roubar seus brinquedos?

— Ele está brincando comigo. O Darcy é muito legal. Ele brincava com você também?

— Sim. - Ela sorriu.

— Você é a moça mais bonita que eu já vi! Você tem namorado? - Charlotte gargalhou.

— Ei, ei casanova. - Darcy não conseguia parar de rir. - Ela é um pouco velha para você.

— Eu não acho. Meu pai era mais velho que minha mãe. - Ele respondeu, correndo para trás de Darcy, para que pudesse dar um tchau para Charlotte, que jogou um beijo de volta para ele.

— Ei, Darcy. - Elisabeta apareceu na porta, sem avental, e soltando os cabelos. - Você se incomoda de olhar o Tom sozinho por uns minutinhos?  Meu alho acabou. Aproveito e compro algo para bebermos. Preferência de sabor?

— Você  não quer que eu vá? - Ele se levantou.

— Não precisa. Acho que vou aproveitar e trazer um leite, pão… Enfim.

— Está bem. - Darcy se sentou de novo.

— Abacaxi. - Charlotte disse, tentando conter um sorriso. - O Darcy é alérgico a abacaxi. - Elisabeta fez uma cara de susto e procurou de onde a voz vinha.

— Elisa, essa é a pentelha da minha irmã. - Ele levantou o celular para Elisabeta, mostrando uma Charlotte sorridente e acenando. - Charlie, essa é Elisabeta, mãe do seu novo namorado.

Então Elisabeta ofereceu a sua irmã o seu melhor sorriso, e pegou o telefone dele.

— Charlotte! É um prazer finalmente conhecê-la, Darcy fala muito de você.

— E eu conhecê-la! Afinal não é sempre que eu encontro alguém que não cai no papo furado dele.

— Não é tão difícil assim. - Elisabeta sorriu, franzindo o nariz.- As cantadas são péssimas.

— Eu também acho! Sabia que ele lia livros de cantada? Quer dizer, livro. Ele tinha um.

— Mentira! - Elisabeta olhou para o Darcy e ele viu um sorriso travesso surgindo no rosto dela.

— Ok, chega. - Darcy tomou o celular dela.

— Tchau Charlotte! Foi um prazer conhecê-la. Quando você vier para casa, nós podemos sair e falar mal de seu irmão.

— Ah, eu adoraria. - Darcy estreitou os olhos para Elisabeta, que já estava na porta pegando a bolsa, e ela piscou de volta para ele. Quando ela saiu, Charlotte o olhava divertida.

— O que foi? - Ele perguntou a irmã.

— Nada.

— Desembucha, Charlie.

— Você está tão apaixonado! - Ela bateu palmas e começou a pular.

— E você deve estar chapada. Elisa é minha amiga.

— Elisa…

— Você está agindo como criança.

— Você está na casa dela, em plena sexta-feira a noite, brincando com o filho dela.

— A geladeira estragou, ela me chamou para jantar.

— Aposto que você conseguiria alguém que lhe pagasse jantar e ainda lhe desse sobremesa, como sempre. Ainda assim…

— Ainda assim estou aqui com minha amiga. Saio com meus amigos. Não pentelhe.

— Está bem, está bem. Amanhã eu ligo para ver o Rony. - Ela olhou procurando o Tom. - Ei gracinha, foi um prazer conhecer você. Quando eu for para o vale nós iremos tomar um sorvete.

— Você promete? - Tom pareceu ganhar o maior dos presentes.

— Sim. Tchau Tom, tchau Darcy.

Charlotte desligou, mas era tudo que Thomas falou no jantar. Darcy disse a ele que só deixaria sua irmã sair com ele se ele se comportasse, e fosse um bom menino, e Thomas fez todas as promessas que Darcy exigiu. Era divertido. Elisabeta olhava de um para o outro como se duvidasse que o filho fosse cumprir, mas achasse divertido. Darcy descobriu que sua vizinha era uma excelente cozinheira, e brincou que apareceria de vez em quando para o jantar. E Elisa disse que era só ele mandar uma mensagem. E assim acabou sucedendo os dias seguintes. Thomas seguia Darcy sempre que possível. Ele percebeu que Elisabeta estava menos rígida com relação a vigilância dele. Agora, ela só aparecia para checá-lo de tempos em tempos na rua, ao invés de ficar monitorando. Tom fazia tudo o possível para imitar Darcy, e ele nunca achou que diria isso, mas gostava da companhia do menino. Ele sempre trazia novas perspectivas para as coisas. A vida era outra sob o olhar de um garoto de 5 anos. Ele sempre esperava Darcy na porta de casa na hora que ele saía para passear com o Rony. É verdade que Darcy não podia mais correr naquele momento, mas ele alterou sua rotina de exercícios. Quando Tom descobriu que Darcy tinha uma piscina, ele se convidou para tomar banho com o Joaquim, que era o afilhado de Darcy. E ele se viu passando domingo com os meninos. Também aprendeu mais sobre Elisabeta. Ela havia feito faculdade de administração, mas acabou se tornando dona de casa quando casou. Ela ainda evitava a todo custo falar do marido, mas ele não achava mais estranho. Era claramente algo dolorido para eles. Thomas também não falava do pai. Nunca.

E agora Darcy estava na delegacia depois de convencer Dona Julieta e Xavier que eles não precisavam de ordens restritivas, encarando jogos de xbox para menores de oito anos. Foi quando ele recebeu um email do delegado de Monte Alto.

 

Fala Darcy!

Lembra quando você perguntou se eu tinha visto algum caso de uma mulher branca, magra, entre os 25 e 30 anos, sendo procurada na região? Acabei topando com um caso dessa golpista, que aparecia em bairros ou cidades, com uma criança pequena, fazia amizade, depois dizia que precisava de dinheiro porque o filho estava doente, e desaparecia. Ela deixou várias contas, em vários lugares. A soma chega a quase cinquenta mil. Pode ser a sua mulher misteriosa? Estou mandando os depoimentos em anexo.

 

Mantenho você informado, e se tiver alguma informação, me avise.

 

Marcos Botelho.”


Darcy encarou a tela por um tempo. Nos últimos dias tinha esquecido completamente da investigação. Elisabeta até o provocara dizendo que iria comprar outro diário para ele, já que o vermelho aparentemente tinha acabado. Ele e Elisabeta eram amigos agora. Ela havia feito uma conta no instagram, privada, onde ela não postou nada ainda, mas fazia stories sempre. Tinha basicamente o pessoal da cidade. Ela comentava as fotos de Darcy com coisas engraçadas, ou cantadas ruins. “Isso é photoshop, gente. Na vida real ele tem pancinha de chopp.” “Seu cachorro tem telefone?”. Eles trocavam mensagens e ela se comunicava basicamente a base de gifs, ele demorou para aprender. O contato dele no telefone dela era Mr. Clichê, e ela havia posto Pony como toque para ele, quando ele contou que aprendeu a coreografia de Magic Mike por causa de uma ex namorada. Aquela era a sua amiga, Elisabeta. Sua Elisa. Ela era obcecada com Desperate Housewives. Era péssima perdedora e sempre levava qualquer jogo a sério demais, mesmo que eles estivessem jogando banco imobiliário. Ela colocava queijo em tudo. Droga, ele tinha se afeiçoado a ela. Maldita investigação. Mas agora ele não conseguiria simplesmente ignorar tudo. Então Darcy abriu os arquivos e leu tudo a respeito.

Chegou em casa aquela noite um pouco mais tarde que o normal. Ficou preocupado depois, de ter deixado o Tom esperando, mas encontrou ele e a sua mãe se despedindo de um homem  moreno, de cabelos escuros, com bastante intimidade. Ele reparou quando o cara levantou Thomas e o jogou para cima, arrancando uma gargalhada do menino. Ele também reparou que Elisabeta olhava para aquela cena com olhos cheios de sentimento. Ele se perguntou se aquele cara era algum caso dela. Se ela fosse essa golpista, talvez fosse o pai do menino. Talvez ela tivesse mentido sobre tudo. Darcy tentou tocar violão, tentou ler um livro, tomou banho, abriu uma cerveja, e agora encarava o quintal vazio, com Rony sentado ao seu lado. Precisava falar com alguém. Alguém imparcial. Porque se ele ligasse para Lud ela provavelmente iria até a casa dele bater nele com alguma coisa pesada. Januário a ajudaria. Então ligou para única pessoa imparcial e de confiança que conhecia.

— E então, agora eu me sinto confuso. Estou envolvido demais para conduzir uma investigação oficial, mas não quero entregar minhas suspeitas sem ter certeza. Não quero por Elisa numa investigação sem necessidade. Mas ainda assim. É muita coincidência.

— Entendi. - Charlotte tinha escutado tudo calada. - O que faria você ter certeza que Elisa é inocente?

— Alguma prova de que ela é quem ela diz ser.

— A neta mais velha de dona Rosinha. - Charlotte disse. - Ela falava muito de Lídia, a que tinha câncer. E de Jane, que ela dizia que era uma boneca. Eu realmente não lembro o nome das outras. Mas deve ter uma caixa em algum lugar na casa delas.

— Tom falou que ele tinha uma tia chamada Jane…

— Olha aí! - Charlotte falou. - Mais indícios que ela está falando a verdade. Aliás Darcy… Thomas! Você pode conseguir informações com ele! Você pode perguntar as coisas a ele. Segundo esses depoimentos, eles precisaram ter morado em vários lugares na região pelo último ano. Pergunte a ele. Ele não conseguiria inventar nada muito elaborado.

— Sabe de uma, você tem razão. Thomas gosta de mim. Nós conversamos bastante.

— Já disse o quanto é estranho que um dos seus melhores amigos ultimamente é um garotinho de seis anos?

— Cinco. - Darcy sorriu. - Você me deu uma luz, Charllie. Obrigado!

— Por nada, irmão. Eu espero do fundo do coração que ela não seja essa golpista. Partiria seu coração.

— Porque ela é uma amiga muito querida.

— Podemos fazer um acordo?

— Que tipo de acordo?

— Se você concluir que ela é quem diz ser, a neta viúva de dona Rosinha, você vai convidá-la para um encontro de verdade. Vai levar a moça para jantar em Monte Alto, e sei lá, se abrir para ela.

— Charllie…

— Darcy, sério. Eu não me lembro da última vez que você esteve tão envolvido por uma mulher. E você sequer trocaram um beijo! Escute sua irmã uma vez na vida.

— Se ela for quem ela diz ser, nós voltaremos nesse assunto.

— Eu vou cobrar. Agora vou desligar porque tenho que estudar. Te amo.

— Também te amo. Lembre de jantar.

Darcy ficou ali, bebendo sua cerveja, pensando em como emboscaria Tom no dia seguinte. Ele estava em casa no fim da tarde, era quase a hora dele sair para passear com Rony. Seria o momento perfeito. Ele então chamou o cachorro, que não apareceu. Rony quase sempre aparecia quando era chamado. Só existiam duas exceções: se ele tivesse com Charlotte, ou se ele tivesse aprontado. Ele começou a  procurar pela casa.

— Anda, Ronald! Eu sei que você está aqui em algum lugar. O que diabos você quebrou agora? - Ele subiu e abriu a porta do quarto da Charlotte, mas ele não estava lá. Então ele abriu a porta do seu quarto, e o cheiro o atingiu. - Maldito cachorro. Maldito!! - Rony tinha feito suas necessidades em seu colchão.

— Darcy? Darcy! - Ele escutou a voz de Elisabeta lá embaixo. Mas ele estava tirando o lençol sujo para avaliar a situação do colchão.

— Aqui em cima. Primeira porta a direita. - Ele viu que o colchão estava todo molhado. - Maldito! Eu vou matar esse cachorro!

— Então acho que eu deveria ter o acolhido ao invés de trazer de volta? - Elisabeta estava parada na porta, segurando Rony pela coleira.

— Aí está você, seu meliante! - Rony abaixou a orelha e chegou mais para perto de Elisabeta. - Ela não vai salvar você. Você está tão encrencado que eu nem sei.

— O que ele fez? - Elisabeta pôs os cabelos atrás da orelha então Darcy finalmente reparou nela. Ela usava um short curto e uma camiseta justa. Ele nunca a tinha visto com tanta pouca roupa. E era julho. Não fazia tanto calor assim. Mas ainda assim, Darcy não pode deixar de reparar nas pernas dela, no decote. Em como o corpo dela era perfeito. Perfeito para as mãos dele passearem. - Darcy? - Ela deu um sorriso de lado para ele. - olhos aqui. - E apontou para os olhos.

— Desculpe. Fazia tempo que não lhe cantava. Achei que você deveria estar com saudades.

— Você não me cantou. Só me secou.

— Ouvi dizer que ações valem mais do que palavras. - Ela sorriu, mas não do jeito usual, que ele achava adorável. Era o sorriso de um gato. - Mas lhe respondendo, esse criminoso aí, literalmente, cagou na minha cama. - Elisabeta começou a rir. - olha o meu colchão! Vou ter que jogar esse lençol fora!

— Claramente você não teve filhos. É só lavar o lençol. Mas acho que você vai precisar mandar lavar o colchão também. Está fedendo.

— Maldito. Vai dormir lá fora a semana inteira. - Darcy rosnou para o cachorro.

— E onde você vai dormir? - A voz de Elisabeta estava estranha, mas Darcy estava mais preocupado em  sair do quarto com aquele lençol. De jeito nenhum que ele lavaria aquilo. Iria direto para o lixo.

— O que? - Ele perguntou, e quando voltou ela ainda estava parada na entrada do seu quarto, olhando tudo como uma criança curiosa. Ela tinha um sorriso maroto.

— Eu perguntei onde você vai dormir.

— Ah, no santuário. - o sorriso dela se transformou em confusão.

— Santuário?

— O quarto da Charlotte. - Ele a chamou para a porta seguinte, do outro lado. Ele abriu e suspirou, ao ver aquele quarto de paredes roxas coberto de posteres de bandas, mas principalmente, de Harry Potter.

— Parece que a J. K. Rolling vomitou aqui. - Elisabeta andou pelo quarto e parou na janela. Ela a abriu e olhou para fora. Então se voltou para Darcy, o sorriso de gato havia voltado. - Então é aqui que você vai dormir? - Darcy se jogou na cama de solteiro da irmã, que ficava de frente para a janela.

— Até eu mandar alguém limpar o meu colchão. - Ele suspirou.

— Acho que suas amigas não ficarão confortáveis aí. - Ela passou a andar pelo quarto.

— Eu não traria nenhuma mulher para o quarto de minha irmã.

— E no entanto, eu estou aqui. - Ela parou em frente a estante de Charlotte. Darcy inclinou a cabeça.

— Se não a conhecesse melhor, eu diria que você está me dando mole.

— Você saberia se eu estivesse te dando mole. Bem, eu tenho que ir. Devo dizer ao Tom que o Rony está de castigo?

— Não. Mas diga a ele que andaremos mais hoje, é minha forma de fazer esse preguiçoso pagar.

— Está bem. Te espero para jantar hoje? - Ela parou na porta. - Faz uns dias que você não aparece.

— É para você não enjoar da minha cara. Vou jantar com uma amiga.

— Ah. Está bem.

Ela saiu e Darcy permaneceu sentado na cama de Charlotte. Se aquela conversa fosse com qualquer outra mulher, ele diria que era um claro sinal de interesse. Mas era Elisabeta, então ele não sabia o que achar. Ele foi tomar um banho pensando que ela ainda o deixaria maluco. Porque além de tudo, agora teria que lidar com a imagem dela em camisetas justas e shorts curtos demais. Por isso, enquanto caminhava com Tom, decidiu que seria baixo o suficiente para arrancar informações de um garotinho, pois precisava ter certeza sobre Elisabeta, já que aparentemente, o seu corpo parecia reagir a ela tanto quanto seu cérebro: fora do controle.

— Então, Tom, posso te fazer uma pergunta?

— Claro! - Ele saltitava do seu lado, segurando a guia do Rony.

— Onde você e sua mãe moravam antes daqui?

— Ah, em outro estado. Ou é outra cidade? Mas era outro lugar. Tinha um lago, mas eu nunca podia ir lá sozinho.

— E vocês só moraram lá?

— Não. Quando a gente saiu de lá, a gente foi para a capital e ficou na casa do Rômulo. Eu gostava de lá. A gente ia no cinema sempre.

— Depois vocês vieram para cá?

— Sim sim. - Ele concordou balançando a cabeça.

— Então vocês não moraram em várias casas em pouco tempo?

— Não. Só na mansão antiga, e aí no apartamento do Ro, e então aqui. Por quê?

— Nada, só fiquei curioso. Quando eu era criança eu sempre quis morar em vários lugares.

— Eu não. Eu gosto daqui. - Darcy exalou. Se eles não tinham morado em nenhum outro lugar, ou se mudado bastante, ela provavelmente não era  tal golpista. Mas havia outras coisas que ele queria saber.

— Tom, quantos tios você tem?

— Tios? Nenhum. Só tia.

— Ah é? Eu também. Eu tenho uma tia. Margareth. Ela mora em Londres, na Inglaterra. Sabe onde fica? - Ele fez que sim com a  cabeça.

— Eu já fui lá. Mas eu não lembro muito. Era muito frio, eu não gostei.

— Um rapaz viajado. Sua tia também mora lá?

— Não. Minhas tias todas moram na capital.

— Todas?

— Aham.

— Quantas são?

— Quatro. Tia Jane, tia Mari, tia Lídia e tia Ceci. A tia Cecilia vai casar com o Rômulo! Mamãe está muito feliz. Mas ela fica triste quando eu falo delas. Acho que ela sente muita saudade delas. Sabe, eu queria ter outros irmãos. Da minha idade.

— Quem sabe, se sua mãe se casar de novo, ela não tenha outros filhos?

— Mamãe disse que nunca se casaria de novo.

— Por quê? - Agora Darcy só estava curioso. Tudo indicava que Elisabeta era exatamente quem dizia ser. As provas eram circunstâncias. Em um tribunal ninguém acreditaria em Tom, mas aquilo não era uma investigação oficial, e ele acreditava no seu amiguinho.

— Por causa do meu pai. - Thomas falou. Mas então ficou calado e Darcy entendeu aquilo como um sinal vermelho. O pai era sempre o sinal vermelho.

Ele deixou o pequeno em casa, se vestiu e foi até monte Alto, tinha um encontro com Ema. Mas foi um dos piores encontros de sua vida. Ele não prestava atenção no que ela dizia, e quando prestava, ficava entediado. Sua cabeça estava em outro lugar. Em outra pessoa. E agora que ele tinha certeza de quem ela era, as palavras de Charlotte repetiam em sua mente. Ele voltou para casa após dizer a Ema que achava que aquilo não estava funcionando. Ele sorria quando entrou em casa e viu as luzes da sala desligadas. Ele chamaria Elisabeta para sair. A questão seria fazê-la levá-lo a sério. Ele foi no seu quarto, pôs sua calça de dormir e olhou para o seu colchão sujo, e o maldito cachorro que dormia em cima dele, e amaldiçoou os dois. Então ele foi para o quarto e Charlotte e sentou-se na cama. Pegou o celular, quando reparou que a luz da janela em frente a dele se ascendeu. E então ele viu Elisabeta entrar no quarto de toalha, se posicionar de lado para a janela, exibindo um perfil bastante claro dela. Nunca tinha reparado quanto as casas eram próximas até aquele momento. Dava para ver perfeitamente o quarto dela pela janela. E então, Elisabeta deixou a  toalha cair, ficando completamente pelada. Darcy também deixou cair duas coisas: seu celular e o seu queixo.


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