Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 3
Uma família nada perfeita.




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Fernanda entrou no corredor do hospital e se dirigiu a uma ala separada. Antes de entrar no quarto ela suspirou e abriu a porta. Lentamente se aproximou da cama onde estava deitada uma senhora de idade avançada. Ela estava conectada a vários equipamentos que a mantinham viva.

Ela se aproximou da cama, mas antes colocou a bolsa sobre a mesa que havia no quarto reservado.

— Olá mamãe — Fernanda segurou na mão da senhora, na esperança que ela abrisse os olhos e respondesse. Sabia que isso não aconteceria, mas aquela tinha sido sua esperança ao longo daqueles meses.

— Senhora Accioli. — A voz do médico entrando no quarto, fez com que Fernanda dissipasse qualquer recordação ruim.

— Olá doutor Daniel. E minha mãe? Alguma reação?

— Você sabe que no quadro de sua mãe, uma resposta assim seria um milagre.

Fernanda acreditava em milagres!

Sempre que ia ao hospital ela fazia a mesma pergunta. E a resposta sempre era a mesma. Mas talvez um dia fosse diferente.

Assim que o médico saiu do quarto, ela sentou de frente para a mãe e por horas ficou olhando-a. Não conseguia se desculpar pelo que havia acontecido naquele acidente meses atrás. Quando as vítimas tinham sido sua mãe e a filha Isabella.

Naquela manhã de domingo, elas se dirigiam a casa da família de Fernanda. Constança estava retornando depois de um dia de diversão ao lado da neta e filha. Porém no meio do caminho foi o acidente. Bela que estava sentada no banco traseiro foi atingida pelo veículo que bateu na lateral do carro. Sua filha de dois anos morreu naquele dia! Sua mãe também tinha sido vítima. Por causa disso, não conseguia se desculpar!

Lágrimas ameaçavam cair de seus olhos, mas ela as manteve firme. Não teria tempo para aquilo naquele momento. Depois de beijar o rosto da mãe disse próximo ao seu ouvido:

— Te amo mamãe.

Samuel estava distraído. Quando levantou o rosto viu Fernanda caminhar em passos largos em direção ao veículo. Rapidamente ele abriu a porta para que ela entrasse, mas no momento em que ela estava próximo algo no chão fez com que tropeçasse. Ele a amparou para que ela não se machucasse.

Fernanda pareceu ficar envergonhada pela situação ocorrida, mas nada disse. Apenas entrou no carro e ele bateu a porta.

Samuel riu com o canto dos lábios. Onde estava a educação dos ricos que não sabiam agradecer? Mas não deveria esperar esse tipo de atitude, afinal talvez isso nunca ocorresse.

Já dentro do carro do carro ele deu partida. A única palavra direcionada a ele foi:

— Vamos para casa!

“Tudo bem senhora Fernanda” pensou Samuel enquanto dirigia em retorno para a casa dos Accioli.

Ao chegarem, Fernanda não esperou que Samuel abrisse a porta. Ela simplesmente saiu do veículo e foi em direção a casa. Antes de descer do carro, ele pensou em tudo o que estava acontecendo na sua vida e sentiu-se frustrado.

Ele seguiu pela área lateral e encontrou com Sandra, que estava na cozinha ordenando as coisas que eram para serem feitas.

— Tudo bem Samuel?

Ele olhou para senhora e sorriu. O que tinha a dizer? Que esperava mais educação pela parte dos patrões? Não deveria, pois era apenas um empregado.

— Acho que a senhora Fernanda não gostou muito de mim.

— Porque você diz isso?

— Creio que ela me tratou com hostilidade.

A senhora se aproximou dele e sorriu.

— Ela não é hostil! Talvez porque ela ainda não o conhece. Depois você verá que a ela é diferente dos demais dessa família.

Samuel ficou apreensivo ao ouvir aquilo, mas não deveria se abalar.

— Notei que o olhar dela tem algo estranho... Parece que está perdida em alguma parte.

— Talvez você esteja certo Samuel!

Naquele momento o telefone soou e Sandra atendeu. Por alguns segundos ela falou com a pessoa. Após desligar o aparelho, ela virou para Samuel e disse:

— Pegue o Sr. Lorenzo no aeroporto. Ele estará chegando no voo das onze.

Ele olhou no relógio e viu que teria ainda uma hora de tempo até as onze. Não teria problemas para cumprir seu compromisso.

— Estarei lá, mas a senhora não me disse como ele é.

Sandra riu. Pois de fato não havia mostrado para Samuel como Lorenzo era.

— Este é o Sr. Lorenzo.

Samuel viu a foto do homem. Lorenzo era um homem de olhar expressivo e exalava autoridade, pensou ele. Sua aparência era como a de qualquer europeu comum. Alto, branco e olhos bem azuis.

— Obrigada Sandra, você está me ajudando muito.

— Você vai precisar de mais sorte é com esse! Quer um conselho? Não se atrase ou perderá seu emprego.

— Sim.

E sem perder mais tempo, Samuel partiu rumo ao aeroporto para buscar o Sr. Accioli.

***

Fernanda escolhia o vestido para aquele jantar. Estava distraída e não ouviu quando Lorenzo entrou no quarto. Quando ela percebeu sua presença, deixou a roupa no lugar e se aproximou dele na tentativa de abraçá-lo, mas a rejeição foi instantânea.

— O que significa isso Fernanda? — Lorenzo deixou o casaco sobre a cama e a mala deixou no canto próximo à cama.

— Estou tentando receber meu marido.

— Não desperdiçamos nosso tempo com essas bobagens! — disse ele cortando qualquer gesto de amabilidade. — Meus pais já chegaram?

— Já estão chegando.

— Ótimo! — Ele caminhou em direção ao banheiro e no caminho ia retirando a roupa, mas ele parou e virou para a esposa. — Faça seu papel direito!

Fernanda sorriu amargurada enquanto via o marido ir ao banheiro.

Era uma boba por esperar algum tipo de afeto de Lorenzo. No início do casamento eles eram um casal feliz, mas ele havia se distanciado após a morte da pequena Isabella. Era uma clara demonstração que a culpava por aquilo!

Não era mais um casamento de amor, mas sim um enfadado e cansativo teatro, onde Lorenzo e ela sorriam para que todos falassem “Quão bela é a família Accioli!”

Ela suspirou para afastar qualquer rastro de tristeza. Não poderia dar-se ao luxo daquilo, afinal logo teria que sorrir diante da família do marido.

Na hora combinada, o casal de senhores chegou na residência. Donatela, como sempre exalava grandeza. Sua elegância sempre foi destaque nas colunas sociais. Não poderia esperar menos da sogra! Acompanhada a eles estava o irmão de Lorenzo e sua esposa.

Fernanda odiava aqueles eventos familiares, mas como uma boa esposa da família Accioli, precisava participar deles! A família de Lorenzo sempre fazia questão de recordá-la do motivo de estar naquela casa!

Há cinco anos quando conheceu Lorenzo, não fazia ideia, que aqueles dias de riso se transformariam em dias tristes.

— Lorenzo querido, como estas?

— Bem mamãe. Muita saudade de você e do papai.

O pai de Lorenzo olhou para Fernanda como se ela fosse uma pessoa inferior. Certas pessoas tinham o poder de destruir alguém apenas com um olhar. Essa pessoa era Angelo Accioli!

— O que esta mulher está fazendo na minha frente?

— Papai, por favor, não é o lugar para isso! — reclamou o irmão de Lorenzo. Em seguida ele abraçou Fernanda e ela agradeceu por ainda existir alguém naquela família que demonstrasse afeto.

A família se reuniu na sala principal. Enquanto eles conversavam e riam, Fernanda correu em direção a cozinha, levando consigo uma taça de vinho. Precisava daquele “combustível” para se manter firme até o final daquela noite.

— Está tão ruim assim?

Ela virou e deparou-se com Sandra que trazia uma bandeja com alguns aperitivos.

— Oh Sandra! Você me conhece tão bem.

— Aguente firme!

— Queria poder fugir daqui... Tudo em ordem para servir o jantar?

— Sim.

Fernanda beijou o rosto da governanta e única amiga dela.

— Me deseje boa sorte!

— Boa sorte!

— Obrigada querida.

Ela chegou na sala e anunciou que o jantar estava servido. Todos se dirigiram a sala principal onde seria servida a refeição.

Durante o jantar, Alessandro, o irmão mais novo de Lorenzo informou que precisava anunciar algo a família.

— O que meu irmão tem a dizer?

Alessandro olhou para sua jovem esposa e sorriu.

— Eu e Patrícia, seremos pais.

— Meu amor, não poderia dar-nos melhor notícia! — Exclamou Ângelo, abraçando o filho e a nora. — Serei avô novamente!

Fernanda abraçou a cunhada e desejou para ela tudo de bom.

Ela lembrava-se dos dias que havia aguardado a chegada de sua pequena Isabella. Quando ela levantou o rosto, deparou-se com o olhar acusador de Ângelo e sentiu medo.

— A vida está me devolvendo esta alegria novamente, após ter sido tirada de nós tragicamente.

— Por favor, querido! — Donatela segurou a mão do marido. — Deixemos nossa pequena descansar em paz!

Ângelo lançou um olhar acusador na direção de Fernanda. Ficava evidente que ele a estava culpando pela morte de Isabella. No dia do acidente, ele disse que nunca a perdoaria por aquilo. Fernanda queria dizer que jamais mataria a filha. Quer Bela era a alegria de sua vida. Mas as palavras morreram em sua garganta. Não conseguia aguentar aquela acusação velada. Ela não poderia permanecer naquele local. 

— Me desculpem.

Ela levantou e seguiu para a área superior da casa. Caminhou pelo longo corredor e foi em direção ao quarto onde Isabella ficava. O local permanecia do mesmo modo que ela havia deixado naquele dia fatídico.

Fernanda caminhou por entre os móveis da pequena. Tocava em cada um deles como se assim pudesse trazer novamente a vida de sua filha.

— Minha filha! — Exclamou ela sufocando o grito abafado em sua garganta. — Como sinto sua falta!

Ela deitou na cama da pequena e apoiou a cabeça no travesseiro para poder exalar o perfume que resistia ao tempo. Tudo naquele lugar tinha a marca de Isabella. Não resistia quando diziam que ela era a culpada de sua morte.

Durante meses lutava contra aquela dor. Contra aquelas acusações que a matava lentamente. Queria poder voltar no tempo e ter novamente ela ali!

Fernanda fechou os olhos e deixou-se ser consumida pelas lágrimas que caíram de seus olhos. Há tempos sufocava aquela dor. Não conseguia resistir mais!

Ela foi tomada pelo cansaço e acabou dormindo. Acordou com o som da porta do quarto sendo aberta.

— Então foi aqui que você se escondeu?

Lorenzo se aproximou de onde ela estava e segurou firme em seu pulso fazendo com que ela levantasse.

— Você está me machucando! — reclamou ela sentindo a pressão das mãos dele em seu pulso. — Me solta!

Quando ela puxou o braço, acabou caindo sobre a cama e machucando o pé.

— Não ouse fazer aquilo outra vez! — Lorenzo se referia ao fato de sair da mesa antes que todos tivessem terminado o jantar.

— Seu pai me odeia!

— Não importa! Nunca esqueça o motivo de você estar aqui! — Lorenzo se aproximou e abaixou para ficar na altura dela. — Meus pais já foram, mas meu irmão e a esposa dele estão aqui. Espero que isso não volte a acontecer.

Ele virou a costa para sair e Fernanda perguntou:

— Você vai sair?

A resposta foi um riso debochado na direção dela e em seguida ele saiu do quarto. Ela já sabia a resposta!


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