Jornada para o amor. escrita por ElaineBDQ


Capítulo 15
Você mudou minha vida.




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Fernanda abriu os olhos e procurou por Samuel, mas ele não estava no quarto. A única menção a sua presença, eram os lençóis emaranhados da noite ao lado dele. Ela levantou, vestiu o robe e caminhou até a janela. Por alguns minutos, ficou olhando a praia e aos raios tímidos do sol que nascia por entre as nuvens.

Ela pegou o celular para olhar as horas e viu a mensagem de Lorenzo. Ele dizia que eles deveriam se encontrar. O que ele queria? Ela se indagou. A possibilidade de encontrá-lo lhe deixava tensa.

Afastando todas aquelas tensões, ela fez sua higiene matinal e foi comer sua refeição da manhã. Ao aproximar-se da cozinha, ouviu a voz infantil de Emir que conversava algo com o pai. Por alguns minutos, ela ficou olhando-os em silêncio.

Emir era muito parecido com o pai. Vê-los juntos, conversando como se fossem grande amigos, era a coisa mais linda! . Fernanda desejou que eles fossem uma família. Seria muito feliz se Isabella estivesse ali.

O garoto percebeu a presença dela e deu um salto da cadeira, correu até onde ela estava e a abraçou.

— Uau que abraço bom! — disse ela gracejando. Em retribuição, beijou o rosto do pequeno. Em seguida olhou para Samuel que tinha o olhar fito sobre ela.

— E eu? — Samuel perguntou. Mas no seu olhar tinha um misto de gracejo.

Emir olhou para o pai com uma interrogação. Em seguida, olhou para Fernanda, que tinha a face vermelha de vergonha.

— Vocês estão namorando?

A resposta foi uma risada de Samuel, que em seguida levantou e parou em frente aos dois e beijou Fernanda. A atitude dele causou surpresa e ela não soube como reagir. Quando ele se afastou olhou para Emir e disse:

— Você é muito esperto!

O menino bateu as duas mãos e deu um salto de alegria. Com seu jeito infantil, começou a repetir "Papai e a Fernanda estão namorando...".

Ela olhou para Samuel, foi difícil esconder sua timidez diante da situação.

— O que você fez?

— Beijei você. — disse com naturalidade e cinismo.

— Na frente do Emir?

A resposta dele foi um sorriso.

— Não se preocupe, o Emir é um garoto esperto... Ele ficaria muito feliz se isso acontecesse de verdade.

Samuel se referia ao fato deles estarem juntos. Não iria invocar aquele tema nesse momento. Ele mudou o assunto chamando-a para a refeição que já havia preparado.

Fernanda teve um dia agradável ao lado de Samuel e Emir. Ela tinha decidido aproveitar ao máximo aqueles momentos que ainda teriam. Enquanto o pequeno brincava na praia, ela e Samuel conversavam sobre os planos dele para iniciar o seu novo trabalho.

Samuel estava muito esperançoso em exercer sua profissão. Isso realmente lhe deixava muito feliz, mas ao mesmo tempo, saber que ele iria para longe era algo que a deixava triste. Aquele sentimento era confuso para ela. Sabia que não tinha o direito de impedi-lo de buscar melhoras para sua vida, mas também tinha aquele misto de sentimentos que por vezes a confundiam e a assustavam.

— Eu vou voltar hoje. Não quero voltar sem saber como será entre a gente...

Fernanda virou o rosto para encará-lo. No olhar dele era visível que esperava uma resposta, mas ela não sabia se poderia fazê-lo agora. Não agora quando ainda existiam tantas coisas para serem resolvidas.

— Eu preciso de um tempo... Tantas coisas ainda são confusas para mim.

Ele a abraçou e a trouxe em direção ao seu corpo. Por alguns minutos eles permaneceram juntos e abraçados.

— Eu gosto muito de você, Fernanda... Não sei quando aconteceu, mas eu realmente me apaixonei você.

Fernanda ouvia tudo em silêncio. Em certo momento virou o rosto para ele e deixou que ele a beijasse.

Samuel se manteve firme, mas seus medos eram expostos. Tinha medo de perdê-la! Tinha medo, que tudo não passasse de um sonho. A diferença entre eles era muito grande e tinha medo... Muito medo de perdê-la.

***

A casa pareceu tão vazia após a partida deles. Fernanda caminhou por todos os cômodos na procura de ocupar seu tempo, mas nada conseguia prender a sua atenção. Depois de tentar ler um livro pela terceira vez, ela acabou desistindo e foi atender ao telefone que soava. Reconheceu de imediato o número de Lorenzo. Pensou em não atender, mas acabou desistindo da ideia.

— Finalmente você atendeu! — reclamou ele após longa insistência.

— O que você quer?

Ela não queria ficar em meias conversas, por isso foi direto ao tema. Como resposta, Lorenzo sorriu do outro lado da linha.

— Minha doce Fernanda, quanta mudança.

— Por favor, diga o que você quer!

— Quero falar com você. Temos coisas importantes a conversar... Coisas que você certamente gostará de ouvir.

Fernanda pensou em recusar o convite, mas ficou curiosa e combinou de vê-lo ali na casa de praia.

No final do dia, na hora combinada o carro de Lorenzo estacionou em frente à casa. Pela janela, Fernanda o viu sair do veículo e caminhar em direção a casa. Por um breve momento ela ficou pensando no homem por quem se apaixonou. Naquela época era uma jovem apaixonada e abandonou tudo por amor. Onde aquele sentimento tinha ido parar?

Ela abriu a porta e ele entrou. Não fez nenhuma cerimônia, afinal ele também era dono da casa.

— Estamos aqui, diga o que você quer?

Lorenzo parou no meio da sala encarando-a. O olhar dele era de puro cinismo.

— Onde está aquela Fernanda educada e recatada?

Ela riu. Não estava acreditando no que tinha acabado de ouvir.

— Você é cínico! Esqueceu que essa mulher você mesmo matou? Matou quando me subjugou aquela vida! Quando me abandonava para dormir com suas amantes!

— Então foi por isso que você foi se agarrar com aquele motorista negro?

Foi difícil para Fernanda esconder sua surpresa ao ouvir o que Lorenzo tinha falado.

— Pensou que eu não soubesse? — enquanto Lorenzo falava, ele jogou sobre a mesa uma série de fotos onde apareciam ela e Samuel.

Enquanto olhava aquelas fotos ela ficava nervosa. Todas as fotos eram de momentos em que ela e Samuel estiveram juntos.

— Você me seguiu?

— Pensou que ia ficar parado, enquanto minha mulher se deitava com esse africano nojento?

As palavras dele eram asquerosas e isso a irritava! Como ele podia se referir a Samuel daquele jeito tão preconceituoso? Fernanda não conteve sua irritação e atingiu o rosto do marido com uma tapa. Era a demonstração de sua raiva.

Lorenzo tocou a face avermelhada. Ele sorriu, mas na sua feição ficou evidente a raiva que ele estava sentindo. Naquele momento ela sentiu-se temerosa.

— O Samuel não tem nada a ver com isso, e você sabe muito bem! O nosso casamento já não existia há muito tempo.

— Olha essas fotos! Todo esse tempo vocês dois estavam juntos!

— Mentira!

Aquela conversa não tinha sentido. Não iria ficar discutindo com Lorenzo! Tudo o que ela queria naquele momento, era poder desfrutar de paz.

— O que você pretende com isso? — ela pegou as fotos e as colocou de volta no envelope e entregou para Lorenzo. — Eu não vou mudar de ideia!

Lorenzo deu um riso cínico, aquilo causou certo temor em Fernanda. Ele já sabia que ela iria reagir daquela maneira, por isso se adiantou.

— Nem depois disso? — Ele estendeu um envelope na direção dela. Com as mãos trêmulas, Fernanda tomou o papel e viu que se tratava da escritura da fazenda.

"O que aquilo queria dizer?" Essa era a única coisa que ecoava na mente dela. Ela levantou o olhar e fitou Lorenzo. Ele tinha um ar de triunfo no rosto.

— A fazenda é minha! Mas se você mudar de ideia, ela volta ao dono original.

Aquilo era uma ameaça muito baixa! Como ele podia usar aquela situação daquele jeito? Ele sabia que a fazenda era a maior herança deixada pela sua família. Jamais desistiria disso!

— Você é um crápula! — ela disparou com a voz embargada. Estava muito nervosa e angustiada. Aquilo não poderia ser real!

Lorenzo segurou o pulso dela e num movimento rápido a levou de encontro a seu corpo, em seguida tocou seus lábios num beijo. O gesto surpreendeu Fernanda, que rapidamente se afastou e o atingiu com uma tapa no rosto. Mas aquilo não o atingiu, pois ele disse:

— Lembre-se disso Fernanda, você é minha esposa e assim continuará sendo!

Aquilo não era real! Ela sentiu lágrimas rolarem na face. Sentia-se furiosa e frustrada com aquela situação. Não iria se rebaixar na frente dele. Rapidamente, ela limpou as lágrimas com as duas mãos. O gesto causou uma risada em Lorenzo que continuou ameaçando.

— E lembre-se de se afastar daquele negro infeliz! Ou quem sabe, algo possa acontecer e não será bom!

— Você não seria capaz!

Fernanda queria acreditar que ele não seria capaz de cumprir a ameaça, mas naquele momento, Lorenzo era alguém desconhecido para ela.

— Talvez um telefonema e ele seja deportado... Ou uma acusação. Afinal, não seria difícil pensar numa solução!

Aquelas palavras de Lorenzo lhe encheram de ira. Tomada pela fúria, Fernanda partiu para cima dele atingindo-o com golpes, mas ele rapidamente a imobilizou prendendo seus braços.

— Eu te odeio! — Ela disparou.

O olhar de Lorenzo não ocultava sua fúria e cinismo, mas ele mantinha-se calmo.

— Agradeça por ainda existir sentimento em mim. Se não fosse isso, você e aquele negro já teriam me pagado muito caro!

As mãos dele apertavam forte o pulso dela e Fernanda começava a sentir dor. Ela fez força para se soltar e nesse movimento ela caiu no chão. Lorenzo apenas se aproximou dela e com altivez ameaçou novamente.

— Eu darei um tempo para você se organizar... — Dizendo isso, Lorenzo virou e foi em direção a saída, mas ele parou na porta e virou para ela — A nossa casa estará aberta para você!

Depois disso ele sorriu e virou saindo da casa e partiu.

O que havia sido aquilo? Não poderia ser real! Fernanda pegou novamente os papéis da fazenda e testificou-se de que não estava tendo pesadelos. Lorenzo era realmente o dono da casa e estava fazendo chantagem por causa disso!

Ela pegou o telefone e ligou para Carlos, mas quem atendeu foi sua esposa, já que ele não estava na casa. Fernanda suplicou que ele ligasse assim que chegasse, pois precisava falar com ele com urgência.

Fernanda se recompôs do susto e levantou ao ouvir o celular vibrando. Era Samuel do outro lado da linha. Por um tempo ficou apenas olhando para o aparelho, mas em virtude da insistência, ela atendeu. A voz dele parecia tão alegre e ao fundo ouviu a voz de Emir, que também estava feliz.

— Olá, liguei pra te contar a notícia... Eu fui aceito!

Queria dizer que estava feliz por ele, mas tudo o que saiu dos seus lábios foi um gemido de choro. Para ocultá-lo, ela tapou o telefone. Samuel parecia entender que algo não estava bem e perguntou:

— O que houve?

Fernanda rapidamente se recompôs e continuou.

— Estou feliz por você. Esse era seu sonho. Parabéns!

— Obrigado.

Em seguida ele desligou o telefone após se despedir. Fernanda ficou por um tempo apenas olhando sem rumo. Pensou em Samuel e no quanto ele merecia poder desfrutar daquilo. Ainda mais depois do tanto que ele havia sofrido.

O telefone soou novamente, dessa vez era Carlos. Ela rapidamente atendeu e colocou a situação diante do irmão. O que recebeu dele foi um silêncio angustiante. Aquilo respondia ao que ela temia. Realmente Lorenzo usaria a fazenda para chantageá-la a desistir do divórcio. Desgraçado!

— Porque você não me avisou?

Ela ouviu o choro do irmão e ficou compadecida. Sempre aprendeu que homens não choravam, mas naquela situação tinha certeza que as coisas eram diferentes.

— Eu sinto muito Fê... Não queria preocupar você.

Ela riu. Naquele momento agradeceria por ter sido "perturbada", se assim o fosse não estaria agora naquela situação.

— Naquele dia, eu perguntei sobre a dívida. Você me disse que estava indo bem. Que faltava pouco para quitarmos. Quanto falta exatamente?

— Mais da metade.

Ela caiu sentada no sofá. Céus! Levaria quanto tempo para quitar aquela dívida? Não poderia ficar presa aquela chantagem. Não poderia!

— Eu vou ajudá-lo Carlos, nós vamos recuperar os bens da nossa família.

Aquelas palavras demonstraram uma força que nem ela acreditava, mas era hora de encarar a realidade.

Depois de desligar o telefone, ela andou pela praia até que cansada sentou na areia. Lembranças dos momentos compartilhados com Samuel povoaram sua mente. Estar ao lado dele era algo maravilhoso. Finalmente podia se sentir viva. Infelizmente, era hora de abandonar aquela aventura.


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