Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 23
The Time We Always Wanted




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Quando ele a viu pela primeira vez, ela estava prestes a cair num lago.

Alguém poderia tentar argumentar e dizer que parte da culpa era dele, mas ele ainda mantém sua opinião de que ela é quem deveria olhar para onde estava indo. Especialmente quando ela estava caminhando perto de uma ribanceira tão alta. Se ela tivesse prestado o mínimo de atenção pro ambiente em primeiro lugar, que nem todo mundo, ela não teria se desequilibrado.

(E ainda assim, depois de alguns meses, ele estava feliz por ela ter sido tão descuidada daquela vez. Mesmo que ele tivesse que aguentar algumas reclamações de vez em quando por ter empurrado ela do cavalo.)

Naquele primeiro encontro, ele não tinha como dizer o quanto ele a amaria. E ele não poderia sequer acreditar que ela o amaria também. Depois de reconhecer seus sentimentos pela garota e se retirar para se sentar às margens de outro lago, ele ainda não tinha como saber quantas memórias deles juntos ele teria para guardar um dia.

Alguns anos depois, eles estavam naquele mesmo lugar: os braços dela o confortando enquanto ele desmoronava, os dois observando as estrelas enquanto ele ouvia as histórias forasteiras em silêncio, ou simplesmente conversando de vez em quando ao mesmo tempo em que evitavam os olhares curiosos da corte. Alguns anos depois, ela também o beijou pela primeira vez às margens daquele lago. (Claro, também fora lá onde ele a beijou pela primeira – e segunda – vez, mas ela disse que não valia, e ele sempre escuta o que ela fala.) 

Às margens daquele lago ele a deixou para trás, salvou a sua vida, pediu a mão dela em casamento e ouviu uma revelação de partir o coração.

Naquele lago ele a viu morrer, abraçou-a quando seu coração foi parando de bater, e depois espalhou suas cinzas, tentando lhe dar liberdade enfim.

Por décadas depois que ela se foi, ele refazia o mesmo caminho que eles andaram quando eram jovens, tentando manter a imagem dela vívida e clara como da última vez que ele a vira, sem nunca esquecer da promessa que tinham feito um para o outro. Então ele não pode deixar de fazer outro paralelo quando eles se reencontram.

Porque, quando ela a encontrou pela primeira vez de novo, ela estava observando um lago escuro saudosamente, como se ela fosse durar para sempre.

Ele ainda está se adaptando, ainda está tentando entender esse novo mundo que o cerca. Ele ainda sente que essa vida é mais como um sonho, que ele está deslocado da moldura que antes cercava a realidade. Ele ainda não consegue fazer tudo sozinho, ainda caminha com passos vacilantes em um mundo que parece estar acima da superfície do seu antigo mundo. Mas desde que ele a tenha ao seu lado, ele não se importava de viver pela infinidade.

Então ele dá um passo à frente, um firme e decisivo, em direção à eternidade deles.

 

 

Quando Go Hajin acorda, ela solta um grunhido de desconforto e tenta dormir de novo. 

Ela se revira nos lençóis, fecha os olhos com força, esperando que o doce sonho que ela estava tendo volte mais uma vez e que ela consiga mais algumas horas de sono tranquilo. Mas é claro que a luz forte do sol que entra pela janela com as cortinas abertas torna tudo impossível. 

Logo ela desiste de dormir e se levanta da cama, grunhindo de novo quando pega o celular e vê que é cedo demais pra se levantar numa manhã de sábado.

Ela vive lembrando a ele que não deixe as cortinas abertas, mas ele sempre esquece.

Depois de prender o cabelo num coque e se trocar dos pijamas, ela desce as escadas, procurando por ele. A luz forte a cega mais uma vez, e ela se admira do quanto ele gosta de acordar cedo – e aparentemente, acordar ela também, provavelmente pra fazer companhia a ele.

Ele tinha trabalhado até tarde na noite passada e ela já estava na cama quando ele chegou e deitou ao lado dela, sua mente já meio adormecida quando ele se aninhou à ela. Ela se lembra de ter dito alguma coisa a ele, sua mente ainda meio turva e seus olhos pesados de sono.

Mas ela se lembra do que ela não contou pra ele, o que ela realmente queria contar, mas não pudera porque ele demorou mais que o esperado pra chegar. O que ela tem que contar pra ele agora, se é que ela vai conseguir encontrá-lo.

Hajin acaba achando ele no jardim, suas roupas sujas de terra e suas ferramentas deixadas de lado enquanto ele descansa à sombra das árvores.

O assunto que ela quer falar com ele é meio que urgente, mas Hajin pausa quando vê o marido daquele jeito. Ela aprecia a vista antes de se aproximar, e decide que a cena dele entre as árvores e plantas que ele cuidava é uma das coisas mais belas que ela já viu.

Ele ama aquelas árvores. Às vezes ela brincava e dizia que ele as amava mais do que ela, e ele retrucava no mesmo tom, dizendo que era porque elas eram mais fáceis de cuidar e conversar. Mas a verdade é que ela as ama também, mesmo que ela não seja tão hábil em cuidar delas quanto ele.

Ela ama aquelas árvores, e ama aquele jardim inteiro. Ela ama vê-lo finalmente em paz e fazendo coisas porque quer fazê-las, não porque ele é obrigado ou porque precisa sobreviver.

Geralmente ela ficava de pé ou no máximo de cócoras quando ia conversar com ele e ele estava descansando lá ou cuidando das mudas. Mas hoje não é um dia como os outros, então ela se conforma em sujar as roupas também e se deitar ao lado dele, apoiando a cabeça no seu peito.

Assim que ela se aproxima, o braço dele está pronto pra recebê-la e, depois que ela encontra uma posição confortável, abraçá-la com delicadeza. Ele nem precisa abrir os olhos, esse tipo de interação entre eles acontece naturalmente, até quando ele beija a testa dela gentil e lentamente, seu abraço ficando mais firme quando o dela também fica.

— Lembra daquele sonho que eu tive em Goryeo? — A pergunta dela é quase um sussurro, como se ela estivesse com medo de atrapalhar a atmosfera calma entre eles. E ela faz ele abrir os olhos e virar o rosto para olhar para ela.

Ele franze os olhos, tentando lembrar dos detalhes da vida anterior deles, e então responde com outra pergunta, tentando confirmar do que ela está falando.

— Daquela vez na casa carcomida de Baek Ah?

Hajin ri e dá um tapinha no peito dele, fazendo um protesto em defesa do 13º Príncipe.

— Ela não era tão ruim assim.

— Se você diz.

— Mas você lembra?

— Qual deles?  — Ele sorri e ela sabe que ele só está provocando, especialmente depois de seu próximo comentário, — Você tinha sonhos estranhos o tempo todo por causa dos hormônios.

Ela tem que contar até três pra não bater nele de verdade.

— Você disse que eles não eram estranhos! — Ela exclama depois de arfar indignada.

— Eu tinha amor à vida.

— Eu não estava tão louca assim!

— Eu não te culpo por ter ficado louca.

Hajin se segura. Ele está achando graça da revolta dela, e se depender dele eles vão ficar nesse vai e vem até o sol se pôr. Então ela respira fundo e se reclina sobre o peito dele, voltando para o assunto que ela puxou antes, sabendo que ele ficaria sério se ela demonstrasse que estava séria.

— Mas o meu sonho...

— Sim, o seu sonho, — ele fala com um tom mais compromissado, e por um segundo ela realmente acredita que ele está falando sério, — Aquele com a velha costurando flores perto do lado, mas quando ela as deu pra você elas viraram pêssegos?

Ela está prestes a estourar de novo, dizer para ele parar de gozação e de provocá-la, bater nele e voltar para dentro, mas o cérebro dela finalmente registra as palavras dele e ela pausa.

— Nossa, eles eram estranhos mesmo.

— Que nem seus desejos. 

— Não começa, — ela cutuca o peito dele para impedi-lo. Ele vai entrar num campo minado com essa, então ela decide que é melhor evitar um assunto que só vai acabar em mais discussão e sem ela conseguir dizer o que tinha ido dizer, — Enfim, você lembra do sonho que eu tive que a gente tinha casado e comprado uma casa e tudo mais?

— Um bosque também, se não me engano.

Hajin se lembra de quando ela não podia nem dizer que tipo de casa ela tinha visto no sonho daquela vez, e como ela não conseguia acreditar quando ele disse que eles iam fugir para um lugar daqueles juntos, que ele construiria um lar para eles.

— Parece que foi há tanto tempo, e agora ele é real, — ela suspira e sabe que ele entende o que ela quer dizer, — É loucura, não? Foi um sonho que eu tive mil anos atrás, e agora ele está se repetindo exatamente como no sonho. Acha que foi uma visão?

Eu vi o futuro que nós teríamos depois que meu tempo em Goryeo tivesse acabado, ou eu desejei tanto que aquela cena fosse real que ela acabou acontecendo?

— A pequena não estava com a gente também no seu sonho? — Ele pergunta, usando o apelido carinhoso de Seol, lembrando de detalhes que outra pessoa não poderia recordar.

Ele provavelmente só quer apontar as inconsistências na teoria dela, e seu tom de voz é novamente de provocação. Mas quando ele diz isso, o rosto dela se ilumina – um sorriso largo se espalha pelo rosto ao ponto das bochechas doerem.

Afinal, de que outra forma essa alegria poderia ficar ainda mais completa?

— E ela está agora, — ela responde, olhando para as mãos que acariciam protetoramente a barriga, — Bem, mais ou menos.

Leva alguns segundos pra ficha dele cair.

E quando ela cai, é como se ele tivesse sido atingido por um raio. Ela o observa enquanto confusão vira choque, que depois vira espanto e maravilhamento com um pitada de alegria e empolgação. Os olhos dele brilham que nem brilharam mil anos atrás, mas já que dessa vez não há nenhum fardo sobre seus ombros – nem as gaiolas e jaulas invisíveis ao redor deles – ele se levanta num salto, levantando-a consigo, girando-a no ar pelo quintal deles, e ele ri em voz alta, pristina e viva; e ela ri com ele.

— Obrigado, — ele sussurra, expirando o que soa como alívio, como deleite, como realização, e como alegria, tudo ao mesmo tempo. E ela sabe que ele está agradecendo por tudo, pela vida deles em Goryeo e pela segunda chance em Seoul. Todas as suas escolhas e sacrifícios, tudo o que ela viveu e suportou ao lado dele.

Então, quando ela o beija, ela também lhe agradece. Ela se arrepende de ter escolhido ficar ao lado dele e sacrificar tanto. E ela também está grata por tudo o que ele fez por ela, mesmo quando tudo o que ele podia fazer era só ficar ao seu lado.

— Mas pode não ser ela.

— Eu estou feliz assim mesmo, — ele sacode a cabeça, rindo ao desmerecer o aviso dela, — Se for Seol ou não, eu estou feliz. — Ele não precisa dizer o que ela já sabe. Se for Seol crescendo na barriga dela de novo, então ele vai ficar feliz como nunca antes.

E ela também não precisa dizer o que os dois já sentem e acreditam, embora ainda seja muito cedo e eles não tenham como provar. Que é Seol, é a filha deles, a pequena deles. É ela, e os três estarão finalmente juntos de novo, finalmente vivendo juntos. Que nem eles sempre desejaram.

— Kim Hyeonjin, — ela sussurra, suas lágrimas caindo lentamente enfim e seu sorriso brilhando mais que a luz do sol, — Obrigada por ter me encontrado.

— Obrigado por me encontrar primeiro, Go Hajin, — ele segue o exemplo dela e usa seu nome moderno completo, fazendo o coração dela se derreter.

Sempre. Ela sempre o encontraria.

Não importa onde.


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Notas finais do capítulo

E é isso, gente. História finalizada. Agora é oficial!
Minha primeira historinha com vários capítulos, e me comove finalizá-la pela segunda vez! :D

Agradeço mais uma vez por todo o apoio, mesmo que você só tenha sido um leitor fantasma. Serião, eu conto aquelas visualizações como se fosse dinheiro caindo na minha conta - Mesmo que sejam poucos e silenciosos, fico feliz que tenham parado pra ler! E espero do fundo do coração que tenham gostado do produto final.

Se quiserem curiar a musiquinha que inspirou esse capítulo -> https://youtu.be/K-_80_QNGSY
E aqui tem a playlist completa -> https://www.youtube.com/playlist?list=PLwd2SwoMJhcwtAO2TePYf45iFVETQTq2n

Agora, se você é como eu - nunca na vida eu vou superar Moon Lovers - venho lhes fazer propaganda da minha mais nova fanfic Hide The Petals (tá lá no meu perfil). Teremos uma Hae Soo mais dark, um cenário mais angst, e um final alternativo, porque é pra isso que escrevo fanfic desse dorama.

Até mais e até a próxima!

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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