Minguante escrita por JennyMNZ


Capítulo 17
River, Deliver Her There


Notas iniciais do capítulo

Capítulo sabor fofura com cobertura de tristeza, do jeitinho que eu gosto de escrever :D



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Ainda está escuro quando o quarto se enche do choramingo de uma criança acordando e depois dos murmúrios acalentadores de sua mãe. Seol não chora, já que ela é tirada da cama quase que imediatamente, e enterra a cabeça no seu ombro, esfregando os olhos.

— Olá, Seol-ah! — Soo diz num tom materno e vibrante, — Você acordou pra dizer bom dia pro seu pai?

— Perdão, Seol-ah, — seu pai se desculpa rapidamente, acariciando as bochechas do bebê levemente, sua voz num tom terno que a maioria das pessoas não poderia imaginar que ele é capaz de ter, — Eu te acordei de um sonho bom?

Hae Soo abana a cabeça e responde no lugar da filha deles.

— Claro que não, — ela sorri, como se a pergunta dele fosse boba e sem fundamento, e então volta a falar com a criança mais uma vez, — Você só ama acordar antes do sol, não é?

— É mesmo? — So está impressionado com os hábitos da garota.

— O tempo todo, — Soo responde, mas não afasta os olhos da filha, — Ela é uma pessoa matinal, que nem os pais.

— Mas ela sempre dorme tarde.

— Porque ela quer ficar com o pai dela o máximo que puder, — ela explica e esfrega as costas da garota. Então ela se vira para Jung, uma outra recomendação saindo imediatamente de seus lábios, — Mas isso vai acabar se tornando um mal hábito, então não deixe ela dormir demais durante a tarde, e se ela se recusar a dormir no colo, coloque-a na cama assim mesmo.

— Certo, — Jung acena para tranquilizá-la, mas Hae Soo ainda tem mais algumas preocupações, logo, ela precisa fazer lembretes adequados para ele.

— Ela também está começando a rolar enquanto dorme, então fique de olho nela durante a noite.

— Eu vou.

— E também...

A voz de Soo falha e ela soluça, lutando contra as lágrimas. Ela respira fundo e tenta falar mais uma vez, mas fecha a boca assim que a abre. Então ela desiste de dizer qualquer coisa, e, sem confiar mais em si mesma para continuar forte, ela passa Seol para So rapidamente e sai às pressas do quarto.

Nem Jung nem seu irmão dizem nada. O silêncio pesa sobre eles enquanto So segura sua filha o mais perto o possível sem incomodá-la. E então, com uma voz baixa e controlada, ele termina o discurso interrompido de Hae Soo.

— Assegure-se de que ela esteja comendo bem, — ele diz olhando firmemente nos olhos de Jung, — E não esqueça de levar a bola de seda dela. É a que ela mais gosta.

— Eu sei, — Jung meneia a cabeça mais uma vez, afirmando que tem tudo sob controle.

Depois de alguns momentos em silêncio, Seol volta a dormir e So se aproxima dele, passando sua filha cuidadosamente para Jung, que já tem prática o bastante para não acordá-la. Sem dizer uma palavra, seu irmão deixa o quarto escuro.

Do lado de fora, ele consegue ouvir as palavras abafadas de Soo, mas elas são muito baixas para ele saber se ela está chorando ou não. E mesmo que ele queira se despedir direito, junto com Baek Ah, ele sabe que levar Seol para fora nesse momento só vai tornar as coisas mais difíceis para seus pais, então ele não se move.

Depois que o som dos cascos de cavalo em galope some à distância, seu décimo-terceiro irmão entra, o rosto sombrio.

— Eles já foram, — ele diz e Jung concorda, a garotinha nos seus braços ficando mais pesada de repente.

— Isso é um absurdo, — Jung reclama, não pela primeira nem pela última vez, e Baek Ah ri sem humor algum.

— Nem me fale, — ele murmura e então começa a pegar a bagagem de Jung, ajudando-o a voltar para sua casa, — Agora vamos. Você tem que chegar em Chungju antes da hora dela comer.

 

 

O sol parece levar uma eternidade para nascer. E quando ele aparece, Hae Soo finalmente fala.

— Eu sei que fiz o que era melhor, mas por que eu sinto que foi errado?

— É isso que eu estava pensando o tempo todo, — So diz, seus braços se apertando em torno dela, sua cabeça se apoiando na sua nuca, — Pare de roubar minhas falas. Você tem que ser a otimista da relação.

— Eu só quero minha filha.

— Eu também. Eu quero ela também, — ele suspira e beija o topo de sua cabeça, — Mas ela vai ficar bem. Jung já é louco por ela.

— Mas eu queria que ela ficasse bem com a gente, — ela confessa finalmente, perdendo a batalha contra as lágrimas, que começam a jorrar. Ela se vira para enterrar o rosto no seu peito; ela não tem interesse no oceano ou no sol, — Eu queria me casar com você. Eu queria ser sua esposa e envelhecer com você. Eu queria que ela ficasse com a gente. Eu queria vê-la crescer. Vê-la falar e andar. Vê-la ter suas próprias idéias, suas próprias aventuras. Eu queria ficar com vocês dois.

É difícil para ele segurar as lágrimas, mas ele e Soo têm um acordo não dito para não chorar quando o outro está chorando, então ele continua forte e só acaricia suas costas, tentando confortá-la.

— Eu sei, — a voz dele sai um pouco rouca de sua garganta contrita, — Acredite, eu sei.

— Por que não podemos ter nada? — Ela reclama entre lágrimas e soluços e ele não tem como respondê-la.

Isso é algo que ele vem se perguntando já faz um tempo, mas não importa o quanto ele reflita, ele não consegue chegar numa conclusão satisfatória. Então ele só deixa ela chorar e colocar as lágrimas para fora, até que ela esteja vazia e amolecida em seus braços.

Só então ele finalmente fala, baixinho, perto de seu ouvido.

— A gente precisa voltar.

Soo faz que sim com a cabeça, mas ainda soa infeliz quando fala.

— Eu vou sufocar lá dentro.

— Quer ir ficar com ela? — Ele pergunta, não pela primeira vez, segurando o rosto dela cuidadosamente enquanto limpa os vestígios das lágrimas e ela faz bico.

— Mas se eu for, quem vai cuidar de você?

— Eu posso cuidar de mim mesmo.

— Até parece, — ela o repreende, erguendo uma mão para acariciar seu rosto, e por um momento ela é a antiga Hae Soo mais uma vez, — Sua maquiagem está um pouco apagada aqui.

— Soo-yah...

— Vamos voltar, — ela põe um fim na conversa, agarrando seu braço e levando-o de volta para o cavalo, — Eu acho que as meninas do Damiwon estão ficando loucas sem mim.

Ele não protesta; ele não diz nada. Ele só a observa cuidadosamente, temendo que, a qualquer momento, ela estilhace em mil pedaços.

 

 

No instante em que eles atravessam as muralhas do palácio, Soo sente seu coração apertar no peito. No momento que So a ajuda a descer do cavalo, ela sente que não consegue respirar.

Ela se segura nele, suas mãos se agarram no seu robe enquanto ela respira fundo. Então ela abre os olhos e tenta sorrir, só para que ele não fique aterrorizado e preocupado com ela.

É difícil, mas ela consegue.

Ela consegue manter as emoções trancadas enquanto ele a leva de volta para o quarto em que ela não pisou em meses – que ainda está do jeito que ela deixou – e só depois que ele a ajuda a se sentar, ela chora de novo.

Dessa vez as lágrimas descem silenciosamente pelo seu rosto e So as seca sem dizer uma palavra. Ele só se senta com ela, até que o palácio começa a pulsar com vida e ele precisa ir embora.

Algumas damas da corte aparecem, trazendo sua refeição e algo para beber, mas ela não sente o gosto da comida. Ela não sente nem o olhar estranho de algumas delas quando veem que ela está de volta. Ela não sente nem fome nem sede.

Ela não sente nada.

Se você ia desistir, então era melhor nem ter voltado.

Ela se sente miserável, mas So também, e chorar sozinha não vai melhorar sua situação.

Ela se sente miserável, mas ela ainda está viva e sua filha está segura; chorar sozinha não vai mudar as coisas.

Ela repete o mesmo mantra de novo e de novo em sua cabeça, até que ela consegue reunir forças para se levantar.

 

 

É estranho caminhar pelos corredores e pelos pátios depois de tanto tempo, especialmente quando ela pensa sobre quantas coisas mudaram. E, quando ela anda para mais longe de seu quarto abafado e confinante, ela sente que pode respirar com mais facilidade.

Talvez não seja tão ruim.

Talvez ela consiga sobreviver.

Mas então ela pára de vez, finalmente notando a mulher à sua frente.

Soo se curva por força do hábito, sua mente e alma em um lugar completamente diferente, e espera que Daemok vá embora para ela poder erguer o olhar e continuar sua caminhada solitária. Ela não quer nenhum drama desnecessário e ela não está a fim de suportar ou retrucar as palavras venenosas de Yeon Hwa.

Isso, no entanto, não impede a rainha de continuar onde está e observá-la com um olhar minucioso, e então finalmente falar em um tom condescendente.

— Deve ser difícil para você, Hae Soo.

É preciso toda a sua determinação para ela não se encolher e manter a posição firme, impedir a si mesma de deixar as emoções aparecerem no rosto. É preciso toda a sua força interna para manter a voz firme e estável, seu tom neutro e a expressão de confusão quando ela fala.

— O que quer dizer, Huanghu?

— Ah, não precisa agir assim, — Yeon Hwa sorri arrogantemente e Soo quer arrancar aquele sorriso no tapa, mas as palavras seguintes fazem um calafrio descer por sua espinha, — Sabe, eu sempre me perguntei como Pyeha a protegeria se você viesse a conceber. Então, posso dizer que não foi uma surpresa quando ele subitamente a mandou embora do palácio, — Soo não se move, ela não ousa. Ela só consegue continuar ouvindo o discurso triunfante da mulher, — Embora eu esteja chocada com o tempo que passou fora. Eu ainda não tenho um filho, mas tenho certeza que é preciso mais que seis meses para a gestação acabar.

Os olhos de Hae Soo, que estavam fixos e imóveis até aquele último momento, finalmente se erguem e ela pisca rapidamente em surpresa. Sim, a Rainha tinha suspeitado de sua gravidez. Mas agora ela acredita que Soo sofreu um aborto e voltou para o palácio em vergonha. Aparentemente, ela pensou que seria ótimo se banhar na miséria de Soo e jogar um pouco de sal em suas feridas.

Parece que o plano dela tinha funcionado melhor do que ela imaginara.

Se Yeon Hwa acha que ela não tem filhos, então Seol está a salvo. E, fácil assim, uma sombra se dissipa do coração de Soo. A outra mulher, entretanto, parece achar que suas palavras atingiram um nervo em Hae Soo, e toma sua reação como um incentivo para continuar.

— Mas eu deveria te agradecer, já que eu creio que foi sua ideia deixar esse lugar para tentar ter seu filho. Se você tivesse perdido seu bebê perto de mim, Pyeha poderia ter acreditado que foi minha culpa. Nós sabemos que ele não perdoaria isso. — O sorriso falso dela se apaga, e ela faz uma careta de tristeza e pena, — Oh, não se preocupe. Não tenho intenções de sair espalhando. Especialmente porque essa perda deve ter sido difícil para você. Não creio que eu possa entender.

Os olhos de Soo endurecem depois que a mulher acaba de falar, e ela põe um sorriso condescendente parecido com o que Yeon Hwa tinha há alguns segundos. Então ela fala naquele tom açucarado que parece irritar todo mundo.

— Obrigada pelas suas palavras gentis de consolo, Huanghu. Mas você tem razão, você não pode entender minha perda. Especialmente porque, mesmo que já esteja casada por tempo suficiente, você ainda não concebeu nem teve seu primogênito, — ela pronuncia as últimas palavras articuladamente, usando-as como pregos contra o ego e o orgulho da mulher, — Mas obrigada mais uma vez pela sua preocupação.

Soo se curva graciosamente, sorrindo como se a mulher fosse sua melhor amiga no mundo, e se afasta sem esperar ser dispensada. Seu coração e sua mente estão mais leves que antes, uma vez que ver o rosto de ultraje de Daemok a revitalizada mais do que o esperado.

 

 

O Sol acabou de nascer no palácio, e ainda não tem muitas pessoas caminhando pelo lado de fora quando Soo se junta a ele perto dos portões.

Ela carrega uma cesta pequena com pães e bolos recém-assados para ele. Seu relógio biológico ainda está acostumado com o hábito de Seol de acordar no meio da noite, então ela teve bastante tempo para passar sozinha no Damiwon.  Ela lhe dá o seu presente e sorri radiante durante todo o tempo que ele se prepara para partir.

— Eu te invejo, — ela reclama enquanto arruma suas roupas cuidadosamente, fazendo birra, — Você pode viajar livremente pelo país e ignorar as coisas no palácio.

Ele sabe que ela não está reclamando de verdade, mas ele ainda soa triste quando afasta uma mecha de cabelo do rosto dela e sussurra.

— Eu queria poder te levar comigo.

— Eu sei, — Soo dá um tapinha no peito dele, inspeção terminada, — E eu queria poder sair escondida para Chungju, mas acho que já cheguei no limite.

Ela não gosta de comentar sobre o quão fraco o seu corpo está ou o quão cansada e dolorida ela se sente. Mas ele tinha feito ela prometer sempre falar sobre essas coisas, então ela parou de tentar escondê-las.

— Fique aqui e descanse, — ele meneia a cabeça, também preocupado com o estado dela, e então franze o cenho para lhe dar uma bronca, — Você não devia nem ter vindo aqui.

— Ainda não vi ninguém ousando me impedir de me aproximar do Rei, — ela arqueia uma sobrancelha em desafio e ele ri, mesmo que não esteja satisfeito com seus hábitos incansáveis.

— Então vou designar guardas para te impedirem de sair da cama.

— Você sabe que não vai dar certo.

Não vai mesmo, e eles dois sabem disso por experiência, já que ela já tinha conseguido escapar dos guardas que ele tinha colocado fora do quarto dela alguns dias antes. Então ele apenas suspira, desistindo de fazer ficá-la na cama ou sequer no quarto, apesar do horário incomum e da sua saúde deteriorada, e pergunta num tom curioso.

— O que você quer?

Seus olhos se iluminam quando ele vê além do comportamento dela, e ela rapidamente tira um envelope branco das mangas de seu robe.

— Só que você entregue uma carta.

O olhar dele suaviza quando ele pega a nova carta que ela escreveu para a filha dele, e guarda-a cuidadosamente em seu cesto, enquanto os guardas finalmente se preparam e alinham a comitiva atrás dele.

— Muito bem, vou levá-la comigo.

— Vou esperar pacientemente, — ela cede à insistência e o tranquiliza animada, — Não se preocupe, eu não vou trabalhar demais ou algo do tipo.

— Pode me prometer que não vai fazer absolutamente nada?

Então ela ri em voz alta, o empurrando de leve.

— Você pelo menos me conhece?

 

 

Jung o encontra de pé perto do berço, olhando para a bebê adormecida. Ele sabia que seu irmão apareceria em Chungju mais cedo ou mais tarde, mas ele nunca pensou que o homem também entraria em sua casa sem avisar e ficaria esperando por ele ao lado de sua filha.

Claro, ele é esperto o bastante para não reclamar.

Então, depois de se recobrar do susto, ele limpa a garganta para atrair a atenção de So e entra no quarto que ele preparou para Seol, tentando não se encolher diante do olhar de seu irmão ao ser interrompido.

— Eu ainda não gosto disso, — ele diz para seu irmão, ainda irritado com o arranjo que Soo inventou, mas incapaz de refutar.

O outro homem parece compartilhar de seu descontentamento com o jeito que as coisas são, uma vez que ele grunhe e volta a olhar para Seol.

— Não há outro jeito.

— Tem certeza?

— Eu te afastei de nossa mãe, — ele concorda quietamente e fala baixinho para não atrapalhar o sono de sua filha, — Agora você vai me afastar de minha filha.

Apesar do tempo que eles passaram juntos na casa reclusa de Baek Ah e de todas as conversas que Soo os fizeram ter, a mãe deles ainda é um tópico sensível para os dois. Então Jung vacila, abaixa o olhar e reprime a resposta irada que está louca para sair e começar uma briga. Não só por Seol, mas também porque ele está cansado de todas as brigas sem sentido entre seus irmãos.

E agora, seu irmão está sofrendo mais do que Jung sofreu quando a mãe deles morreu. Não importa o quanto ele tente, ele nunca será capaz de entender que tipo de força ele teve que ter para se separar de livre e espontânea vontade de sua filha. Tudo isso enquanto sabia e assistia Hae Soo minguar e morrer lentamente.

Ele suspira e olha para o homem, que está observando Seol com um olhar fixo.

— O que você veio fazer aqui?

— Eu vim para oficialmente restaurar sua posição e seus títulos, — ele responde imediatamente, seus olhos nunca encontrando os de Jung quando fala.

— Você não precisava...

— Mas a verdade é que eu vim ver minha filha.

— Ah, — Jung pisca depois que o homem acaba de falar, mas ele não pode dizer que está surpreso com as suas ações arriscadas.

— Eu tenho que ir agora, — So diz depois de outro momento de silêncio, se afastando do berço e indo em direção a Jung, um olhar firme quando ele passa suas instruções, — Mas você é esperado o mais cedo possível no palácio. A corte sabe que vim devolver seu antigo status, mas ninguém pode suspeitar do verdadeiro motivo.

Jung faz que sim com a cabeça firmemente, completamente comprometido com sua tarefa, apesar de seu descontentamento. Já pronto para fazer qualquer coisa por Seol, mesmo que fosse contra tudo que ele acredita.

— Claro, — Ele diz, resoluto, e o olhar intenso de So suaviza ao concordar em satisfação.

Então, do nada, ele tira uma carta num envelope branco, e Jung imediatamente percebe que é uma nova adição para o bolo de cartas de Soo para Seol, cuidadosamente e secretamente organizadas numa caixa de madeira preta.

— Essa é para ser guardada com as outras, — So explica ao dá-la para ele, — Creio que as tenha guardado em segurança, como ela orientou?

— Claro que sim, — Jung responde outra vez, mas no instante que toca na carta, sua preocupação cresce demais para ser contida, — Como Hae Soo está?

Ele pergunta mesmo sabendo que cara seu irmão faz sempre que eles falam sobre Hae Soo, mesmo sabendo que não vai gostar da resposta.

— Como seria de esperar, — So diz ansioso, sem gostar de sua resposta também. E sem coragem de dizer outra coisa depois.

Então, com um meneio da cabeça e um movimento veloz, ele se vai mais uma vez, deixando sua filha para trás e confiando em Jung para proteger, cuidar e criá-la.

Não importa o quê, ele não acha que o que está fazendo é certo.

— Me diz, Seol-ah, — ele sussurra para a garota adormecida, — Não tem mesmo nada que a gente possa fazer?

 

 

É tarde quando So chega, mas ela ainda está acordada.

Dessa vez, no entanto, não é porque ela está sendo teimosa, ou porque ela está acostumada a acordar e dormir em momentos aleatórios durante o dia. É porque ela teve outra crise de dor que a deixou sem fôlego e sem conseguir se mover do chão do Damiwon, e tinha demorado um bom tempo para passar.

Min Kyung entrou em pânico ao vê-la daquele jeito e Jang Mi estava com uma expressão rara de preocupação quando elas a ajudaram a voltar para o quarto discretamente, e então serviram uma xícara de chá para ela.

Demorou um tempo para Hae Soo acalmá-las. Um longo tempo. E muitas xícaras de chá.

Mas mesmo depois de convencê-las de que ela estava bem, de que ela podia ficar só e elas foram embora, ela não tinha conseguido dormir. O peito dela doía, não importava a posição que ela se deitasse. Os pulmões dela não conseguiam respirar, não importava o quanto ela folgasse suas roupas. A mente dela não parecia se acalmar, não importava o quanto ela encarasse o teto escuro.

Foi assim que So a encontrou, esparramada no colchão depois de uma noite insone e inquieta, quando entrou cuidadosamente para vê-la sem acordá-la.

Ela ri quando ele a encara com um olhar reprovador, claramente nem um pouco satisfeito em ver que ela está, mais uma vez, acordada tarde da noite. Mas a sua careta se desfaz assim que ela envolve os braços no seu pescoço para beijá-lo.

So se reclina e deita ao lado dela, e Soo finalmente encontra uma posição confortável, aninhada nos seus braços, sua cabeça enterrada em seu peito. Ela sabe que ele está prestes a dar uma bronca e dizer para ela dormir de uma vez, então ela começa a falar antes que ele possa tentar se afastar.

— De que tamanho ela está? — Ela pergunta baixinho, sua voz abafada pelos robes dele, — Quanto ela está pesando agora?

Ela sente a risada silenciosa dele se espalhar pelo seu corpo.

— Só fazem algumas semanas, — ele provoca, acariciando a sua cabeça, colocando as madeixas em ordem.

— Mesmo? — Ela sorri, mas sua voz ainda vacila e sufoca em sua garganta, — Parece que foi uma vida inteira.

Há uma pausa e um momento de silêncio. Soo sabe que ele está tentando se acalmar, mas ela também sente seus braços se apertando um pouco mais em volta dela.

— Ainda não se sente bem? — A voz dele está controlada, mas ele não pode fingir que seu coração não está acelerado e batendo forte em seu peito, especialmente com a cabeça dela apoiada nele e ouvindo o martelar claramente.

— Eu vou ficar bem, — ela sorri e acaricia a mão no seu peito, sussurrando para seu coração ansioso, — Pare de se preocupar.

So murmura em concordância, mas não afrouxa seus braços.

— Vamos ver o médico de novo pela manhã. — A mesma ansiedade de seu coração ecoa em sua voz quando ele fala. E mesmo que Hae Soo saiba que o médico não vai falar nada de positivo quanto ao estado dela, ela também sabe que ele não vai se tranquilizar se não souber de tudo.

— Certo, — ela concorda e se aconchega mais a ele, — Pode dormir aqui hoje?

— Não vai me mandar embora?

— Hoje não. Estou cansada e um pouco solitária, — ela diz, mesmo que ela na verdade ela tema que não vá conseguir achar uma posição confortável para dormir se ele for, — Eu acho que preciso de um pouco de carinho.

So imediatamente cede aos desejos dela, puxando um lençol sobre os dois e então se acomodando para a noite, fazendo um cafuné de leve para ajudá-la a dormir.

Ela está desfrutando do seu toque leve, seus olhos fechados em contentamento, apesar da dor em seu corpo e da exaustão de sua mente. Mas antes que ela finalmente caia no sono, o sussurro dele a desperta.

— Ela ainda se parece muito com você.

Soo sorri largamente, seus olhos se enchendo de lágrimas ao tentar imaginar como Seol está agora comparado com a última vez que ela a viu, imaginando aquele sorriso, o mesmo que ele sempre dizia ser igual ao dela.

— Mesmo?

Ela o sente fazer que sim com a cabeça, mas seu rosto ainda está enterrado em seu peito. E então ela sente seu toque reconfortante no seu rosto, secando lágrimas que ela não tinha percebido que tinham caído, mas que ele já sabia que estavam lá.

— Mas eu comecei a ver partes minhas também, — ele termina de dizer e ela ri do seu jeito de admitir que ela estava certa o tempo todo, aquelas orelhas definitivamente puxaram a ele.

Com a mente tranquila depois de receber notícias de sua filha, Soo se sente em paz o suficiente para dormir sem dor. Feliz por, mesmo que longe deles, a filha deles estar segura e protegida, crescendo longe da sombra do palácio.

Ela dorme e sonha que o mundo é mais simples, e que sua família finalmente pode ficar junta.

 

 

Aquela neve veio até mim durante o verão.

O momento era inapropriado, e as vidas de muitas pessoas mudariam por conta dela, mas eu a amei.

Eu amei a neve quando ela veio lentamente do céu e gradualmente desceu até que eu pudesse segurá-la . Eu amei o contraste dos flocos brancos de neve com a paisagem e o toque deles em minha pele, que me fizeram sentir uma nova e profunda emoção. Eu amei como os dias se encheram com um tipo diferente de felicidade só por causa daquela neve, e como as noites se encheram com uma risada cristalina.

Mas os dias eram quentes e a neve logo derreteu; e antes que eu pudesse abraçá-la completamente, a neve tinha ido embora.

Agora eu espero pelo inverno, embora meu corpo esteja frio. Eu espero pelo inverno, esperando poder ver um relance daquela neve antes que meu corpo congele e as estações deixem de existir. Eu espero por uma chance de ver aquela neve que veio até mim durante o verão, mesmo que eu saiba que ela não será a mesma de antes. E que, quando o inverno se for, a neve irá desaparecer novamente.

Mas enquanto eu souber que o próximo inverno pode trazê-la, então eu não tenho que me preocupar. Só porque a neve não está aqui agora, não quer dizer que ela se foi para sempre. E só porque eu talvez não esteja aqui quando ela retornar, não quer dizer que ela não cairá sobre outros.

É nisso que quero acreditar. É isso o que eu peço ao me despedir da neve.

Para aquela neve que veio até mim durante o verão, eu mando todo o meu amor.


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Notas finais do capítulo

Mudei a letra pra por no título do capítulo, mas a saga da playlist continua

https://youtu.be/6IP5VKyH7QQ

Opiniões são bem-vindas.
Elogios sempre aceitos.
Críticas apreciadas.

:)



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