Uma Breve Vista da Morte - Contos Avulsos escrita por Claire


Capítulo 6
Misrash




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Eram mais ou menos 11 horas da noite quando ela entrou. E o som da tranca se abrindo novamente fez ecoar pela sala o choro desesperado daquelas sete crianças.

— Mamãe chegou, meus amores. Como foi o dia de vocês? Espero que tenha sido um ótimo dia, porém não se preocupem se não foi. Mamãe irá cuidar muito bem de vocês!

O som do salto de seus sapatos indo de encontro com a madeira velha daquele porão apenas serviu para levar mais medo e pavor aos que estavam sendo mantidos trancados naquelas jaulas. Com espaço apenas para que elas conseguissem ficar deitadas em seu interior, eles sabiam que não adiantava chorar, gritar por socorro ou tentar fugir... eles apenas observavam o corredor com seus pequenos olhos marejados, implorando no silêncio de suas mentes e de seus corações para que eles não fossem o escolhido da noite. Todos já sabiam o que ocorria com quem fosse escolhido.

Caminhando lentamente na frente das celas, enquanto encarava aqueles pequenos e suas mãozinhas agarradas a grade, a Mãe sorriu e pensou:

— Preciso procurar mais filhos logo.. eles estão sendo tão desobedientes, estes levados... tsc... tsc...

— Moça, por que você faz isso? Eu não entendo... estou com dor e com fome... me deixe voltar para mamãe, por favor.

Disse a criança de aproximadamente dez anos, que chegara na noite anterior e fora trancada na última cela á direita.

Assim que ouviram uma voz a falar diretamente com a Mãe, as demais crianças olharam em direção a cela e começaram a gesticular desesperadamente, porém de modo a não serem vistas... eles sabiam o que acontecia com quem fazia perguntas e com quem falava direto com a Mãe. Sentindo uma mistura de alívio como medo, elas apenas viraram o rosto em direção ao fundo de suas jaulas e tamparam seus ouvidos da melhor forma que puderam...

... pois já sabiam o que viria a seguir!

A Mãe já estava na porta da jaula do filho que lhe indagara, assim que ele terminou de falar. Agachou-se e, destrancando a fechadura, olhou para dentro como olhos serenos enquanto lhe dizia.

— Meu amor... por que você quer ir embora? Mamãe procurou por você por tanto tempo... e não deixarei você ir embora tão fácil.

Um choro contido foi ouvido, vindo de dentro da jaula aberta. Aquele que exigia ser chamada de mãe se concentrou por alguns minutos, antes de ir continuar.

— Inclusive, meu pequeno, Mamãe trouxe um novo brinquedo que vai ajudar com isto... que vai fazer com que você nunca mais saia de perto da mamãe.

As demais crianças permaneceram em silêncio quando ela enfiou os braços para dentro da jaula e deixou o local, mantendo bem firme em seus braços um menino que se debatia e chorava, gritando por socorro. Antes de sair, A Mãe disse aos demais:

— Não se preocupem, amores. Depois a Mamãe volta com a comida.

A porta se fechou, mantendo as seis crianças restantes presas em seu interior.

A fome e a escuridão fez com que elas adormecessem. Por isto, elas não sabiam quantas horas de passaram, até quando a porta mais uma vez se escancarou.

Só o que sabiam é que não era Mamãe que estava entrando... mas sim o menino que, horas atrás, fora retirado aos berros.

A medida que ele andava com os braços esticados a frente e cambaleante, passando pelas jaulas onde os outros eram mantidos, as crianças iam acordando e olhando para ele.

Porém, o que viram apenas serviu para causar em todos uma nova onde de choros compulsivos, vômitos e medo... muito medo.

Os olhos e a língua do menino haviam sido arrancados. Com exceção dos polegares, todos os outros nove dedos das mãos haviam sido brutalmente arrancados.

Por isso ele andava deste modo... ele não era capaz de enxergar.

— Isto, meu filho. Você está indo bem... agora, é só se virar e seguir em frente. A porta de seu quarto já está aberta. É só entrar.

A visão de como o menino ficara atraiu a atenção das demais crianças, a ponto de que elas não perceberam que a Mãe entrara novamente no local. Caminhando até a metade do corredor que separa as jaulas, falou:

— Meus amores, perdoem a mamãe... hoje foi um dia longo e ela trabalhou demais. Mas agora irei preparar a comida de vocês... e é você a felizarda que irá me ajudar no jantar.

Disse esta última parte virando o rosto da a jaula da esquerda, com um sorriso macabro no rosto. Assim que a Mãe a pegou pelo braços e pela cabeça, a menina viu que ela estava usando um colar novo...

... feito pelos olhos e pela língua da criança que entrara a pouco, cobertos por uma espécie de resina que os protegia.

A arrastando para fora aos puxões de cabelo, a Mãe sentiu o desejo de tortura e de morte aumentar dentro de si, principalmente quando os que ainda estavam trancados apenas se mantinham a chorar. Saiu e, antes de trancar a porta, virou-se e disse:

— Não se preocupem, meus filhos... a carne de hoje será bem macia.


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