Hermione POV

Tudo começou assim que voltamos para Hogwarts... Harry, Ron e Eu éramos exaltados, o TRIO DE OURO era magnífico, perfeito. Somos tão enganados, eles não sabem um terço do que passamos e mesmo assim... Tudo que passamos não nos tornou perfeitos, ninguém consegue isso, nem mesmo no mundo bruxo. Somos humanos e consequentemente somos falhos.

Estivemos na frente e vencemos uma guerra, sobrevivemos e todos agora juntam os cacos da destruição.

E acho que é aqui, de fato, onde começou tudo que vou relatar...

3 meses depois *

Sigo apressadamente pra torre de astronomia tentando passar o mais despercebida possível, uma coisa bem difícil considerando quem sou...

Chego lá exatamente quando Malfoy estava saindo.

Tem sido assim, eu fujo pra lá e normalmente quando chego ele está saindo, ou quando saio ele está chegando. Acho que gostamos desse lugar para nos esconder.

Fico sentada lá, a paz, o silêncio e o fato de que ninguém fica me parabenizando ou fazendo uma pergunta a cada cinco segundos é reconfortante.

Já são dois meses fugindo e dois meses que trombo com Malfoy saindo ou chegando à Torre. Nunca trocamos uma palavra sequer, mas acho que ambos estamos fugindo. Eu fujo do assédio de eles acharem que sou perfeita. E Malfoy, bem... Sabemos como ele sempre foi e a que família pertence, então ele foge do assédio e das acusações contra sua vida e sua fama falida.

Nunca tive coragem de trocar uma palavra com ele, até hoje, até esse momento.

Estou terminando de subir as escadas e escuto um choro, seria o Malfoy? Apresso meus passos e vejo algo que me quebra e me paralisa, ele está em pé no parapeito, chorando e tenho certeza que está pensando em se jogar... Lembro sobre tudo que já li a respeito de como abordar pessoas que estão tentando se matar... Vou me aproximando lentamente e o chamando com toda calma que consigo reunir.

— Malfoy? – mais um passo pra perto dele. – Malfoy, está me ouvindo? – outro passo, só mais um e conseguirei alcança-lo. – Malfoy, por favor, me responda. -  Ele olha com os olhos completamente vermelhos e desorientados.

— O que está fazendo aqui, Granger? – ele pergunta num fio de voz irreconhecível

— Estou aqui pra te ajudar, por favor, desça daí, vamos conversar. – olho em súplica para seus olhos tempestivos.

Por um momento ele para, pisca muitas vezes e se senta no parapeito.

— Diga, sou todo ouvido, como a perfeita e santíssima Granger vai me ajudar? – ele faz uma tentativa do que imagino que deveria ser uma risada sarcástica.

O sangue sobe pra minha cabeça ao ouvi-lo falando assim de mim, no entanto, acho que ele ia se matar e tudo que faço é ignorar o comentário dele e seguir com o plano de afasta-lo dali.

— Tem como você descer daí para podermos conversar decentemente? – falo com rapidez.

— Claro. – ele pula ao meu lado e me encara. – Satisfeita? – sorri debochado.

— Malfoy, qual é, eu sei o porquê venho pra cá e sei o porquê de você também vir, estamos fugindo e soubemos disso no primeiro dia que trombamos. Então faça o favor pra nós dois e vamos ter uma conversa decente e como os dois adultos que sabemos que somos. – digo numa máscara de seriedade e preocupação sincera.

Ele se senta no chão e encosta a cabeça na parede de olhos fechados, respira fundo incontáveis vezes e parece pensar muito sobre o que eu disse, quando finalmente abre os olhos, vejo ali uma dor que me assombrará por muito tempo.

— Sente aqui ao meu lado, não vou te machucar. – ele indica o chão ao seu lado esquerdo e me sento ali enquanto aguardo, mas sou muito impaciente e resolvo dizer algo.

— Olha, se não quiser falar, tudo bem, mas acho que deveria, você ia se matar, não ia? – mordo minha própria língua assim que termino de falar, num minuto estou dizendo que ele conta se quiser e no seguinte o interrogando, nossa Hermione, o que você tem na cabeça?

— Sim. – ele sussurra e respira fundo mais uma vez. – Eu estava ali, em pé porque não aguento mais, cansei de escutar todos falando e cansei de fugir pra cá e ficar sozinho, cansei do barulho de todos e de minha própria mente que não para de me assombrar, eu só não quero mais viver e ia me jogar no segundo que você chegou e me chamou. – ele olha de lado e continua. – Eu sou exatamente o que dizem... um monstro, um completo covarde e imbecil.

— Dra.. Digo, Malfoy. Olha o que você está falando, isso é tão absurdo, se você não está em Azkaban quer dizer que você não é ruim, quer dizer que faltou escolhas, que o medo foi mais forte do que a razão e o que era certo. E, acima de tudo, quer dizer que o Ministro da Magia viu arrependimento verdadeiro pra te deixar livre pra recomeçar.

— Pode me chamar de Draco, depois de tudo que falei e de você estar me ajudando por não sei qual motivo, você tem esse direito. – ele me diz e concordo silenciosamente

— Okay, então Draco, vamos lá, sei que não sou tão boa assim pra dizer isso, mas devo falar. Não ligue para o que eles falam muitos ali ficaram escondidos e agora querem crucificar os outros, ninguém tem esse direito, você não deve escuta-los ou se importar com o que dizem, ignore... Olha, temos essa Torre e agora você tem a mim, por favor, sei que antes desse momento só trocamos ofensas e absolutamente nada, mas os tempos são outros, somos outras pessoas e eu vou ficar ao seu lado, não vou deixar você acabar com sua vida.

— Granger. – eu o silencio com um olhar.

— Me chame de Hermione a partir de agora.

— Hermione, qual o motivo de você ter me impedido e de estar aqui falando tudo isso?

— Eu só senti, pode parecer estranho, mas eu só senti que não deveria te deixar morrer, que não deveria deixar você acabar com sua própria vida, não importa seus erros ou quantas ofensas você causou a mim, ninguém merece ter esse fim e todos merecem ter alguém pra conversar.

— E você seria esse alguém que eu teria pra conversar? – ele me pergunta curioso.

— Sim, seria eu, se você não se importar, é claro.

Fico surpresa quando ele se levanta e me puxa me abraçando. Retribuo seu abraço assim que minha ficha cai.

— Obrigado pelas atitudes de hoje, você mudou minha vida, Hermione...

10 anos mais tarde

— Amor, cheguei. – sinto cheiro de comida e me encaminho para a cozinha, Draco está de costas para a porta cozinhando o que acho que deve ser frango com batatas.

— Oi, amor, não ouvi você chegando, há quanto tempo está aí parada? – ele me pergunta com um sorriso totalmente belo.

— Nenhum minuto, e por Merlin, eu te gritei, como não me escutou, homem? – ele solta uma risada alta e me puxa para um beijo. Beijamo-nos apaixonadamente e deixo-me ser abraçada e acariciada. – Amor, posso saber por que está cozinhando? Sei bem que só cozinha em datas especiais e que hoje não é nenhuma data especial. – eu pergunto com olhar interrogativo.

— Minha Mione, pra você pode não ser nenhuma data especial, acho que absolutamente você não se lembra da data exata no calendário, sei que se lembra dos acontecimentos, mas não da data, só que aquele dia me mudou tanto que não teria como esquecê-lo... Foi a partir daquele dia que as coisas mudaram pra mim, naquele dia que eu nasci de novo. Amor, faz exatos dez anos que você me salvou do suicídio, dez anos que você está ao meu lado como disse que estaria. – ele faz uma pausa e me lança um sorriso torto. - Cinco anos de verdadeira amizade e cinco anos que tomei vergonha na cara e te chamei pra sair pela primeira vez. – nesse ponto do relato dele eu já estava chorando feito uma criancinha e ele ainda não tinha acabado. – Mione, nessa data você me fez um alguém melhor e é exatamente nessa data que quero te propor algo. – ele se abaixa em minha frente e eu já imagino o que está por vir.

— Sim, eu aceito. – digo sem deixar que ele abra a boca.

— Como sempre, você é uma apressada metida a sabe-tudo viu. – ele se levanta rindo e tira o anel de noivado do bolso da calça. – Você me salvou de todas as formas possíveis naquela noite e sou eternamente grato a você.

— Draco, eu te amo. E te garanto que se eu mudei a sua vida, você mudou a minha muito mais, continuaremos juntos nessa caminhada e fico extremamente feliz de ter chego ao momento exato pra salvar a sua vida.

— Você é um alguém incrível, eu te amo Mione...