Eu odiava o barulho de explosões, incomodava muito minha audição, fora o cheiro horrível de queimado. E os tiroteios? Preciso nem comentar. Mas sabe o que eu odiava ainda mais que explosões e tiroteios? Trabalho de escritório. Eu as vezes odiava a posição que eu exercia na shield, nem sabia como a Hill aguentava essas burocracias, eu havia passado as últimas horas revisando relatórios de missão, autorizando missões, reprovando missões, participar de missões que era o mais interessante? Nadinha, e eu estava surtando, as vezes eu invejava a Hill, porque ela podia usar o uniforme dela enquanto eu ficava presa a roupas sociais e saltos altos. Eu estava quase me intrometendo na missão do Garrett, só pra poder participar da ação, mas sabia que se eu fizesse isso, o diretor Fury me castigaria pessoalmente.
—Lawson, está pronta? – a voz da agente Morse soa me fazendo encarar a figura feminina na porta da minha sala.
—Preciso de dez minutos, entra ai. – falei acenando para que a mulher se sentasse.
Bárbara "Bobbi" Morse, também conhecida pelo codinome de Harpia, era uma das minhas melhores amigas e eu dividia apartamento com ela aqui em Londres, eu achava ela uma comédia, principalmente quando falava mal do ex-marido, que também era meu amigo e também adorava falar mal dela.
—Falta terminar esse relatório aqui... – expliquei voltando meu olhar para a tela do computador.
—Ok, sem pressa. – a loira concordou.
—Quem vai? – puxei assunto sem perder meu foco.
Ao decorrer do dia, Bobbi e eu concordamos que depois do "dia difícil" que eu tive, que deveríamos ir beber alguma coisa.
—Só o Triplett, tentei arrastar a Simmons, mas ela está tão focada em conquistar o outro PHD dela que disse que está cheia de trabalho. – a loira respondeu me fazendo suspirar e balançar a cabeça concordando.
—Os cientistas estão bem atarefados mesmo, uma pena que ela não vá... adoro quando ela perde um pouco da pose de santinha dela. – comentei finalizando o relatório e então o enviei. —Pronto, vamos nessa!
Desliguei o computador e me levantei, pegando minha bolsa e meu blazer, coloquei a peça de roupa no corpo e suspirei seguindo para fora da minha sala com a mulher ao meu encalço.
—Eu até passaria em casa para me trocar, mas meu corpo pede por uma boate mais do que por uma roupa mais confortável. – Bobbi comentou me fazendo rir baixo.
—Você precisa mesmo é de alguém pra te ajudar a tirar essa roupa. – concordei em tom malicioso entrando no elevador e apertando o botão do térreo.
—Talvez, mas sei que não sou a única. – a mulher falou sugestiva, me fazendo gargalhar alto.
—Eu estou muito bem, obrigada! – falei balançando a cabeça negativamente.
—Eu não citei nomes, mas se a carapuça serviu... – cantarolou a mulher.
O elevador voltou a abrir, entrando nele: Antoine Triplett e Victoria Hand.
—Lawson, Morse! – a mulher nos cumprimentou.
—Hand! – Bobbi e eu respondemos.
Aproveitando que Trip estava parado um pouco mais a frente e de costas para nós, a loira e eu demos uma boa olhada de cima a baixo no homem a nossa frente, mordi levemente meu lábio inferior, levando uma cotovelada de Hand que balançou a cabeça negativamente, visivelmente chocada com minha reação.
O elevador finalmente abriu no térreo e todos saímos dele, mexi em meus cabelos e suspirei enquanto seguia as meninas.
—Boa diversão, agentes! – Victoria desejou.
—Diversão seria se eu estivesse nessa missão! – respondi sorrindo.
Dessa vez eu recebi um tapa na nuca, agressão vinda da Bobbi dessa vez.
—O que eu fiz? – questionei sem entender nada.
—Essa missão está acabando com a gente, você definitivamente não deveria querer estar querendo ela. – Trip comentou suspirando cansado.
—Fraco... – comentei revirando os olhos.
—Olha só essa ofensa gratuita. – o homem reclamou fazendo Morse rir.
—Vocês dois, nada de se pegarem na minha frente, não sou candelabro para segurar vela. – tratei de deixar claro ao notar o clima entre eles.
Não pude deixar de rir quando os dois reviraram os olhos com a situação, enquanto entrávamos no carro, assim que Trip ligou o mesmo, e Morse indicou onde ficava a boate, relaxei no banco.
—Eu esqueci de perguntar, onde você dormiu de ontem pra hoje? – Bobbi questionou curiosa.
—Num lugar aí... – respondi dando de ombros. —Curiosidade matou o gato.
—Soube que o Ward estava de folga ontem... – Trip comentou com um sorriso malicioso.
—Você e o Ward... já está tão sério assim? – Morse questionou me fazendo revirar os olhos e murmurar um "fofoqueira". —Ah não, conta tudo. – quase implorou.
—O que acham de vocês se pegarem logo e deixarem minha vida pessoal quieta? – reclamei desconversando.
—Você e Grant entram em relacionamento sério e não contam para seus melhores amigos, me sinto traído. – Trip comentou se fazendo de vítima.
—Aposto cinquentinha que o Ward vai estar lá na boate. – Bobbi sugeriu e o homem murmurou um "fechado".
—A maioria dos agentes vão lá, essa aposta é quase injusta. – falei revirando os olhos. —Mas você errou, o Trip está de folga, então o Ward está cobrindo ele.
—Ela já até sabe o cronograma dele, que linda... – Trip zombou me fazendo arquear a sobrancelha.
—Caladas! – ordenei recebendo risadas em troca.
Assim que chegamos na boate, fui a primeira a sair do carro, não queria mais ter que responder o interrogatório, pelo menos não sóbria. A música alta já podia ser escutada, era uma batida bem gostosa de se ouvir e dançar, entramos no local sem problemas e segui direto para o bar, a procura de qualquer bebida alcoólica que pudesse ter ali.
—Seis doses de tequila e três cervejas, por favor. – Morse se pronunciou primeiro pedindo ao barman.
—Dia difícil no trabalho? – questionou o homem me fazendo rir irônica.
—Quando não é? – Bobbi retrucou sorrindo gentil para ele.
—Morse, o barman não. – reclamei balançando a cabeça negativamente e segurando a risada.
—Ainda nem fiz nada. – a loira se defendeu.
As bebidas logo chegaram, tratei de virar minhas duas doses de tequila, sentindo meu corpo esquentar e minha garganta queimar levemente pelo líquido que acabara de virar de uma vez só e chacoalhei a cabeça pegando a cerveja logo em seguida.
—Que a noite comece! – Trip falou dando um gole em sua cerveja.
E a noite foi assim, seguida de cervejas e outros drinks, Bobbi e eu dançando na pista, vez ou outra arrastávamos o Trip com a gente, os três se divertindo completamente. Claro que como esperado, haviam alguns agentes na boate, mas eu nunca tentei fingir ser exemplo, então não era como se eu tivesse que começar agora, sempre deixava essa parte chata para a Hill, que de vez em quando, eu ainda conseguia fazer se soltar.
—Aí ele disse que era engano e tentou agir como se nada tivesse acontecido, eu não entendo mais o Lance, sério. – Bobbi reclamou já alterada pelo álcool.
Ela contava de hoje mais cedo, quando o ex ligou pra ela e segundo ele havia sido por engano, e tentou puxar assunto com ela.
—Façam um favor para a humanidade e voltem logo. – Trip pediu revirando os olhos.
—Amém! – foi a única coisa que eu disse concordando com o moreno.
Não queria me arriscar muito e tomar um tapa da Bobbi, ou não falar palavras erradas, eu sentia o álcool fluir pelo meu corpo.
No meio disso tudo, acabo sentindo alguém cutucar meu ombro, quando me virei, acabei por encarar a figura por alguns segundos.
—Eu sabia! – ouço Bobbi falar enquanto dava um high five em Trip.
—Atrapalho? – Grant questionou com um sorriso ladino nos lábios.
Em resposta, eu dei mais um gole em minha cerveja e entreguei a garrafa a ele, me dirigindo para fora da boate logo em seguida. Talvez aquilo fosse meu dia melhorando mesmo que no final. Já fora da boate, pude sentir mãos envolverem minha cintura, logo sou virada de frente para ele e passo meus braços em torno de seu pescoço, eu sabia que Grant me seguiria até aqui fora e era intencional.
—Você não tinha que estar em uma missão? – questionei mordendo o canto do lábio.
—Garrett quebrou o galho e ficou no meu lugar por hoje. – o moreno respondeu.
—Eu estou começando a gostar do Garrett... – proferi com um sorriso sacana brincando em meus lábios.
Grant então sorriu em resposta e roçou nossos lábios, não demorando a colar eles em um beijo lento e intenso.