Trunks puxou o ar até encher o peito e em seguida soltou pela boca, tentando manter-se inabalável em frente a sua nova criação. A analisava minuciosamente, de cima a baixo. Uma, duas, três vezes. Seu coração palpitava mais rápido a cada segundo que se passava.

— Consegue me entender? — questionou ansioso, a sobrancelha esquerda franzida e encarando o ser nos olhos. Incomodado pela falta de resposta imediata, persistiu: — Andróide 18. Você consegue entender o que digo?

— Fui programada para isto — a resposta veio cortante, fria, sem um pingo de emoção na voz. — Meu sistema estava apenas analisando a situação.

Um sorriso miúdo surgiu nos lábios do homem. Ficou aliviado e feliz pelo resultado positivo que tivera, os meses de trabalho não foram em vão no fim das contas.

— Muito bom — comemorou mais para si mesmo. — Sente-se bem?

— Sentir? — os olhos azuis piscaram. Ela desviou a atenção e focou nas próprias mãos, analisando-as tanta as palmas como as costas. Voltou a erguer o rosto e, indiferente, respondeu: — Eu não sinto nada, sou uma máquina.

— Perdão, me expressei errado. Culpa do cansaço — o Briefs suspirou, enquanto bagunçava os fios roxeados um pouco. — Quero saber se seu sistema está operando bem.

— Perfeito — foi direta. 

— Isso é muito bom — ele deu um breve aceno de cabeça. — Estive preocupado que algo não tenha dado certo no processo de criação e atualização.

— Já aconteceu antes?

— Bom, sim, 15 vezes — Trunks riu um pouco sem jeito e desviou o olhar para um ponto qualquer da sala. Era difícil encarar a loira diretamente — Contudo estava animado já que o 16 e 17 deram certo, assim como você.

— Eles também são parecidos com ela, assim como eu?

O corpo do homem gelou dos pés a cabeça quando percebeu que a Andróide 18 encarava fixo o porta retrato em cima da mesa, no canto esquerdo da sala. 

— Não — a voz masculina saiu baixa, quase inaudível. Um bolo se formou na garganta do Briefs e ele precisou respirar fundo mais uma vez naquele dia. — Você é única. É especial.

— Ela também é? — indagou pontual, curiosa. Imaginando que o criador não tivesse entendido graças a demora em responder, Andróide 18 foi mais específica. —  A moça da foto.

— Lazuli — o cientista comentou, mesmo sabendo que não deveria explicação alguma para sua criação. — Sim, ela era também.

 Os olhos de Trunks marejaram e o coração apertou no peito. A verdade é que se sentia solitário desde que Lazuli, sua noiva, morreu meses atrás em um acidente de carro. Talvez fosse uma auto mutilação ter criado uma andróide idêntica a noiva, no entanto ele só queria mandar a sensação de solidão embora. 

— O senhor está vazando — Andróide 18 disse neutra. — Isto é um defeito grave.

— Realmente, é bem grave. — concordou secando as lágrimas com a manga do jaleco branco. — Humanos são falhos, no fim das contas.

— Concerte-os.

— Ah, se fosse fácil assim — riu sem humor algum. — Existe coisas que não podem ser concertadas, apenas cicatrizadas com o tempo.

— Eu não entendo. — a loira confessou. 

— Irei te ensinar tudo — Trunks prometeu. Esticou o braço e acariciou o rosto frio da andróide que permaneceu imóvel. — Afinal você é a minha obra prima.