Eu te amava, sabia? escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
Amar você...




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As memórias da cidade para onde Hanako havia se mudado, resumiam apenas em um rosto: Seu melhor amigo. O jovem ruivo, com os cabelos que caíam até os ombros e o sorriso tão delicado, duradouro e gentil. Foram grandes e únicos momentos que pareceram ser esquecidos ao ouvir a conversa que tanto o colégio insistia em comentar.

Hanako se escorou na parede, com as pernas bambas e mãos tremulantes. Seus olhos seguravam lágrimas insistentes e o soluço que aos poucos escapavam pelos lábios. Próximo ao bebedouro, dois alunos conversavam sobre a viagem de seu melhor amigo. O ruivo. Wantari.

— Ele já assinou os papéis da transferência. Só parece que está com alguns problemas com a passagem, por isso deixou de vir para a escola para ir à estação...

— E por que ele decidiu ir? Ele não estava gostando de estudar aqui?

— Não é isso. É que...

A ouvinte não aguentou escutar a conversa, apertando a pasta floral de anotações contra si, com o peito se sentindo apertado. Já havia praticado mentalmente a ideia de que eles dois nunca ficariam juntos. Observá-lo de longe, rindo e brincando com Emi era satisfatório o suficiente, lhe trazia uma calmaria. E tudo pareceu perder a cor quando soube dessa trágica notícia. Ao menos, o que restaria dele, era: A saudade, as suas caricaturas que a mesma desenhou e suas histórias que escreveu, sobre ele.

Saudade.

E mediante a esse sentimento, sabia que não podia ficar parada. E ela tinha que tentar, nem que fosse ao menos para vê-lo partir. Mesmo que não tivesse mais coragem e suas pernas estivessem receando, devia tentar.

 — Hanako, você está bem? —  Emi se aproximou sorrindo e acenando, como sempre a cumprimentava.

— Desculpa Emi. Tenho que ir.

Não podia esperar. Ela tinha que tentar.

Entregou a pasta nas mãos da amiga, secando as lágrimas no rosto. Não sabia de onde surgiu aquela disposição, mas tinha a certeza que devia que aproveitá-la com todas as forças. Começou a correr, o mais rápido que conseguia. Talvez nada daquilo valesse a pena. Quiçá, seria melhor voltar e aceitar a realidade, que nada estava ao seu alcance. Mas enquanto corria apenas um nome preenchia a mente: Wantari.

Escutava a voz de Emi atrás, no entanto, não conseguiu parar. Permaneceu correndo e tudo que lhe importava agora era apenas chegar ao seu objetivo tão almejado. Por grande sorte, a estação não estava tão longe e ela conhecia alguns atalhos. Estava obrigando a si mesma a não chorar, não desmoronar ali mesmo.

Não como sempre fez. E se existiram outras vezes que isso aconteceu, esse momento seria o primeiro que nada disso iria ocorrer. Estava determinada a encontra-lo e fazer com que ele ficasse.

Seus olhos vasculhavam toda a região da estação, em busca da cabeleira ruiva. Esbarrava em algumas pessoas e murmurava um pedido tímido de desculpas que chegava a ser incompreensível. E quando era colidida, apenas maneava a cabeça concordando com a súplica de pesar. Não havia tempo.

Suspirou aliviada, pois não foi difícil achá-lo.

O encontrou sentado nos bancos próximo aos trilhos. Sua mão segurava um pedaço de papel e seus olhos se dirigiam a folha, com um sorriso. Hanako se aproximou timidamente, logo notando que se tratava de uma foto. Não conseguiu enxergar o rosto estampado ali a tempo, pois a fotografia fora levantada por Wantari, se elevando também e tirando os fones de ouvido que estavam em sua cabeça.

— Hanako? O que você está fazendo aqui? — Indagou, dando um sorriso que mais parecia ser preocupado. Observou como a amiga se encontrava: O cabelo despenteado; As meias até os joelhos estavam sujas; Tudo parecia incitar que teve uma longa jornada até a estação.

Os lábios vermelhos dela também enfileiraram os dentes, esboçando o sorriso acanhado de sempre quando estava ao lado dele. E se houvesse um nó em sua garganta, ele estava terminando de ser amarrado agora: Aquela seria a última vez que veria aquele sorriso. Respirou fundo, recuperando o fôlego perdido.

— P-por que... — Sua sentença se inicia de forma mais baixa que o esperado, fazendo com que as palavras não saíssem. Esteve o tempo todo praticando a frase até aqui, se odiando inteiramente por aquilo começar a acontecer. Não queria gaguejar. Fechou os olhos com força, tomando coragem para falar, elevando o volume da voz. — Por que você tem que ir embora?

Wantari olhou-a com as sobrancelhas arqueadas, surpreso pela forma como a frase se outorgou com clareza repentina. Hanako colocou ambos os braços na frente do corpo e abriu os olhos, estendendo um braço até sua própria testa, secando-a orgulhosamente.

“Eu consegui...”, comemorou.

— Então o Sora contou? — Ele suspirou, sentando novamente. Juntou as pernas, tomando uma posição delicada que expressasse o quão estava sem graça por aquele momento tão tenso. — Eu encontrei alguém que eu gosto.

Hanako olhou curiosamente, enquanto ele pegou a foto no bolso da jaqueta e mostrou para ela. O retrato exibia uma jovem garota com o cabelo roxo e com uma estética muito agressiva e Wantari parecia nerd ao lado dela. Retornou o olhar para o amigo, que atualmente estava sorrindo e coçando a nuca, levemente corado. Escapuliam risadas minuciosas, fazendo a menina sorrir.

— Sabe Hana... — Ele olhou para os próprios pés, com o sorriso de anteriormente. Ela assentiu com a cabeça, esperando que a sentença prosseguisse sem ser interrompida. Aproximou-se mais um pouco do banco, por compreender o jeito canhestro do amigo. — Fiquei sabendo que ela vai fazer um intercâmbio no exterior em alguns meses. No fim do ano, se eu entendi bem. Meio que entrei em desespero quando fiquei sabendo. Eu ainda não tinha me declarado para ela e achei que nunca fosse fazer isso. E, agora que tudo está dando certo, não posso deixar essa chance passar.

Hanako começou a entender. Talvez, ela o entendia mais do que ninguém.

— E seus pais?

— Eles apoiaram no final. Disseram que iriam me dar dinheiro para a passagem, mas parece que houve algum problema e o dinheiro não caiu na conta. Pelo jeito, vai demorar mais um pouco para eu encontrar ela.

— Você... — Encetou tentando não perder o controle de sua voz. Aquela pergunta tinha que ser feita, mesmo que a machucasse. Sua voz que permanecia trêmula deixava bem claro que ela estava condenada sempre a ter medo da resposta. O olhar distante entre ambos, mas o pensamento dela estava ali, naquele momento. — Gosta mesmo dela?

— Se eu pudesse, eu iria vê-la agora mesmo! — Exclamou abertamente e olhou em direção a companhia. Ajeitou sua postura no banco, guardando a foto no bolso. — É meio doido, não é? Tipo, se você gostasse de alguém e soubesse que essa pessoa iria embora para longe, você faria de tudo para ficar perto dessa pessoa, não faria?

Sim.

Era exatamente isso que ela estava tentando fazer, mas tudo parecia colaborar para que ele fosse embora. Apenas ficaram em silêncio, que já não era mais desconfortável. Hanako apenas lutou com as palavras, sabendo que tentasse falar alguma coisa, começaria a chorar. Mas quando finalmente falou, sua voz estava firme:

— Eu acredito que... Quando o sentimento é forte, somos capazes de fazer qualquer coisa pela a pessoa que amamos.

Wantari concordou com a cabeça, dando um sorriso mais largo que anteriormente. Gostava de quando ela se expressava sem dificuldade alguma. Pois quando ouvia sua frase, era geralmente algo que ele gostava. – Era o que ele sempre precisava ouvir.

— Olha, Hana... Se eu conseguir encontrar ela um dia... — Wantari colocou as mãos nos bolsos, esboçando a feição inocente que sempre lhe encantou e que a fez cair de amores. — Eu vou contar a ela sobre você. Contarei tudo, tudinho sobre você.

Não conseguia mantê-lo ali e Hanako já sabia disso. Tinha que fazer.

            — Eu já volto.

            — Volte logo!

Algum tempo depois, quando Hanako voltou, Wantari permanecia mexendo no celular, respondendo uma mensagem de texto. Aproximou-se e parou diante dele, sentindo como se suas pernas fossem desmanchar ali mesmo, mas estava se obrigando a aguentar.

— Wantari. — A voz dela saiu baixa, porém não gaguejou desta vez. Ela tinha certeza do que fazia. — Tome.

Estendeu para ele um ticket: Era a passagem que ele precisava e estava marcando que o trem chegaria a qualquer instante. E a tese era concluída com o apito, que já despontava de um dos túneis.

— Hana... Isso é... — Ele pegou, analisando o ingresso. Olhou timidamente para a companheira que exteriorizava uma feição chorosa, mas ainda sim, simpática como sempre.

— Pegue. — O trem havia chegado.

— Eu não sei como agradecer você, depois de tudo... — Murmurou, ainda sem reação. Sua mente parecia raciocinar tudo que se passava, mas ao escutar o silvo do trem, retornou a realidade.

— Você... Merece...

            O ruivo pegou as bolsas e a maleta no chão, se aproximando dela, que estava enrubescendo da cabeça aos pés graças à proximidade intensa. Não recuou, permanecendo estática.

— Muito obrigado, Hana. Mesmo. De coração. — Depositou um beijo em sua testa, correndo para dentro do vagão.

Com o sorriso bobo nos lábios, Hanako acenava para o trem que estava se afastando. Em seguida, notou que estava começando a chorar. O aperto no peito martelava e pareceu como uma facada, quando o rapaz acenou pela janela uma despedida. Já não se importava mais com quem fosse: Ela só queria que ele estivesse feliz o suficiente.

Não se incomodava então com o que teria que sacrificar. O nó na garganta aumentava e o ar lhe faltava. Não tinha sentido em segurar aquilo dentro de si. O barulho do trem iria abafar suas palavras mesmo. E as pessoas estavam muito ocupadas para considerarem o motivo de uma moça estar chorando ali.

— E-e... Eu...

As lágrimas não paravam, por mais que as mãos lhe tampassem o rosto, tentando consolar e dizendo que já não havia mais razão para tudo aquilo. A dor era sufocante. Só queria o amigo novamente, para o resto da vida. Nem desenhos e nem estórias poderiam lhe satisfazer.

Wantari.

Wantari.

— Eu te amava, sabia?

Suas pernas cederam, e a mesma ficou no chão, lamentando inconsolavelmente, pois o que esteve guardando há tanto tempo, finalmente estava transbordando.


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