Alucinação escrita por HannahHell


Capítulo 1
Capítulo 1




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Querido escritor, achou mesmo que ficaria a brincar de Deus, por toda a eternidade? Achou que poderia simplesmente me matar e ficar por isso mesmo? Que eu deixaria de existir?

Não, sou uma parte de você, morta no papel, mas viva no fundo da sua mente e alma e sabe como é, um dia é da caça, outro do caçador e agora é a minha vez de ditar seu destino.

A imaginação é algo tão engraçada, idéias surgem a toda hora, mas elas só quando usadas se tornam úteis. Para os escritores isso não muda. Idéias surgem a toda hora e, apenas aquelas passadas para o papel são as boas.

Eu sou uma idéia boa de meu criador, porém ao contrário de meus vários irmãos sou o personagem morto, aquele sem espaço que é assassinado no primeiro capítulo antes mesmo de saberem meu nome.

Mas dessa vez vou esperar meu pai bem aqui, sentado na cadeira do computador, esperando pelo seu retorno.

A porta se abriu lentamente, fazendo um rangido engraçado, com passos incertos e sem ritmo papai entrou, segurava seu chapéu com uma mão e errou por muito o cabide de chapéus, quando foi guardar o casaco o mesmo ocorreu, foi da mão dele para o chão.

-Quem é você? – a voz dele estava esganiçada e mole, chegava a ser hilário, parecia que ele era o personagem e eu o escritor.

-Não me reconhece? Eu sou o último personagem que você matou – deu um sorriso de lado, o sorriso que ele mesmo criou, um sorriso que formava um covinha no meio da minha bochecha, mas mesmo assim me deixava com um ar debochado.

-Ah, sim, Lucius, você é uma alucinação?

-Não – peguei o chapéu e o casaco e os coloquei no cabide para provar minha existência – vim aqui para acertar umas continhas.

Embriaguez e desordem era o que devia estar dominando o cérebro, antes genial, do meu criador, pois ele se sentou na cadeira onde eu estava minutos antes e pareceu disposto a me ouvir. Claro que, se estivesse são, ele não iria aceitar a idéia de ver um personagem na sua frente com tanta naturalidade.

-Pode dizer, ou você quer que eu não te mate? Porque se for isso eu te garanto que não vou fazer.

-Imaginei – na verdade eu sabia, como fruto da mente dele, sei muito bem como ele reagiria ou responderia, mesmo bêbado como estava.

-Você me criou com uma personalidade de principal para me matar no primeiro capítulo, por quê?

-Porque você tem O passado – ele deu um sorriso tão parecido com o meu que provou que a ‘genética’ da criação de personagens funcionava. Todo personagem tem algo de seu criador.

-Um personagem chave morto – debochei – grande coisa - o segurei pelo colarinho – eu quero uma vida e só posso tê-la se você escrevê-la.

-Mas como pode me dizer isso? Você está aí! Vivo, livre. Andando e segurando as coisas, me ameaçando, saia e vá viver.

-Se eu sair serei “perseguido por um indivíduo estranho, encoberto pela escuridão da noite e por um capuz, com a altura média de um homem, mas nada podia impedir de ser uma mulher alta sem muitos atributos físicos. Pobre alma, entrou no beco para entrar na boate pela porta dos fundos, mas o seu perseguidor tinha outros planos.

Dois tiros, foi o suficiente para Lucius Stradfield deixar de viver" - recitei ironicamente - o destino que você faz para seus personagens está fadado a acontecer.

-Então o que você quer que eu faça? - 'papai' parecia enfadado, mas sei que isso era apenas efeito do álcool.

-Dê um jeito! Faça-me imortal ou algo do tipo, você é Deus! Pode fazer o que quiser com o seu mundo - ele não deveria ser tão lerdo, disso eu tenho certeza.

-E se eu não o fizer? - ele ergueu uma sobrancelha me desafiando.

-Muitas coisas, suas histórias serão deletadas, o computador formatado, não irei te deixar em paz, ou ainda não permitirei que durma ou escreva posso até te fazer enlouquecer.

-Como você faria, posso te ignorar, assim como ignoro todas as coisas a minha volta quando escrevo.

-Reclamações, críticas, sussurros ao pé do ouvido aqueles bem irritantes - comecei a enumerar me divertindo com a situação - garanto que encontrarei um modo.

-Desculpe, Lucius, mas não posso mudar a história, já foi para o editor - ele deu um sorrizinho sonso, o mesmo sorrizinho que ele dera para Annia, a protagonista de um de seus romances de ação.

-Invente algo novo, você pode sair da realidade, você é o escritor!

-Calma - ele parou um pouco e ficou pensativo - tenho a história perfeita para você, algo novo, que você será o principal protagonista.

-Jura? - essa ideia me agradou, ser o protagonista de uma das histórias do 'papai' tenho certeza que alguns de meus irmãos mataria e morreria por algo assim -estou ouvindo sua proposta.

-Vou começar a escrever agora - ele ligou o computador e começou a estalar os dedos para começar a escrever - você pode até assistir.

Sentei-me atrás dele a comecei a assistir conforme ele digitava linha após linha, uma nova linha de memórias e histórias começaram a se formar na minha mente, um novo mundo teve suas portas abertas para mim e, quando menos esperava, não estava mais no quarto e sim, na minha história.



-Então o que achou? - Luiz Ribeiro perguntou esperançoso ao mostrar sua mais nova história para seu editor.

-Eu pedi muito explicitamente algo original, mas o que você me trouxe foi algo - o editor começou, estava sério demais, um tanto irritado demais, Luiz preparou-se para o balde de água fria - está ótimo! Você desistiu da realidade e mergulhou de cabeça no impossível! Um personagem narrador e um escritor personagem. Eu adorei.

-Sério - a voz do jovem escritor saiu soprada pelo grande alivio que sentiu - por um momento achei que você tinha odiado.

-Eu adorei, vai para a correção hoje mesmo - ele colocou o manuscrito na menos pilha de papais de sua mesa, a pilha dos livros aceitos - pode sair, ir comemorar fazer uma continuação ou algo mais original que isso, quero muitas boas histórias vindas de você moleque.

-Certo senhor - Luiz saiu apressado e muito feliz de lá. Com toda certeza todos aqueles copos de uísque que tomou na festa de sua irmã renderam uma bela, útil e rentável alucinação.


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Notas finais do capítulo

hey, espero que vocês gostem. estava com essa ideia mofando na cabeça a séculos e só agora consegui escreve-la >.
Não se esqueçam das reviews