Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: The Score - The Fear



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Elizabeth Cooper

Espaguete com almôndegas era a minha comida preferida no mundo todo, além do milk-shake de morango do Pop’s. Sempre que eu ficava para baixo minha mãe costumava fazer, em segredo, e eu sempre me surpreendia ao descer as escadas e ver à mesa o meu prato preferido sendo servido. Isso costumava salvar minha semana.

— E então filha? – Hal me analisava preocupado.

— Na verdade, eu não sabia que você cozinhava tão bem pai. – sorri.

Mesmo sabendo que não havia sido ele quem havia cozinhado o gesto de carinho vindo dele aquecia e confortava meu coração.

— Me desculpe estar sem apetite. – cutuquei algumas almondegas que ainda rolavam pelo prato.

— Bom, você comeu mais hoje do que no resto da semana. – me observou com compaixão.

No silêncio que se seguiu eu esbocei um semi sorriso, ele havia chegado tarde hoje com a justificativa do jantar, mas e nas outras vezes?

— Você tem estado muito ocupado não é pai? – ele pousou o garfo na lateral do prato voltando sua atenção a mim.

— Tem acontecido muitas coisas em Riverdale, sem sua mãe é difícil manter o jornal e cobrir todas as notícias. – sua voz saiu rouca e eu me senti culpada por julgá-lo.

Em todo esse tempo o jornal nunca havia parado de publicar e agora que me atentava ao meu pai pude perceber as olheiras protuberantes abaixo de seus olhos. Ele estava tão cansado disso quanto eu.

— Eu sinto muito por estar tão ausente Betty... Também sinto muita falta de sua mãe e de Polly... – sua voz falhava enquanto ele encarava o prato – Mas você está aqui e eu quero poder cuidar de você... – ele fungou e se voltou para mim com uma expressão inerte em dor – O jornal é tudo o que ainda temos, não podemos deixar que nos tirem isso também.

Me encurvei em sua direção apreensiva. Ele nunca havia se aberto tanto para mim.

— Quem pai? – questionei sobressaltada – Quem vai nos tirar o jornal?

Ele pareceu incomodado mas me respondeu prontamente.

— Riverdale... Está tirando tudo de nós, primeiro Polly, depois sua mãe... – ele balançava a cabeça em negativa – Eu não posso perder você também...

— Pai você não vai. – meus olhos se arregalaram enquanto eu buscava tocar sua mão sobre a mesa – Eu estou bem aqui.

Ele se recostou sobre a cadeira, suspirando ao observar minha mão sobre a sua. Permaneceu inexpressivo por alguns segundos e finalmente me encarou.

— Onde você pretende ir com aquela moto? – ele contorceu o rosto.

Meus olhos se arregalaram novamente. Tentei sibilar alguma coisa que soou como um animal sendo ameaçado por sua presa, encurralado e surpreso pelo ataque.

— Você achou que eu não perceberia? – levou uma garfada repleta de macarrão à boca com naturalidade – Bom, é uma Scrambler, eu sonhava com uma dessa na sua idade... – disse com a boca cheia.

— Não tá bravo comigo? – hesitei.

— Por um lado sim. – ele disse amargamente ao engolir o bolo de comida, depois balançou a cabeça em negativo – Sua mãe me escondia muitas coisas – ele pegou um guardanapo limpando a boca suja de molho – Polly me escondia outras coisas mais, e eu só não quero que seja assim com você. – ele me lançou um olhar quase que ameaçador me fazendo questionar se ele realmente deveria saber de tudo.

Simulei um sorriso como se estivesse ficado tranquila por sua resposta.

Ele se levantou recolhendo os pratos da mesa e uma pendência me veio à mente. Contorci os lábios com a possibilidade. Quando ele deixou os pratos sob a pia conclui que devido as escassas opções só me restava tentar.

— Pai, - ele se virou erguendo as sobrancelhas – você sabe pilotar?

— Ahm. - seus lábios se comprimiram formando uma linha reta – Eu pilotava um pouco, mas não sei se tenho muita experiência, por que?

Lancei um sorriso infantil para ele.

◙ ○ ◙ ○ ◙

— Ok. – sussurrei para mim mesma, mas nada estava de fato “ok”.

Analisei pela última vez a estrutura de metal entre minhas pernas, mantendo-a de pé apenas com a ponta das botas. Estar em cima dela era “sinal de controle”, lembrei de meu pai me dizendo ontem à noite. Estar abaixo de sua lateral poderia ser um problema, por isso cair não era uma opção.

A vontade de desistir e arrastá-la de volta a garagem me atiçava a cada nó que se formava em meu estômago, minhas mãos tremiam ao tocar o guidom e eu sabia que sob o comando delas estaria a minha segurança.

— Talvez amanhã... - balancei a cabeça em negativo descendo e empurrando-a de volta a garagem.

Hoje o tempo estava bom, ótimo na verdade se comparado aos dias anteriores. Apesar do dia ensolarado, a brisa fresca deixava o ar arejado o suficiente para usar a jaqueta de couro. Fitei a lâmpada velha que se esforçava para iluminar a escuridão da garagem, me lembrando de que Jughead estivera ali a quase uma semana atrás. Puxei a alavanca com a mão esquerda parando a moto.

— Ok, Betty. – retornei com ela de volta ao asfalto – Do chão você não passa. – arqueei as sobrancelhas enquanto colocava o capacete.

Engoli em seco, ao bater a chave. Não seria difícil, na verdade era bem simples depois das aulas passo-a-passo do papai. Embreagem, ok. Ergui meu corpo para cima e depositei o peso em um lado do corpo, dar a ignição era complicado já que eu tinha que pular um pouco para descer o pedal. A moto rugiu embaixo de mim como um animal furioso, tudo bem... Ignição, ok. Fitei minha mão direita girando o punho delicadamente. Embora o movimento fosse mínimo, seu motor grunhiu fazendo meu coração palpitar. Acelerador, ok. Agora era só engrenar o câmbio, baixei um grau do câmbio com o pé esquerdo, e ok.

Tudo em seus conformes. Era eu e ela, a maldita Scrambler. Uma risada nervosa escapou e eu senti meu corpo todo vacilar em um calafrio. Observei um garoto atravessar a rua, esperei até que ele estivesse seguro na calçada. Eu podia até atropelar alguém, mas já havia chegado até ali.

Soltei a embreagem devagar ao mesmo passo que a acelerava. Assim que ela arrancou soltei um pequeno grito me sentindo ridícula, uma vez que a moto estava a cerca de 20hm/h e o garoto que havia atravessado a rua agora me encarava assustado.

— Archie... – sibilei enquanto passava por ele.

A sua imagem não se prendeu em minha mente por muito tempo. Virei a esquina devagar e ao perceber o domínio que tinha sobre a moto, me permitir acelerar, nada demais, apenas o suficiente para não chegar atrasada. 

Era fascinante a adrenalina e a sensação de liberdade que colidiam contra meu corpo e formigavam em minhas veias. As casas e árvores passavam por mim de forma insignificante, assim como as outras pessoas, todos misturavam-se em uma paisagem de borrões que em instantes ficavam para trás, se tornando passado.

Entrei no estacionamento da escola devagar, o capacete negro não permitia que os outros alunos soubessem quem eu era, por mais que me encarassem. Maldita Scrambler. No momento em que avistei um espaço maior virei o guidom instintivamente para lá, recuando com a moto de forma que ela parasse de frente. Soltei a embreagem desatenta causando um engasgo, me lançando para frente.

— Precisa de ajuda? – uma voz grave me perguntou.

Só então percebi a viatura a minha esquerda. Um suor desceu pelo meu rosto e eu movimentei a cabeça recusando sua oferta. Ele me observou por um instante e eu orei internamente para que o Sr. Jones não percebesse que era eu.

Assim que ele arrancou a viatura pude perceber que havia prendido a respiração e isso agora fazia a minha cabeça girar. Desci da moto desajeitada e retirei o capacete podendo sentir contra o rosto a brisa leve e macia me acalmar.

Hoje teria aula de química, por um lado estava ansiosa para contar a Sweet Pea sobre o meu feito, por outro estava curiosa sobre o motivo pelo qual ele havia desmarcado comigo na tarde anterior. Ouvir seu nome pelo corredor me chamou a atenção.

— Quer dizer, Sweet Pea é um idiota, mas isso é claramente suspeito. – a conversa parecia intima, mas já era tarde demais para recuar. Decidi me fazer de desentendida.

— Quem é um idiota? – Jughead se virou para mim sobressaltado.

Forcei um sorriso amigável, ele correu os olhos pelo meu rosto comprimindo os lábios.

— É o que estamos tentando descobrir, quem é idiota o suficiente para não vir ao baile. – suas sobrancelhas se arquearam para Toni, imagino eu, para que ela cooperasse.

Jughead parecia tão embaraçado quanto Toni, o que me fez pensar que talvez eles estivessem combinando de ir ao baile juntos e eu apenas havia chegado em uma péssima hora. Seria suspeito se Sweet Pea me convidasse para que eu deixasse Jughead em paz? A noite passada parecia vergonhosa enquanto ambos se entreolhavam. Eu me sentia uma completa idiota agora.

— Eu devo ser uma idiota então. – ri sem graça – Não estou no menor clima de baile. – suspirei – E vocês?

— Ah, a gente não costuma participar... – ela olhou de relance para Jughead e eu comprimi os lábios – Mas talvez seja uma boa vir esse ano...? - revirei os olhos.

Então venham, pouco me importo. Quis dizer antes de visualizar Weatherbee caminhar em nossa direção.

— Vocês não ouviram o sinal? Já para a sala! – salva pelo gongo.

Assenti em silêncio caminhando em direção à sala. O ar pesado ao meu redor indicava que Jughead caminhava atrás de mim. Apesar dos seus passos silenciosos eu podia sentir seu olhar me atravessar.

(música)

Quando entrei na sala o professor estava distraído com alguns papéis em sua mesa. Mentalmente pensei em comemorar mais uma ótima nota com Sweet Pea, mas ele não estava em nenhum lugar da sala. Deixei minha mochila pender ao lado da carteira enquanto perdia minha atenção pelo ambiente, ele estaria me evitando desde ontem? Um nó se formou em meu estomago. Eu havia me afastado de Verônica, Archie e Kevin sem maiores explicações, apenas por precaução; Sweet Pea parecia centrado em me evitar; agora Jughead e Toni cochichavam pelos corredores uma forma de ir ao baile juntos.

Suspirei pesarosamente. A situação poderia ser analisada como solitária ou como um campo aberto onde eu poderia me concentrar em pistas sobre minha mãe. Era tudo uma questão de perspectiva.

Jughead passou por Fangs se sentando ao meu lado. Quis fingir surpresa, mas eu realmente estava.

— Esse é o lugar do Sweet Pea.

— Tudo bem, ele não vem hoje. – isso não justificava Jughead estar ali.

— Sim, mas Fangs está aqui. – o apontei com a cabeça sem entender, Jughead revirou os olhos.

— É difícil entender que quero sentar com você hoje? – sua voz soou doce me fazendo recuar.

— Eu não sei lidar com suas mudanças de humor. – balancei a cabeça em negativa me lembrando do quando ele havia sido rude comigo na noite passada.

— É bom se acostumar – sussurrou se aproximando um pouco mais – Pois você vai ao baile comigo...

Mais uma vez Jughead desmoronava todo um muro ideológico e seguro que eu havia formado ao meu redor.

— O que?! – busquei qualquer vestígio de que ele estivesse zombando de mim, mesmo que sua expressão se mantivesse séria.

— Ei, silêncio vocês dois! – o professor alertou e só então percebi que a aula já havia começado a alguns minutos.

Todos me encaravam com desdém, logo voltando sua atenção ao livro aberto sobre a mesa, retirei o meu da mochila folheando na página indicada na louça. Jughead retirou seu caderno arrancando uma folha cuidadosamente, mas o que ele escrevia nela me intrigava. Ele empurrou a mensagem pela mesa conjunta até alcançar meu livro, o olhei lateralmente e ele apontou o bilhete arqueando as sobrancelhas.

Achei que apenas meninas do primário faziam isso.

“me desculpe por ontem, eu não quis ser grosseiro...”

Comprimi os lábios evitando um sorriso. Jughead tinha letras quase garrafais em uma caligrafia um tanto quanto bem elaborada.

Coloquei a folha sobre o livro e me alertei para o professor que já estava na leitura de uma página adiante.

“não precisa me convidar ao baile para se desculpar”

Empurrei o bilhete de volta.

“na verdade eu realmente quero ir com voce”

“por que?”

Arqueei as sobrancelhas o encarando lateralmente. Ele deu de ombros.

“é uma longa história, mas se te conforta pense nisso como uma troca de favores”

— Está dizendo que é um favor me convidar ao baile? – sussurrei incrédula assim que o professor se virou para anotar algo na louça.

Ele balançou a cabeça em negativo arrancando outra folha do caderno o qual dispersou alguns segundos nela.

“é um favor para mim... preciso de você no sábado e hoje a noite também”

“como assim?”

Eu sacudia a perna impaciente enquanto ele se demorava a escrever. Meus olhos iam de Jughead ao professor que continuava a escrever algo no quadro.

“meu pai quer me tirar da cidade, a situação com os Ghoulies é mais séria do que nós imaginávamos”

Ele me deixou ler e puxou o papel de volta, a impaciência fez com que eu me aproximasse dele para ler o papel conforme ele ia escrevendo.

“eu pedi que ele me deixasse ficar até o dia do baile porque iria com você”

— E por que precisa de mim hoje à noite? – sussurrei e a proximidade entre nós o fez corar.

Ele fitou o professor à frente da sala e se voltou a mim rapidamente.

— Os Ghoulies estavam nos enganando todo o tempo, eu quero solucionar isso tudo antes que as coisas piorem... – ele engoliu em seco – Você tem a pista inicial. É só um pontapé e depois te deixo fora disso, prometo.

Concordei silenciosamente enquanto pensava sobre o que ele havia dito.

— Eu passo na sua casa hoje à noite para irmos, leve sua lanter...

— Não! – sussurrei – Hal não pode te ver! – ele contraiu o cenho confuso.

— Como faremos então?

— A-ah – tentei pensar em algo rapidamente – Hoje é dia de filme no drive-in, eu digo que vou com a Verônica e peço o carro dele emprestado, te encontro no White Wyrm.

— Tudo bem. – ele pareceu inquieto.

O professor finalmente se sentou à mesa vasculhando novamente os papéis. Peguei o pedaço do papel abandonado sobre a mesa de Jughead, e me arrisquei.

“se é uma troca de favores, o que eu ganho com tudo isso”

Mordi os lábios com uma expressão divertida imaginando o que ele me ofereceria em troca de tantos favores, mas ao ler a mensagem uma melancolia devastadora tomou seu rosto. Em poucos segundos ele escreveu uma simples palavra.

“informações”

Meu olhar confuso transmitia claramente a pergunta que não precisaria ser feita. Jughead balançou a caneta por um tempo parecendo pensar o que escrever. Por fim, ele amassou a folha e se aproximou de mim incomodado.

— Sua mãe não foi embora Elizabeth... ela fugiu de alguém...


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Notas finais do capítulo

Pessoal, desculpe pelo capítulo longo....

Conversem comigo, me digam o que precisa melhorar!!



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