— Então, o que eu faço? Pelo amor de Deus, Olivia, me ajuda! – Brianna choramingou pela milésima vez nos últimos cinco minutos andando pra lá e pra cá a minha frente.

  Estávamos as duas na sala da casa de Ethan conversando há algum tempo, ela apareceu para o almoço e estendeu a visita uma vez que eu e Molly estávamos só esperando todos voltarem. Terminei de dar a mamadeira para a bebê e a apoiei em meu ombro para fazê-la arrotar.

  - Então deixa ver se eu entendi. Graças a sua eloquência o Josh não só acha que você é uma patricinha mimada, mas aparentemente é sem noção também. É isso mesmo?

  - Olivia! – ela gritou meu nome antes de grunhir e se jogar no sofá a minha frente.

  - Eu disse alguma coisa errada?

  - Não – Brianna resmungou fazendo bico.

  - A única coisa que eu não entendi é por que ele achava, pra início de conversa, que você era essa patricinha mimada que você com certeza não é.

  Brianna suspirou e sentou-se ereta no sofá para me encarar. Ela ajeitou os óculos que emolduravam os incríveis olhos azuis antes de começar a falar.

  - Quando eu estava no fundamental eu tinha essa “amiga” – ela fez aspas no ar. – Eu sempre achei que éramos realmente amigas, mas descobri, com ela falando pelas minhas costas, que não éramos, que ela só estava comigo, a nerd estranha de aparelho e óculos, por causa do meu dinheiro e do meu sobrenome, coisas que sempre me fizeram popular, por ser uma “Price” tinha sempre alguém querendo alguma coisa de mim, por ser “nerd” eu era considerada estranha. Então resolvi me fechar. Aí tirei o aparelho, fiz um corte de cabelo estiloso e comecei a agir como esperavam de mim, uma patricinha fútil e mimada, por que se eu não mostrar quem eu sou de verdade ninguém me machuca.

  - Brianna... – comecei sem acreditar, mas ela me interrompeu.

  - Não precisa falar nada, Ok? Eu já sei que fiz merda e escolhi ser assim, pelo menos na faculdade, já me acostumei, é fácil fingir quando é só o que você faz.

  - Hei! Eu ia dizer que te entendo, Ok? – perguntei e vi a surpresa estampada em seu rosto delicado. Ajeitei Molly em meu colo e ela sentou já interessada em puxar meu pingente. – Eu realmente entendo. Depois do meu pai, eu fiquei com um pé atrás com tudo e todos. E o que eu vou dizer provavelmente não vai combinar com o conselho que quero dar, mas vou falar assim mesmo. A verdade é que sim, meu pai me trocou pela esposa e me magoou pra caramba, minha colega de apartamento me trocou pelo namorado e eu tenho todos os motivos para dizer que não acredito mais em ninguém, que não quero me mostrar pra não me machucar nem me magoar. Mas quer saber de uma coisa, Brianna? Fugir, se esconder e ignorar não vai resolver seu problema. Você se escondeu por medo de te machucarem outra vez, só que alguém só te machuca se você deixar. Então não deixe. Você é maravilhosa demais para não mostrar isso, com óculos, livros e chocolate. E se no fim, o que você é não for bom o bastante pra essa pessoa, essa pessoa não é boa o bastante pra ter você.

  - Você é maravilhosa, sabia disso? – Brianna perguntou fungando para minha surpresa. A morena tirou os óculos para secar os olhos úmidos. – Obrigada por isso, eu estava precisando e saber que você entende, entende mesmo como eu me sinto me faz pensar que não estou sozinha. E eu vou fazer isso, vou ser corajosa e vou me mostrar a ele, me desculpar e bem, ver no que vai dar, mas como eu faço isso?

  - Ai você me complica, eu não sei. Que tal um simples “Desculpa”? Que tal você explicar pra ele da confusão, melhor, por que não mostra a ele quem você é de verdade? Sem disfarces, saltos e amigos falsos ao seu redor?

  - E como eu faço isso? Sempre que a gente se vê na faculdade estou cercada de gente e Josh agora parece estar fugindo de mim mais do que tudo.

  - É só fazer isso fora da faculdade. Alguma chance? – pergunto e Brianna suspira negando com a cabeça.

  - Não, ele trabalha. Mesmo que num ato de loucura eu o tenha seguido e saiba onde é – ela ri.

  - Então por que não vai até lá?

  - Ai meu Deus! Por que eu não tinha pensado nisso antes? Eu posso ir até lá, Josh trabalha num café, ele vai ter que me atender querendo ou não, ai no meio disso posso tentar me desculpar. Será que dá certo?

  - Não custa tentar – disse sorrindo. – Você precisa, pelo menos, desfazer essa péssima impressão que ele teve de você.

  - Pelo menos – ela concordou voltando a se jogar no sofá. Meu celular vibrou em cima da mesinha de centro e eu o peguei. Era uma mensagem de Ethan.

Ethan: Vamos sair hoje? Eu, vc e as crianças?

Sim! Pra onde?

Ethan: Surpresa, mais tarde vc descobre.

Ethan, volta aqui e não me deixa na curiosidade!

— Tá falando com o meu irmão né? – Brianna sorriu me encarando, eu corei guardando o celular e isso foi resposta suficiente. Ela vinha me enchendo com isso de mim e do Ethan desde a festa de Seth. – Você ainda não me disse tudo. O que mais aconteceu? Aquele dia eu não estava pra conversas, mas agora quero saber!

  - Saber mais o que, Brianna? Você já me arrancou literalmente tudo.

  - Ah! Não acredito, agora você é minha cunhada, quero detalhes! De-ta-lhes!

  - Eu ainda não sou sua cunhada e já contei tudo que tinha pra contar.

  - Ainda? Então vai ser oficialmente em breve, né? – ela ri e é a minha vez de grunhir.

  Brianna continuou a me encher com a história toda com Ethan, mas além de ser irritante eu também estava feliz dela ter melhorado o animo nem que fosse um pouco, afinal se já conseguia implicar comigo ela estava realmente bem. A verdade é que a confusão toda com Josh havia realmente deixado-a chateada. Mas eu entendia o motivo dela ter feito o que fez na faculdade, mesmo que tenha terminado assim, era um motivo valido, mas assim como eu, Brianna não podia continuar se escondendo para sempre.

  Depois de algum tempo ela finalmente se despediu e foi embora, supostamente tinha um trabalho da faculdade pra fazer e ia pensar também no que ela chamou de “Plano de abordagem de Josh Taylor”, acho que para ser uma escritora ela precisava realmente ter uma imaginação incrível.

  Sorri com a lembrança terminando de dar banho em Molly e deixando a bebê mais cheirosa que de costume. Coloquei-a em um vestido verde claro muito fofo e coloquei meias e sapatos brancos, a tiara em seu cabelo era da cor do vestido, quando terminei, ela parecia uma boneca.

  - Olivia, eu coloco pijama ou roupa de sair? – Charlotte apareceu só de calcinha na porta do quarto da irmã. Eu tinha ido buscar ela e Seth pouco depois que Brianna foi embora.

  - Roupa de sair, seu pai disse que vamos dar um passeio.

  - Mas qual roupa de sair?

  - A saia rosa, a blusa branca com renda e pode colocar suas sapatilhas com glitter se quiser.

  - Tá bom! – ela exclamou correndo de volta para o próprio quarto.  

  - Oh Bruxa!

  - O que foi? – perguntei divertida assim que sai do quarto de Molly com a bebê no colo. Seth estava parado no meio do corredor, com o cabelo molhado, uma toalha no pescoço, o peito magro nu, usando só uma bermuda.

  - A gente vai sair com o papai?

  - Estava ouvindo a conversa dos outros agora, Seth? – perguntei e vi-o corar, isso só me fez sorrir ainda mais.

  - Eu só tava procurando meus tênis e ouvi você falando com a Lottie. Mas a gente vai ou não?

  - Vai, ele disse que quando chegasse nós íamos sair então vá se trocar.

  - Tá — ele concordou aos resmungos e seguiu para o próprio quarto.

  Fui com Molly ao quarto de Charlotte ajudar a garotinha loira a se vestir, sorri ao vê-la com a saia torta e o cabelo bagunçado. Mas não demorou até ela estar pronta e com laços cor-de-rosa prendendo o cabelo loiro em uma maria-chiquinha deixando-a muito fofa. Seth também estava pronto e mandei que ele vigiasse as irmãs no andar debaixo enquanto eu me arrumava, ele resmungou, mas foi assim mesmo.

  Tomei banho e coloquei um dos meus muitos vestidos coloridos, o escolhido da vez foi um vermelho tomara que caia com a saia rodada, deixei os cabelos soltos e coloquei uma sapatilha preta, eu estava decidindo se passava alguma maquiagem ou não quando senti seu abraço as minhas costas.

  - Não precisava se arrumar tanto – Ethan disse quando me virei. Lá estava ele sorrindo com os olhos azuis brilhantes a poucos centímetros de mim. – Se eu soubesse que ia estar tão linda tinha caprichado mais. Nós só vamos a um novo restaurante tropical que abriu.

  - Ethan! - o repreendi corando. Ele estava lindo usando jeans e uma camisa social preta com as mangas dobradas até os cotovelos. – Quando se trocou? – quis saber curiosa e ele me deu um selinho antes de se afastar.

  - Lá no trabalho. Eu faço isso às vezes, tenho um pequeno armário com algumas peças de roupa, nunca se sabe quando eu vou ter um imprevisto e precisar me trocar. Mas o mais importante, o que fez com aquelas crianças lá embaixo? Estão sentadas morrendo de medo de amassarem as roupas. Levei uma bronca de Charlotte quando fui abraçá-la.

  Eu ri indo colocar meus brincos.

  - Só disse a eles que se sujassem não iam a lugar nenhum, que ficariam com a Ruth, era o único jeito de eu ter paz para pelo menos tomar banho tranquilamente.

  Ethan gargalhou me fazendo rir também.

  - Você é muito má!

  - Eu? Imagina, sou um amor de pessoa – digo mordendo o lábio vendo-o se aproximar.

  - Sei disso. E o que acha de eu te cumprimentar como se deve antes dos meus filhos virem nos atrapalhar?

  - Acho uma ótima ideia – respondo antes dele capturar meus lábios com os seus, num beijo que esperei o dia todo. Talvez beijar Ethan tenha se tornado um vício, um prazer que eu não podia recusar.

  Quando ele apertou minha cintura e me puxou mais contra si nós ouvimos Charlotte gritar e nos separamos com sorrisos divertidos.

  - Essa foi rápida. Vamos? – Ethan me convidou estendendo a mão e sorri com o gesto.

  - Mas e minha maquiagem?

  - Você não precisa, acredite – ele sorriu e eu corei deixando que ele me levasse pelo corredor.

  Sempre que saiamos os cinco era uma pequena confusão, eu precisava levar a bolsa de Molly, ficar de olho em Charlotte e ter certeza que Seth estava por perto. Depois algum esforço conseguimos nos acomodar. Lottie foi tagarelando o caminho todo sobre o balé, a escola, a amiga Julie e o que mais se lembrasse, essa garotinha era uma verdadeira matraquinha.

  Quando Ethan estacionou em frente ao restaurante com ares de quiosque de praia eu sorri, não tínhamos muito disso por perto, a ideia era bem legal e apesar de ser cedo, já estava bem cheio, nós descemos e quando nos aproximamos eu pude ver as grandes flores coloridas, a fonte e os detalhes em bambu, era um ambiente alegre e o cheiro estava maravilhoso.

  - E então, o que achou? – Ethan perguntou enquanto seguíamos para a mesa.

  - Lindo e já adorei o ambiente.

  - Imaginei que fosse gostar. Vi ele por acaso ontem quando estava voltando pra casa e pensei que podíamos vir ver de perto.

  - Papai, Olivia, olha um tucano! – Charlotte exclamou animada atraindo alguns olhares e sorri, preso no teto tinha um enfeite de tucano e a reação da pequena tinha sido extremamente engraçada. – Ele tá vivo?

  - Não é só um boneco – Ethan respondeu e Lottie fez bico, mas depois voltou a sorrir quando nos sentamos em uma das mesas perto das enormes janelas com vista para a fonte da entrada.

  - Eu posso ter um boneco desses?

  - Charlotte, não é assim que funciona, você já tem brinquedos demais – Ethan disse e a pequena se virou para me encarar, eu estava arrumando a cadeirinha de Molly, que dormia, no chão ao meu lado.

  - Eu posso ter, Olivia?

  - Não – respondia simplesmente fazendo Seth e Ethan trocarem um sorriso e Charlotte fazer bico.

  - Já decidiram o que vão pedir? – uma garçonete sorriu ao se aproximar da mesa. Ela estendeu o cardápio para mim e Ethan, depois olhou para as crianças. – Seus filhos podem se distrair na área infantil que temos lá fora. Temos brinquedos e monitores.

  - A gente pode, por favor? – Seth perguntou me olhando.

  - Pode? – Charlotte me olhou também e sorri, por que eu tinha que dizer sim ou não?

  - Vão, mas Seth fique de olho na sua irmã, quando formos comer chamamos vocês. Tudo bem, Ethan? – perguntei para confirmar e o moreno limitou-se a sorrir pra mim.

  - Claro, vão lá e obedeçam.

  - Tá bom! – Charlotte exclamou e os dois correram por entre os clientes quase derrubando um garçom no caminho e sumiram de vista por uma entrada lateral.

  - Quando forem pedir me chamem – a garçonete sorriu se afastando.

  - Por que sou eu quem tenho que decidir? – pergunto a Ethan depois dela sumir por entre as mesas.

  - Por que aparentemente sua opinião é mais importante que a de qualquer um para eles, inclusive a minha.

  - E isso de incomoda? – pergunto realmente curiosa e ele sorri.

  - Não. Desde que você esteja por perto está tudo bem.

  - Se é assim, Ok. Vamos escolher o que pedir?

  - Eu tenho uma ideia melhor – ele sorri antes de me puxar para um beijo.

  - Eca! Vocês tavam se beijando! – a voz conhecida de Charlotte nos interrompe e Ethan e eu nos afastamos num pulo. A garotinha está parada a nossa frente com os olhos azuis arregalados.

  - O que você está fazendo aqui, Molly? – pergunto sem saber o que fazer. As crianças ainda não nos tinham visto juntos.

  - Eu vim beber água antes de brincar. Mas não quero mais não, vou contar pro Seth que você tavam se beijando. Oh Seth! Seth! – ela saiu correndo e gritando pelo restaurante atraindo olhares outra vez e me fazendo corar.

  - E agora, Ethan? – pergunto, mas ele está rindo demais para se quer conseguir me responder.

  - Vai ser o que tiver que ser. E não se preocupe com isso, eles iam saber uma hora ou outra. E se não me falha a memória nós estávamos no meio de algo antes de Charlotte nos atrapalhar.

  - Ethan, eu tô falando sério!

  - Eu também – ele sorri voltando a me beijar e bem, já que estou na chuva, só resta me molhar.

  - Vocês tão mesmo se beijando. Por quê? – somos mais uma vez interrompidos e dessa vez é Seth a nos encarar e por algum motivo o garotinho não parecia nenhum pouco feliz.

  - Olha Seth... Nós bem...

 - Seth, está tudo bem, Ok? – Ethan me interrompe e encara o filho. - Por enquanto estamos nos beijando por que gostamos um do outro, mas é a Olivia e ela ainda é sua também, certo? A gente pode tentar juntos dessa vez?

  Eu não sabia do que eles estavam falando, mas Seth pareceu ponderar a situação.

  - Tá, mas pede pra Charlotte parar de gritar que vocês tavam se beijando, vai ficar todo mundo surdo lá no parquinho. E Bruxa, a Molly tá acordando – ele apontou para a irmã ao meu lado, o pequeno estava corando quando nos deu as costas e correu de volta para a porta lateral.

  - O que foi isso? – perguntei confusa e Ethan sorriu.

  - Um bom sinal, eu acho.