A Rosa de Espinhos e seu Jardim escrita por Carol Sequetho


Capítulo 8
Capítulo VIII - ''Eu não me importo mais''




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‘’Eu não me importo mais’’ 

Eu digo, e francamente soa tão falso quando as palavras deixam a minha boca que eu nem espero que eles acreditem, são meus amigos a anos. Me viram passar por situações que, dificilmente achei, seria capaz de me recuperar e ainda assim eu o fiz.

‘’Eu não me importo mais’’ 

Eu repito a cada vez que perguntam como estou sobre você, se sei como anda tua vida, se sinto sua falta…

E é engraçado que em tão pouco tempo você tenha sido capaz de me marcar tanto, me ferir e curar ao mesmo tempo de uma forma tão intensa que parece uma história de romance clichê, daqueles onde todos esperam que tenha um final feliz das mocinhas ficando juntas e vivendo felizes para sempre realizando todos os sonhos de suas vidas lado a lado como o casal perfeito que pareciam ser. 

Eu acho que poderíamos ter tido isso, você e  eu.  Não que fossemos o modelo perfeito de casal, até porque isso sequer existe, mas nós éramos boas juntas. Boas demais talvez, e eu as vezes me pego pensando em como poderia ter sido essa nossa história se eu tivesse chegado antes dela, antes de todas as cicatrizes profundas que ela deixou na sua alma, quando você ainda era você das histórias que me contou e me fizeram odiar aquela mulher por ter sido capaz de machucar um ser tão bom quanto você, antes que eu estivesse tão quebrada a ponto de não ter mais forças para lutar por nós como lutei por outra pessoa tempos antes de cruzar o seu caminho.

‘’Eu não me importo mais’’ 

Eu digo, porque já fazem, eu acho, pelo menos seis meses desde que você terminou e não foi fácil me desintoxicar da saudade que seus beijos, seus abraços, sua voz, tudo em você deixou no meu corpo  e ainda mais difícil foi convencer a minha alma que nós não nascemos para estar contigo. Porque você criou raízes profundas em mim, me fez sentir algo intenso demais e bom demais, me fez entender que mereço o amor e depois….depois você se arrancou tão rápido quanto foi plantada e eu tive de respirar fundo e dizer a mim mesma incontáveis vezes que essa não era a primeira vez em que alguém partia, que ficaria bem, que uma hora a pessoa certa para mim apareceria, e talvez isso de pessoa certa sequer exista e está tudo bem. Está tudo bem. 

‘’Eu não me importo mais’’ 

Eu digo quando eles falam sobre amor, almas gêmeas, vidas passadas, nossas fotos. Sobre tudo o que um dia eu achei que pudesse ter com alguém. Com você. Talvez eu mereça isso, realizar aqueles sonhos bobos e infantis de uma adolescente ainda crente no amor verdadeiro e as coisas que ele podia realizar, talvez eu faça. Talvez um dia alguém fique tempo o bastante para me ajudar a descobrir isso. 

Mas eu sigo dizendo que não me importo mais com o ‘’nós’’ que deixou de existir mesmo parecendo tão certo, mesmo que na realidade ainda esteja doendo um pouco. Bem menos do que fazia meses atrás, bem menos agora que eu não sou mais tão viciada na sua presença e curei cada ferida que você -e ela- deixaram sozinha. Eu precisei me levantar novamente, depois que outra vez foi puxado o meu tapete e dessa vez eu fiz questão de fazer isso sem ninguém me erguendo a mão e dizendo que não me abandonaria. 

Claro que os meus amigos estavam ali, eles sempre fazem. São os únicos amores que nunca me abandonam, esse grupo de poucas almas que me abraça e me lembra todos os dias o quanto a vida ainda pode ser doce mesmo que ela me machuque tanto. Claro que ainda havia aquela pequena garotinha tão doce e brilhante me chamando de dinda e fazendo meu coração inchar a cada vez que sorria por amor a ela. Claro que ainda havia amor a minha volta de todos os tipos. Mas não um amor como o  seu, romântico e intenso, fácil demais para ser doce, e doce demais para ser amargo. 

Eu não sei se quero esse tipo de amor novamente, eu ainda tenho cicatrizes e medos que são sua culpa, mas eu nunca vou te dizer isso diretamente, o nível da profundidade das feridas que me causou. Até porque eu imagino que você saiba, é claro que sabe. Acho que é um dos motivos de você ter deixado eu me afastar aos poucos, de ter me perdido mesmo quando eu te pedi para não o fazer porque tínhamos muito mais que apenas um namoro ali, tínhamos uma amizade linda. Não que a amizade tenha deixado de existir, mas ela fica mais fraca e distante com o passar do tempo.

As vezes eles me perguntam porque eu não faço nada para mudar isso, porque insisto em dizer que não me importo quando claramente o faço. 

É quando a minha voz trava, meu peito dói, meus olhos se enchem de água mas eu respiro fundo e explico que eu não posso curar uma ferida botando um curativo por cima do machucado e esperando que milagrosamente ele pare de sangrar apenas porque eu quero. Que a carne cresça de volta a pele milagrosamente como se não tivesse um corte profundo ali, apenas porque eu botei um band-aid bonitinho e disse que o faria. Existem níveis de ferimentos, alguns se curam rapidamente sozinhos com apenas um pequeno curativo bonitinho sobre a pele para proteger a ferida. Em outros tem muito sangue, muita profundidade, pontos que vão precisar ser feitos sem anestesia a mão livre enquanto a dor vai sendo sentida aos poucos e no final ainda é preciso retirar os mesmos e lidar com uma ou outra cicatriz e não adiantaria colocar um band-aid ali porque o sangue não pararia tão rápido, ou mesmo que parasse poderia infeccionar ou pior. Eu explico que você não foi um arranhão qualquer em mim : Foi uma ferida funda, muito funda. A terceira maior ferida que eu já senti em anos e é por isso que eu preciso de tempo. E talvez é por saber disso que você me dê a decisão de ter esse tempo. 

Ou talvez todas as paranoias que eu tenho sobre o'que nós fomos e o'que somos estejam certas, talvez eu apenas não faça falta. Talvez.

Acho que nunca vou saber.


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