Imaturo escrita por MisterDoctor


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oe, pessoas o/
Então... na minha cabeça Cascão é bissexual e só minha opinião importa.
Eu gosto bastante do Dudu da Turma da Mônica Jovem também, então mais uma história pros meus ships que ninguém shippa — porque Cebolinha e Cascão é algo que todo mundo que gosta de yaoi e Turma da Mônica cogita a possibilidade, então vamos escrever sobre o que poucas pessoas já pensaram pra não perder o costume.

Espero que gostem!
Boa leitura!

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Meu pescoço foi impulsionado para frente por alguma força sobrenatural, fazendo minha testa encostar no metal gelado da mesa quando o barulho das rodinhas do skate rolando pelo chão do refeitório invadiam meus ouvidos.

— Eduardo! Já disse para não andar com esse negócio aqui dentro! — o inspetor ralhou.

— Ah, tio! Nos filmes estadunidenses pode — o garoto retrucou.

— Você está em uma historinha da Turma da Mônica, não em um filme estadunidense. Desce logo desse treco!

O barulho do pé de Dudu batendo na ponta do skate e depois reclamando, era algo muito comum, geralmente eu riria daquilo.

— E aí, Cascão? — a voz de Cebola veio de atrás de mim, assim como o tapa que ele deu em minha nuca que me fez tirar a testa de mesa e olhar feio para ele. — Que cara de poucos amigos é essa?

— De quem está refletindo se realmente é bom ter amigos — resmunguei, passando a mão por cima de onde ele havia batido.

Cebola observou em volta, buscando algo com o olhar, em seguida, ele perguntou:

— Por que o Dudu está sentado com o Do Contra? 

— Porque eles são amigos, não tem que ficar grudado em mim — dei de ombros, tentando parecer indiferente.

— Brigaram de novo?

O ignorei, desviando meu olhar para baixo, roubando a maçã que estava ao lado do prato de comida dele, mas antes que Cebola pudesse protestar, Mônica apareceu, bagunçando seu cabelo carinhosamente e sorrindo para mim.

— E aí, meninos? — ela se sentou à minha frente e pegou a garrafinha de suco de laranja do Cebola, tomando um gole. — Nossa, Cascão! Você está bem?

Cebola, pela segunda vez, iria reclamar, mas desistiu quando foi interrompido mais uma vez, se contentou em sentar ao lado dela e sorrir com deboche para mim.

— Bligou com o namolado.

Ri alto com cinismo.

— Seu deboche saiu pela culatla, Cebolinha.

Ele riu baixo e balançou a cabeça positivamente.

— Ok, foi merecido.

— Mas... brigaram por quê? — Mônica perguntou sorrindo, um tanto animada. Ela sempre agia como se fosse a coisa mais fofa do mundo eu e Dudu brigarmos, na verdade, com qualquer coisa que nós fizéssemos… E ainda ficou brava por ser a última dos amigos de sempre a saber sobre nosso namoro.

— Não sei, Mônica. Muitas vezes a gente briga e eu nem sei de onde vem o motivo — respondi a seco.

 Um arrepio subiu por minha espinha quando Dudu passou atrás de nós rodando pelo skate, sem dizer nada, sem se despedir.

— Poxa, Cascão — lamentou-se, Mônica.

— Vai lá falar com ele, cara — Cebolinha sempre com seus ótimos conselhos.

— Nossa, Cebolinha! Como eu não tinha pensado nisso antes? — ironizei.

— Como você tá chato hoje! Ninguém tem culpa das suas brigas não. Vai descontar em outro — Mônica jorrou sua sinceridade.

A encarei e ela franziu a testa para mim, brava.

Suspirei.

— Desculpa! — Usei aquilo como uma deixa, me levantei, jogando a mochila nas costas e dei meio sorriso para eles. — Vou lá resolver isso. 

Claramente eles perceberam que eu só queria fugir dali, mas não me importei, segui pelo mesmo caminho onde Dudu tinha ido. Vi ele subindo o morrinho até o portão da escola, falando algo com o tio da portaria e saindo para rua com seu skate, sem olhar para trás. Coloquei as mãos no bolso e de cabeça baixa, saí pelo mesmo caminho que ele. Dudu desapareceu na esquina da pracinha.

Eu não gostaria de confessar esse tipo de coisa, mas tá no roteiro, então tenho que dizer. Passei a tarde toda entre tentar passar uma fase difícil de Star Wars Battlefront II e pegar o celular para ver se havia alguma mensagem dele, mas não tinha, claro que não tinha… e claro que eu também não consegui passar a fase.

— Argh! — exclamei depois de abrir o whatsapp pela centésima vez.

Larguei o console do Xbox em cima da cama, tirei a calça, colocando uma bermuda e passei pela cozinha para pegar algum treco para comer. Eu já passei o dia todo no quarto esperando mensagem do Dudu, agora passar a noite também? Nananinanão.

— Não vai ficar para o jantar, filho? — minha mãe perguntou.

— Vou jogar bola com o pessoal no campinho.

— Ah, tudo bem, mas não demore muito para voltar. Tem aula amanhã.

— Eu sei, mãe, eu sei.

Às vezes ela age como se eu ainda tivesse oito anos.

— Ah, Cascão!  — ela exclamou empolgada. — Eu encontrei a dona Maria Cascuda no mercadinho hoje.

Agradeci que estava de costas para ela, não seria divertido se visse o desgosto que expressei. É, Mônica deve estar certa, eu estou chato hoje.

— Ah, é? Que legal, mãe… hehe…

— E adivinha quem estava com ela?

Suspirei e me virei de frente pra minha mãe enquanto mordia o pedaço de pão.

— Nem imagino.

— A Cascuda, claro — ela sorriu. — Ela está tão bonita, filho e adivinha? Adivinha? Ela passou naquela faculdade de São Paulo que ela tanto queria. Lembra que ela vivia falando pra você? E...

Ali se foi uma longa falação cheia daquelas insinuações sobre a Cascuda e sobre achar que eu devia voltar a namorar com ela. Queria saber se ela falaria dessa forma do Dudu também.

Enfim, eu consegui sair de casa.

O jogo foi o mesmo de sempre, mas era legal quando o Franja vinha. Ele consegue calcular o movimento de curvatura da bola, mas não consegue chutar ela direito pro gol. Era engraçado ver ele tentando.

— Ah, Cascão, saí daqui! — ele berrou quando se enfezou com minhas zoações, eu ri, contudo, realmente saí de perto dele.

Vesti minha camisa que estava sobre a grade e subi pela arquibancada onde até Marina e Magali estavam sentadas.

— Fez bullying com o Franja o suficiente? — Marina perguntou.

— Acho que sim, ele tá pronto pra você ir lá levantar o autoestima dele.

— Você não tem jeito mesmo, Cascão — ela disse, rindo e desceu em direção ao Franja.

Me sentei ao lado de Magali.

— Tá fazendo o quê aqui? Nem gosta de futebol.

— Agora eu entendo porque você gosta tanto — ela falou indicando uma direção com a cabeça, olhei para onde ela olhava e dei um sorrisinho ao ver o Paulo andando sem camisa pelo campo.

— Não gosto por isso.

— Mas vai dizer que não ajuda? 

Dei uma analisada na cena mais um pouco… é, ela tem um pouco de razão, mas mesmo assim, ignorei a pergunta, voltando à olhá-la.

— Vem cá… você falou com o Dudu por esses dias? — perguntei.

— Nós fomos assistir Capitã Marvel ontem e depois ele dormiu em casa.

Fiquei observando o rosto dela, esperando que ela dissesse algo mais que fizesse sentido naquela frase e fosse me deixar menos confuso.

— Forem assistir Capitã Marvel?

— Sim.

— Ah… — suspirei, mas tentei ignorar a pequena frustração que senti. — Ele disse algo pra você?

— Claro que disse, né, Cascão? — ela parou de secar Paulo e retribuiu meu olhar. — Algo como: “O Cascão é um banana, Magali! Você deveria ter colocado juízo na minha cabeça quando eu disse que tava interessado nele, mas que droga! Esse filme não começa logo?...” e continuou reclamando.

Arregalei meus olhos ao ouvir aquilo.

— Ele disse isso mesmo?

— Disse.

— E o que você acha?

— Concordo com ele.

— O quê?! — exclamei.

— Concordo com ele.

— Por quê? — perguntei, fechando a cara.

— Porque você é um banana mesmo, Cascão.

— Que culpa eu tenho se às vezes ele age que nem a Cascuda? Fica gritando comigo por causa de nada — me defendi.

Magali riu.

— Tá vendo como você é um banana? Tá comparando seu namorado com sua ex e falando mal dos dois ainda por cima, mas tem coragem de dizer na cara deles? Claro que não!

Inconscientemente minha testa se enrugou.

— Mas… — eu queria questioná-la.

— Mas nada, você está errado!

— Tá dizendo isso só porque ele é seu primo — é, eu não tinha argumento melhor que aquele mesmo.

— Eu não, tô dizendo isso porque você tá cometendo o mesmo erro que cometia com a Cascuda, o problema não são as pessoas que você namora, é você que tem medo de expor demais as coisas que sente — assim que ela disse isso, instintivamente eu me encolhi um pouco, parecia verdade, mas era estranho ter alguém falando assim. — Sério, Cascão? Você deveria pensar sobre isso. O Dudu está triste com a sua distância.

— Ele disse que eu estou distante?

— Sim e disse também que acha que é porque você passou na faculdade e talvez esteja pensando em terminar porque não faz sentido se prender à um garoto do interior quando sua vida vai mudar tanto ano que vem… não falou tão educado assim, usou uns palavrões no meio, como você pode imaginar, mas foi isso que ele disse.

— Ah… — eu demorei alguns momentos para processar o que ela tinha dito. — Que besteira! Eu não quero terminar com ele.

Senti a mão de Magali em meu ombro, dando uma tapinha.

— Ele tá na pista de skate agora, tem que dizer isso pra ele, não pra mim. 

Respirei profundamente e balancei a cabeça em sinal de concordância. Magali conseguia ser legal, mesmo quando estava sendo intencionalmente chata, essa era uma dádiva que só ela conseguia.

Me levantei.

 

 

— E aí, Cascão? — Do Contra e Xaveco cumprimentaram assim que me aproximei.

— Oi, vocês viram o… — não teve necessidade de terminar a pergunta.

— Dudu tá lá na rampa do meio — DC apontou em direção à uma rampa meio longe dali.

— Obrigado, é… será que você pode…? — DC não disse nada, apenas empurrou o skate com o pé até o meu.

Sorri para ele em agradecimento, subi no skate e fui pela parte reta entre as pistas… vamos se dizer que skate não era um forte meu. Subi na rampa que ele estava, pela escada, obviamente.

Dudu estava sentado, com o skate ao lado, as pernas penduradas, balançando pra baixo da rampa e os dois fones no ouvido. Ele me viu e me percebeu ali, mas nada que eu não esperasse, continuou fingindo que nada estava acontecendo.

Puxei um dos foninhos do ouvido dele ao me sentar ao seu lado.

 

Eu gosto de ser imaturo com você

Gosto de me entregar e me perder

 

Dei um sorrisinho por conta da música, eu não conhecia muito bem, mas me lembrava dele cantando depois de… vocês sabem.

 

Se eu minto é com cuidado pra não perceber

Quero poder implicar com todas as suas maneiras

Toda nossa juventude corre pelas veias

É que eu sou fraco, frágil, estúpido

Pra falar de amor

 

Quando terminou, Dudu estava até cantando junto. Pude até ver um esboço de sorriso em seu rosto.

— Romântico — brinquei e ele fechou a expressão.

Dudu não cederia tão fácil assim, ele puxou o fone do meu ouvido, desconectou do celular e guardou no bolso.

— Que foi? Não aguentou a saudade? — ele perguntou sarcasticamente.

— Não — afirmei e sorrir de forma mais segura possível. — Gosta mesmo das músicas desse cara, né?

— Sim — respondeu, sem me olhar. — Jão faz umas músicas perfeitas pra adolescentes viadinhos em um relacionamento complicado.

Eu ri daquilo e pude perceber ele rolando o olho.

— Eu ainda não sei lidar com sua capacidade de ser tão direto assim.

Pela primeira vez no dia, ele me olhou.

— Deveria aprender a ser um pouco mais também.

Suspirei, ele desviou o olhar de mim novamente e eu fiquei buscando palavras enquanto o silêncio pesava entre nós.

— Eu sei — enfim admiti e ele me encarou, arqueando as sobrancelhas. — Estava falando com a Magali… Ela me falou que vocês foram ver Capitã Marvel, achei que a gente ia junto.

Ele apertou os olhos.

— Achava que a gente ia ver Homem Formiga e Vespa juntos também, mas você foi com o Cebola.

— Nossa! — sustentei o olhar dele sobre mim. — Como você é rancoroso!

Ele cruzou os braços… Ô, merda! Ele só faz isso quando...

— Veio aqui me xingar? Porque se foi, pode se retirar — esbravejou contido, tentando parecer calmo, mas não deu muito certo.

Novamente usei do silêncio para tentar pensar melhor no que dizer, ele não iria mesmo facilitar para mim?

— Tá tão bravo assim comigo? — arrisquei.

— Estou.

Suspirei pela segunda vez.

— Eu não sei exatamente o que você quer saber, mas sei que você quer saber algo.

Dessa vez foi ele quem suspirou, abaixando a cabeça, passando a mão no rosto e jogando aquele cabelinho loirinho bonito dele pra trás.

— Me sinto ridiculamente carente com isso... mas porque desde que você soube que passou na faculdade, a gente tá se vendo só na escola e todas as vezes que marcamos de fazer algo, você some e nem explica?

Suspirei pela terceira vez, tentando pegar todo o ar possível e criar coragem para assumir o que precisava assumir… a minha vontade de agradar, no fundo, só estava atrapalhando.

— Não estava nos meus planos isso acontecer.

— Isso o que? — ele perguntou e eu senti minha mão suando mais que o normal.

— Gostar de você — falei, finalmente. Dudu levou a cabeça mais para trás, ficando apreensivo. — Me desculpa! — disse, na mesma hora.

Ele continuou me olhando alguns segundos sem dizer nada.

— Não tem que pedir desculpas, tô assustado é com você sendo direto sem tentar me enrolar. — Ele deu um leve sorrisinho carinhoso, assustadoramente compreensivo. — Continua…

Aquilo deu uma confusão na minha mente, como alguém pode ficar, de alguma forma, feliz com uma informação assim? Mas ok… eu tinha que continuar. 

— Ah, não sei… meu namoro com a Cascuda, foi tipo namoro de uma vida, sabe? — Dudu deu uma leve contorcida ao ouvir o nome dela, porém, continuou com uma pose me incentivando a falar e… ok, ele precisava saber. — É que… eu nunca tinha ficado com outra pessoa que não fosse ela, embora eu já desconfiasse que gostasse de meninos também.

Balançou a cabeça sutilmente.

— É, dessa parte eu sei.

— Então… é que assim… quando eu e ela terminamos, eu queria só ficar com outras pessoas, tentar viver outras coisas, eu tava cansado de ter que dar satisfações e de brigar, queria me sentir um pouco mais livre e focar no vestibular pra poder me mudar depois do terceiro ano, mas aí…

O silêncio novamente recaiu sobre nós, o olhar dele sobre mim acabou me fazendo travar, por mais compreensivo que parecesse… como é complicado falar certas verdades. Eu só queria evitar conflito, só isso...

— Aí você beijou um garoto do primeiro ano e acabou gostando dele, aí seus planos sobre querer ficar solteiro foram por água abaixo? — ele completou e aquilo me surpreendeu.

É, “água abaixo” é um ótimo termo pra definir.

— É, é isso… mas tem você agora e eu não mudaria isso… você é sei lá… tão você e é estranho demais me imaginar sem você, não quero pensar nisso... só que eu passei na faculdade e vou me mudar e… não sei o que fazer — desabafei e Dudu desviou o olhar para frente, estava pensativo e isso causou um certo desconforto bem no meio do meu peito, ver a carinha confusa dele, não me agradava em nada. — Mas isso não muda nada sobre eu gostar de você…. — ele continuou sem dizer nada. — Não tá achando que eu não gosto de você, né? — senti necessidade de perguntar depois de alguns instantes.

— Não.

— Então...? — perguntei, apreensivo. 

— Acho que se você não quer mais discutir deveria dizer as porras que você sente ao invés de ficar guardando tudo isso dentro de você — ele xingou, com raiva. — Sua solução era se afastar, deixar o tempo passar, você iria se mudar e tudo ia ficar bem? Caralho que genial você, hein? — O tom da voz dele deu uma alterada. 

— Eu não pensei por esse lado… — falei meio baixo, eu realmente não tinha pensado por aquele lado. — Mas eu não quero terminar.

— Ah, não? Porque o segredo de relacionamentos que duram realmente é fugir de conversas. — Dudu continuava demonstrando sua raiva. — Que tipo de idiota se afasta pra não ter que falar o que sente? Você acha que eu faria o quê?

Fiquei o encarando por alguns instantes, mas eu já estava sendo sincero mesmo, né? O que é um pingo pra quem já foi azarado de se molhar? Dei de ombros e disse:

— Hum… gritaria comigo e me mandaria embora?

Ele fechou mais a cara para mim, apertando os olhos.

— Ah, vai tomar no teu cú, Cássio!

Cocei a cabeça, sem saber muito bem como reagir, ele estava com os braços cruzados e fazendo um bico, emburrado.

— Quando quiser, Eduardo, mas em público acho muita exposição — falei, tendo por mim que aquilo iria piorar a situação, mas para minha surpresa, no fim, Dudu riu.

— Você é ridículo! — respondeu rindo, ficando meio vermelho.

Eu sorri e empurrei o ombro dele com meu ombro, ele empurrou de volta.

— Por que faz essas coisas? — ele perguntou. — Eu sou abusivo com você ou coisa do tipo? Porque eu realmente tento ser aberto pra ouvir as coisas que você tem pra me dizer, mas você não diz e...

Abaixei a cabeça.

— Não é isso — o interrompi. — Você é bem compreensivo, é só que… falar dessas coisas, pode gerar conflito e eu quero que fique tudo sempre bem entre nós, não gosto de brigas e tenho medo de te perder.

Percebi que ele estava fortemente tentando se fazer de durão e foi inevitável que eu sorrisse ao ver a forma como ele amoleceu ao ouvir o fim do que eu disse.

— Você fazia isso com a Cascuda também? — perguntou.

— É… eu acho que… talvez. — Ele balançou a cabeça negativamente, resmungou um “esperta foi ela que deixou esse pepino pra mim”, o que me fez rir da aleatoriedade com que ele vinha com essas expressões de velho. — Então a gente não precisa terminar? —  perguntei.

— O que você quis dizer com “ser livre”?

— Não me importo que você saiba tudo que eu faço, só não quero mais ficar discutindo e pensando que é melhor eu não fazer tal coisa para evitar que a gente brigue.

Ele suspirou e assentiu.

— Aí que tá, eu não quero que deixe de fazer as coisas por minha causa. Nosso namoro deveria ser algo pra nos deixar feliz e não nos privar de fazer algo que gostamos… lembra que no começo eu não ligava pros seus furos comigo? Até porque eu também furava e ficava tudo bem.

— É, eu gostei muito disso em ti.

— É porque no fundo, eu não me importo, mas eu preciso sentir que seu furo é só um furo por preguiça ou porque quis passar um tempo com seus amigos, tanto faz, mas não quero sentir que é porque você tá escondendo algo.

— É, faz sentido.

— Você vai se mudar e eu quero que se mude, que faça as coisas que quer fazer, mas com você longe, acha que ficar escondendo as coisas de mim vai ajudar em algo? 

— Não…

— Exatamente. Porra! É simples, Cássio!

Eu não deveria ficar achando fofo ele falando palavrão, mas é tão bonitinho, isso acabou me fazendo sorrir mesmo após o sermão… contudo, esses sermões às vezes eram um problema.

— Tenta não ser tão estressado comigo também — falei.

— Como? — ele perguntou, me encarando.

Olhei pra ele de volta, da mesma forma, mais seguro.

— É, você se estressa muito fácil quando eu não correspondo aquilo que você quer e aí exagera.

— É, mas eu só quero que fale dos seus sentimentos pra não ficar essa coisa chata.

— É, mas é difícil pra mim falar de sentimentos também, esse sou eu e não consigo mudar da noite pro dia.

Ele ficou me olhando por alguns instantes e desviou o olhar.

— É, você tá certo… me desculpa.

— Caraca! — exclamei, não contendo minha felicidade. — Nunca achei que ouviria isso de você, talvez esse negócio de ser sincero funcione mesmo.

Dudu riu mais uma vez.

— Como você é ridículo! — ele xingou.

O silêncio se tornou mais confortável enquanto olhávamos as estrelas, bom… no fim das contas, não havia sido tão difícil. Um pensamento intruso me ocorreu e senti  a necessidade de perguntar: 

— De onde veio essa sua maturidade toda?

Ele riu baixo e seu corpo se projetou em minha direção.

— Quando a gente gosta de alguém e quer fazer dar certo, tem que tentar entender o que o outro está sentindo, mesmo que isso doa um pouquinho.

— Ah, é? — perguntei, arqueando as sobrancelhas, aquilo tinha soado filosófico demais.

— Magali que disse.

Eu ri baixo, concordando. É, realmente Magali tinha certos talentos para esse tipo de coisa. Quando nossos olhares se encontraram, também trocamos um sorriso, mas quando eu me inclinei para frente, Dudu virou o rosto para o lado.

— Xaveco está vendo, Cascão.

O que ele falou me fez olhar para frente. Realmente, Xaveco ainda estava lá conversando com o Do Contra.

— Tem vergonha?

— Não — ele me olhou. — As pessoas já sabem de mim, mas de você são só seus melhores amigos.

— E daí? 

Suas sobrancelhas se arquearam.

— Tem certeza? — perguntou e eu concordei com uma balançar de cabeça, ele sorriu de canto. — Então tá… — E com firmeza, Dudu segurou em minha camisa quase perto da gola e me puxou para ele.

Sorri também com aquela atitude, era quase sufocante, mas suspeito que seja exatamente por isso que ele fez, quando nossos lábios se encostaram, coloquei minha mão no rosto dele. Em meio ao beijo, Dudu segurou com força em minha nuca, aprofundando o beijo, o que fez nossos corpo também ficarem mais próximos, coloquei minha outra mão na parte interna da coxa dele… ah, se ele soubesse como eu gosto até desse jeito meio grossinho dele, que às vezes aparece até na hora de beijar, ele nunca que pensaria que eu estava pensando em terminar. Depois de quase um ano, eu seguia me encantando com isso.

Ele abriu um sorriso para mim ao fim do beijo.

— Tudo bom, lindo? — ele falou, colocando sua mão por cima da minha que já estava apertando levemente o pau dele — Lugar público.

Eu ri baixo e afastei minha mão e em seguida, ele se levantou, ajeitou o skate sobre os pés e desceu a rampa. 

Peguei o skate na mão e me virei pra ir pela escada. Ouvi a risada alta de Dudu.

— Cagão.

— Pelo menos eu não tenho medo do gato da Magali — rebati, assim que terminei de descer a escada.

Ele ficou me olhando com aquela cara de quem continuava achando engraçado.

— Aquele gato é do demônio, a rampa não justifica.

— Isso não faz nem sentido. Agora fica queito!— passei meu braço em torno do ombro dele, selando nossos lábios e o puxei em direção à saída.

 — Hum… macho suado depois de um jogo de futebol me abraçando, como eu gosto disso — falou ironicamente, me fazendo rir.

Mas ele não se soltou, ao contrário, passou o braço por minha cintura.

Dudu deu um toquinho na mão de Do Contra e Xaveco, eu segui a atitude, era inevitável perceber a cara de surpresa de Xaveco e o fato de ele não saber como reagir, mas… ah! Quem liga?



 

— Ah, Eduardo? — chamei antes de ele entrar, depois que nós já havíamos nos despedido na porta da casa dele.

Ele me olhou, uma interrogação parecia ter surgido em cima de sua cabeça por tê-lo chamado pelo nome.

— Se for assistir Vingadores Ultimato sem mim, a gente vai brigar feio.

Ele riu e assentiu.

— Igualmente — disse aquilo e entrou em casa, sorrindo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!
Obrigada por ler!



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