A vaca escrita por Edward blake


Capítulo 1
A vaca




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A Vaca

É uma noite quente e já se aproximam das 02:30 da manhã.

Não  faço ideia de onde o maldito possa estar e o que deve estar fazendo, ou com quem está fazendo.  De todas as informações que pude ter, tive as piores, sempre é assim em um trabalho como esses, pra gente como eu é como se me mandassem lavar a latrina.

Sinto apenas nojo.

E quando alguém como eu sente nojo de alguma pessoa...não significa algo bom pra essa pessoa.

Não estou no mais baixo escalão da sociedade, mas tenho uns centavos de falsa moralidade que me impedem de chutar animais de rua.

Diferente desse saco de merda.

São 02:30 e a luz que entra do fervor do grande bordel que esta cidade se tornou é o bastante para que eu possa olhar novamente a foto preto e branco daquele rosto tão cansado quanto as solas das mminhas botas. São listras de luz que quebram minha privacidade dentro do apartamento pouco mobiliado, típico de quem pretende vazar logo, e pouco arrumado do qual apaguei completamente as luzes.

Antes sentia um frio na barriga ao ter de esperar em momentos como esse, nunca fui muito de esperar, e esse escuro sempre dá a sensação de que alguém vai pular em minhas costas ou que a luz que entra entre as frestas das venesianas são olhos.

Os olhos de deus nos olhando fazer o que fazemos sem que ele saiba.

Já superei isso.

Bato as botas de maneira impaciente e me levanto da poltrona, não sei se o ruído vem das molas ou das minhas costas, estou aqui há duas horas.

Nada desse sacana chegar.

Abro a porta do frigobar com um toque firme mas cuidadoso usando um lenço novo que comprei no caminho, tem uma cor que sempre me confunde, marrom..? vinho..? eu gosto, mas não entendo.

Não tem nada além de gelo e ar frio saindo caindo sobre meus pés, levando uma neblina efêmera pelo lugar.

A pequena lâmpada no fundo do refrigerador pisca como se soubesse do momento alarmante.

Eu a giro, enroscando-a de maneira correta.

Ela para de piscar.

Ela apaga.

Ouço passos.

Risos.

Uma chave que luta para acertar a fechadura.

Está bêbado.

Aposto que tentara acertar a fechadura a noite toda, não é, seu porco?

Me sento novamente.

Deixo o frigobar aberto.

Abro a jaqueta lentamente evitando o barulho dos zíperes.

Tiro minha pistola.

Ela reluz como uma serpente úmida na lama.

A deixo pronta para qualquer coisa.

“Ele” gosta que eu converse antes, e nesse caso isso é quase inevitável.

Nunca pensei que o encontraria novamente nestas circunstâncias.

A porta se abre, a silhueta embreagada entra de costas trancando a porta.

Ele ainda não me viu.

Mas eu o vejo.

O mesmo casaco preto.

Se ele cuidasse tão bem de si quanto desse maldito casaco.

Ele o tira como se tirasse uma segunda pele, deve se sentir nu sem ele.

Fica um tempo de costas.

Ele sente o frio que sai pelo frigobar.

Engatilho a arma.

Ela estala  feito o diabo.

Ouço um riso sem força e ele se vira.

É ele.

Pietro.

Maníaco, salafrário, sonegador de impostos, daria um golpe em deus se pudesse encontrá-lo.

A vaca.

Ele passa os olhos entre abertos pelo quarto, vê um homem nu amarrado no sofá e pergunta “O que é isso?”.

A mão desce rápido para o quadril.

Eu aponto a arma para o meio dos seus olhos e sinalizo um  “não”

— Tem algo acontecendo aqui, mas você não sabe o que é, não é? – Pergunto com voz baixa sinalizando para que ele se sente.

— Eu deveria saber?

Se senta tão confortável que qualquer juíz respeitado acreditaria no sorriso de lagarto.

Seu rosto não se mexe.

Nenhuma gota de suor.

Maldito.

— Você deveria saber que uma hora ou outra te achariam dando seus cheques sem fundos para organizações carentes. Você é a vaca.

Pietro tem 43 anos de idade e só o diabo sabe quantos anos de crimes.

Tem mais rugas no rosto que eu tenho de calos nas mãos, mas nem sempre foi assim.

Ele já foi um dos homens mais incríveis que já conheci.

Pietro foi quem me apresentou para “Ele”.

— “Ele” quer que você me dê uma razão para sair vivo daqui hoje.

Insisto para que o maldito entenda de vez.

Ele é a vaca e não se dá conta disso.

Percebo que o riso em seu rosto é de nervoso.

Todo homem tem um limite para que suas bolas doam e eu pareço ter chegado lá.

Ele tenta o máximo que pode mas não entende, ou parece não entender.

O homem deitado em seu sofá foi o que me levou até ele.

Não tive interesse em deixá-lo nu, mas ele já estava assim do lado das prostitutas da rua de baixo. Eu apenas gosto do apelo dramático que isso trouxe.

Suas bolas demoraram um pouco a doer, então espero que Pietro não perceba que o cara pelado está ficando roxo.

Está morto há duas horas.

“ E-Eu n-não entendo..” – Ele gagueja.

— Porque não tira a porra dessa rola da boca e põe tudo pra fora?!?! Você é a Vaca! – Minha pistola é como um soro da verdade para a maioria, mas se tratando deste aqui, estamos num empasse. Eu não acredito em nada do que ele diz.

— Eu? Eu sou a vaca? Ora! Me poupe, Margareth! – Ele ri debochado enquanto cruza as pernas e apanha um lápis na mesinha ao lado de sua cadeira. – Não acredito que “Ele” te disse isso!

Aquele cubículo de concreto tinha espaço apenas para nós dois.

O cadáver pelado.

Um banheiro e uma pia perto da janela.

Não havia por que estar tão relaxado.

Não deixo que isso me irrite, mas penso que “Ele” não possa estar errado em me mandar aqui com tanta certeza.

Afinal, “Ele” me disse que Pietro era a Vaca!

Esse porco pensa que pode me deixar confusa.

Não seria difícil apertar esse gatinho e levar essa carcaça embora.

Ele já está morto.

Só não sabe.

E eu preciso que ele diga.

— Não binque comigo, Pietro. Não tenho tempo para isso e você sabe muito bem do que fez para chegarmos até esse ponto. A ordem foi de conseguir uma confissão e levar teu corpo para uma cova sem nome, a única razão de estarmos tendo essa conversa invés de eu estar arrancando seus dentes com unm alicate é por conta dos seus anos de serviço. – Minhas mãos não tremem, balançam ou perdem sua cabeça de mira. Sei exatamente o que estou fazendo, o que vou fazer.

— Tem certeza disso, meu anjo? Eu conheço esse seu olhar há quilômetros de distância.

Ele sorri com o mesmo sorriso  de sempre.

Dissimulado. Um demônio.

O que mais me irrita é a posse de canastrão que o maldito mantém mesmo com a corda no pescoço, os sapatos brilhando assim como o relógio de marca que quase salta de tão frouxo aos ossos magros do punho.

Não me contenho.

Cuspo tão certeiro em sua cara como teria feito uma bala de minha arma.

Parece que guardei aquele ranho há séculos e finalmente estava allí enfeitando a cara do parasita.

— Ótimo! – Ele disse enquanto mordia a borracha avermelhada do lápis amarelo que pegara há pouco. Não se deu o trabalho de limpar o cuspe do rosto. – Agora vão achar seu DNA no meu cadáver.

— Não vão achar seu cadáver, bemzinho. E se não tiver mais piadas na manga eu gostaria de uma confissão para poder te enterrar junto com o que restou do passado. – Tiro o gravador de um dos inúmeros bolsos da jaqueta que teria errado ao procurar se já não tivesse ensaiado pegá-lo. – Você é a Vaca, Pietro, me dê algum leite ou vou ter de tirar suas unhas.

Aperto o botão preto no gravador, aquele com a esfera em alto relevo.

O único que se difere dos demais cinza.

A fita começa a rodar.

Tudo está sendo gravado a partir de agora.

“Ele” quer ouvir as últimas palavras antes da morte da Vaca.

Tenho certeza do que faço, a organização precisa se manter e pra isso eu tenho que matá-lo e ter a certeza de que ele é o causador disso tudo.

Na verdade “Ele” quer a certeza.

Eu já a tenho desde aquele infernal inverno.

Um beijo frio, uma faca no pescoço.

Ele me deixara pra trás como retardo pra polícia.

Nós íamos sair juntos da organização.

Isso nunca aconteceu.

Com o passar do anos apenas o ódio e “Ele” permaneceram comigo até sair da cadeia.

A grana era boa, mas teríamos uma vida limpa, coisa que nunca poderíamos ter dentro da organuzação.

Ele fugira sozinho e me deixou sangrando.

Estava afastado há mais de 4 anos e “Ele” me pedira paciência.

Talvez ”Ele” soubesse que isso iria acontecer um dia.

Pietro sempre criticou a organização.

Os métodos e os meios não eram seu problema, mas sim os objetivos.

Se sentia um peão trabalhando para“Ele”, mas me dizia que não merecíamos menos do que sermos reis e raina.

E eu acreditei.

Talvez ele tenha desistido desse plano e tentado se safar me entregando, entregando todos nós, os esquemas do tráfico e das armas, os subornos.

Nesse submundo não se tem muitas chances contra a hierarquia, e Pietro tentou da pior forma, ele virou um Dedo-duro.

— Eu não tenho nada á confessar, Margareth, a não ser que me arrependo de ter te abandonado por todos esses anos. Nem imagino a lavagem cerebral que aquele louco fez em voce. Tomara que isso fique grava pra “Ele” ouvir em alto e bom som, eu quero que você se foda seu SACANA! – Ele gritou tão alto que qualquer um nos quartos do lado ouviriam.

— Cala a merda dessa boca seu idiota! Eu deveria estourar sua cabeça agora e decorar esse aprtamento com os seus miolos! Se não quiser perder essa coisinha inútil no meio das pernas é melhor começar a cantar...- Me levanto e encosto o cano da arma na sua testa. Ele não se move, não sua, parece que morreu quando entrou pela porta.

— O que ele te disse, Mag? – Aponta pro defunto pelado. – O que ele te disse antes de morrer?

— O mesmo que todos dizem, o mesmo que voce está dizendo. Apelam para suas famílias, suas esposas chifrudas que estão em casa cuidando de crianças gordas e retardadas, apelam para suas mães, para suas amantes e até para deus. Deus não teria pena de gente como vocês. Continue negando que é a Vaca e acabará que nem ele.

— Credo, você já matou um padre, o que está querendo dizer pondo deus no meio dessa história? Quando te conheci você não era nad além de um poço de crueldade com um belo par de pernas.

— E o que mudou? – empurro mais forte o cano da arma.

— Você amoleceu, Mag, perdeu as bolas. Já teria atirado nos meus joelhos só pela demora se isso estivesse acontecendo anos atrás.

— Vai se foder! – Acerto-lhe uma coronhada na maçã do rosto que se aflora como uma maça recém colhida. Uma linha de sangue corta o rosto descendo pelo bigode mal aparado. O sangue briga escuro com  a luz que espia pelas venesianas, iluminando o carpete branco que agora vou ter que enterrar junto desse bastardo. – Vai comçar a apelar para quem, agora? Vamos, faça como os outros machos da sua espécie.

— Para quem eu apelaria, hein? – Limpa o sangue com a mão do relógio. Ele chocoalha feito uma serpente. É inutil, o sangue não para. – Eu não tenho ninguém. Eu não sou como esse crápula que voce deve ter matada tão fácil como cortar manteiga. Não tenho amigos, só me restava você...você e “Ele”. E já que está gravando essa merda, eu não me arrependo de nada que fiz, tudo que fiz foi por mim e por minha vontade, diferente de você, que virou uma cadela para “Ele”, seu chacal. Me diga, isso não é algo justo? Depois de tantos anos de mortes e noites mal dormidas, mentiras e surras de policiais, não é justo eu seguir com o que eu quero? Me diga, Margareth...não é justo?

Sim, era justo.

Mas isso não importava mais.

Importava há 4 anos, mas não agora.

Por que estou tão confusa?

Merda, era esse o jogo dele?

— Me diga, o que ele te disse antes de morrer? Exatamente o que ele te disse? – Eu apenas havia visto aquele rosto uma vez em toda minha vida, quando Pietro enfrentou “Ele” após a última ordem que recebeu. Aquilo não era mentira. – O que te faz pensar que “Ele” não te pôs exatamente onde queria? Você veio aqui me matar, é isso que você quer? Ou é isso que “Ele” quer? Você é livre, meu anjo, não precisa fazer isso...

— Porco! – Acerto outra coronhada.

Dessa vez no seu queixo, ouço o estalo da mandíbula.

Sangua voa e pinta o papel de parede.

São desenhos de cactos verde-claro num fundo amarelo cor de sujo.

O respingo de sangue suja ainda mais o carpete.

Estou me descuidando.

Um dente cai.

— “Ele” nunca nos quis juntos! Sempre tentava me matar naquelas malditas emboscadas!  Quantas vezes tivemos de mudar de casa, Margareth?

Ele grita enquanto sangue escorre de sua boca.

Ele chora.

Chora como nunca vi chorar.

Acerto-lhe outra coronhada no lado contrário a última.

Ele continua a falar mesmo com dificuldade.

Não é nada como nos filmes.

Os ossos quebram bem mais fácil.

— Eu sabia que “Ele” te tiraria daquela prisão... – Ele cospe e vejo outro dente. – você era a preferida “dele”, “ele’ nunca te deixaria apodrecer na prisão, pagaria o próprio diabo se ele aceitasse suborno, e se não aceitasse o castraria com as unhas. Mas eu não, “ele” precisava me ter fora do jogo, da sua vida e da organização. Sempre fui o dobro do homem que “Ele” é e voce sabe que “Ele” não é metade do homem que sou para você...

— Porque vocês sempre comparam tamanhos? – volto o cano da arma para a lateral de sua cabeça. Dar um fim a vida do único homem que amei parece um fim válido. Sinto uma sensação de medo, mas não p bastante para me convencer.

— Se eu quisesse te matar, teria feito, se quisesse te entregar a polícia teria mandado quantos carros houvessem na cidade para sua casa. Você sabe disso, ninguém usa uma lâmina melhor que eu...o que ele te disse sobre a Vaca antes de morrer? – Pietro insiste sobre o defunto pelado.

— Porque é tão importante pra voce isso agora? Está prestes a perder as bolas... – ele me corta no meio da fala.

— Corta esse seu humor ácido, caralho! Por acaso alguma vez saiu da boca dele que eu...exatamente EU...era a Vaca? – O olhar caído contornado de rubro me olha de baixo. Um homem no ponto em que ele está diria qualquer coisa, mas ele insiste no que faz sentido. Sabe que não sou idiota.

— Você sabe que eu não sou idiota, Pietro... – Ele me corta novamente.

— E “Ele” tambem sabe. Alguém além “Dele” lhe disse que eu era a Vaca? – O olhar continua.

— N-Não... Mas você sabe que somos ensinados a não duvidar. Você amava a organização mais do que tudo! Sabe que não tenho outra escolha além de levar seu corpo para e sua confissão para “Ele”.

Pietro se move lentamente como se tentasse me garantir que não tentaria fazer nada estúpiudo.

Estica a mão e desliga o gravador. – “Eu amei você, mais do que a organização, Margareth, e agora é você quem está apontando a arma pra mim. Eu esperava isso “Dele”, mas ”Ele” não teve as bolas. “Ele” está velho e essa organização vai se acabar sozinha junto com ele...Nós dois podemos tomar conta de tudo quando ele morrer, ou acabar com tudo se for nossa vontade...você não sonha com uma vida limpa?”

Todas as noites.

Aquilo quase me escapa.

Pietro quisera tomar a organização para si?

Tudo parece ainda mais nublado em minha mente.

Se Pietro não era a Vaca...quem seria?

Quem era o dedo-duro.

Quem deveria morrer?

Qual o meu papel nisso tudo?

Minha mente voa para longe, meus olhos se distanciam.

Ele percebe.

— Margareth... – Segura meu punho afastando minha mão e por sua vez a arma de sua cabeça enquanto se levanta e me passa o braço pela cintura. – Você sabe o que temos que fazer, você sabe há  4 anos o que estamos fazendo. – Suas maos me guiam numa valsa lenta e enferrujada por entre os moveis do apartamente apertado de subúrbio. – Essa, Margareth... – Minha mão fica leve enquanto a arma dança, baila por entre as frestas, brilha nas luzes, com uma estrela reluzindo sobre toda aquela cena. – Essa é a nossa dança há 4 longos anos.

Nossos passos são macios sobre o carpete.

Sobre o sangue que ainda pinga.

Sinto seu hálito de álcool.

Não qualquer bebida barata.

Cheiro de charutos mas nada em sua boca, apenas na roupa.

Aquela era realmente nossa dança desde que o conheci.

Libertinagem, sangue, morte e paixão.

Brilhamos como uma estrela sobre toda a imundice das nossas vidas, sobre o cadáver nu.

Brilhamos como uma supernova.

Nem mesmo as frestas de luz seriam iluminação o bastante para nos ofuscar.

Ele me beija.

Eu o beijo.

Sinto o gosto de sangue.

Sinto o sangue quente no meu nariz.

Somos os únicos alí.

E seremos os únicos para sempre.

A lâmpada do frigobar acende.

Reluz minha arma, reluz a sua.

Sussuro mentalmente.

“Sinto muito, querido. Nunca duvide da Organização.”

— Você é a Vaca! – Eu Grito enquanto ponho um buraco no seu peito.

— Você é a Vaca! – eu escuto enquanto sinto uma lâmina entrar por entre as costelas.

Meu corpo cai.

Junto ao dele.

Estamos   abraçados.

Vazando como canos furados.

Pietro tenta falar mas o sangue jorra de seu coração perfurado.

Ele antes partira o meu. Agora está tudo consumado.

As contrações fazem com que nossos corpos se afastem.

Vejo  que a lâmina entrou até o cabo, estava torta.

Ele a girou depois de fincar.

Eu estava tão fodida quanto o miserável.

Consigo me levantar e me sento na mesma poltrona.

Eu o matei.

Pietro sorri com a boca encarnada de morte.

Retira do bolso da calça banhada de sangue um papel.

Seus dedos o pintam de sangue.

Ele continua a tentar falar mas tudo que ouço é uma gargalhada gargarejada de dor e bolhas rubras.

Tem algo escrrito, me esforço para ler.

A risada fica cada vez mais alta.

“MARGARETH É A VACA. CUIDADO.”

Assinado.

“ELE”.

Nem eu.

Nem  Pietro.

“Ele” era a Vaca.

— S-Sinto muito, m-meu anjo. Nunca duvide da Or-Organização... -  Sua  voz  some junto  com  a  sua vida.

Tudo estava ruindo como Pietro havia dito.

Nós.

A organização.

“Ele” não faz ideia de quem é o dedo-duro.

Talvez por isso seja mais fácil levar todos nós para o abate.

Maldito.

Eu não acredito.

Gargalho como uma louca enquanto estico o braço para pegar o gravador.

Está cada vez mais dificil respirar.

O sangue escorrer e ensopa minhas botas.

O barulho quando piso no chão é o mesmo que meu pulmão faz ao respirar.

Rastejo até o corpo de Pietro.

Ainda está quente.

Aperto o mesmo botão preto.

Com a esfera em alto relevo.

Gravo com o que me resta de vida tudo que sei sobre “Ele” e seus contatos.

No fim não nos restou nenhum respeito de fato.

Acabos morrendo como baratas correndo num salão de dança.

Era só questão de tempo.

Termino meu dossiê.

Engulo a fita.

Espero que a polícia a encontre antes de um dos chacais “dele”

Talvez nossos corpos sejam desovados em um lugar qualquer.

Então é melhor a polícia chegar primeiro.

Descarrego o pente quase inteiro nas paredes e na porta.

Acordei até o filho da puta que mora no último andar.

“Eu te amo, seu miserável, a polícia tem de cuidar deste caso, então tem de ser bagunçado.”

Aperto o gatilho.

É a última bala.

O cano está na minha boca.

Finalmente eu acabo com essa decoração de merda.

Meus miolos pintam a parede, a cômoda e a mesinha.

Pingando tudo no maldito casaco preto.


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