Aquela aula demora a passar. O professor Kim Yugyeom gostava de explicar toda a matéria nos mínimos detalhes — a lousa ficava cheia em todas as suas aulas, não restava nem mesmo um espacinho sobrando. Mark não se importava com isso — afinal era um garoto que gostava de estudar, até em suas horas vagas, portanto ele tentava aproveitar ao máximo cada aula do dia — diferente dos seus amigos, que nessa altura já se encontravam babando em suas carteiras enquanto roncavam alto. Acontece que naquele dia em especial, nem mesmo Mark conseguia se concentrar nos estudos... Seus olhos só sabiam acompanhar aquele garoto, mesmo que o loiro tentasse lutar contra isso. Jackson por sua vez, percebera que estava sendo observado e aproveitava da situação, provocando-o erguendo as sobrancelhas e lançando sorrisos sarcásticos.

Durante a hora do intervalo, os amigos de Mark percebem sua agitação fora do convencional e estranharam tudo aquilo. Os olhos do garoto só miravam em uma única mesa ao fundo da cantina, onde estava cercada de garotas. Era onde Jackson Wang estava sentado, conversando com alguns alunos do time de basquete do colégio. O loiro ficava se perguntando como alguém ganhara popularidade tão rápido quanto ele. Afinal o que ele tinha de diferente dos outros?

— O que você tem hoje, hein cara? Somos amigos desde a infância e nunca te vi assim! — pergunta Jaebum.

— Você não tirou os olhos daquele cara desde que chegou, por acaso o conhece? — questiona Youngjae.

Depois que suspira fundo novamente, o garoto responde seus amigos.

— Ele é meu vizinho. Se mudou a pouco tempo, durante nossas férias.

— É seu amigo? — continuam perguntando.

— Nem que ele quisesse eu seria amigo de alguém assim! Já basta ter amigos como vocês que só estão comigo para se darem bem nas provas. — tenta dissipar o assunto.

— Isso é mentira, na ultima prova eu não colei de você! — exclama Bambam.

— De quem foi então?

— Do Youngjae. — responde.

— E ele copiou tudo de mim, seu grandíssimo idiota! Isso quer dizer que colou de mim indiretamente.

— Indireta... O que?

— Esquece vai... Vamos voltar para a sala, logo o sinal vai tocar. Aqui esta muito “cheio”. — ele faz questão de reforçar a última palavra.

— Foi mal cara, mas ninguém aqui vai voltar não. Estou de saco cheio já.

— In Jaebum, é o primeiro dia de aula depois das férias. Como assim já cansou?

— Meu caro amigo... Entenda que não existe ninguém que goste de ficar nas aulas, como você. — explica Bambam.

— Tudo bem então, se divirtam enquanto eu estarei me preparando para o futuro. — brinca enquanto pega suas coisas de cima da mesa e se despede dos amigos.

Mark tentava se concentrar nos estudos e no que os professores falavam durante as aulas, mas era impossível com Jackson no mesmo ambiente que ele. Sem seus amigos, as coisas ficaram ainda mais complicadas. O loiro já havia perdido a conta de quantas vezes parava para respirar profundamente.

Até que de repente, Mark engole um seco pela garganta. O moreno se levanta de sua mesa e vai até a do loiro, parando bem em sua frente.

— Ei, loirinho! Você é a única pessoa que eu conheço por aqui... Será que podia me ajudar com essas contas? Eu não entendo nada dessas coisas cheias de números. — diz enquanto esfrega a sua mão nos seus cabelos, mostrando o quando estava confuso.

O jovem fica completamente sem reação, apenas encarava aqueles profundos olhos castanhos com um brilho intenso que emanava deles. Wang aguardava a resposta sem saber o motivo dele estar tão assustado.

— Tá tudo bem? — insiste.

— O que? Ah! Claro, está sim. Eu te ajudo com esses exercícios, pegue uma cadeira a coloque aqui do meu lado.

— Nossa cara, eu nem sei como te agradecer. — o moreno lança um sorriso radiante em direção a Mark. Era um sorriso encantador e sincero, fazendo com que os olhos dele ficassem quase fechados por completo. O coração do loiro nunca palpitara tão forte como naquele instante.

Mal sabia que aquele sorriso era só o começo...

— X —

Já fazia quase um mês desde que as aulas haviam voltado, e ninguém — exceto Mark — aguentava mais a fatídica rotina do colegial. Aquele dia, ele e seus colegas vão para uma lanchonete do bairro após a ultima aula terminar.

— O que acha da gente sair um pouco hoje em galera? — sugere Bambam enquanto colocava um pedaço enorme de frango frito em sua boca que quase não consegue mastigar.

— Por mim tá fechado! Minha mãe não para de me encher ultimamente, graças ao novo namorado dela. — reclama Youngjae, tomando um gole da sua soda depois de falar.

— Não vou poder ir pessoal, me perdoem. — diz Mark.

— Então vamos jogar um pouco de vídeo game lá em casa, o que acha? Fazemos isso desde que éramos crianças, não aceito uma resposta negativa. — convida JB.

— Então, é que eu...

Nesse exato momento — antes que o loiro pudesse terminar sua fala — Jackson aparece na porta da lanchonete e buzina com sua moto para que Mark percebesse que ele já havia chegado.

— Ah, não! Você ta furando com a gente pra sair com esse cara de novo, é isso? — o amigo de infância se enfurece.

— Me desculpem pessoal, mas a mãe dele me pediu que o ajudasse nos estudos. Só assim ele pode participar do time de basquete do colégio, já que precisa de boas notas para entrar.

— Somos seus amigos a muito tempo, mas é só um bad boy aparecer que você já fica todo derretido desse jeito? — continua chateado. — Quer saber, vai logo cara.

— Me desculpe mesmo JB! Prometo compensar isso depois. — diz enquanto colocava o capacete para subir na garupa do veículo do moreno.

Os dois somem rapidamente em meio ao trânsito da movimentada cidade de Busan. Os três amigos ficam observando sentados enquanto terminavam de comer o que haviam pedido.

— Galera, quero perguntar uma coisa, mas vocês têm que me prometer que não vão me levar a mal. — diz Bambam de repente.

— Não! Mark não é gay. — responde Jaebum, adivinhando o que o amigo ia dizer.  — O conheço desde que éramos garotos, esse é só o jeito dele.

— Mas você tem que admitir que ele está grudado demais nesse garoto novo. — interrompe Youngjae.

— Esse tal de Jackson não parecer ser do tipo que faz amizades fácil assim, ele deve ter segundas intenções. Vamos apenas deixar que Mark perceba isso sozinho. — diz JB por fim, e todos parecem concordar.

Nesse mesmo instante — longe dali — Mark e Jackson já haviam chegado na casa do moreno. Era a primeira vez que o jovem estudioso entrara na casa de seus vizinhos, mesmo morando literalmente na frente. Logo que apontam no jardim, o cachorrinho de Jackson vem alegre, abanando o rabo e pulando nos dois garotos, ele adorava o Mark, depois de tantas vezes que o mesmo acariciava seus pelos brancos quando o encontrava na rua nos passeios matinais com seu dono.

— Uau, quantas decorações! — exclama quando entra na sala da casa dos Wang.  

— Meu pai adora coisas rústicas, a maioria delas são muito difíceis de se achar hoje em dia e valem uma fortuna.

— Bom saber! Do jeito que sou desastrado é melhor nem tocar em nada por aqui.

— Relaxa loirinho. — diz sorrindo. — Mi casa es tu casa.

— Já que é assim, vamos logo estudar. As provas estão chegando e se quer mesmo entrar para o time, melhor você focar em tudo que eu falar.

— Ok! Não vou mais tirar os olhos de você.

— O que? — o coração do jovem começa a querer saltar pra fora do peito assim que o moreno começa a encará-lo intensamente, mas todo o clima é interrompido quando o mesmo solta uma careta um tanto quando assustadora¹ se vista durante uma noite de lua cheia, mas que arranca risos baixinhos vindos de Mark.

— Venha, vamos subir para o meu quarto.

Os dois garotos vão até o segundo andar e entram na primeira porta a esquerda. O quarto de Jackson era completamente o oposto do loiro, enquanto um era absurdamente organizado, o segundo mal dava para ver a cama de tantas coisas espalhadas e papéis de doces jogados no chão. Ele pelo menos abre a janela para o deixar mais iluminado e arejar um pouco o ambiente que cheira um tanto quanto mal, o Mark deduziu que era pela quantidade de meias usadas e jogadas no chão. A brisa que batia no rosto do loiro o acalmava, era a mesma que ele sentia do seu quarto, que também ficava no segundo andar de sua casa.  

— Foi mal cara, nem tive tempo de arrumar nada. — diz para disfarçar.

— Está tudo bem, eu acho... Só precisamos achar um lugar para sentar.

— Vamos usar essa mesinha aqui, vou ligar meu notebook e pegar uns papéis. — exclama apontando para uma mesa velha de madeira onde ficavam seus poucos livros e um potinho com cinzas de cigarro, enquanto tirava sua jaqueta e a jogava em cima de sua cama que mal dava para localizar no meio de tantas coisas esparramadas ali em cima.

Mark — por algum motivo desconhecido por ele — estava se sentindo desconfortável estando ali, bem no quarto de Jackson. O moreno, de repente, começa a levantar sua camiseta e o loiro consegue ver dois gomos aparecendo lentamente.

— Ei, o que você está fazendo? — pergunta desesperado.

— Vou me trocar, ué.

— Aqui?

— Tem algum problema com isso? É por causa dos meus gominhos, não é?

— Que? Claro que não! — as palavras saem berradas de sua boca.

— Beleza então... — o outro fica deveras confuso com tudo aquilo.

Estava tudo indo bem até que de repente ele abaixa suas calças, ficando seminu bem diante do loiro, com sua cueca box avermelhada cheia de corações estampados — se fosse em alguma outra situação o garoto provavelmente iria achar essas estampas engraçadas para um cara como Jackson, mas naquele momento ele apenas estava desesperado com tudo aquilo acontecendo tão repentinamente — logo suas bochechas começam a corar e o ar daquele quarto já parecia não ser o suficiente.

— Eu vou beber um gole de água, ok? — diz Mark enquanto saía de lá em súbito.

— Mas por que você está assim? Se assustou com o volume por acaso? — fica sem resposta.

No meio do caminho ele para respirar e absorver tudo aquilo. Seu coração provavelmente já havia errado várias batidas, mas ele não sabia o motivo daquele garoto o causar tanta euforia.

Mais um suspiro, e então ele consegue voltar. Agora o outro já estava vestido, o que para Mark era um alívio enorme, ele estava usando um moletom rosado, e o garoto fica admirado de como aquela cor realçava seus cabelos escuros. Jackson parecia segurar o riso, como se soubesse o motivo do garoto ter tido aquela reação.

— Tudo bem se você não resistiu, eu sou lindo demais então realmente entendo. — diz brincando.

— Não tem nada a ver com isso... Eu só engasguei.

— Por minha causa? — continua a provocar.

— Vamos começar a estudar logo, antes que fique tarde. — murmura o loiro emburrado. — Mas até que essa cor fica bem em você, gostei! — exclama.

— Sério? É a primeira vez que uso ela. — diz enquanto olha para suas próprias vestimentas. — Obrigado por isso, vou usar ela mais vezes então.

Apesar de brincalhão e nada estudioso, Jackson parecia ser uma boa pessoa. Algo nele chama a atenção de Mark, mas nem mesmo ele sabia o que era.

— X —

Vinte minutos se passam e quando Mark pisca de repente, vê que o moreno havia adormecido em cima de seus livros. O loiro fica um tanto quanto estressado por ver que estava tentando ensinar para o vento, mas esse sentimento logo passa quando começa a observar Jackson respirando profundamente. Ele não entendia como os seus destinos haviam se cruzado, afinal eram completamente opostos um ao outro.

Ele apenas se pega com um sorriso bobo no rosto, continuando a observar.

De repente ele acorda assustado, com o celular vibrando no bolso de sua calça, era alguém ligando. Jackson deixa o loiro de lado e atende a ligação, parecia estar um tanto aflito.

Após retornar para o quarto, o moreno diz a Mark que precisaria resolver algo urgente, e pediu para o garoto ficasse esperando até que ele voltasse, dizendo ser algo rápido e que voltaria logo.

— X —

Dez minutos se passaram.

Então meia hora.

Depois, uma hora. Já eram quase sete da noite.

Duas horas depois, o loiro vê o farol a moto de Jackson apontando na frente de sua casa, e então o portão elétrico começa a se abrir lentamente — por causa do motor velho que já estava desgastado. O moreno desce do veículo cambaleando, suas vestimentas estavam todas rasgadas e seu rosto cheio de manchas roxas, sangrava um pouco também.

— O que houve? — pergunta Mark desesperado.

— Eles queriam mexer com ela... Não pude deixar que encostassem na minha namorada. — diz com a voz fraca.

Assim que termina de falar, sem conseguir evitar, Jackson cambaleia novamente e cai nos braços do loiro que fica sem reação perante aquilo. Ele o coloca deitado no enorme sofá de veludo vermelho da sala, que ficava posicionado do lado direito, bem perto da porta de vidro da entrada. Jackson estava consciente, mas resmungava de dor e não conseguia falar. Mark corre pela casa a procura de algo que pudesse ajudar a melhorar os machucados, e encontra uns remédios em uma das gavetas do armário da cozinha.

O garoto pega um algodão e coloca um pouco de água e álcool. Ele começa a passar bem devagar sobre os arranhões no rosto do moreno, que ainda se contorcia por causa da ardência deles.

— Um baita marmanjo como você choramingando por causa de uns meros machucados. — tenta fazer com que ele dispersasse seus pensamentos.

— Você tá na minha casa sabia? Me respeita loirinho. — entra na brincadeira.

— Mas me diga, o que aconteceu para que ficasse assim? Até parece que você...

— Entrou em uma briga? Sim, é isso mesmo. — interrompe antes mesmo do outro terminar de falar. — Tinha uns caras na rua e começaram a mexer com minha namorada.

— Foi ela que te ligou? — pergunta.

— Sim. Pediu para que eu fosse até lá, ela estava com medo de que eles tentassem alguma coisa.

— E então vocês brigaram, não é?

— É... Eles eram muitos, e eu estava sozinho.

— Violência não se resolve nada, sabia? — chama a atenção do moreno.

— Eu não sou um nerd, isso não se aplica a mim. — começa a rir da cara do loiro.

— Mas na verdade, eu em sabia que tinha uma namorada. — diz Mark de repente.

— Verdade, acho que nunca te contei. Ela se chama Jung Chaeyeon, e estuda na minha antiga escola, do outro lado da cidade.

— Certo, mas vamos terminar de cuidar desses machucados. Pode contar da sua vida amorosa para mim mais tarde.

O loiro tentava contem seu coração disparado conforme ia deslizando o algodão pelo rosto do moreno. Mark nunca havia visto um tão bonito quando o de Jackson, não existia um defeito sequer, suas bochechas avermelhadas e sua boca rosada e carnuda realçavam o tom junto ao cabelo castanho escuro, que no momento em questão, estava todo bagunçado e escorrido pela testa. Várias vezes ele teve que respirar fundo, por algum motivo faltava ar para o garoto. Jackson o encarava diretamente com aquele olhar penetrante, parecia estar tentando pensar em alguma coisa.

— Você é um bom garoto, loirinho. — diz de repente.

— Fique quieto! Assim eu acabo me desconcentrando. — Mark quase derruba o algodão que segurava com os dedos, fazendo o outro rir da situação.

— Pelo visto eu te deixo mesmo nervoso. — ele não parava de rir nem mesmo para falar.

Mark apenas ignorou suas palavras e terminou de higienizar os machucados. O moreno parecia estar agradecido por tudo, seu olhar era sincero. Depois de Jackson trocar novamente suas roupas rasgadas, o loiro pega seus livros no quarto do moreno e se despede de seu amigo.

— Amanhã vamos ter que estudar o dobro, hoje você nem prestou atenção em nada do que eu disse.

— Estudar me dá sono, eu não entendo o motivo de ter que passar por isso para entrar no time, na minha antiga escola não era assim. — responde. — Mas tudo bem, estarei te esperando aqui amanhã.

Jackson sorri e mantem os olhos semicerrados enquanto olha o loiro atravessar a rua até entrar em sua casa, não sai dali até que vê as luzes do quarto de Mark se apagarem depois dele fechar as cortinas. Mal sabia ele, mas o moreno também estava sentindo algo que não sabia explicar.

— X —

Foram duas intensas semanas de estudo. Jackson foi obrigado a pegar gosto por estudar, e a amizade dos dois garotos só aumentava a cada dia que passava. O moreno até mesmo chamava a mãe de Mark de “tia”, mas o loiro não fazia o mesmo com os pais de Jackson, era certinho demais para isso, preferia chama-los por senhor e senhora Wang.

Finalmente — e infelizmente para Jackson — o dia da última prova chega mais rápido do que ele esperava, e também era o dia em que faria o teste para o time de basquete, caso suas notas estivessem acima da média.

Mark percebia sua inquietação e ansiedade durante a prova, seus pés não paravam de se movimentar um segundo sequer, e gotas de suor escorriam pelo seu rosto. O loiro queria ajudar de alguma forma, mas suas mesas eram distantes, e não poderia fazer nada além de torcer pelo seu amigo.

Depois que a aula termina, as notas são dadas rapidamente, e o loiro vai logo em direção a Jackson, esperando receber boas notícias.

— Loirinho... Eu... — diz pausadamente e em tom baixo.

— Não fique assim, você pode tentar outra vez. Vamos pegar firme nos estudos agora, eu prometo que vou ter aju...

— Obrigado loirinho! — grita o moreno no meio da sala, abraçando Mark forte com seus braços. — Isso é tudo graças a você! Nunca pensei que tiraria uma nota como essa, na verdade nunca pensei que estudaria para alguma prova um dia... Eu consegui, vou poder participar do teste. — comemora empolgado.

Mark nunca se sentiu tão orgulhoso em sua vida, afinal ele sempre tirava boas notas, mas saber que o garoto que ele havia ajudado tinha ido bem era um outro lado da moeda.

Após o restante das aulas terminarem, os dois vão até o clube de basquete, e lá, uma grande fila já se formava em frente a uma pequena mesa, onde alguns alunos estavam se inscrevendo para participar do teste. Em pé, do lado dela, estava Park Jinyoung, o egocêntrico capitão do time.

— Wang! Até que enfim apareceu, achei que já tinha desistido. — diz sarcasticamente assim que vê o moreno.

— Fala cara! Eu jamais iria desistir. Minhas notas subiram bastante, agora já posso entrar para o time.

— Primeiro precisa passar no teste, caso não saiba. — murmura o capitão.

— Eu já sei que vou passar, isso é fachada para um jogador experiente como eu. — exclama orgulhoso.

— Gosto de você Wang, espero mesmo que entre para o time, nos daríamos super bem trabalhando juntos. — o sorriso sarcástico daquele garoto não agrava nem um pouco a Mark. — Mas é quem é esse esquisitão aí do seu lado? — o arrogante pergunta.

— Ah! Esse é o Mark Tuan. Foi ele que me ajudou a estudar e aumentar as minhas notas, se não fosse por ele...

— Não me interessa o que ele fez ou deixou de fazer. Um nerd como ele não é bem-vindo no nosso salão. — impõe Jinyoung. — Vou te perguntar apenas uma vez Wang, esse bostinha é seu amigo? Acho melhor pensar bem na resposta que vai me dar.

— Ele... O Mark... — Jackson se relutava em completar sua frase.

— Jackson? Eu não acredito que você...

— Não! Ele não é meu amigo. Paguei para ele me ensinar toda a matéria necessária para as provas, nada além disso. — responde por fim, fazendo o outro amigo ficar com os olhos arregalados de surpresa.

— Eu não acredito no que estou ouvindo. — Mark serra os punhos e fecha a expressão em seu rosto. — Achei que éramos amigos, mas agora vejo tudo que importa para você. Na próxima, procure outro trouxa para ser seu professor particular.

O loiro sai da quadra de basquete do colégio com lágrimas querendo escorrer em seu rosto, mas só consegue as derramar quando chega no corredor principal do prédio, onde ficavam a maioria das salas de aula.

Por sorte, seu amigo Jaebum passava por perto nesse exato momento, e o vê sentado no chão, encostado com as costas coladas na parede gelada e com suas pernas entro o rosto, tentando disfarçar que estava chorando.

— Deixe me adivinhar... É aquele bad boy, não é? — pergunta como se já soubesse o que havia acontecido.

— Ele dizia ser meu amigo... Eu o ajudei em tudo que pude. Por que? Por que eu nunca consigo agradar ninguém... Todos só me veem como um garotinho ingênuo e que prefere estudar do que fazer coisas normais, como outros adolescentes da nossa idade fazem.

— É porque você é ingênuo Mark, te conheço a muito tempo e você nunca mudou, mas isso é algo bom, sabia? — o loiro fica confuso. — Você nunca desrespeitou ninguém, e sempre se importou mais com os outros do que consigo mesmo, alguém assim é difícil de se encontrar hoje em dia. Você é um garoto incrível Mark, e eu tenho orgulho de ser seu amigo.

— Mas, JB...

— Se aquele desgraçado não quer ser seu amigo, esqueça-o. Você tem a mim, ao Bambam e Youngjae também.  

— Mas... — o garoto parecia querer dizer algo, mas não possuía coragem o suficiente.

— Me diz uma coisa, você gosta dele, não é? — o seu amigo sorri. — Os outros já achavam isso, mas eu demorei para perceber.

— Na verdade, eu nem sei direito o que eu sinto. Isso está me machucando... Tinha medo de vocês pararem de falar comigo se descobrissem. — volta a derramar as malditas lágrimas.

— Cara, eu te aturo desde o parquinho infantil, acha mesmo que deixaria de ser seu amigo porque está gostando de alguém? Ou acha que está pelo menos. — Jaebum ajuda seu amigo a se levantar do chão. — Você tem a minha amizade para sempre, isso pode ter certeza.

— Obrigado JB, eu nem sei como te agradecer por tudo... Eu deixei vocês na mão várias vezes por causa dele. — abaixa a cabeça pela culpa que sentiu momentaneamente.

— Mark, relaxa! Ninguém está bravo com você, muito pelo contrário, sentimos muito sua falta. Então... O que você acha de irmos ao parque aquático no final de semana? Como nos velhos tempos? Só nós quatro. — era o lugar preferido do loiro, ele e seus amigos iam constantemente até lá.

— Fariam isso por mim?

— Só espero que essa semana passe rápido, porque já estou ansioso. — diz confirmando sua sugestão.

— X —

Os amigos estavam animados com o retorno do antigo Mark. Logo cedo, JB passou na casa de cada um para que assim partissem logo para o parque, com o carro que seu pai havia o emprestado. Bambam como sempre atrasou, ainda dormia quando chegaram em sua casa, nem mesmo o despertador foi o suficiente para acordá-lo de seu sono profundo. Jaebum, Youngjae e Mark tiveram que entrar em seu quarto e o acordar com um banho de água gelada, e lá estava ele, de shorts para dormir e todo molhado, as sete horas da manhã.

Todos os funcionários do parque já conheciam os garotos, eram rostos conhecidos por lá. Mark finalmente estava conseguindo esquecer de seu vizinho, que aliás não dava mais as caras pelo quarteirão e nem no colégio.

Bambam não era do tipo de pessoa que gostava de altura, então ficava nas piscinas esperando seus amigos descerem pelos enormes tobogãs. Todos se divertiam como antigamente, antes de Jackson aparecer na vida de Mark, naquele dia que ele e sua família se mudaram para casa da frente.

Mas estava tudo indo bem demais para ser verdade.

Mark estava se preparando para subir pela terceira vez seguida no tobogã mediano, dos três que havia no parque, quando alguém o chama de longe. Era Jackson.

— Loirinho! Mark, espere! — ele gritava. O moreno estava usando aquele moletom rosado, o qual o garoto tanto havia gostado.

— Como me encontrou aqui? Você nem conhecia esse lugar. — o loiro se irrita ao vê-lo, cortando o momento que ele estava tendo de diversão com os amigos.

— A sua mãe me disse onde estava, me deu o endereço para chegar até aqui. — explica.

— Aquela traidora. — murmura o loiro.

— Mark eu... Sinto muito. Sei que deve ter ficado chateado e tudo mais...

— Não caia nas mentiras dele. Você não precisa perdoá-lo e sabe muito bem disso. — o amigo de infância chega interrompendo quando vê Jackson perto de seu colega.

— Eu entendo você e seus amigos estarem com o pé atrás sobre mim, mas eu lhe peço por favor que me perdoe. Eu gosto muito da sua amizade, nunca achei que iria encontrar alguém como você... — tentava se justificar.

Contudo, o momento de justificativa é interrompido por uma voz feminina que chama pelo moreno. Ela se aproxima aos poucos, e ninguém ali parecia conhecê-la, exceto Jackson. A beleza da jovem encantou os olhos de todos os garotos por quem ela passava, principalmente de Bambam, que literalmente babou ao ver a menina.

— Eu morri? Estou no céu? É um anjo que eu vejo? — o amigo atrapalhado ficava resmungando consigo mesmo.

— Chae... Chaeyeon? — Jackson estava sem entender como sua namorada havia o encontrado naquele lugar.

— Bonito! Você me disse que iria passear com o Chimmy, e te encontro aqui? Não percebeu que tem um monte de garotas te secando até não querer mais? — a garota estava completamente enfurecida.

— Como me achou? — o moreno pergunta.

— Eu rastreei seu celular, obvio. — responde com sarcasmo. — Agora vamos sair daqui logo e me leve para tomar um sorvete.

— Amor, me desculpe mas eu tenho assuntos urgentes para resolver. Podemos ir depois? — ele implora.

— Quer saber, até que não é uma má ideia ficar por aqui. Vou comprar umas roupas de banho e nosso encontro pode ser aqui mesmo, amorzinho. — ela ignora o pedido do moreno.

Jackson olha diretamente para Mark, com uma expressão desapontada, como se quisesse evitar tudo aquilo. O loiro respira profundamente mais uma vez — já havia perdido as contas de quanta vezes tinha feito isso desde que conheceu o moreno — e caminha lentamente em direção ao bad boy, colocando suas mãos sobre seus ombros.

— Vamos apenas começar outra vez, ok? Vou fingir que aquilo não aconteceu, mas nossa amizade precisa ser reconquistada para voltar a ser como antes. — ele finalmente cede. — Por enquanto podemos dizer que somos dois bons colegas.   

— Mark... — o outro fica sem reação perante as palavras do loiro.

— Chega, vamos nos divertir. Sua namorada deve estar esperando também.

Nesse momento Jaebum sorri para seu amigo, como se estivesse dizendo que ele tinha feito um bom trabalho tomando aquela decisão.

Os garotos se divertiram o resto da tarde, usufruindo de tudo que o parque tinha a oferecer. Foram desde os escorregadores até os brinquedos com boias, dessa vez com a companhia de Jackson e Chaeyeon.

Por um momento tudo foi esquecido... As memórias ruins foram se esvaindo, só restando as coisas boas que ambos viveram nesse curto tempo desde que se conheceram.

Até que Mark — para sua infelicidade — resolve ir comprar um suco de frutas no bar do parque — era um dos lugares preferidos do garoto, pois achava o máximo os banquinhos do estabelecimento ficarem dentro da água, presos no fundo da piscina — quando de repente, olhando de relance pelo canto dos olhos, vê o moreno e sua namorada conversando ao longe. Ela parecia estar chorando, e ele com uma expressão preocupada, mas o coração do loiro é completamente despedaçado quando os dois se aproximam e se beijam em súbito. Ele não conseguia controlar aquele sentimento intenso que batia forte no seu peito, as lágrimas logo começaram a escorrer e a visão ficar embaçada.

Mark corre dali, não conseguia ficar observando aquela cena. Seu amigo o vê desesperado, correndo sem rumo e tenta chamá-lo para saber o que havia acontecido.

— Mark? O que houve? — gritava Jaebum, mas o loiro passa reto sem dar atenção.

Ele tentou esquecer. Tentou apagar da memória, mas era impossível. Jackson não saía da sua cabeça, e ver aquela cena fez com que o mundo de Mark desabasse por completo. Mesmo não querendo admitir, estava inevitável nessa altura do campeonato, o nerd havia se apaixonado pelo bad boy...

O loiro parou bem em frente a piscina infantil — quase na saída do parque — quando precisou tomar um pouco de fôlego. Estava distante de onde Jackson e seus amigos estavam, e já não tinha mais forças para voltar e encarar tudo aquilo outra vez.

Tudo que ele fez foi ficar ali parado por um bom tempo, observando o céu azul cheio de nuvens brancas que se movimentavam lentamente, começar a ficar cinza. Um tempo de chuva se formava, e logo começaria a cair os pingos. O tempo mudara tão repentinamente quanto os sentimentos do garoto, que passaram a ser tão dolorosos ao ponto dele não conseguir ficar perto do moreno.

De repente, Jackson se aproxima, sem que ele percebesse.

— Você vai me escutar, querendo ou não. — diz em um tom de voz sério.

— Eu só quero ficar sozinho... Melhor voltar e ver como sua namorada está. — murmura abalado.

Nesse momento, alguém os empurra pelas costas, fazendo-os cair na piscina que estavam perto.

Mark acaba engolindo um monte de água, não estava esperando por um empurrão como aquele. Quando consegue abrir novamente seus olhos, ele vê Wang em sua frente, e logo suas pupilas dilatam. O loiro não conseguia tirar os olhos daquele corpo sem camiseta, com a água escorrendo pelo peito definido do moreno, ele estava apenas com um shorts, e seu cabelo molhado depois de cair na piscina, todo bagunçado e caído na testa.

— Caramba Mark, precisa de um babador? — brinca Bambam, que estava na beira da piscina junto de seus outros amigos e acompanhados de Chaeyeon. Foram eles que haviam empurrado os dois.

— Daqui a pouco o Jackson vira uma uva passa de tanto que você seca ele. — Youngjae entra na brincadeira.

— Vocês? O que está acontecendo? — o loiro estava completamente confuso.

— Mark... — o moreno interrompe. — Primeiramente quero me desculpar adequadamente por aquele dia, estava tão interessado em entrar para o time que não imaginei que aquilo pudesse te magoar, e em segundo, JB me disse que viu meu beijo com a minha ex namorada.

— Espera ai, ex? — continuava sem entender.

— Chaeyeon e eu acabamos de terminar, aquele foi um beijo de despedida, por isso ela estava chorando. Terminei com ela... Por você! — diz depois de pausar por uns segundos.

— Jackson...

— Eu não entendo muito de sentimentos, por isso não sabia se o que sentia era verdadeiro, mas descobri depois de ver a dor que é ficar longe de você. — explica enquanto suas bochechas coram aos poucos.

— Mas e o Jinyoung? E o time de basquete?

— Eu dei um murrão naquele imbecil, acho que o nariz dele pode ter quebrado, não tenho certeza. O cara era um babacão. — ri ao dizer.

— Chega de enrolação e se beijem logo. — grita Jaebum, que sorria para o melhor amigo.

— Pera aí, vocês sabiam que o Jackson viria aqui? — Mark começa a suspeitar.

— Nós que contamos onde estávamos, não a sua mãe. — explica JB. — Depois que te chamei aquele dia para virmos para o parque, ele apareceu perto de mim e pediu para que o ajudasse a se redimir com você, e mesmo ainda não gostando muito desse cara, fiz isso por você, afinal somos amigos a muito tempo.

— Eu não acredito, vocês são uns tontos mesmo. — brinca com seus colegas. — Mas, e você Chaeyeon? Eu nem sei o que dizer, me desculpe por tudo que você descobriu tão de repente.

— Apenas vão logo com isso, antes que eu me arrependa. — diz com a expressão ainda um tanto quanto arrogante. — Além do mais tenho três amigos seus do meu lado aqui, sozinha eu não fico pelo menos. — cruza os braços.

Aquilo estava acontecendo tão repentinamente, Mark — mesmo sendo o mais inteligente da sala — pela primeira vez demorava para processar tudo.

— Loirinho... Eu admito, gosto de você. — diz o moreno sorriso e se aproximando do garoto.

Mark fecha os seus olhos, não sabia muito o que fazer em um momento como aquele, quando percebe, o moreno já havia colocado uma de suas mãos atrás da nuca do loiro e a outra por trás da cintura, então seus lábios se encostam lentamente, eles dançavam em um encaixe perfeito. Tudo que ele e Jackson desejavam era que aquele momento nunca acabasse.

— Quer saber... — murmura Jaebum de repente, enquanto via os dois se beijando. — Que se foda, eu já queria fazer isso a muito tempo mesmo. — ele vira-se para Youngjae e o agarra pela cintura também, puxando-o para perto, e logo encosta seus lábios nos do outro. Aquilo foi uma surpresa para todo mundo. Chaeyeon e Bambam ficaram apenas observando em silêncio.

Após o beijo, seus olhos se encontram mais uma vez. Jackson mantinha aquele mesmo sorriso pelo qual Mark havia se apaixonado, e então o loiro o responde com um de maior intensidade, sem parar de olhar para o moreno.

"E o garoto se apaixonou pelo bad boy... Um garoto ingênuo. Um bad boy misterioso e de olhar intenso." ²