There's no Way escrita por Bruna Lemos


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A muito tempo atrás eu desisti de escrever. Mas escutar a música There's no Way do Lauv com a Julia Michaels me trouxe essa história e eu encontrei forças para voltar a escrever. Espero que gostem.



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*Rosie*

Pra qualquer um poderia ser mais um dia. Mas cada dia pra mim era único e hoje mais ainda. Hoje acabava meu tratamento. Minha última quimioterapia. Pra alguém identificado com Leucemia Mielomonocítica Crônica tipo 2, cada dia é um feito diferente na dura estatística que inicialmente me assustou bastante.

Me levanto e busco logo me arrumar. Será um grande dia. Hoje vou optar pelo tom vinho. Então busco minha calça e meu tênis na cor vinho. Pra completar o look, pego minha blusa de ombro branca com detalhes vinhos.

Zoe, minha irmã, entra no quarto e já imagino o que ela quer. Ela também está feliz.

— Bom dia Rosie! Hoje quero fazer uma tiara de trança. Posso? - ela logo pula na minha cama.

— Claro meu bem. - Me sento na cama e ela cai sentada.

— Tá ansiosa? - ela começa a mexer em meu cabelo que não é realmente um cabelo, e sim uma peruca.

— Sabe que estou. Vai ser um grande e longo dia.

— Papai passou seu jaleco ontem.

Eu quase não via nosso pai desde todos os acontecimentos. Com toda a pressão e solidão, ele se rendeu a bebida. Mas nos poucos momentos que ele estava sóbrio, tentava mostrar a seu modo que ainda nos amava.

— Vou pegar ele assim que você terminar.

— Posso ir com você ao hospital hoje?

— E faltar o colégio? De jeito nenhum. Vamos nos ver mais a noite e sair pra comer algo, lembra?

— Não é só pelo seu dia. Você não soube?

— Soube do quê? - ela termina a trança e se senta agora ao meu lado.

— Lembra do ator que fez aquela comédia romântica que eu assisti tantas vezes?

— Como esquecer? Foram dias sem assistir Grey's Anatomy por sua culpa.

— Ele vai estar no hospital por alguns dias, pra um documentário ou uma matéria sobre ele.

— E o que o hospital tem a ver?

— Ele disse que tem muita vontade de passar um tempo com as crianças da ala de câncer, daí escolheram o San Rose.

— Ótimo, tudo o que eu precisava era de um hospital tumultuado de jornalistas e um famoso metido.

Alec Scott, o crush das comédias românticas. Zoe assistiu o mesmo filme por uns dois meses, tudo por causa dele. Não que eu usasse minha condição como desculpas, mas ela não me deixava usar a TV, mesmo do jeito que eu estava.

— Por favor, me deixa ir!

— Zoe, você tem que ir pro colégio. Se ele ainda estiver lá depois que você sair, eu te busco pro hospital, pode ser assim? - ela bufou, mas o que mais ela poderia fazer?

— Pode. - ela então se levanta e vai para o seu quarto, provavelmente terminar de se arrumar.

Eu passo um batom e nada mais. Passo pelo quarto do meu pai e vejo que está num sono pesado. Apenas fecho mais a porta e desço, onde encontro o café da manhã pronto.

A cada minuto que passa e lembro que estou mais perto de chegar ao hospital, meu coração acelera.

Assim que Zoe termina seu café, peço que ela se organize rápido para irmos. O caminho até o colégio é rápido. Ela entra e acelero para o hospital. Mas realmente aquele dia seria um grande dia. Não mais só no sentido de ser especial, mas de ser longo mesmo.

Ao chegar, encontro o estacionamento principal lotado de vans e veículos. Os jornalistas. Mas vou mais para a parte de trás do hospital e minha vaga preferida está lá. Pego todos os meus pertences e sigo para dentro. O local está agitado, principalmente quando chego na ala oncológica. Mas vejo que não estão agitados apenas com a chegada do carinha famoso, mas com a minha. Todos estão em pé me esperando. As enfermeiras com aquela pose clássica de mãos nos bolsos do jaleco e as crianças, adolescentes, se segurando em seus suportes de soro. Os que estão no momento do tratamento estão sentados nas suas respectivas poltronas dos cubículos. Todos vem até mim para dar um pouco de carinho. Logo eu busco o meu lugar, mas antes disso, pego o meu jaleco e o visto. Hoje é a minha vitória e meu retorno. Vou até o armário atrás do balcão e guardo o restante das minhas coisas.

Kristen logo vem em minha direção. Ela é minha grande amiga de infância. Nos conhecemos na mesma escola no primário. Desde que aprendemos um pouco sobre as profissões, descobrimos que queríamos trabalhar com a área médica. Durante o ensino médio, buscamos fazer um curso técnico de enfermagem e fomos as melhores alunas, conseguindo emprego no San Rose, o que nos ajudaria com a faculdade. Até entramos juntas para o curso de medicina, mas dois anos depois que entramos, a leucemia se manifestou e então tive que me afastar tanto do curso quanto do hospital como funcionária, para entrar como paciente.

— Já está bem animada pelo que vejo. - ela encosta no armário.

— Eu estou. Era minha colega de profissão. Depois passei a ser sua paciente. Agora seremos colegas novamente. Não imagina o quão feliz eu estou.

— Não imagino. Mas dá pra ver. Apenas me explique como eu vou inserir a agulha com você vestida com o jaleco. - ela puxa a gola do meu jaleco para ajeitar enquanto ri.

— Você que se vire. Hoje é meu dia.

Eu me viro e sigo para minha poltrona. Sei que seria extremamente difícil ela conseguir inserir agulha comigo vestida de jaleco. Então para ajudar, retiro o jaleco do lado direito.

Se passaram cerca de 40 minutos quando começo a escutar o tumulto. Provavelmente a celebridade do momento chegou. Vejo que meu tratamento acabou e enquanto estou retirando agulha, ele entra. É alto, cabelo liso com um leve topete. A barba é fina, sorriso largo, mas bonito. Enfim, para os fãs, a personificação da beleza. Age com grande carisma com todos e logo segue para os cubículos. Está distribuindo imagens e autógrafos.

Termino de vestir parte do meu jaleco que eu havia retirado e coloco as agulhas, plásticos e demais na bandeja para levar para o descarte. Até que ele chega em mim e escuto a voz um pouco rouca.

— Ei, olá. É enfermeira né? Poderia me dizer onde tá a brinquedoteca e qual parte que possui melhor luz? Os fotógrafos estão pedindo que eu vá pra uma parte do local que seja claro.

Olho pra ele e ele parece incomodado com tanta gente o rodeando, além de parecer impaciente.

— Eu preciso fazer algo antes, mas tem mais gente que possa te ajudar. - ninguém atrapalharia esse momento.

— Com toda essa gente está difícil achar alguém que possa me falar um bom local? - Agora estava explícito que ele estava impaciente.

Apenas lancei um olhar a ele, me virei e me dirigi ao sino. Toda vez que alguém termina o tratamento, se toca o sino três vezes e assim sabemos que mais uma batalha foi vencida. E assim eu faço. Toco o sino três vezes. As crianças começam a gritar e a bater palmas. Alec Scott me olha confuso e eu apenas desvio o olhar. Kristen vem e me abraça.

— Acabou. Agora vamos trabalhar? - digo a ela, ainda em êxtase.

— Bem vinda de volta Rosie. - vejo que seu olho está acumulando lágrimas. Ela está se segurando para não chorar.

— Vamos logo, não? Ah, ajuda o famosinho ali. Ele vai te dizer o que precisa.

— Parece que não gosta dele? Todos tem crush nele.

— Bom, você acertou em quase tudo, tirando a parte de que não tenho um crush nele, pois não sou todo mundo.

Saio para trás do balcão, descarto os itens do meu último tratamento e leio algumas pastas, para me atualizar sobre a situação de alguns pacientes enquanto a maior parte da ala segue para a brinquedoteca, e logo atrás, os jornalistas e fotógrafos.

Daí pra frente o tempo demora passar. Assim que vejo que Zoe deve ter saído do colégio, a busco e trago para o hospital. No caminho paramos para almoçar e conversamos sobre como estávamos felizes sobre o fim do meu tratamento, mas o assunto principal era sobre como ela se comportaria perto do seu crush famoso. Ao chegarmos, dava pra ver que as mãos dela começavam a soar. Caramba, ela tinha apenas 11 anos e já estava nervosa por um garoto.

Ao entrarmos, o mesmo tumulto de quando saí. A levo até a porta da brinquedoteca e quando chegamos ela esquece tudo o que ensaiou, corre até ele como a criança que é e o abraça. Pelo menos ele a atende prontamente com um grande sorriso, abraço e tudo mais a que se tem direito. Ela logo me chama e pede pra que eu tire uma foto com o meu celular.

— Por favor, tira vai!

— Tudo bem, eu tiro. Mas depois disso tenho que voltar a trabalhar.

Sigo até os dois e tiro umas dez fotos. Ela pede que ele faça caras e bocas junto com ela e quando entrego o celular para que ela veja as fotos, ele está olhando pra mim. Quando sugere que vai falar algo, viro para Zoe e digo que preciso voltar a trabalhar. E assim faço. A deixo com ele, no meio de toda aquela baderna e volto ao trabalho.

É uma longa tarde, mas a satisfação de ter voltado é tão grande que nem vejo quando chega o fim do meu turno. Ao mesmo tempo, acaba o tour famoso da ala oncológica.

No caminho até o carro, Zoe não para de falar sobre Alec. Ela está apaixonada. Isso resume. Peço que ela entre no carro logo e coloque o cinto. Ela então aproveita e coloca seus fones de ouvido, com uma altura de som que consigo escutar fora do carro. Enquanto isso, pego minhas coisas e coloco alguns documentos no porta malas. Alguém então dá um leve toque em meu ombro. É Alec Scott.

— Oi. Am, eu acho que devo desculpas... Rosie - Ele lê meu crachá, descobrindo meu nome.

— Pelo quê? - digo sem ânimo nenhum para uma conversa com ele.

— Por ter sido impaciente com você naquele momento. Você estava de jaleco, achei que fosse enfermeira. Mas era paciente.

— Eu sou as duas coisas. Mas apenas por hoje. É só isso? - digo impaciente.

— Uou. Está brava por isso que aconteceu mais cedo?

— Só tó em um nível que não tenho paciência pra riquinho famoso querendo aparecer. - ele arregala os olhos e abre a boca algumas vezes antes de conseguir falar algo.

— Nossa, eu achava que todo mundo gostava de mim.

— Bom, eu não sou todo mundo.

— E, aliás, eu não tô querendo aparecer. É pra uma entre...

— Entrevista ou documentário. Tá, tanto faz. Mas passar uma impressão que não é real... grande coisa.

— Como não é real? - ele parece ofendido.

— Quer realmente ajudar a causa? Ser um voluntário na ala oncológica? Ou só parecer que ajuda?

— É claro que eu quero ajudar, mas...

— Então não deveria ter trago toda a imprensa. O amor ao próximo não é pra ser divulgado apenas, mas pra ser sentido. E se saiu por trás do hospital para fugir da imprensa, seu plano tá falhando. - aponto para alguns jornalistas que rapidamente estão vindo após terem rodeado o prédio.

Não dou chance a ele de rebater algo mais. Quando ele se vira, entro no meu carro e percebo que com tudo isso Zoe adormeceu. Imagina se ela soubesse que seu grande crush estava do lado do carro? Acessível apenas pra ela?

Dirijo alguns quarteirões antes de acordá-la para que ela se prepare então para nossa grande noite de comemoração. Vamos a maior e melhor pizzaria, onde desde que ela se entende por gente, nós comemos pizza. Além de ser o local onde nossa mãe contava que havia conhecido papai.

É minha noite de comemoração. Nada vai estragar isso. Só eu e ela.


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