O Corvo e O Dragão escrita por Holanda


Capítulo 1
Capítulo Único




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O Corvo e o Dragão



Raven não tinha lembranças claras de antes do fogo vir. Ela lembrava de seus pais, grandes corvos de penas negras e brilhantes, eles traziam alimentos em seus bicos longos e afiados para alimentá-la e a seus irmãos e irmãs. As vezes eles traziam outras coisas que não era para comer, objetos que só depois Raven entendeu que eram tralhas de humanos, moedas, botões, broches, pedaços de tecido colorido, brincos, anéis, etc… Raven não sabia a serventia, se bem que não havia qualquer utilidade para tais tranqueiras, muito menos para pássaros, mas mesmo assim, ela gostava, gostava como eram coloridos e brilhantes.

Ela amou coisas bonitas e brilhantes desde a mais tenra idade, brigava com seus irmãos e irmãs pelo lixo humano que seus pais traziam para o ninho. Raven não usava nada, mas ela tinha o prazer de conquistar e possuir algo.

Gananciosa e egoísta. Só um aspecto de sua natureza.

Então o fogo veio. Ela ainda nem havia atingido a idade para voar e os barulhos estouraram, as labaredas vermelhas e amarelas correram pela floresta, o som de gritos humanos, metais se chocando. Ela nunca soube se seus pais fugiram ou morreram no incêndio, mas os animais que tinha capacidade, correram apavorados.

O fogo atingiu a árvore onde o ninho ficava, a fumaça a sufocou e quando abriu os olhos ardidos, suas penas estavam queimadas e ela estava caída sobre cinzas ainda quentes. Raven viu um de seus irmãos ao seu lado, eles dois foram os únicos sobreviventes.

Era o fim, uma questão de tempo até ambos perecerem. E não havia nada bonito e brilhante, tudo era cinza opaco, uma paisagem estéril.

De repente ela viu um grande animal se aproximando, ela ainda tentou fugir, era inútil, seu corpo estava queimado e ferido, de seu bico saiam sons estridentes de socorro. Seu irmão espelhava seus movimentos ao seu lado.

Raven parou quando um vislumbre de brilho foi captado por seus olhos. Ela parou e observou, a criatura era alta e bípede, que animal estranho, só depois ela soube que aquilo era um homem. No alto de sua cabeça havia um círculo muito bonito e brilhante. Raven não conseguia tirar os olhos do brilho prateado no alto de seu cabelo cinza. Ela viu em segundo plano que o humano usava um manto verde e segurava um galho grande e retorcido.

— É um milagre, vocês pequeninos sobreviveram a isso. — O homem se abaixou e tomou os dois jovens corvos em suas mãos. — Devem ser muito fortes, vou cuidar de vocês.

O homem tinha olhos gentis, mas Raven não encontrou apelo em seus olhos, só conseguia admirar sua coroa brilhante.

Mas tarde Raven soube que o humano que a salvou atendia pelo nome de Ozpin e este era um homem muito importante, possuidor do título de Rei-Mago, soberano do reino do Vale. Além de monarca, ele era versado em poderosas magias.

Foi com essa magia que o Rei-Mago deu a Raven e seu irmão corpos humanos. Sem pedir permissão a maldição lhes foi jogada e de repente Raven tinha braços no lugar de suas asas, pernas no lugar de suas patas, um rosto chato e delicado no lugar de seu bico.

Ela foi batizada de Raven e seu irmão de Qrow, duas crianças humanas estranhas, pois eram corvos em corpos humanos.

Raven lembrava que mesmo depois de muitos anos, ela ainda se sentia estranhava quando se via no espelho.

Com o tempo ela e seu irmão aprenderam a controlar sua transformação, podendo ir e voltar de sua forma animal e sua forma humana.

Eles lhes foi ensinado a falar, andar, e tão rápido aprendiam, lhes foi ensinado a lutar também. Uma espada foi colocada em suas mãos e Raven cresceu para ser a melhor guerreira da corte do Rei-Mago.

Ninguém precisou lhe dizer, ela era corvo, a mais esperta das aves, juntando as pontas do novelo de lã, Raven soube que o incêndio na floresta que ela vivia veio de uma batalha violenta entre os homens do rei com inimigos.

Em sua juventude Raven se perguntava qual era o sentido de sua existência. De certo modo, ela obteve sua resposta, o rei a criou para servi-lo, ser a general do exército do Vale na guerra de Ozpin contra a Rainha-Negra, e havia algo a mais, uma missão especial, parte essencial do plano do Rei.

Raven aceitou isso, ela se convenceu que era o certo. Essa era sua missão. Ela juntou seus homens e seu irmão, eles embarcaram em uma jornada para o oriente, desembarcaram no continente no outro lado do mundo, terra estranha de cultura complementarmente diferente dos ocidentais.

Adentrando cada vez mais ao continente de Anima, meses se passaram até chegarem a seu destino. No alto de uma colina, uma escada de pedra branca serpenteava para cima, no topo um templo alto de quatro andares todo dourado, as paredes de ouro e o teto piramidal com pontas curvadas em negro que destacava ainda mais o amarelo.

Bonito e brilhante.

Raven se sentiu imediatamente atraída pela construção.

Ela sentiu uma mão em seu ombro e se virou para encarar os olhos vermelhos e pequenos de seu irmão.

— É com você agora. — Ele disse.

Raven assentiu. Era final de novembro, nesta época estava frio no norte do continente, mas assim que Raven colocou o primeiro pé no primeiro degrau da escadaria de pedra, ela sentiu imediatamente a temperatura aumentar, como se de repente fosse primavera novamente.

Seus olhos fixos em seu objetivo, o brilho do ouro a atraindo sempre para cima. Ela sentiu uma agitação estranha em seu estômago a cada pequeno degrau transposto.

No topo, Raven encarou grandes portas feitas de ouro, não havia maçaneta, ela olhou para os lados e viu um altar do lado esquerdo, nele haviam incensos queimando e várias armas jogadas na tábua de pedra branca.

Uma voz reverberou, parecia vir de todos os lados e de lugar nenhum. Raven não temeu.

— Deixe sua arma como oferenda e a porta abrirá.

Raven ainda hesitou por um instante olhando desconfiada para o altar cheio de armas, ela lembrou-se de sua missão. O corvo puxou sua espada ocidental e a colocou junto das outras, depois puxou sua adaga de combate e logo a lâmina se uniu com sua irmã maior.

Ela voltou seus olhos para as enormes portas de ouro, a estrutura tremeu e o portal se abriu, apesar do completo breu do lado de dentro, Raven adentrou ao templo sem medo. No meio da escuridão, algo brilhante se destacou no fundo, amarelo ofuscante como ouro brilhando no sol. Raven se sentiu imediatamente atraída em sua direção.

— O que deseja, mulher ocidental? — A voz trovejante reverberou.

Raven manteve seus olhos fixos na luz brilhante como um pássaro tolo sendo ridiculamente atraído para uma armadilha.

— Desejo vê-lo.

A luz trêmulou movendo-se de forma graciosa, o brilho intensificou por um instante e Raven admirou o dourado bonito quando ele enfim apareceu. Sua forma longa como uma serpente enorme se enroscando pelas colunas no templo, as escamas que cobriam seu corpo reptiliano pareciam feitas de ouro maciço, sua cabeça terminava em um focinho amistoso e gentil que nada lembrava os dragões do ocidente, os olhos grandes e afáveis em azul celeste, galhadas de ouro se projetavam no alto e uma juba amarela brilhante lhe servia de cabelo.

Ele era um dragão como nada que Raven já tinha visto. As bestas aladas do Vale eram criaturas monstruosas de escamas escuras, dentes cruéis e garras afiadas que jorravam labaredas de fogo mortais pela boca. O ser a sua frente era completamente diferente, era bonito e brilhante como o sol, tinha um rosto sereno e delicado.

Raven o admirou e não foi apenas pelo brilho.

— Estou aqui, diante de tua presença. — O dragão disse.

— Deixe-me ver tua forma de homem. — Raven exigiu, ela não sabia ser subserviente nem diante de um deus.

O Deus-Dragão pareceu a olhar com curiosidade com seus olhos grandes e expressivos. Ele talvez estivesse se divertindo a suas custas, a achando exótica por suas atitudes ousadas.

— Muito bem, farei o que deseja, mas depois terá de fazer algo por mim.

Raven assentiu em concordância, então a forma dele brilhou tão intensa que era como tentar olhar para o sol de meio-dia. Ela protegeu os olhos com as mãos e quando a luz se foi só sobrou a figura de um homem a sua frente. A pele era bronzeada como do povo do sul, os olhos ainda eram azuis celeste, o cabelo curto e dourado pálido e ele usava uma túnica amarela feita de fios de ouro.

— Tens um nome? — Raven perguntou.

— Chamo-me Taiyang. E como devo te chamar? — Ele puxou um sorriso gentil e caloroso.

— Raven, general do exército do Vale.

— Achei que era uma guerreira mesmo, mas assim como eu te mostrei minha forma humana, agora desejo ver tua forma real.

— Justo. — Raven respondeu austera.

Ela mudou sua forma se transformando em um corvo, as penas negras cobrindo seu corpo pequeno de ave com duas esferas vermelhas que formavam seus olhos. Ela voou ao redor e Taiyang levantou o braço, Raven pousou ali fazendo o braço do Deus-Dragão seu poleiro.

— Um corvo? — Taiyang pareceu se divertir com a redundância da situação, ele acariciou suas penas macias sorrindo.

Mal sabia ele o perigo que corria. Corvos só se interessam por coisas brilhantes, tesouros para roubar. E Raven veio roubar algo dele. A fagulha da vida. Mas ela também queria se deleitar em seu brilho, mesmo sabendo que era fugaz.

Ambos sabiam que era fugaz. Taiyang como um deus não poderia esta ao lado de uma mulher como um marido faria. Raven era um pássaro metamorfoseado em humano com uma missão. Quando ela se despediu dele, ela recebeu um presente, puxou uma nova espada do altar, esta era de fio único, reto e de lâmina vermelha como seus olhos, dada por Taiyang, mas Raven tinha outra coisa, uma criança que agora cresceria em seu ventre e se tornaria uma guerreira de ouro poderosa e orgulhosa. Porém, assim como seus pais, essa criança também seria uma peça nos planos do Rei-Mago, só muitos anos depois que Raven veio a descobrir a verdade.

Já era tarde. A guerra havia começado e o Vale estava condenado. Foi quando ela voltou a sonhar com o brilho dourado de Taiyang. Quando Raven partiu ela já tinha um destino certo, afinal, corvos sempre vão em busca de coisas brilhantes, com ela não era diferente e ela descobriu que não se importava com o sentido de sua existência que o Rei-Mago lhe deu, ela só se importava com ela mesma, afinal, corvos são assim, só se interessam por si mesmos e por coisas brilhantes.

 

~FIM~


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