Espadas, Chamas e Chifres escrita por Risadinha


Capítulo 6
Vestido e all star


Notas iniciais do capítulo

HEeyyyyooooo! Capítulo novo, grandinho, o bastante para vocês terem bastante história até o próximo capítulo haha
Sem muito o que falar...
Boa Leitura!



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As chamas contorceram cada parte do corpo emprestado de Lass. Estalou as juntas, como se ajustasse o corpo aos seus movimentos expansivos. Cada segundo de liberdade era aproveitado.

Por isso Elesis não interferiu. Sentada na ponta da cama, com a katana na bainha entre suas pernas, ela observou o ser de olhos vermelhos se mover pelo pequeno cômodo. Pelo o que ela pôde notar, o gato de Lass não estava em nenhum lugar, talvez distante da segunda personalidade que tomava conta do seu dono no momento.

— Ok — Elesis disse, impaciente. — Vamos conversar.

— Conversar — as chamas provaram o gosto da palavra. — É sempre isso. Me use para outro propósito, Elesis. Olhe para mim.

Ele pôs as mãos no peito.

— Você acha que eu sirvo apenas para isso?

— Eu não me importo para o que você serve — direta e seca. Ela tomou uma postura mais séria, ou ameaçadora pelos olhos das chamas. — Vou fazer algumas perguntas e você responderá. Nada além disso.

As chamas limpavam o ouvido, andando em círculos. Sua falta de interesse pelas perguntas criava uma nervosa raiva em Elesis, que precisou inspirar fundo antes de continuar.

— Mais cedo, Lupus veio—

— Quando você pretende contar ao Lass sobre a coisa dentro de você? — Ele a interrompeu.

Elesis fez uma expressão confusa.

— Do que você—

— A mana de Elyos — ele apontou, sorrindo como uma expressão normal. — Não está te fazendo bem.

Ela inspirou fundo mais uma vez. Lembrar disso fazia seu corpo aquecer, parecido com uma febre.

— Isso não é da sua conta.

— Você é mesmo cabeça dura, hein.

As chamas se aproximaram, dando um peteleco na testa de Elesis. Doeu mais do que necessário. A espadachim encarou com olhos ferventes de raiva.

— Essa coisa pode te matar — continuou as chamas. — Você é fraca, essa mana está te corroendo como ácido.

Elesis ficou de pé. Baixa para encara-lo na mesma altura dos olhos, porém com um ar que igualava seus tamanhos.

— Desde quando você se preocupa comigo? — Indagou a espadachim.

— Preocupação? — As chamas gargalharam. — Não, você está entendendo errado, ruiva. Isso não é preocupação, é só uma observação óbvia.

Ela se sentiu mais ofendida, apertando os punhos em volta da katana.

— E também, alguém tem que falar. Lass não consegue sentir isso, mas eu sim — apontou para si, sorridente. — Viu, sou útil para outras coisas, além de conversar.

Elesis estava perdendo o controle da conversa. Veloz como um tapa, ela segurou o rosto de Lass pela mandíbula e puxou para perto de si. As chamas alongaram o sorriso com a atitude da espadachim.

— Responda as minhas perguntas — ela ordenou.

— Certo, certo.

— Você tem algum conhecimento sobre o Berkas?

Elesis não largou o rosto do rapaz, obrigando a se manter curvado diante dela.

— É um dragão bobo. O que tem? — Tediosas, as chamas deram de ombro.

— Então você poderia mata-lo?

— Hã... sim, eu posso — olhou como se fosse óbvio. — Eu queimo tudo.

Os olhos de Elesis se estreitaram. Não acreditou na resposta das chamas, que perceberam no mesmo instante.

— Está duvidando de mim?

— Não importa.

Elesis empurrou o rosto do rapaz para longe. Do bolso do casaco, ela tirou um papel. Ela desdobrou e esticou para as chamas.

— Conhece essa espada?

As chamas pegaram o papel, olhando preguiçosamente para a figura impressa.

— Conheço, conheço. Faz alguns séculos que ouvi falar dela.

Elesis levanta da cama, aproximando-se das chamas.

— Então você sabe como eu posso consegui-la? — Ela balançou as mãos, esperançosa.

— Conseguir? — As chamas riram. — Não, não faço ideia onde você possa achar.

Elesis bufa, toda animação se esvaindo de seu corpo. Perda de tempo.

— Mas o que você planeja fazer com uma espada assim?

— É uma espada tão especial assim? — Ela perguntou.

— Bem, é uma espada única. Veja, esse é um metal raro que consegue aguentar o calor das minhas chamas — explicava, mostrando a figura para a espadachim. — É um tipo de arma que absorve qualquer poder e replica. Seria tipo...

As chamas morderam o polegar. O dedo sangrou, deixando uma gota de sangue cair sobre o papel, que absorveu em instantes.

— É tipo uma esponja.

Elesis olhava de olhos arregalados. Uma espada capaz de suportar as chamas azuis, era disso que ela precisava. Uma arma perfeita para combater qualquer inimigo.

— Mas não se empolgue — as chamas disseram. — Não é qualquer um que pode usar. Isso vai tirar sua sanidade.

— Como se eu tivesse muita — ela deu de ombros. — Tem certeza que não sabe onde eu possa achar?

As chamas estenderam o papel.

— Nenhuma ideia. Tente o submundo — sorriram. — Soube que está tendo promoção por lá. Deve conseguir achar com desconto.

Elesis arrancou o papel num tapa irritado. Por mais que tivesse conseguido informações sobre a espada, de nada adiantaria se não a encontrasse. Se as chamas não sabiam onde poderia estar, quem mais conseguiria?

Elesis cruzou os braços. Lupus não ficaria satisfeito com isso.

— Então... — as chamas esfregavam as mãos. — Só me chamou por isso?

— Sim, agora pode devolver o Lass.

— Não, não, espere um pouco...

As chamas se aproximaram e Elesis tirou parte da katana da bainha.

— Temos um trato — dizia Elesis, séria. — Você só fica 15 minutos quando eu chamo.

— É, e eu tenho 5 minutos ainda.

Ela bufou, derrotada.

— Vamos, Elesis, sou mais útil que isso — as chamas falaram, aproximando-se cada vez mais. — Inclusive, posso ajudar você com o problema do Lass.

— Problema do Lass? — Olhou ofendida. — Você é o problema dele!

Elesis foi segurada pelos braços, impedida de desembainhar a katana por completo. Estava tão perto das chamas que conseguia sentir sua respiração sobre ela. Apesar disso, manteve-se firme, séria enquanto encarava as intenções maldosas do ser.

— Veja, eu posso te oferecer uma proposta sobre isso — as chamas disseram. — Uma ajuda irresistível.

— Não quero.

— Não, me escute. Isso será tanto benefício meu quanto seu. Principalmente seu.

Elesis tentou desembainhar a katana mais uma vez. As chamas não a soltaram. O tempo parecia ter congelado, 5 minutos não sendo mais 5 minutos, mais séculos a cada palavra que saía das chamas. Poderosas o suficiente para congelar o tempo.

— Você e o Lass tem esse... problema.

Elesis flexionou as sobrancelhas. Para onde ia aquela conversa?

— Eu posso ajudar, entende? — As chamas apontaram para si. — Sou a solução.

— Qual parte do “você é o problema”, você não entendeu? — Ela rosnou, segurando-se para não elevar a voz.

Elesis empurrou as chamas, precisando de espaço. Por mais que nevasse do lado de fora, estava muito quente no interior do quarto.

— Não é minha culpa se seu querido ninja não sabe lidar comigo. Mas...

Elesis encarou as chamas andando em volta dela. O tempo não passava e isso a enlouquecia.

— Eu sei lidar com ele. Faço melhor uso desse corpo — bateu no peito —, do que o Lass. Entende onde quero chegar com isso?

A respiração da espadachim pausou por um instante. O esboçar do sorriso das chamas a fizeram se mover, então perceber que estava encurralada contra a parede.

— Você acha mesmo que eu vou aceitar isso? — Questionou Elesis.

As chamas apoiaram a mão na parede atrás dela. Mais presa na conversa daquele ser.

— Sou bom nisso, Elesis.

— Claro, você nem tem um pau pra isso — ela disse, entediada. — Mas ok.

O corpo de Lass se abaixou para ficar na mesma altura que ela. Elesis encarou de volta o sorriso provocativo.

— Se você acha que eu sou o problema de vocês, como você nasceu?

Pergunta solta. A expressão da espadachim suavizou, consciente da intenção da pergunta. Nunca tinha pensado nisso.

— Você sabe... — Elesis se interrompeu. Não podia demonstrar muito interesse. — Como ela fez?

— Ela aceitou minha proposta.

— Não... — Elesis se negou. — Não, ela nunca faria isso.

— Certo, se convença disso.

As chamas recuaram, dando mais espaço que a espadachim precisava. Elesis deu um passo inconsciente em aproximação.

— Como você também se convence dessa coisa dentro de você — as chamas apontaram para ela. — Isso não só tá te matando, como também está fazendo outra coisa.

Elesis deu outro passo adiante. A katana já não existia mais em sua mão.

— O que essa mana tá fazendo comigo? — Ela perguntou, quase transparecendo o desespero de saber.

Nenhuma resposta, apenas o silêncio risonho. Elesis ergueu a katana com a mão no cabo.

— Meu tempo acabou aqui.

O sorriso desmanchou do rosto de Lass e seus olhos perderam a coloração vermelha. Elesis sentiu a troca de personalidade pelo ar. O corpo do ninja perdeu força, então caiu para trás.

A espadachim tentou o segurar, mas Lass já estava desmaiado no chão quando esticou a mão. Assim ele permaneceu, inconsciente.

Aquela não tinha sido uma conversa produtiva, pensava Elesis enquanto guardava a katana do ninja no lugar de antes. Sentia-se ruim, como todas as vezes que conversou com as chamas escondidas de Lass. Não deveria, mas era preciso.

Elesis mexeu cabeça, estalando o pescoço. Ela precisava descansar.

***

Primeiro veio a dor, depois o despertar.

Lass se remexeu no chão, levando as mãos para trás da cabeça. Doía, e ele conhecia bem que tipo de dor era essa. Queda. No seu ritmo, levantou do chão com gemidos baixos. Sua cabeça explodia por dentro e por fora.

Ao ficar de pé, olhou em volta e viu seu quarto vazio. Ainda sim, sentia uma presença próxima. Então ele entrou no banheiro.

A porta encostada foi empurrada. O porcelanato branco do chão e paredes ficava pálido em comparação ao vermelho do cabelo de Elesis. Soltos, cobrindo o ombro nu da espadachim que estava dentro da banheira, encolhida com as pernas abraçadas.

Lass se aproximou com a mão na cabeça. Cada passo era doloroso.

— Vejo que acordou — Elesis mencionou, sem se mover muito dentro da água. — Você tá bem?

— Eu não sei. Bati a cabeça... eu apaguei de novo?

Elesis apoiou de lado a bochecha sobre o joelho. Sua resposta demorou mais do que preciso.

— Eu acho que você deveria conversar com o Grandiel sobre isso. Pode ser uma reação das chamas.

Lass concordava enquanto esfregava a parte dolorida da cabeça.

— Eu não sei — ele resmungou. — Não quero imaginar tendo essa conversa com o Grandiel. Vai ser muito estranho.

Elesis sorriu. O ninja se agachou ao lado da banheira, incomodado com a água perfeitamente estável.

— Por que tá tomando banho aqui? Não tem banheiro no seu quarto?

— Tenho, mas tente dividir um banheiro com outras duas garotas — lançou Elesis. — Lire e Arme demoram tanto, principalmente nesse frio. Por isso peguei sua banheira emprestada.

— Mas a água não tá gelada?

Enfim Elesis se mexeu, porém para se encolher mais. É, aquilo serviu de resposta. Por isso, Lass pôs a mão dentro da água.

— Não precisa — disse Elesis.

A mão dentro da água começou a ser rodeada por pequenas bolhas de ar. Embora não visse, as chamas esquentavam a água. Foi questão de tempo para a espadachim se sentir mais confortável e sua pele ganhar um tom mais vermelho.

O silêncio entre eles permaneceu. Lass se sentou no chão, mas não tirou a mão da água.

— Desculpa — ele murmurou.

— Hã?

— Por...

Ele não sabia como dizer aquilo. O calor crescente em suas bochechas pálidas apenas dificultava mais.

— Por não conseguir...

— Do que você tá falando?

— Você sabe — ele murmurou.

— Lass.

— Eu sei que você vai falar que não é culpa minha, mas é! — dizia o ninja, nervosamente gesticulado com a mão livre. — Eu tô tentando achar uma forma disso funcionar, eu juro...

Elesis espirrou água no rosto dele. Lass parou de falar, parecendo um filhote de gato amedrontado. Isso a fez inspirar fundo antes de falar.

— Quantas vezes vou falar que não é sua culpa? — Questionou Elesis, séria. — E isso não é um problema seu. É um problema nosso... E eu me responsabilizo bastante por isso, ok?

Lass encarou os próprios pés. Não era merecedor das palavras da espadachim. Quando tentou se afastar da zona de conforto, sua mão foi segurada. Elesis o prendeu ali, com seu olhar honesto.

— Por que isso te deixa tão triste? — Ela questionou, quase com um grito. — É por que você quer muito, mas não consegue, ou por que não quer me decepcionar?

Sem uma resposta, Lass sentiu sua mão ser apertada.

— Não pode ser os dois? — Respondeu o ninja, baixo.

Elesis soltou sua mão e levou a dela ao seu rosto.

— Tudo bem você pensar só em você por um instante — disse a espadachim. — Não precisa me agradar o tempo todo.

Com certo receio, ele assentiu. Tudo que fazia era sempre pensando no que ela acharia. Em todos os momentos que decidia pensar em si, sentia-se egoísta, então voltava atrás nas suas decisões.

E talvez Elesis estivesse certa. Ele queria aquilo mais por ela do que por si próprio.

— Gosto de te ver feliz — disse Lass, por fim.

— Mas o que você quer? Agora.

Lass coçou a nuca, abaixando a cabeça.

— Estamos de trégua? — Ele perguntou.

Elesis assentiu.

— Eu queria estar aí dentro, com você.

Elesis deu um sorriso de lado. Uma simples expressão que fez seu coração palpitar mais rápido. Por todos esses anos perto da espadachim, Lass ainda não tinha se acostumado às sensações que sua paixão por ela causava.

Por isso a beijou. Segurou o rosto molhado de Elesis, sentindo-se mais atraído, querendo estar mais próximo da espadachim. E foi o que fez. Lass se levantou, tirou os sapatos e entrou na banheira.

— Não acho que nossa trégua se aplique à banheira — disse Elesis, debochada.

Lass se aproximou dela, mergulhando parte da roupa. Elesis se inclinou para trás, forçando-o a entrar cada vez mais na água.

— Então quer que eu saía? — Ele perguntou.

Elesis negou com um sorriso. A deixa certa para Lass mergulhar em seus lábios com toda a paixão que sentia no momento. A água sob seu corpo se agitava, densa o suficiente para esfriar seu corpo. Não importava o quanto tentasse, o quanto se concentrasse para não perder o controle, as chamas sempre escapavam de sua posse.

Lass se sentiu quente. A água perdia o efeito sobre ele e Elesis apenas tornava a situação pior com seus toques por seu corpo.

Não. Não dava.

— O que foi? — Elesis perguntou com seu afastamento.

Ele odiava isso. Sentia mais raiva do que decepção própria.

— Eu não posso... — sussurrou.

Eles se olharam por um longo instante. Elesis não pareceu decepcionada, mas abriu um sorriso solidário. Aquilo o matou por dentro.

— Não tem problema — ela disse.

Mas tinha.

***

Neve caía a sua volta enquanto gotas de água escorriam pelas mechas de cabelo. Lass se manteve parado, mesmo completamente molhado sob a neve do pátio. Não era exatamente frio que sentia, porém doía. Um tipo de dor que nenhum calor o faria se sentir melhor.

— Você cheira a fracasso.

Lass virou o rosto para o lado. De todas as companhias, Lupus era a pior naquele momento. O caçador estava sentado no banco de madeira, assoprando uma fumaça que no primeiro vislumbre parecia fazer parte da sua respiração. Mas entendeu que se tratava de outro tipo de fumaça quando viu o cigarro em sua mão.

— E você, a doença — rebateu Lass.

Lupus sorriu.

— Pelo menos não fracasso nisso.

Lass bufou, o que despertou uma certa curiosidade do caçador sobre sua situação atual.

— O que aconteceu, irmãozinho? Vamos, abra seu coração.

— O que você ganha sendo tão babaca, Lupus? — Lass soltou a pergunta no ar.

— Estou sendo honesto. Quero ajudar!

Lass chutou a neve que se acumulava em seus pés. Para afastar o frio que começava a congela-lo, vagou aleatoriamente. Enquanto isso, sentia o olhar de Lupus sobre ele.

Lass coçou a cabeça.

— Tem dias que o mundo está conspirando contra mim — ele disse, como um desabafo. — E eu não sei se as coisas acontecem por minha causa ou por causa das chamas.

— Você tem o maior poder do mundo em mãos e ainda reclama? — Lupus riu, desacreditado. — Sabe, você tá colocando a culpa na pessoa errada... ou nesse caso, na magia errada.

Lass parou de andar.

— Você fala como se fosse tão fácil — falou o ninja.

— Não estou dizendo que é fácil, estou dizendo que você está colocando toda a culpa apenas nisso. — Lupus assoprou a fumaça, sem mais sorriso ou tom debochado. — Você não foi o único portador das chamas, Lass.

É, ele sabia disso. Seu pai, ou como preferia chamar, Regis, tinha ficado com as chamas por um longo tempo, no mesmo período que encontrou a mãe de Lupus e a dele. As chamas, aparentemente, não foi um problema para ele. Porém, era preciso analisar os tipos de magia e selos que o caçador usava em seu próprio corpo. Lass não tinha nada disso; era ele e a própria sanidade como barreira para as chamas.

O que fazia se perguntar sobre a mãe de Elesis, a dona das chamas. Mas a existência de Elesis era a prova que ela tinha encontrado uma solução.

Todos, menos Lass.

— É, você é o problema, irmão — apontou Lupus, vendo a expressão culpada do ninja. — Ou você só é fraco mesmo.

Lass encarou emburrado.

— Eu sei controlar as chamas.

— Não parece — então ele voltou a sorriso. — Aliás, acho que as chamas te dão essa falsa sensação de controle. No fim, você está sendo controlado.

Levantando-se, Lupus ria. Mexer com o humor de Lass fazia parte da sua rotina diária.

— Olha, quer uma dica? — O caçador perguntou, enfim honesto. — Procure o velho do Regis. Ele vai saber o que te dizer.

Um desconforto tomou conta de Lass. Não sabia se odiava ou sentia repulsa por esse pensamento. Pedir ajuda a Regis? Logo ele?! Parecia improvável demais.

— Ou aprenda a controlar essa coisa dentro de você — Lupus o cutucou no peito. — A merda desse torneio tá chegando e todo os Conselhos vão tá por perto pra te fuder por qualquer deslize.

— Eu sei disso — resmungou Lass.

— Então apague a vela na sua cabeça.

Lupus então partiu. Confuso pela acusação, Lass moveu a cabeça e sentiu as chamas acesa sobre seu cabelo. Ele relaxou o corpo, controlando as emoções que se sobressaltavam.

Ainda estava molhado, algumas mechas pingando. Foi questão de tempo para isso acabar e uma fumaça subir de sua pele. Água evaporava, a neve a sua volta desaparecia. O ninja era um forno quente, cozinhando seus pensamentos.

Lupus podia estar certo. Ele era fraco, imaturo em relação às chamas.

E foi com essa indignação que Lass voltou para dentro, certo de si que mudaria isso.

***

Elesis vestiu a roupa de antes, que continuava aquecida do seu uso. O banho conseguiu tirar o estresse que a conversa com as chamas gerou. Só precisava dormir agora.

Mas antes de deixar o quarto, Lass chegou e fechou a porta. Ele se aproximou dela com passos determinados, imparável do que tivesse pensando.

— Vou pro meu quarto e... — Elesis não completou.

Lass a segurou pelo o rosto e a beijou. Intenso, faminto enquanto a pressionava contra a parede. Por um instante, a espadachim achou ser as chamas no controle do corpo dele, mas teve certeza que era Lass quando afastou o rosto e falou baixo:

— Me dá mais uma chance — ele pediu.

As mãos em seu rosto já estavam quentes. Por mais desesperado que o ninja parecesse, Elesis cedeu ao seu pedido. Levou suas mãos ao pescoço do mesmo e contornou até a sua nuca. Apesar do calor a machucar à certa temperatura, enquanto morna, ela gostava de sentir. Mas esse efeito apenas podia ser gerado pelo controle de Lass.

Aquele momento de silêncio entre eles, segundo antes de agirem, era bom. Uma calmaria antes da tempestade.

Elesis o beijou e um relâmpago atravessou seus corpos. Era uma questão de segundos para ambos ficarem agitados e quererem tirar a roupa um do outro. Elesis era sempre a primeira a tomar uma atitude, a jogar Lass para baixo e ficar por cima.

—  Eu acho que você não vai querer queimar outro colchão — disse a espadachim.

Lass não discordou, a puxou para o chão. Era o único lugar no cômodo que não entraria em combustão com seu contato. Mas ainda existia a espadachim como o principal objeto a ser queimado, e que não seria substituível como um colchão.

Elesis sentiu isso quando sua coxa foi segurada. Como um ferro de passar roupa. Ela se encolheu discretamente, mas isso não a fez se afastar de Lass. Não queria. Não se tratava de uma questão de pena, e sim oposta. Por todo o esforço que ele fazia em tentar controlar as chamas, ela queria ter o mesmo ao aguentar todas as queimaduras em seu corpo.

Elesis o amava. E se dores seriam resultado disso, ela estava disposta a sentir todas por Lass.

Exceto uma. Sem camisa, apenas usando o sutiã, Elesis fechou a cara quando as mãos do ninja encostaram nas suas costas, puxando-a para perto dele. O calor das palmas marcou sua pele. Ela ignorou. As mãos subiram e seguraram seus ombros. Também ignorou. Mas não conseguiu suportar quando Lass se colocou sobre si e segurou seus pulsos contra o chão.

Àquela altura, o calor tinha se tornado angustiante. Elesis poderia ter aguentado, se não fosse por aquela coisa dentro dela, aquela magia que funcionava como um vírus no seu corpo. Em contato com as chamas, ela se rebateu, tentando fugir.

Elesis se encolheu. A dor que sentia se multiplicou.

— Lass, para — ela pediu, rouca.

Ele não a ouviu. Então a espadachim se soltou sozinha, afastando o rapaz com um chute em seu peito. Lass caiu para trás e ela se arrastou para longe.

Fumaça flutuava sobre as partes queimadas do seu corpo. Marcas de mão por suas costas e braço, todas num intenso vermelho. Elesis manteve a cabeça baixa, recuperando forças para encarar Lass.

Quando se virou para ele, já sabia a feição que estaria fazendo. Ela o entendia. Só ficou surpresa pelas chamas acesas em volta dele.

— Elesis... — ele sussurrou.

Ela odiava ver aquela expressão de culpa.

— Eu sei — disse a espadachim. — Estou bem.

Lass fechou o rosto junto com os punhos.

— Desculpa — ele pediu.

— Não faça isso...

— Desculpa.

Lass se aproximou dela. As chamas diminuíram, desaparecendo junto à vida nos olhos do ninja. Sua proximidade exalou frieza.

— Desculpa — ele pediu novamente, abaixando a cabeça. — Eu sinto muito mesmo.

A cabeça de Lass abaixou até encostar a testa no chão. Elesis prendeu a respiração. Isso a machucava tanto que havia esquecido as queimaduras por seu corpo. Ela passou a mão pelos cabelos do rapaz, esperando ver seu rosto se desenterrar do chão.

— Não peça desculpas — ela disse.

— Desculpa.

***

Elesis se sentiu ameaçada pelos manequins de vestido. Sem uma espada, seus punhos eram as únicas armas para serem usadas em sua defesa.

Entretanto, a presença de Ronan impedia que ela tentasse qualquer ataque aos bonecos. Até porque, os vestidos eram a razão do seu desconforto.

— Pode me explicar por que estou aqui? — Perguntou a espadachim.

— Você não ouviu nada que eu falei no telefone? — Ronan olhou incrédulo.

Com sua feição sonolenta, Elesis negou. Ronan bufou, jogando os braços para o lado.

— Certo, escute agora então — ele falou. — Nesse sábado, estaremos fazendo um baile como iniciação do torneio. Todos os Conselhos estarão lá, principalmente seus campeões. — Ele pausou, esperando uma concordância dela. Elesis assentiu. — E você tem que estar lá também.

— É, entendi. Baile, Conselhos e pessoas pra eu chutar a bunda — comentava a mesma. Ao continuar, seu tom ganhou peso. — Mas o que isso tem a ver com essa loja de vestidos?

Naquela loja, Elesis se sentia extremamente desconfortável. Tanto pelos enfeites coloridos quanto pelos vestidos elegantes.

E também por Adel sentado no sofá, observando toda a conversa.

— Você não espera ir vestida assim para um baile, certo? — Perguntou Adel.

— Pra ser honesta, eu nem pretendia ir.

— Não! — Ronan gritou, então se calou. Um deslize momentâneo do seu estado mental diante toda a situação do torneio. — Não, você precisa ir bem, Elesis.

— Bem...? — Ela olhou desconfiada.

— Com um vestido, sim.

Ela tentou, mas não conseguiu conter a reprovação em seu olhar. Esperava ouvir tudo, menos aquilo. Ronan a ter pedido para ser sua campeã? Ok. Salvar o Lass dos Conselhos? Ok. Matar Cazeaje? Também ok.

Vestir um vestido? De jeito nenhum.

Antes que ela pudesse dar uma resposta, a atendente da loja voltou com algumas caixas de vestido.

— Pelas suas medidas, encontrei esses vestidos — dizia a jovem, animada. — Ficarão perfeitos em você.

Elesis olhou com nojo. Ronan a corrigiu com um tapa em seu braço.

— Vá vestir um! — Ele exigiu.

— Hã? Agora?!

— Agora, Elesis!

Emburrada como uma criança, ela pegou as caixas da atendente e se dirigiu ao provador. Entrou e fechou a cortina com uma furiosa puxada.

Adel soltou uma risada abafada.

— Não achei que fosse dar tanto trabalho assim — comentou o mesmo. — Edel também reclamou, mas encontrou um vestido que gostasse.

— Então ela vai ter que participar mesmo? — Ronan olhou decepcionado.

— É, os outros Conselhos querem minha participação — suspirou o líder. Por um segundo, sua aparência estruturada se desmontou para um cansaço que Ronan compartilhava. — Mas não levarei tão a sério. Edel só vai aparecer para representar Serdin.

— Entendo.

A cortina do provador abriu violentamente. A garota que saiu dele não aparentava ter metade da fúria que seus passos demonstravam. Ela parou diante o grande espelho da loja, encarando o próprio reflexo.

Ronan parou ao lado de Elesis, olhando-a pelo espelho.

— Ficou lindo — ele disse.

Elesis cruzou os braços sobre o vestido carmin. Justo no torso, sem alças, mas uma longa saia volumosa. Seu vermelho brilhava, encantador a cada movimento da ruiva. Uma personificação da própria espadachim.

— Pareço uma idiota — ela resmungou.

— Combina perfeitamente com você, Elesis — comentou Adel do sofá. — Além do mais, você não precisará lutar. Se quiser, fique descalça, ninguém verá seus pés mesmo.

Essas sugestões a faziam se sentir mais confortável. Ela avaliou em silêncio.

— E quanto ao cabelo? — Ronan a observava, pensativo.

O cabelo solto cobria os ombros nus. Apesar do corte curto, cobria uma boa parte de sua pele.

— Gosto dele solto — disse Elesis.

— É, mas se...

Ronan segurou parte do seu cabelo e levantou. Isso a congelou. Sem o cabelo por cima, as marcas de queimadura da noite passada ficavam expostas. Elesis sentiu a surpresa de Ronan por seu silêncio.

— Vou colocar outro — ela disse, afastando-se rapidamente.

Soltou-se de Ronan e foi direto para o provador. Ela se fechou no cubículo e soltou uma pesada respiração, logo se retirando da ridícula vestimenta que era aquele vestido. Não teve tempo de vestir outro, Ronan deu entrada no provador e tirou as dúvidas que o atormentava.

Elesis abraçou o próprio corpo, já que suas roupas de baixo não cobria muito dele. Com isso, as marcas apareciam por toda a pele. Era como um quadro manchado, seu único efeito sendo de desgosto no líder.

— Elesis... — Ronan sussurrou.

Ela não sabia o que seu semblante demonstrava. Angustia ou tristeza, algum dos dois.

— Não é o que você pensa — ela disse.

— Isso são queimaduras.

— Eu sei que são, mas eu posso explicar!

Ronan segurou o braço dela. A queimadura em forma de mão o horrorizava.

— Ele fez isso? — Sussurrou o rapaz.

— Não faça isso — ela sussurrou, ríspida.

— Elesis, seja honesta.

Em um movimento impulsivo, ela empurrou Ronan para fora do provador. Ele voou até o centro da loja. Elesis veio atrás, sem mais esconder seu corpo marcado. Nem mesmo se importou quando Adel percebeu as queimaduras e levantou do sofá.

— Não ouse, Ronan — rosnava a espadachim. — Não ouse acusa-lo disso!

— E o que você quer que eu faça?! — Ronan se sentou, tão irritado quanto ela. — Olha o que ele fez em você!

— Não fala o que você não sabe!

Ronan se levantou, apontando acusativamente. Ele não era mais o líder ou rei de Canaban, aquele era um amigo desesperado de preocupação.

— Ele usou as chamas em você! O Lass te queimou, Elesis!

— Ele não fez de propósito! — Ela berrou de volta, mais magoada do que irritada. — Você... Você não entende!

O rosto irritado do amigo distorceu. Ele tentava se acalmar, mas a indignação mexia com todo seu corpo.

— Elesis, olhe para você.

E ela se olhou. Pelo espelho da loja, ela viu as marcas em suas costas, pernas, ombros e braços. Pareciam dolorosas em seu reflexo, mas a dor que sentia não eram causadas pelas queimaduras.

— Pra vocês, tudo é tão simples — ela falou. — É por isso que vocês não entendem a gente.

— Do que você tá falando? — Perguntou Ronan.

— Você quer proteger o Lass dos outros Conselhos, mas você age como eles. — Elesis o encarou. — Você o ver da mesma forma.

— Eu não o vejo assim!

— Sim, você ver! Porque pra você é fácil abraçar, beijar e... — Elesis não conseguiu falar. Não por vergonha, mas ela também não sabia a razão. — Mas pra gente é difícil. Para o Lass, é!

Elesis notou sua postura nervosa. Ela se recompôs enquanto via suas palavras afetarem Ronan. Enfim, ele pensava por um outro lado e isso o machucava mais.

— Lass não me machucou — destacou Elesis. — Ele nunca conseguiria.

Ronan não tinha mais palavras. Ele não sabia o que dizer, qual posição tomar diante essa situação. Eles eram amigos e Elesis entendia toda sua preocupação, mas também odiava toda essa atitude com Lass. Ninguém tinha culpa, nem mesmo as chamas.

Ainda com o semblante sério, Elesis se aproximou de Ronan. Uma aura ameaçadora a contornava.

— Não fale disso com o Lass — pediu a espadachim. — Ele já se sente muito culpado e você só pioraria tudo.

— Não espere que eu fique calado.

— Fique calado ou você vai precisar de outro campeão para seu torneio idiota.

Elesis não desviou o olhar. Ronan não deixou de ficar surpreso com a firmeza da espadachim. Ela não era mais a pequena Elesis nervosa, era uma mulher que tinha um controle melhor do seu humor, conseguindo distorcer sua raiva em uma ameaça consistente. Ronan precisava dela e ela sabia disso.

— Bem... — Adel quebrou o silêncio, não suportando mais o clima pesado. — Aquele vestido ficou perfeito em você, Elesis. Use esse. Algumas queimaduras vão aparecer, mas podemos resolver com uma maquiagem. Tudo certo?

Elesis inspirou fundo, virando-se para o líder. Concordou.

— Vou me vestir então — ela disse, partindo para o provador.

Ronan passou a mão pelo cabelo.

— Depois você resolve isso — falou Adel. — Agora, você tem problemas maiores.

Ronan conseguia entender a razão da sua tia ter enlouquecido. Torcia para não ser uma maldição de família.

Dentro do provador, Elesis ainda não tinha se vestido. Suas mãos pressionadas contra a face abafavam os soluços. Levou mais alguns segundos para se recompor e limpar a face vermelha. O restante das lágrimas formas afastadas com agressivas passadas de mão.

Ela levou a mão para o ombro, cobrindo sua palma sobre a palma queimada em sua pele. Um leve aperto dos dedos, uma grande pontada de dor. Elesis se sentia melhor.

***

Lass achava o cereal colorido estúpido. Existia muita coisa na vida que considerava estúpido; ele era uma delas.

Largou a colher, sem mais apetite para o café da manhã. Ao contrário dele, Jin e Sieghart apreciavam seus pratos e mantinham a conversa em dia. A dupla estava muito radiante naquela manhã gelada.

— O que você acha, Lass? — Jin perguntou de boca cheia.

— Não sei do que vocês tão falando — foi honesto.

— O que te incomoda nessa manhã, querido Lass? — Perguntou Sieghart. — Você voltou de viagem, não precisa trabalhar e tem nossa respeitadíssima Elesis aos seus braços. Agora diga — pausa dramática —, o que foi?

Lass coçou a bochecha.

— Seu bigode.

— Para de falar do meu bigode!

Lass se recostou na cadeira e cruzou os braços. Por mais que tentasse, nada podia melhorar seu humor hoje. O sentimento de culpa prendia Lass de seguir em frente.

— Sabe... — mencionou Jin. — Você poderia conversar com o Sieg sobre isso.

A resposta do ninja foi imediata:

— Nem fodendo.

— O quê? — Sieghart olhou curioso para os dois. — Eu adoraria conversar sobre essa coisa.

Lass fechou a cara.

— Não é nada, esquece.

— Lass — Jin alongou seu nome, provocativo. Ele apontou com os olhos para Sieghart. — Tente, pelo menos.

A seriedade de Lass desviou para o amigo de bigode a sua frente. Ele sorria, aberto a qualquer assunto que ele tivesse. Relutante, assentiu com a cabeça com uma bufada.

— Então... — procurava por palavras para continuar.

Lass apoiou os braços na mesa, agitado demais enquanto procurava uma forma de explicar seu problema. Quando olhou Sieghart, e se focou no seu bigode, voltou a cruzar os braços.

— Não dá.

— Vai, eu não vou te julgar — disse Sieghart.

Mais uma tentativa. Lass se retorceu em seu lugar, levando mais tempo do que o necessário. Isso despertou uma pontada de incomodo em Jin.

— Ok, deixa eu preparar a conversa então! — Desabafou o ruivo. Ele se virou para Sieghart. — Entre Lass e eu, quem você acha que transa?

Aquilo não era uma preparação, era o centro da conversa, pensou Lass congelado. Sieghart mastigou uma colher do seu cereal antes de falar.

— Eu — disse simples assim.

 Jin bateu a mão na mesa.

— É sério!

— Ah, então é sobre isso o assunto? — Sieghart olhou risonho para Lass, que se encolheu. — Está com dúvidas, Lass? Vamos, eu posso explicar o que você quiser.

Lass não falou, sério demais para ceder à pergunta do rapaz.

— Você sabe que parece um pervertido falando disso com esse desastre de Calnat no seu rosto, certo? — Apontou o ninja.

— Para de chamar meu bigode de desastre de Calnat!

— Verdade — concordou Jin. — Isso é uma ofensa a Calnat.

O ruivo riu quando recebeu um soco no braço. Aparentemente, aquele era o ponto fraco de Sieghart.

Mas Lass continuava sério. Nada melhoraria seu humor.

— Vamos, tire suas dúvidas — recomendou Sieghart.

— Ok... — ele respirou fundo. — Você já perdeu o controle das suas chamas por isso?

— Hum, não exatamente — respondia, voltando a comer. — As chamas roxas são difíceis de invocar. É tipo mergulhar no cimento, você tem que se esforçar pra conseguir se mover. Então... é, eu nunca tive problema com isso.

— Comigo é o contrário — mencionou Jin. — As chamas douradas são muito leves, então nem lembro que existo.

Lass inclinou a cadeira para trás, pensativo. Cada chama tinha uma forma de funcionar, mas nenhuma se aproximaria das azuis. Não era simplesmente um poder, existia uma consciência que o tornava num mar de cimento e leveza ao mesmo tempo.

— O que acontece com você? — Perguntou Sieghart.

— As chamas queimam a Elesis — sussurrou, o bastante para apenas eles ouvirem. — Não me machucam, apenas ela.

Parou de balançar a cadeira. Sieghart tinha acabado seu café da manhã.

— Isso é uma merda — ele comentou. — E o que ela fala sobre isso?

Seu olhar pesou sobre as próprias mãos. Fechou os dedos, apertando os punhos.

— Que a culpa não é minha.

— Bem, não é sua culpa — destacou Sieghart.

— Como que não?

A conversa pausou com o levantar das mãos de Sieghart.

— Calma — ele pediu. — Aliás, você deve tá colocando a culpa no lugar errado. As chamas que a machucam, sim, mas o que faz as chamas fazerem isso?

Lupus disse o mesmo noite passada. Lass colocava todo o peso da culpa nas chamas, quando na verdade, ele é o responsável por elas. Tudo isso podia ser resultado da sua fraqueza, da falta de controle sobre essa magia tão poderosa.

Lass se encolheu na cadeira. A outra parte da culpa que colocava nas chamas pesaram sobre seus ombros.

— Ou... — Sieghart falou, dramaticamente. — Você não está preparado. Deve ser por isso que você perde o controle das chamas.

— Mas eu tô preparado — disse Lass, sério. — Há mais de dois anos.

— Não, você não tá.

Lass mexeu as mãos vazias, totalmente perdido da conversa. Sieghart não parecia brincar com o que dizia.

— Eu tô preparado — repetiu, confiante de si. — Eu quero isso.

— Não, você acha que tá. — Ele apontou. — Tem alguma coisa te impedindo aí dentro. Tenta descobrir o que é.

Lass bufou.

— Mas que papo de menininha — reclamou o ninja. — Eu quero a Elesis. Eu quero transar com ela.

Sieghart sorriu, debochado.

— Ótimo, fale isso para essa coisa te impedindo.

Outra bufada do rapaz. Lass jogou o corpo contra o apoio da cadeira. Fim de conversa, nenhum resultado positivo.

Jin soltou uma risada baixa.

— Lass, você tem que aceitar que talvez você nunca consiga.

O olhar emburrado do ninja se direcionou para o lutador, então se focou na entrada do refeitório. Aquela paleta de cores vivas só podia ser usada por uma única pessoa, que veio acompanhada da voz aguda da mesma.

 — Jin?

Jin se virou para a entrada. Suas sobrancelhas grossas arquearam, surpresas.

Amy abriu um longo sorriso, abrindo os braços.

— Amy! — Ele gritou ao se levantar, quase derrubando a cadeira; e quase derrubando sua tigela em Sieghart. — Você chegou!

Lass permaneceu inexpressivo, até a entrada de outra pessoa. Ele não conseguiu conter o sorriso.

Jin deu um passo para fora da mesa, mas a chegada de Azin aconteceu antes. Ele chegou ao lado de Amy, contornando seu braço pelos ombros da mesma. Isso fez Jin recuar um passo. Amy sorriu para Azin. Jin quase caiu sobre a mesa.

— Jin, você tem que aceitar que talvez você seja corno — disse Lass.

Jin ignorou o comentário ao avançar. Os punhos fechados não se moveram, a centímetros do rosto sorridente de Azin. A intromissão de Amy diminuiu a seriedade do ruivo.

— Não vai me dar um abraço? — A jovem perguntou.

Jin apontou para Azin.

— Por que ele chegou junto com você?

— Porque a Amy estava comigo em Terra de Prata — respondeu Azin, com um tom óbvio.

Jin paralisou em confusão. Aguardou por alguma negação de Amy, mas nada veio.

Toda a situação parecia bizarro mesmo distante, de onde Lass estava. Ele viu a passividade do amigo tomar conta dele. Pela primeira vez, Lass estava curioso para saber sobre o que eles conversavam.

Mas ignorou com a entrada de Elesis. Cabisbaixa, ela seguiu para a mesa onde as meninas estavam. Alguma coisa tinha acontecido e não era sobre a noite passada.

— Nossa, você é muito gado por ela.

Lass se voltou para Sieghart, que agora terminava o café da manhã de Jin.

— Eu só... tô preocupado — murmurou o ninja, tímido de admitir.

— Sabe, vai ser estranho isso sair de mim — apontou Sieghart de boca cheia. — Mas você trata muito a Elesis como uma coitada.

— Não a trato assim.

— O que estou dizendo é: você se acha mais forte que ela — ele acusou com uma colher. — Claro, você tem as chamas e tal, mas o meu ponto é... — tomou o restante do café, soltando uma abafada expiração — você acha que a Elesis não consegue suportar as coisas.

Lass soltou uma risada nervosa, negando.

— Não, eu não—

— Você se acha muito mais forte que ela, tanto que você está sempre se culpando e... — Sieghart arrotou, continuando em sequência. — Achando que você é o problema das coisas. E na real, não é.

Lass estava preparado para rebater, dizer quão absurdo aquilo parecia, principalmente saindo dele. Mas ele se impediu. Saiu uma palavra e parou imediatamente, como um engasgo silencioso.

Lass olhou Sieghart de outra forma. Mais compreensível.

— Você não quer machuca-la, eu entendi — continuou o mesmo. — Mas você também está tirando o poder de decisão dela. É a Elesis quem decidi se isso a machucou ou não.

Mais silêncio. Era como se uma peça nova tivesse se encaixado em seu quebra-cabeça incompleto. Agora ele procurava por mais para preencher.

— Uau — Sieghart disse, orgulhoso de si. — Estou muito feminista hoje.

— Eu entendi seu argumento, mas essa decisão, de ela escolher o que a deve machucar ou não, é estranha — dizia Lass. — É dor de qualquer jeito. Eu não quero que ela sinta.

— Olha, não te dói ver ela agora, distante de você? — Uma pergunta séria.

Lass assentiu.

— E você não está aguentando isso em respeito a ela?

Lass assentiu. Então paralisou por completo, logo negando furiosamente.

— Não, isso é diferente das chamas. Essa é uma dor tolerável!

— E aí está você achando que a Elesis não pode aguentar isso.

Toda aquela conversa com Sieghart pareceu uma luta de boxe. Ele preparava um soco, dava e acertava o vazio. Em seguida, Sieghart retrucava com um ataque mais forte, mas não o bastante para ser um knock out.

Esse último soco foi um knock out. Lass tentou se manter de pé, mas caiu para trás.

Era verdade. Ele nunca considerou Elesis forte para aguentar as dores das chamas, mesmo ela sendo a verdadeira dona. Noite passada foi a única noite que ele se deixou acreditar que ela poderia suportar as dores por ele. Entretanto, nada deu certo e ele voltava a se culpar e ver Elesis como uma garota frágil.

“Você é um fardo.”

Lass se contorceu na cadeira, levantando-se bruscamente.

— Valeu pela conversa, Sieg — agradeceu Lass antes de partir.

Lass passou por Jin. A confusão entre ele e Azin continuava. O ninja não se importava, contudo. Seguiu para fora do refeitório, e no momento que pisou no corredor, seu celular tocou e ele atendeu.

Péssima hora.

***

Ronan tirou o paletó e sua camisa azul, entregando as peças à assistente.

Lass não ousou abrir a boca durante a experimentação de roupas do líder, em sua sala no Conselho. Tantos lugares, Ronan decidiu fazer aquilo no seu trabalho.

— Odeio isso — desabafou o líder.

— Acredite, eu odeio mais — disse Lass, segurando o nervosismo.

— Eu não te chamei aqui por isso, ok?

— Que bom que você falou, eu achava que era por isso.

Ronan lançou um olhar emburrado e Lass um sorriso implicante. Enquanto a assistente chegava com mais peças, o ninja perambulava pela sala. A todo momento, ele encontrava algo novo nas prateleiras.

— Gostei desse — comentou Ronan com sua assistente. Ele arrumou as mangas da camisa. — Só está apertado. Pode conseguir um tamanho maior?

A jovem assentiu e pegou o restante das peças, deixando a sala. Ronan procurou por sua camisa sobre a bagunça da mesa, então se frustrou e colocou a jaqueta em volta dos ombros.

Enfim, Lass tinha a atenção do líder.

— O que você quer? — Foi direto.

— Não sou eu que quero, mas o Conselho. Te chamei aqui por causa do torneio.

Lass voltou para seu lugar na cadeira.

— Ah, esse estúpido torneio. — Ele jogou a cabeça para trás. — O que querem de mim? Vou ser seu prêmio, é isso?

Sem uma resposta, Lass se ajeitou na cadeira. Ronan arrumava a mesa, cabeça baixa e olhar desatento. O ninja deu um chute no móvel.

— Estou ouvindo — disse Ronan. — Voltando ao que eu falava, o torneio está se aproximando e os líderes já estão na cidade.

Uma pressão pressionou Lass contra a cadeira. Uma sensação gelada que arrepiava os pelos dos seus braços.

— E onde eles se hospedaram? — Questionou o ninja.

— Alguns estão no meu castelo, mas outros preferiram alugar uma casa para ficar — suspirou. — Não sou muito adorado.

— Não me diga.

— Enfim, vou te pedir algumas coisas. — Ronan tomou outra postura, ganhando a seriedade de um líder. — Sábado vai ter um baile, festa, chame do que quiser. Você não pode aparecer, entendeu?

A frieza que mexia com o corpo de Lass diminuiu com a notícia. Ele fez uma cara de desentendido.

— Eu não participaria nem se você pedisse — falou o ninja.

— Estou falando sério, você não pode aparecer! Os líderes sabem que você está sob minha guarda, mas eles não querem te ver, pode ser... — ele procurou pela palavra — problemático.

E qual era a surpresa disso? Ele era o cachorro que os líderes cutucavam com gravetos e esperavam não ser queimados por isso. Tinham medo de vê-lo sem coleira, solto para tomar qualquer atitude que quisesse. Sob a guarda de Ronan, era isso que Lass representava para os demais líderes.

— Vou ficar longe da sua festinha, se é isso que quer ouvir.

— E também, nada de chamas.

Lass arqueou uma sobrancelha.

— Não chame a atenção — corrigiu-se. — Você terá que se manter discreto durante a estadia deles na cidade. Não arrume confusão ou derrube um dragão nos prédios, ok?

Aparentemente, Ronan não tinha superado sua chegada. De qualquer jeito, Lass assentiu, levantando-se da cadeira.

— Não se preocupe, Jin e eu temos o final de semana reservado para filmes de romance — forçou um sorriso, balançando as mãos em animação. — Vai ser incrível! Você nem vai se lembrar de mim.

Ronan não esboçou um sorriso, totalmente sério em relação à situação. Lass também perdeu o humor.

— Olha, eu tô fazendo o que você pediu. O que você quer mais?

Ronan tentou esconder o que o incomodava, mas era impossível não notar. A longa bufada do ninja o forçou a falar.

— Sobre sua relação com a Elesis — ele mencionou.

Lass revirou os olhos, afastando-se.

— Os outros líderes não podem saber!

— Jura?! — Fingiu a surpresa.

— Estou falando sério!

Uma bufada foi sua resposta. Esperou por mais ordens de Ronan, porém ele se manteve calado, segurando o que tanto incomodava. Lass sabia que ele evitava algo.

Quando tentou o forçar, Ronan apontou para sua katana.

— E deixe a katana comigo. Te devolvo semana que vem.

— O quê?! E se algo acontecer comigo?

— Tenho certeza que você dará um jeito.

Ronan estendeu a mão aberta. Aquele era um pedido cretino de se fazer para ele. Sem sua katana, o que restava eram as chamas, o que estavam proibidas. Isso deixava Lass com as mãos atadas.

Sem escolha, ele deu a katana na mão de Ronan.

— Se eu morrer, a culpa é sua — disse Lass.

— Morte é a última coisa que espero de você, Lass.

O ninja se dirigiu à saída. Abriu a porta e quando a atravessou, olhou uma última vez para dentro. Ronan deixava sua katana sobre a mesa enquanto retirava a jaqueta dos ombros. Ele se virou de lado para pegar sua camisa, revelando parte das costas tatuada.

Aquilo era novo. Mas Lass não se importou o suficiente para ficar e entender o que era.

***

Os dias até o final de semana foram solitários. Lass tentou de tudo para suprir essa necessidade companhia, seja ela atrativa por Elesis ou uma simples companhia de Jin. Os dois anos isolados de tudo isso transformaram o ninja num grande dependente de interação social; o que parecia uma piada vinda dele. Mas não era.

Ficar sozinho significava silêncio, e silêncio significava oportunidade para as chamas falarem. Contudo, as chamas também estavam silenciosas naquela semana. Estranhamente quietas.

— Como que a Amy conseguiu passar dois meses com o Azin em Terra de Prata e não me contar? — Indagava Jin diante o espelho do quarto.

O ruivo não parou de se perguntar enquanto fazia um nó torto em sua gravata borboleta.

— Ela é minha namorada, ele é meu inimigo! E-eu tinha o direito de saber, entende?

Lass se deitou na cama, encarando o teto. As reclamações duravam desde àquele dia.

— Ela não te traiu com o Azin, cara — falou Lass.

— Mas o Azin deve ter feito algo! É o Azin, Lass! Ele faz coisas assim.

O ninja revirou os olhos.

— Esquece isso — pediu Lass, sentando-se. — E me diga por que você está colocando um smoke.

Jin terminou o nó da gravata, muito torta, e se virou para Lass.

— Amy foi chamada para o baile e pediu para eu ir de acompanhante.

— A Amy foi chamada? — Lass não entendia. — Logo ela?

— Ela deve cantar, sei lá! Eu não perguntei a ela.

O fato de Jin estar se arrumando formalmente já o deixava ansioso demais. Lass conseguia sentir o nervosismo do amigo para ir a uma festa elegante como essa. Por todas suas reações enquanto se arrumava diante o espelho, o lutador tinha noção das pessoas que encontraria por lá.

Principalmente na ausência de Lass.

— Tem certeza que você não pode ir? — Jin perguntou, um grito de desespero. — Você vai ficar sozinho aqui.

— Não exatamente. Eu devo sair com a Elesis.

Lass saiu do quarto e Jin veio atrás, terminando de amarrar o cadarço do sapato, igualmente elegante.

— Hum, um encontro — cantarolou o ruivo. — Deixe eu adivinhar? Na sua cama.

Lass ficava feliz pelo corredor estar vazio, sem pessoas presentes para ouvir o deboche do lutador.

— Quantos anos você tem? — Disparou o ninja. — Doze?

— O dobro da idade do Sieghart, isso eu posso afirmar. Já tentou dormir no mesmo quarto que ele? É um pesadelo...

Uma risada escapou do ninja. Ele conseguia imaginar essa situação.

O sorriso morreu na feição de Lass. Avistar Lire metros adiante não era um bom sinal, muito menos quando ela estava vestida formalmente como Jin, pronta para um baile com os líderes dos Conselhos.

Ela notou eles, uma expressão séria sendo voltada para o ninja de forma automática.

— Vejo que não estarei sozinho — disse Jin, animadamente. — Está muito bonita, Lire.

A seriedade da elfa se quebrou com seu sorriso para o ruivo.

— Obrigada. Mas creio que Elesis esteja mais.

Tempo foi necessário para Lass entender que Lire se referiu a espadachim e que ela estava vestida formalmente como ela.

— Quê? — A palavra saiu engasgada do ninja.

— Sim, a Elesis está usando um vestido — dizia Lire. — Eu sei que é raro—

— Não, não, não — Lass a interrompeu, agitado. — Elesis vai para o baile?!

Incomodada com o nervosismo do ninja, Lire assentiu. Isso o deixou em mais pânico.

— Cadê ela?!

— No quarto—

Lass saiu disparado. Ouviu as reclamações de Lire e ignorou todas. Sua mente se agitava com os pensamentos da espadachim ir a um lugar que ele não era permitido. Não fazia sentido ela ir, afinal. Elesis odeia festas, vestidos e fingir simpatia, principalmente na presença dos líderes.

Foi com esses pensamentos que Lass entrou no quarto dela. Mas paralisou.

Elesis estava encolhida no centro do mar vermelho que era seu longo e volumoso vestido. Ela tentava arrumar a saia diante o espelho. Eram tentativas frustradas. Então ela o notou pelo reflexo do espelho e se virou, dando mais vida à vestimenta.

Lass conseguia reconhecer Elesis sob as camadas de maquiagem e cabelo com falsas ondas. Apesar de tudo, ainda era a Elesis de semblante irritado, reconhecível para o ninja.

— Você está muito bonita — escapou de Lass.

Elesis não demonstrou nenhum sinal de vergonha.

— O que você quer? — Ela perguntou.

— Eu... — ele esqueceu, retomando a seriedade aos poucos. — Você vai para aquele estúpido baile?!

Elesis se voltou para o espelho, em resposta à pergunta do ninja. Lass se aproximou, mais nervoso.

— Quando você pretendia me contar?

— É só um baile, Lass. Nada demais.

— E o que você vai fazer lá? Você não gosta de bailes!

Elesis continuou a se arrumar. Isso o deixou irritado. Lass entrou na frente do espelho, braços cruzados.

Elesis suspirou.

— Você querendo ou não, eu vou estar indo — ela disse. — Eu preciso ir.

— Por quê?

Mesmo bonita e coberta de elegância, a espadachim não conseguia esconder seu jeito bruto. Os punhos se fecharam, contendo uma raiva explosiva.

— Eu sou a campeã do Ronan.

— Campeã? Desde quando?

— Importa?

Aquela era uma conversa complicada e Lass não estava conseguindo manter o controle. Elesis ignorou sua expressão perdida e foi se sentar na cama. Sob a longa saia do vestido, ela colocava sapatos básicos, o oposto do seu vestido charmoso.

— E você também não pretendia me contar isso — mencionou Lass. — Elesis, que droga é essa? Campeã do Ronan?

— Sim, eu vou ser campeã dele!

— Mas por quê?!

— Porque eu quis! — gritou furiosa. — Eu quero ajudar ele nisso. Qual é o problema?

Lass se colocou na frente dela, esperando pela total atenção da espadachim nele. Ela o fitou. Um olhar letal.

— Você está participando desse circo dos Conselhos, esse é o meu problema — contou o ninja. — Eu não vejo razão para você estar no meio disso.

Elesis apertou firme o nó do cadarço, batendo o pé no chão. Seu suspiro exalava cansaço.

— Eu quero ajudar o Ronan nisso, ok? Ele precisa de alguém forte pra esse torneio, então decidi ser essa pessoa pra ele.

— E você está fazendo isso pelo Ronan ou por orgulho próprio?

Ele passou do limite, tinha noção disso, mas não vacilou diante a seriedade da espadachim. Ela se levantou, deixando a saia cobrir seus sapatos gastos.

— O que você quer que eu diga? — indagou Lass, sem mais alternativas. — É óbvio que eu não vou ficar feliz com isso.

Elesis o empurrou ao passar por ele.

— Que tal não falar nada? — ela sugeriu.

Uma última olhada no espelho e a espadachim deixou o quarto. Lass a acompanhou.

— Elesis, pelas Deusas!

Então, ele a segurou pelo braço. A reação de Elesis foi se afastar imediatamente de seu toque, encolhendo-se de dor.

Somente assim, o ninja lembrou das queimaduras da mesma, e como não estavam presentes na sua pele. Provavelmente alguma maquiagem para cobrir.

— Elesis, seu casaco!

Lire se aproximou com o casaco da espadachim. Jin chegou logo atrás.

— Vamos indo — disse Elesis, liderando o caminho com sua saia que se arrastava pelo chão.

Lire não se opôs, acompanhou a amiga.

— A gente se vê depois — despediu-se Jin.

Lass deu um sutil aceno para o ruivo. Não saiu do lugar, preso na vista da espadachim partindo à distância. Em nenhum momento, ela se virou para o olhar uma última.

Quando estava disposto a consertar as coisas, algum acontecimento externo interferia no relacionamento deles. Lass se sentia completamente desgastado.

Eram os Conselhos.

Eram as chamas.

Eram seus sentimentos por Elesis.

E a própria Elesis.

***

A culpa corroía Elesis por dentro.

Ela tomou a taça de champanhe e esperou pelo efeito do álcool a anestesiar desse sentimento amargo. Quando um garçom segurando uma bandeja com bebidas passou por ela, pegou mais uma.

— Elesis, por favor — o sussurro veio de trás.

A voz de Ronan pôde ser escutada em meio aos sons do salão elegante. Tantas luzes e brilhos, combinando com pessoas com o mesmo estilo. Ronan era uma dessas pessoas, vestido com tantos ornamentos e um cabelo preso que o fazia parecer são mentalmente.

— Preciso de você sóbria — disse Ronan, tirando a taça da espadachim.

— Não sei o que fazer perto de tanta gente — admitiu Elesis. — Os líderes não param de me olhar.

Ronan sorriu e acenou para um convidado.

— Eu sei, mas você não é a única.

O sorriso do líder desapareceu quando ele se voltou para ela.

— Lass sabe que eu sou sua campeã e não gostou nada disso — sussurrou Elesis.

— Não me diga que você contou—

— Não contei sobre ele ser o prêmio — cortou a mesma. — Não sou louca a esse ponto. Mas essa é a pior parte: não contar pra ele.

Se Lass soubesse disso, ele derrubaria os Conselhos, inclusive Ronan, com as chamas azuis. Porém, no fim de tudo aquilo, ele descobriria e Elesis torcia por sua vitória para ser ela própria a contar. Ela tinha muitos motivos para não perder.

— Estamos nessa juntos — lembrou Ronan. — Estou aqui para te dar todo o apoio.

— Então me explique por que a Edel está aqui — falou nervosamente.

A espadachim encarou a capitã do outro lado do salão. Elesis estava bonita, mas Edel tinha nascido com tudo aquilo. O vestido pertencia a ela, o penteado preso e a maquiagem eram detalhes que pareciam naturais na mesma. Isso deixava Elesis puta.

— Aparentemente, os outros Conselhos pediram pela participação de Serdin — explicava Ronan. — Mesmo não tendo interesse no prêmio, ele era obrigado a participar. Então, é, Edel está como campeã.

Elesis soltou um estridente estalo com a língua. Por mais que Edel não levasse a séria o torneio, entrar em uma luta contra ela não seria nada agradável.

— E quanto aos outros campeões? — sussurrou a espadachim. — Me apresente.

Ronan se aproximou, parecendo terem uma conversa casual.

— Arquimidia e Áton não chegaram ainda — dizia o rapaz enquanto olhava em volta. — Mas devo dizer que você terá adversários conhecidos?

— Como quem?

Ronan coçou a bochecha.

— Já se perguntou por que Azin e Amy estão aqui?

Elesis olhou sobre o ombro dele. Como Edel, Amy parecia pertencer a todo aquele luxo, expressado por seu vestido rosa intenso, extravagante como a personalidade dela. Jin estava ao lado dela, o mais simples dos rapazes. Azin era uma mistura dos dois. Sua roupa clara era agradável aos olhares de todos, sua elegância mais presente em seu movimento e sorriso.

— Eu não tinha parado pra pensar — Elesis respondeu.

— Azin está representando Terra de Prata e Amy, Xênia.

Elesis não ficou tão surpresa. Ambos eram fortes guerreiros. Amy tinha sua aparência e jeito delicado, mas quando em combate, seu poder de ataque se igualava ao de uma deusa.

— Por que Jin não foi chamado para representar Terra de Prata?

— Não sei, talvez ele tenha recusado. — Silêncio. — Quer que eu fale com eles sobre o prêmio? Isso diminuiria seu trabalho.

— Não — disse imediatamente. — Eu posso vencê-los.

Não importava se eram amigos, Elesis trataria todos como iguais. E venceria todos igualmente.

— Quanto ao campeão de Ellia, é aquele cara — Ronan apontou com a cabeça.

O garoto de aparência simples era rodeado por outros convidados. Não parecia ameaçador, nem fraco; essa ambiguidade incomodava Elesis.

— Vocês estão aí!

Elesis e Ronan não se afastaram com a aproximação de Arme. O relacionamento deles transbordava confiança até mesmo para a maga.

— Eu estava apresentando os adversários da Elesis — disse Ronan.

Arme assentiu. O longo cabelo solto combinava com o grande vestido. Sua formalidade era diferente, notou Elesis. Ela só entendeu quando a maga se colocou do lado de Ronan.

Suas roupas combinavam. Um rei e uma rainha. Elesis sorriu diante essa visão.

— Adel está procurando por você — contou Arme para Ronan.

— Obrigado por avisar. Elesis — ele a encarou —, já sabe.

— É, é, é — ela falou preguiçosamente. — Sei cuidar de mim mesma.

Ronan e Arme se afastaram. A espadachim observou a ida do casal, tão próximos e sorridentes. Ela tomou um gole do champanhe. Era esse tipo de relacionamento que ela desejava com Lass, calma e sem brigas e problemas que eles sempre tinham.

Ainda observando o casal, Elesis viu as mãos de Ronan e Arme se segurarem. Um aperto forte, cheio de compaixão.

Elesis também desejava isso.

***

 — Eu não sei mais o que tô fazendo de errado — desabafou Lass.

Ele tomou mais um gole da caneca de cerveja. Seu rosto pálido começava a ganhar um tom corado, mas ainda estava consciente de tudo a sua volta. Após Elesis e Jin o deixar na escola, Sieghart o convidou para um restaurante de ramen. Sem nada para fazer, aceitou, logo descobrindo a presença de Dio e Mari nessa saída.

No balcão do restaurante, Lass descansou a testa.

— Vai com calma na bebida, meu amigo — disse Sieghart, sentado na sua direita. — Vai por mim, isso não vai te ajudar muito.

— Isso é verdade — concordou Mari, na esquerda. — A bebida com álcool dificulta seu raciocínio.

— Deixa ele — se opôs Dio, ao lado de Sieghart. Como Mari, ele apenas estava ali pela comida.

Lass ergueu a cabeça.

— Vocês conseguem entender meu lado, certo?

Olhou para o trio.

— Eu não sou o único a achar essa decisão da Elesis errada, ou sou?

— Bem, o torneio não se leva muito a sério — dizia Mari. — É apenas entretenimento. Creio que a participação da Elesis não seja relevante.

Lass ainda se perguntava como Mari foi parar no meio disso. Raramente saía de seu quarto, mas lá estava ela com eles.

— Por que você se importa tanto com isso? — questionou Dio.

— Bem, eu odeio o Conselho, acho que isso já é um bom motivo.

E Elesis também. Eles dois tinham presenciado as atitudes dos líderes sobre ele e as chamas. Lass nada mais era que um objeto, um animal pronto para ser abatido ou preso na coleira mais curta do mundo.

— Talvez isso seja bom — disse Sieghart. — Já parou para pensar na Elesis ganhando esse torneio? Seria incrível.

— Seria um pesadelo — falou Lass. — Ela já é orgulhosa demais, imagina ganhando um torneio?

— Se ela ganhar — lembrou Dio. — Elesis é forte, mas sem as outras chamas ela está em grande desvantagem.

— Melhor. Assim ela não se mata de tanto treinar.

Embora a espadachim esteja na sua melhor forma apenas com as chamas vermelhas. Dois anos a fizeram ser criativa com o único poder restante.

Então outro copo de cerveja é entregue a Lass.

— Eu não pedi por mais — ele disse.

— Isso é uma cortesia daquele homem — apontou o bartender.

Lass se apoiou no balcão para ver o homem. Na extremidade, Regis ergueu uma mão em aceno para ele. Isso fez o sangue de Lass gelar e esquentar ao mesmo tempo.

— Já volto.

Pegou sua caneca de cerveja e se dirigiu a Regis. Quando perto, viu a aparência do haro, como se não tivesse envelhecido. O cabelo castanho não possuía um sequer fio grisalho.

Lass se sentou ao lado dele.

— Como me achou?

— Recebi uma chamada de um certo alguém — dizia Regis. — Ele disse que você precisava da minha ajuda com uma coisa.

Lass bufou, sabendo a quem ele se referia. Com tantas pessoas naquele mundo, Regis não era uma delas que ele pretendia pedir conselho.

— Não tem nada para fazer? — indagou o ninja. — Você tá sempre tão ocupado.

— Bem, eu estava procurando uma desculpa para ver o torneio, então... — Ele tomou em um gole a bebida de cor rosa. — Então, sobre o que você queria saber?

— Está perdendo tempo comigo, Regis — resmungou Lass. — Aposto que seu outro filho tem mais interesse em você do que eu.

Regis riu, inabalado pelo mau humor do mesmo.

— É sobre as chamas, não é? — O silêncio de Lass o fez sorrir. — Eu imaginava. Vamos, fale. Quanto mais cedo falar, mais cedo te deixarei em paz.

Lass coçou a cabeça. Nervosismo crescia por cada parte do seu corpo e se manifestava de maneiras diferentes. Sua cabeça coçava, sua barriga congelava e seu rosto pegava fogo. Era uma festa de sensações ansiosas.

Regis deu uma leve cotovelada nele. Lass suspirou.

— Quando você conheceu minha mãe, e a mãe do Lupus, você... tinha as chamas?

— Antes de conhecer a mãe do Lupus, eu já tinha as chamas no meu corpo. Por quê?

— Então... — Ele não fazia ideia de como diria aquilo. Talvez fosse o nervosismo ou o efeito da bebida. — Como... como você conseguia ficar com elas com as chamas?

Regis o olhou. Esse momento de silêncio fez Lass suar frio sob o olhar do haro.

— Ah, você está falando de sexo — notou Regis, surpreso.

Lass se encolheu, tomando grandes goles da bebida. Isso fez Regis rir.

— Entendi sua dúvida agora — dizia o caçador. — E a resposta é não. Nunca me atrapalhou em nada, até porque, eu usava selos no meu corpo. Tudo que eu precisava fazer era não deixar meu corpo fraco.

Não era exatamente o que Lass queria ouvir. Até o momento, ele era o único portador das chamas a ter problema nesse quesito.

— O que acontece com você? — Regis olhou curioso.

— Eu perco o controle das chamas — falou de cabeça baixa. — Não me queimam, mas a Elesis, sim.

— Hum, que curioso.

Lass concordou.

— Você perde o controle das chamas em outros momentos, fora esses?

— Não, geralmente eu tenho o controle em outros momentos, mas quando eu vou... — Ele se sentia tão envergonhado. — Eu não sei, eu me sinto muito fraco. É culpa minha?

Regis pediu por outra bebida enquanto pensava. Nem mesmo o antigo dono das chamas tinha uma resposta na língua para aquela situação. Lass se sentia como um esquisito, aquela pessoa especial que todo mundo trata com um jeito diferente.

— Acho que isso acontece por causa do seu tipo — respondeu Regis ao receber outra bebida. — Você não é um haro, nem humano. Você é um híbrido.

— E isso muda alguma coisa? — perguntou apreensivo.

— Um híbrido tem um corpo mais forte e também tem o fato de você ter crescido com as chamas. As chamas não é uma parte extra do seu corpo, ela faz parte do seu corpo.

Isso fazia sentido. Lass encarou a caneca de cerveja pela metade. Em nenhum momento, ele pensou nas chamas como um ser a parte; sempre esteve junto com ele. É como Elesis com as chamas vermelhas. Seu poder era parte dela, como um membro do corpo.

As chamas azuis também era um membro, porém poderoso e com vida própria. Essa era a diferença.

— Então, eu nunca vou ter controle das chamas?

— Eu não acho que você deva ver desse jeito — Regis foi honesto. — As chamas não apenas queimam, elas também curam. Tem outras utilidades.

Isso chamou a atenção do ninja.

— Acho que você deveria usar as chamas no... — Regis gesticulou. — Você sabe. Mas usar sabendo o efeito que você quer gerar.

— Hum.

Foi tudo que Lass disse, um resmungo incompreensível. Sempre quando estava com Elesis, as chamas eram jogadas de lado. Esse conselho poderia mesmo ajudar Lass.

Um caminho novo para ser explorado.

— Falando na ruiva, cadê ela? — Regis olhou em volta.

— Ela está participando do torneio — resmungou Lass.

Regis se engasgou com a bebida. Surpreso, ele sorriu.

— Essa garota não para nunca! Vou estar torcendo por ela.

Todos estavam torcendo por Elesis, menos Lass. Ele se levantou da cadeira, sem mais motivo para estar perto do seu pai.

Antes de voltar para seus amigos, Lass sentiu algo. Era uma sensação muito ambígua.

— Está sentindo esse cheiro? — Regis perguntou.

Seu pai estava sério, atento a sua volta. Lass concordou, em seguida, o chamado de Dio os tirou do lugar.

— Tem alguma coisa se aproximando — gritou o asmodiano.

Sieghart e Mari saíram do restaurante. Sem entender, Lass deixou o estabelecimento ao lado de Regis.

Todo o calor do interior desapareceu com a rajada de vento da noite. A rua estava vazia, um silêncio absoluto. Lass deu alguns passos adiante, a vista do céu mais ampla. Assim viu dois pontos pretos se moverem no alto.

— Mais dragões — disse Dio. — O mesmo que você trouxe pra cidade, Lass.

— São de Elyos — falou Regis. — Não eram pra estarem aqui.

— Mas estão.

Os pontos pretos começaram a se aproximarem, cada vez mais rápidos. Enfim, as aparências das criaturas se revelaram sob as luzes da rua. Os dois dragões negros voavam lado a lado em uma velocidade assustadora.

Eles colocaram os braços na frente quando os dragões passaram. O vento de suas asas mais a velocidade arrastou tudo que havia pelo caminho. Mari tentou se manter de pé, mas caiu, sem forças. Sieghart a segurou pelo braço, mantendo-a próxima até não restar mais vento.

— Ok — disse Regis. Levou sua mão para o lado e uma espingarda se materializou. — Hora de caçar.

Não se opuseram à decisão do caçador.

No fim da rua, um dos dragões voou para o alto, girando em direção a eles. Sieghart tirou sua espada da bainha, Dio criou sua foice do ar.

— Dio, Sieg — chamou Lass. — Vão atrás do outro. Não sabemos o alvo dele.

— Pode deixar — confirmou Sieghart. — Dio, uma carona.

O asmodiano bufou. As costas do seu casaco rasgaram com a saída das asas. As bateu, ganhando altura pelo ar. Ele esticou a mão e Sieghart a segurou com firmeza.

Mesmo com o peso do amigo, Dio voou em alta velocidade atrás do dragão, passando pelo outro. Esse dragão os ignorou e seguiu direto na direção de Lass, Regis e Mari.

— Regis, você não precisa ficar — falou o ninja.

— E perder mercadoria? — Ele tirou do bolso uma granada. — Não, obrigado.

Regis arremessou a granada e mirou a espingarda. Apenas disparou quando dragão estava próximo. A explosão o acertou por baixo, tirando seu equilíbrio, que o levou ao chão.

A criatura se arrastou pela rua, quase os acertando. A explosão não foi o bastante para derrubar o dragão de vez. Ele balançou a cabeça, atordoado, voltando-se para o grupo.

Lass levou sua mão à cintura. Sem uma katana, sem nenhuma arma para usar no dragão que se levantava. Maldito seja Ronan, deixando-o assim naquela situação.

O dragão se mexeu e avançou. Lass recuou, dando espaço para a magia de Mari. Uma corda elétrica contornou o corpo da criatura e apertou, derrubando-o de lado. Lass se virou para ela, vendo-a segurar um livro aberto.

— Podia ter feito isso antes — disse Lass.

— Eu preciso me preparar antes — ela respondeu, naturalmente.

O dragão rugiu, então se debateu para os lados. Uma corda se arrebentou, logo outra. Mari e Regis deram passos à frente, armados contra o ser. Lass engoliu seco. Perguntava-se para onde tinha ido o outro dragão.

***

Elesis observava a rua pela janela do salão. Algumas pessoas passeavam, olhavam para o castelo e seguiam em frente. Ela queria estar do lado de fora, longe das pessoas a sua volta. Todo o ambiente formal a sufocava como o vestido que usava. Não via a hora de tira-lo.

— Ah, você é a Elesis!

O rapaz de longo sorriso parou ao lado dela. Como todos os outros, usava uma roupa formal cinza como seu cabelo ondulado. Ele emanava uma aura radiante, porém pesada. Elesis não soube como reagir.

— Você é a campeã de Canaban, certo? — ele perguntou.

— Sim, sou eu — assentiu, sorrindo com uma simpatia falsa.

— Eu ouvi tanto sobre você! — ele falava e seus olhos azuis brilhavam. — Nossa, é tão bom te conhecer pessoalmente.

O rapaz coçou a nuca, tímido após tudo que disse.

— Sobre o que você ouviu? — Elesis perguntou, nervosa.

— Bem, você é a última Cavaleira Vermelha, enfrentou Cazeaje e Gerard.

Elesis fez de tudo para seu sorriso não desmanchar. Por todas as vezes que esperava ganhar crédito pela morte de Cazeaje, não era dessa forma que ela queria. o desconhecido parecia um fã como a olhava.

— Você é muito forte! — ele completou. — Será um prazer lutar contra você no torneio.

— Ah — ela olhou surpresa. — Você vai participar?

— Sim, sim. Desculpe pela minha falta de educação. — Ele estendeu a mão. — Sou Pino, campeão de Arquimidia.

Agora Elesis conseguia entender de onde vinha aquela estranha sensação. A aparência frágil de Pino escondia um grande potencial. Disfarçando esse pensamento, ela apertou a mão dele.

— Nos vemos na arena — disse a espadachim.

— Nos vemos lá!

Pino é chamado, despedindo-se dela. Elesis observou seu adversário partir e outro chamar sua atenção. Ela era rodeada por convidados, todos encantados por sua beleza e graciosidade. A pele escura se contrastava com o cabelo branco e olhos azuis.

Lin estudou pouco tempo com Elesis, mas depois partiu e nunca mais a viu. Pela bela vestimenta e interesse dos convidados sobre ela, a espadachim entendia o papel dela ali. Campeã de Áton.

Elesis se afastou da janela, indo até Jin, sozinho em um canto.

— Parece que alguém descobriu os campeões de Terra de Prata e Xênia — debochou Elesis.

O ruivo cruzou os braços.

— Eu não quero falar sobre isso — resmungou.

A espadachim riu, pondo-se ao lado dele. Nesse momento, Ronan se colocava no centro do salão, chamando a atenção de todos.

— Olá a todos! Agradeço pela presença de todos os Conselhos nessa noite — dizia Ronan em alto e claro tom.

Elesis deixou de prestar atenção. Não era tão tarde da noite, mas ela estava começando a ficar com sono.

— Isso logo acaba e você vai poder lutar — mencionou Jin.

Era tudo que ela mais queria, tirar aquele vestido e empunhar uma espada para ser usada contra uma daquelas pessoas.

Os pensamentos de Elesis são interrompidos. Ela levou as mãos ao peito. Uma dor despertou de repente, apertando suas costelas e a deixando sem ar. Encolheu-se, resistindo à sensação sufocante que não a pertencia.

— Elesis? — Jin se aproximou dela. — Tudo bem?

Ela arrumou a postura, forçando uma expressão distante de dor.

— Meu peito dói — sussurrou. — Muito.

O que Lass estava fazendo? Tinha o deixado após uma discussão, não esperava que ele ficasse completamente bem.

A dor passou, mas outra sensação tomou conta dela. Como no dia da chegada de Lass, ela sentia aquela coisa dentro do seu corpo se mexendo por algum fator externo. Essa coisa estava distante, mas se aproximava, chegando mais perto a cada respiração.

Os olhos da espadachim arregalaram.

— Ronan! — ela gritou.

E correu até ele. Ronan a notou quando o segurou pela capa e o puxou com força. Ele caiu para longe, distante da área invadida pela cabeça do dragão que atravessava as janelas e paredes.

Elesis se virou com os braços preparados. Suas mãos agarram a criatura pela boca, sendo empurrada até o parar completamente. Era graças aos sapatos velhos que ela conseguia se manter firme sobre o piso escorregadio do salão. Outro fator era seu berserk. Olhos marcados pelo intenso vermelho do poder que passava por seus músculos.

Elesis piscou e notou as pessoas afastadas, assustadas pela repentina entrada do ser.

O dragão se mexeu, tentando se soltar dela. Elesis apertou as unhas contra as grossas escamas. Aos poucos, perdia a pegada e sentia suas forças esvaírem.

Em sequência, uma esfera azul de energia acertou o dragão pela lateral. Isso o derrubou para fora do salão, obrigando Elesis a se soltar dele. Caiu sentada, assim percebendo que a magia tinha vindo de Lin, a qual segurava um leque como uma arma.

O salão ficou vazio quando o dragão caiu na rua. Elesis continuava caída no chão, sem acreditar no que aconteceu.

— Elesis!

Ronan foi o primeiro a se aproximar. Ela estava bem, apesar de ofegante. O que a deixou atordoada foi o brilho visto no céu. Uma fraca luz azul, distante para entender o que era, porém o bastante para a espadachim sabe de quem se tratava.

Da rua, o dragão rugiu. A noite não tinha acabado ainda.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Sobre os pronomes usados nas chamas. Vocês devem ter percebido que eu me refiro tanto com o masculino quanto pelo feminino, até msm plural ou singular. As chamas são varias tantas coisas, então não fiquem surpresos se eu me referir a elas de varias formas diferentes.
* Sim, tivemos Regis. Ele vai aparecer mais.
* Sim, também temos LIN! Eu esqueci totalmente dele temporada passada, mas agora ela terá um papel importante (um pouco importante).
* Outros personagens novos sendo apresentados... Esperem por muitas tretas :3



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