Capítulo 2 - O primeiro dia

O ônibus havia parado na frente da escola de repente, jogando os cinco alunos para a frente, fazendo com que Mick batesse a cabeça no assento.    Marie e Beatrice foram ajudar.
  - É um simples ferimento. - afirmou Mick
  Finalmente. Após tantos meses de férias, os Bizzo e Smith se encontraram, e tinham a chance de estudar juntos. Exceto por Mick, que estaria no último ano, com Lauren, e agora, a garota provavelmente o odiava, depois que Mick a espionara.
  O motorista pediu para que os alunos descessem. Com a cabeça de Mick machucada, foi difícil para o garoto recuperar o equilíbrio. Após Marie o ter ajudado, o motorista do ônibus fechou a porta, remusgando. Tinha de ir à farmácia que tanto era anunciada nos painéis do ônibus.
  Aborrecidos pelo triste acontecimento da manhã, Mick e os restantes ajeitaram as mochilas nas costas e abriram a porta da escola. Como esperado, o cheiro de bolo e de outros doces invadiram as narinas dos alunos, deixando os garotos com fome.
  Infelizmente, apenas os professores e trabalhadores poderiam desgustar daquele grande banquete, celebrando o primeiro dia de aula. Uma das grandes injustiças de Polterhigh.
  O sorriso no rosto de Marie desapareceu. Beatrice pôs a mão em seu ombro. Na frente dos alunos, três crianças encaravam Marie, que fechou a cara quando os viu. Três crianças irritantes, mimadas, burras e chatas: Trevis, Malcom e Fred. Após alguns segundos, os garotos começaram a rir.
  Veja bem, desde o quarto ano do fundamental I, aquelas crianças incomodavam Marie, chamando-a de coisas horríveis, deixando a garota com sede de vingança. Se não fosse por Beatrice e Ronny, os três alunos já estariam implorando por perdão.
  - Oh não, eu conheço esse seu olhar, Marie. - disse um jovem rapaz
  Os alunos se viraram para trás e encaravam o moço. Aparentava ter 20 anos para mais, tinha os cabelos loiros curtos e olhos azuis vivos, que encaravam fixamente os olhos de Lauren.
  - Ainda não me apresentei. Meu nome é Dekan, sou vosso novo professor de matemática. E vocês são...
  - Lauren! - exclamou a garota, com empolgação - Estes são Beatrice, Marie, Ronny e Bizzo.
  - Meu nome é Mick. - grunhiu
  Lauren o ignorou. Estava mais interessada no novo professor. Mick suspirou. Ótimo, havia espionado Lauren, e agora um novo lindo professor estava na área para roubar-lhe sua garota. "Sua garota?", perguntou Mick para si mesmo em pensamentos. Fechou a cara.
  O sinal bateu. Mick entortou os óculos para ficar mais confortável, uma vez que seu nariz estava doendo. Marie, Beatrice e Ronnie se despediram de Mick e Lauren, que conversava com Dekan, o novo professor.
  - Ei - sussurrou Marie, antes de ir - Não se engane. Esse Dekan não parece ser uma boa pessoa.
  E assim foi, puxada por Ronnie.
  O corredor era o mesmo. As paredes vermelhas estavam descascadas, o cimento do chão era visível, desenhos e trabalhos escolares ocupavam as paredes, apenas as portas das salas de aula estavam pintadas e renovadas.
  Após subir as escadarias, os alunos do nono ano chegaram na sala, para sua surpresa, renovada. As paredes estavam pintadas de branco, não estavam sujas, haviam novas mesas para os alunos e uma nova e melhor lousa. Por uma fração de segundo, Marie ficou feliz, até que o sinal batesse novamente.
  - Olá, alunos! - disse a professora. A professora não era conhecida por sua gentileza. Seus cabelos eram castanhos escuros e eram roxos na ponta. - Meu nome é Nath.
  Marie e Ronnie já conheciam a jovem professora. Os novos alunos se entusiasmaram com a professora, lhes parecia muito simpática e divertida. Os dois melhores amigos se encaravam, pensavam a mesma coisa. Nos primeiros dois meses, Mss. Nath seria gentil e divertida, para não perder seu emprego, e logo depois, boom, faria da vida dos alunos um inferno, fazendo com que quisessem sair da escola com todas as forças.
  Beatrice procurava ver apenas as qualidades boas das pessoas, por isso continuou feliz, com uma boa estima, esperando que o dia fosse ótimo. Nada poderia estragar seu humor, Beatrice esperava que tudo ocorresse bem. De vez em quando, ela verificava se Marie estava tendo um ataque de raiva. A garota já teria atacado a professora, se não fosse pela amiga.
  - Sou vossa professora de matemática, então vamos começar o dia com uma atividade! - os alunos resmungaram - Que tal um jogo? Isso! Um jogo é uma ótima ideia, não acham? Vejamos... vamos jogar um tradicional Yookle, o que acham?
  Gritinhos de animação vinham do fundo da sala, onde as novas alunas sorriam, adoravam a nova professora.
  - Têm jeito daquelas líderes de torcida metidas e babacas, anotem o que digo. - sussurrou Marie para Ronnie e Beatrice
  Percebendo a agitação entre o trio, mss. Nath pigarreou, voltando a atenção para ela.
  - Senhorita Marie, pode contar para a classe como se joga Yookle?
  - É claro. - disse a garota com firmeza - Vejam bem: cada menino corresponde a um número, cada menina a uma letra. Vamos supor que...
  A professora a interrompeu.
  - Não se fala "vamos supor", querida, explique. Não dê exemplos.
  Marie ficou vermelha. Beatrice e Ronnie se entreolharam, preocupados. Após um grande esforço, a garota pôde responder corretamente.
  - E cada aluno corresponde a um símbolo. Após jogar os dados especiais de mss. Nath, a vossa professora aqui lhe lançará um olhar e, imediatamente, você deve encontrar alguém do gênero oposto e lhe dar as mãos. - parou por um instante. Depois dos longos dois meses, iria xingar à vontade a professora juntamente de seus colegas - Após estarem de mãos dadas, outra rodada é iniciada. Após formarem pelo menos três pares, os alunos que não participaram devem resolver a equação formada.
  Após a longa explicação, Marie foi sentar-se em seu assento, suando de raiva. Ronnie não ajudou. Também fumegava de raiva, suas orelhas estavam ficando vermelhas. Beatrice nem tentou ajudar, sabia que, quando se tratava de mss. Nath, nada poderia ajudar.
  - Muito bem, acho que a explicação de Bizza foi o suficiente - riu Nath
  Marie fechou o punho. Chamá-la de Bizza foi o suficiente para fazê-la levantar da carteira e caminhar até a mesa da professora. Sabia muito bem que estava caindo em sua armadilha, porém não tinha paciência para tolerar os insultos que diariamente espetavam Marie.
  Ronnie também se levantou, com os punhos bem fechados. Beatrice baixou a cabeça, nem queria ver o que aconteceria. Para sua surpresa, nada aconteceu. Maria e Ronny estavam de pé para a professora, encarando-a, com um sorriso no rosto.
  - Vamos jogar Yookle, professora. Mesma aposta de sempre? - atreveu-se Ronnie. A professora franziu a testa e ficou de pé, cara a cara com Ronnie. O garoto não temeu. Ela era bem mais baixa que ele. Boom, a professorinha havia caído em sua armadilha - Vejam só, passa ano e você ainda é menor do que eu! Desde o quinto ano!
  Os alunos riram. Até mesmo Beatrice não pôde evitar um sorriso. Fora merecido. Merecidíssimo. Obviamente, a professora se faria de vítima, mas não haveria mais tempo. Teria de esperar até quarta-feira para se vingar, e Ronnie e Marie teriam pouco tempo para se importar.
O sinal tocou. O próximo horário seria história.

                                                          ***

  O terceiro e último andar era o mais feio de todos. Como se fosse proposital, os corredores davam as boas-vindas aos alunos com paredes velhas, feias, cinzas, portas com a mesma velha pintura, grades bambas (se alguém se apoiasse ali, certamente iria ter uma queda grave). Mick não se importou. Já estava acostumado, em nenhum ano de sua vida, a escola fora bonita e atrativa.
  Lá estava: a sala do terceiro ano do ensino médio. Queria logo sair daquele maldito lugar. Foi caminhando lentamente, quanto mais tarde chegasse, melhor. A primeira aula seria informática, para a infelicidade de Mick.
  Foi até o banheiro, bebeu um pouco de água, estava enrolando. Não pôde mais enrolar quando de repente Lauren passou pelo corredor. Não havia falado nada, apenas fizera um gesto com a cabeça, mandando-o a entrar na sala.
  Os dois veteranos entraram, Mick com sua cara emburrada e Lauren, com seu sorriso lindo no rosto. "Tire ela da cabeça", repetia o garoto para si mesmo.
  A porta se abriu. O professor de informática, Daken, entrara, trazendo consigo uma pilha de laptops e um livro. Lauren e outras duas garotas, uma loira e outra de cabelos pretos foram ajudar o professor. A srta. Smith recuou. Não queria ser uma interesseira, como as outras duas.
  - Obrigado, garotas, por favor, sentem-se.
  Mick sentou-se no fundo, para não chamar atenção, e Lauren o seguiu, sentando-se ao seu lado. O garoto corou. "Maldito seja eu", pensou. O garoto corava para tudo que acontencia, sendo motivo de gozação. "Pare de ser besta, acho isso muito fofo!", repetia Marie.
  Mick arriscou olhar para Lauren que, para sua surpresa, também o olhou. Assustada, virou-se para o outro lado e esperou que a aula começasse. De repente Daken não parecia tão atraente assim. Mick sorriu. Afinal, tinha alguma chance. Obviamente, não durou por muito tempo.
  - Mick, por que fizestes isso hoje, de manhã, no ônibus? Vergonha? - perguntou Lauren - É claro, eu entenderia se você não quisesse ser notado, mas...
  - Pode parar por aí - disse Mick com firmeza - Eu não queria não ser notado, apenas... - então parou. Pensou um pouco: afinal, Lauren tinha razão, o motivo daquele drama todo fora fobia social. Sua cabeça tombou para trás, seguida de um grande suspiro - É, foi isso, mas, não pense que eu não queira conversar com você por causa de minha... fobia... social.
  Mick corou. Havia engasgado na hora de falar fobia social, deixando-o constrangido.
  - Ahh, olá, Lauren!! - exclamou Dekan - Seja bem-vinda! Igualmente ao senhor Mick!
  Mick deu um sorriso forçado. Apesar de não ter gostado do novo professor, não podia deixar de adorar o fato de ser chamado de "Senhor Mick", e não "Senhor Bizzo". Seu pai era chamado assim, sendo uma ofensa para Mick.
  - Hoje vou ensinar-lhes como... - de repente parou. Viu a expressão triste no rosto dos alunos, exaustos - Querem saber? Não quero parecer rígido e chato logo no primeiro dia. Comecemos com algo mais leve, alguma sugestão?
Um garoto de cabelos loiros e olhos castanhos levantou sua mão, ansioso.
  - Sim, senhor Leonard?
  - Professor, meus amigos me chamam de Lio. - Mick se conteu. O garoto era muito tímido, isolado e gótico, fazendo com que poucas pessoas fossem seu amigo. Apenas Marie e Maria (outra aluna do nono ano) eram amigas do garoto estranho, pois não conheciam seu verdadeiro eu - Podemos apenas ficar sentados mexendo no celular e nos divertindo, pelos próximos dois meses. O que acha?
  Os alunos olharam para o garoto com desaprovação. Certamente havia falhado na tentiva de ser engraçado.
  - Outro idiota que nem ele, só o Mick! - riu a garota de cabelos pretos que havia dado em cima do professor - Espionando a família dos outros! Vê se pode!
  Mick afundou-se em sua cadeira, envergonhado. Ao mesmo tempo sentia-se surpreso, apenas Marie, ele, Lauren, Beatrice e Ronnie sabiam do ocorrido. O motorista também sabia, porém era improvável que espalharia um segredo daqueles.
  - Não tem nada de mais! - gritou Lauren, aborrecida. - Não somos que nem vocês, suas garotas ridículas e interesseiras, não temos segredos nenhum!
As garotas fizeram cara de nojo e voltaram a seus devidos lugares.
  - Certo, fiquem mexendo em vossos celulares, irei apenas... relaxar. - disse o professor, magoado. Havia um tom triste em sua voz, deixando Mick e Lauren com pena. Os dois se entreolharam, mas não puderam fazer nada, afinal, o resto da sala não se importava com o professor, e eles certamente perderiam para uma votação.
  Com um aperto no coração, Mick e Lauren pegaram seus celulares, e conversaram entre si por mensagens.