Portas Fechadas escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Portas Fechadas


Notas iniciais do capítulo

Hoje eu revi Frozen com minha filha e a parte que a Anna passa com aqueles quadros é tao bonitinha mas também tão triste. Então decidi escrever algo sobre isso.
Boa leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776632/chapter/1

Era noite quando Ana entrou no grande salão, as cortinas vermelhas e pesadas fechavam as grandes janelas do cômodo. A pequena menina correu deslizando os sapatos pelo piso. Ela riu, divertindo-se com a brincadeira. Mas tão logo a solidão do castelo a envolvia.

Desde que a irmã não quis mais brincar com ela, Ana passou a viver sozinha perambulando pelo castelo em busca de novas aventuras. Um dia ela era uma cavaleira em disputa numa grande arena. Outras vezes era apenas uma donzela em um piquenique. Às vezes, quando se sentia deprimida, era apenas mais uma na multidão daqueles quadros.

Todas essas brincadeiras eram formadas a partir das imagens que ela via nos quadros pendurados na parede do salão e nos corredores do castelo. As mulheres eram sempre retratadas com graciosidade, leveza e beleza. Ana teve muito tempo para imitá-las. Balançando no balanço imaginário, sentindo o vento de mentira em seu rosto. A menina rodopiava pelo salão como se estivesse em uma dança, apresentando-se numa festa de gala.

Ela foi crescendo e, sem amigos, continuou a visitar os quadros do salão. A essa altura, todos possuíam nomes e uma história ao qual Anna teve muito tempo para criar.

— Como vai, senhora Joanna? Estou um pouco ansiosa, obrigada por perguntar. — Anna deitou no sofá bem abaixo do quadro da mulher de armadura montada em um cavalo. — Como sabe, amanhã é o meu aniversário de dezesseis anos, e estou pensando em como será o grande baile. — Anna movia as mãos no ar, como se estivesse atarefada para cumprir a lista de tarefas antes do baile. — Já está quase tudo pronto, mas não sei qual vestido devo usar. Oh! Tem razão, talvez falar com a senhoria do balanço possa me ajudar, já que ela é muito elegante. Obrigada por me ouvir, Joanna.

Anna levantou-se e andou até o outro quadro.

— Senhorita, como está bonita hoje com esse chapéu. Não cansou ainda de ser empurrada nesse balanço? — Ela riu e sentou no chão diante do quadro. Seus tutores de arte explicavam sobre a forma como tais quadros eram criados, falavam sobre os artistas que pintaram, mas quando chegava na parte em que perguntavam qual era sua interpretação sobre a imagem, o que Anna via era alguém feliz e livre. Uma liberdade ao qual ela não sabia qual era a sensação.

Tentou algumas vezes fugir do castelo, mas era sempre pega pelos guardas. As amas a alertava sobre os perigos de uma princesa andar sozinha por aí, não que Arendelle fosse um reino perigoso, mas não era correto a princesa escapar de sua residência por buracos feitos nas portas.

A segurança foi reforçada a pedido dos pais, na época, ainda era apenas uma menina que não entendia as mudanças que estavam acontecendo.

Embora o tempo tenha passado, Anna não teve nenhuma resposta sobre as mudanças daquela época. Precisou se adaptar a solidão, embora o castelo estivesse cheio de empregados, e todos dispostos a fazer o que quisesse por ela, não era a mesma coisa sem Elsa, ou sem seus pais.

O rei estava sempre muito ocupado, as vezes na biblioteca com as portas fechas, outras vezes no quarto de Elsa, também com as portas fechadas. As portas viviam fechadas e Anna começou a buscar alternativas para não se sentir claustrofóbica quando estava em um ambiente de portas e janelas fechadas. Em um jantar, com a família reunida para comemorar o natal, Elsa também estava lá, Anna sugeriu que eles fossem até o vilarejo para ver a grande árvore de natal ao qual todos estavam falando pelos cantos do castelo. As desculpas eram muitas para evitarem deixar o castelo, para impedir que Anna se socializasse, para manter Elsa em seu quarto.

A rainha era sempre doce e gentil, mas ela também passava muito tempo a sós com Elsa em seu quarto.

Anna parou diante do quadro dos pais, observando a expressão dos dois, eram jovens e bonitos. Mas parecia que faltava algo, como se sua família tivesse sido mexida alguns anos atrás.

Ela falava sério com o quadro de Joanna, era seu aniversário. Contudo, não haveria nenhum baile de gala, nem possuía amigos para convidar para a festa. Estava ansiosa pois foi informado que ela teria um jantar de aniversário com o ministro que retornaria das Ilhas do Norte com novidades para Arendelle, e para o aniversário de Ana.

Esse não era o motivo de seu nervoso, mas sim a presença de Elsa ao qual já fazia algum tempo que não compartilhavam a mesa.

Anna ainda ficou mais algumas horas no salão, conversando com os quadros da parede, até que ela se sentiu cansada e foi dormir. Na manhã seguinte, acordou cedo, e o dia pareceu se arrastar pois demorava muito para chegar o horário do jantar.

Algumas vezes ela ia até a cozinha para espiar o que estava sendo preparado. Bolo de chocolate, o seu favorito. Também sentiu cheiro de glacê e morangos. Antes que conseguisse roubar um morango, foi levada para fora da cozinha, já que precisava se arrumar para mais tarde.

Ela vestiu um vestido azul escuro, era uma cor que a agradava bastante. Fez uma trança e passou perfume. De maquiagem, nada além de um batom clarinho e um pó para esconder a espinha no queixo.

Anna desceu animada para o salão de baile, mas ele estava fechado, a sala de jantar com uma enorme mesa com mais de vinte cadeiras também estava vazia. Foi andando pelo corredor até encontrar a reunião que era feita na sala de chá. Não que tivesse algo contra aquela sala, mas ela era bem menor que os outros cômodos, não daria para dançar, fazer brincadeiras e nem tinha espaço para uma grande mesa.

Havia sim uma mesa, redonda e com três cadeiras ao redor. O bolo estava acomodado em outra mesa ao lado da parede, com alguns docinhos distribuídos em bandejas douradas.

Elsa chegou em seguida com o ministro, ambos muito sérios.

— Princesa, como cresceu. — Ele falou, estendendo a mão na direção dela, apertando com pouca força. — Eu acho que os vestidos que encomendei não irão caber na senhorita.

Anna riu, mas constrangida com a piada, não sabia se estava sendo rude por isso, já que Elsa mantinha uma expressão fria.

— Parabéns, Anna, pelo seu aniversário. — Ela disse, gentil, e isso animou um pouco Anna, achando que ganharia um abraço ou algum contato físico naquela data. E no máximo ganhou um acenar com a cabeça.

Eles se sentaram a mesa e jantaram, a comida ela deliciosa e o bolo estava divino. Anna não se fez de rogada e encheu a boca com docinhos, morangos e a primeira taça de champanhe que foi permitido a ela beber.

As coisas pareciam ir bem, quando anunciaram que era hora dos presentes.

Anna comemorou ao ver as caixas bem embrulhadas e as cartinhas que recebeu dos moradores do reino. O aniversário das princesas era sempre lembrado por todos, e Anna adorava saber o que se passava na vida das pessoas. Algumas faziam pedidos urgentes, que ela direcionava a carta para o ministro resolver, outras contavam apenas histórias cotidianas, e isso ajudava Anna a inventar novas histórias com os personagens dos quadros do salão.

— O meu presente, Anna. — Elsa falou, estendendo as mãos com uma caixinha de veludo sobre as luvas que ela usava.

O sorriso de Anna valia ouro naquele momento. Entusiasmada, ela pegou a embalagem e Elsa automaticamente recolheu as mãos para perto de seu colo, evitando o contato.

Anna agradeceu, puxando a fita vermelha que estava ao redor da caixinha de veludo. Ao abrir, ela passou o dedo sobre o camafeu que pertenceu a sua mãe.

— Elsa, essa joia...

— Mamãe me deu no último natal que passamos todos juntos antes deles... — Ela ficou em silêncio, e depois respirou fundo. — Antes de nos deixarem.

— Eu nem sei o que dizer, ele deve valer muito para você. — Anna aproximou-se de Elsa, que deu um passo para trás. Anna também recuou um passo.

— Tem uma pintura nossa no camafeu, eu achei que fosse gostar. — Elsa falou, enquanto esfregava as mãos nas luvas, parecendo incomodada com alguma coisa. — Acho que vou me retira.

Anna viu a irmã ir embora, e não a impediu.

— Princesa, acho que está na minha hora também. — O ministro falou, ajudando Anna a colocar o colar no pescoço. — Seus pais teriam muito orgulho da senhorita. — Ele se despediu e também foi embora.

Anna estava sozinha novamente.

Ela pegou uma das bandejas vazias e colocou entre docinhos, pedaços de bolo e uma garrafa de champanhe. Caminhou pelo castelo até o salão.

— Olhe o que eu trouxe para nossa festa? — Disse ao entrar no salão vazio. Mas o que a princesa via ali não era apenas quadros, mas imagens daqueles que não fechavam a porta para ela.

Falando nisso, Anna deixou a bandeja no centro do salão e foi até a porta para trancá-la. Assim que virou, sua imaginação ganhou asas e todos os personagens dos quadros estavam vivos diante de seus olhos, comemorando seu aniversário por toda a noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso, podem partir para os comentários hehe
Beijos