Me sinto aumentando e diminuindo, seria eu Alice? Mas não vi um bolo ou elixir escritos "Drink me" ou "Eat me", o que me faz duvidar se hoje sou coisa alguma. A sensação é a de uma mente deturpada pela fada verde (Absinto), os ossos estalando como uma crocante torrada sendo devorada. 
ㅤ Faz 30 minutos ou trinta anos, o que não condiz com o tic-tac do relógio que avisando as horas bateu 7 vezes, isso faz um bocado de tempo, desde que eu estendi meu braço para pegá-lo ele sumiu e agora o balado é só uma memória que insiste em se fazer presente incomodando mais do que deveria. 
ㅤ Vejo as folhas bonitas sob meus pés e ao meu redor, agirei com descaso dessa vez, nenhum só movimento impulsivo para pegá-las. A última vez que fiz isso rodopiei e já era tão pequena que os insetos se espantaram com o meu tamanho, me lembrei brevemente das vezes que pisei em suas conterrâneas e foi cômico quando me veio a mente: Um dia você é Gulliver, noutro os habitantes de Lilliput.
ㅤ Quando pisquei ao espirrar me tornei gigante, tão alta me fiz de enfeite, paralisada. As árvores ao meu redor sussurraram ao vento "Mamãe?" ao me verem tão desconcertada. Ora, que bizarro, logo eu tão inconstante teria que cuidar de hectares inteiros de filhos? 
ㅤ Olhei para a lua crescente e ela piscou para mim como em um flerte. Retribuiria a lisonja, contudo, ultimamente desejo o sol que há eras pareço não ver. Afinal, se ligasse para ele daria caixa postal ou apareceria um coelho saltitante de lacinho vermelho no pescoço avisando de sua chegada? 
ㅤ A lua pareceu entristecer com a minha rejeição, com um pequeno sorriso tentei explicar meus motivos para ela:
ㅤ - Lua, não chores. Você vê, agora não posso mais pensar apenas em mim, tenho muitos filhos para cuidar e a fotossíntese é essencial para seu crescimento e ela só pode ser feita com o sol brilhante. Quando der à luz a um cardume de peixes prometo que será a primeira em quem pensarei, a maré é importante para a sua sobrevivência. Até lá boa sorte com seus pretendentes.