O Mistério da Lua - Livro I escrita por salutetrangeer


Capítulo 9
Las Piedras Rojas


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem pela demora!

Espero que gostem! ♥



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— Isso é um turíbulo. – Eu estava sentada na mesa redonda no centro da sala dos oráculos, aguardando Zõe que segurava a panela suspensa fumegante balançando de um lado para o outro, como um navio em alto mar – Toda essa fumaça é de defumação, defumar significa fazer uma grande limpeza no ambiente e ajuda em minha conexão com minha guardiã.

     A sala oracular era pequena com três estantes altas repletas de livros em capa dura, alguns com títulos estranhos, talvez numa língua antiga, e outros em castelhano. Haviam velas grandes e pequenas acessas espalhadas por todos os lados, além de ervas penduradas e pedras coloridas por entre as prateleiras.

     Zõe murmurava enquanto balançava o turíbulo, parou enfrente à janela com os braços abertos sendo coberta pela luz solar que adentrava na sala.

— Oráculos são métodos de previsões do futuro, podem ser usados para o autoconhecimento e para entendimento de situações do passado e do presente em qualquer âmbito de nossas vidas, eles podem nos ensinar muitas coisas. São mais úteis do que as pessoas imaginam. 

     O turíbulo foi colocado do lado de fora e a fumaça começava a dissipar, Zõe sentou-se à minha frente com os olhos fechados e os lábios em movimento constante, como se fizesse uma reza.

     A toalha negra aveludada caía por entre as bordas da mesa como um belo vestido de noiva em perfeito acabamento, encima dela repousavam uma bela caixa pequena marrom-tabaco com um filete dourado selando, uma vareta de incenso, vela roxa, um cálice de vidro e uma pequena pedra bruta.

     Zõe acendeu a vela, o incenso, colocou o dedo indicador na borda do cálice e por último, encima da pedra. Abriu a pequena caixa e de lá retirou um pequeno saquinho de veludo negro como a toalha, afastou a caixa e de dentro do saquinho retirou algumas pedras.

     Elas eram de um brilho intenso que não me permitiam tirar os olhos, encantadoras como o luar cheio em noite de verão, a cor vermelho sangue vibrante mostrava que eram pedras poderosas, pesadas e raras. 

— Vamos dividir esse jogo em duas partes. – Ela disse colocando os brilhantes na mesa embaixo de suas mãos – Primeiro faça perguntas que as respostas sejam sim, não ou talvez. Depois, faremos a tiragem sobre seu futuro.

     Assenti enquanto ela balançava rapidamente as pedras misturando-as, palavras desconhecidas foram ditas novamente.

— Algo especial será revelado durante esta...? – Pensei bem antes de continuar, receosa de falar alguma coisa boba - Sessão? - As pedras foram jogadas no centro do círculo marcado na toalha. Atentamente observei uma única pedra virada para cima com símbolo semelhante à um sol.

— Todas as vezes em que cair o sol, significa sim. Quando cair a lua, significa não. Quando nenhuma delas cair, significa talvez. – Assenti e Zõe recolheu as peças.

     Embaralhou mais uma vez, e iniciei as perguntas.

— A cabana foi real?

— Sim.

     A sensação de alívio correu em minha espinha.

— Depois desse jogo, alguma coisa mudará em minha vida?

— Sim.

     Respirei fundo pensando em todas as coisas que aconteceram desde que chegamos na cidade, as pessoas desaparecendo, a conexão que sentia entre elas, a cabana, a raposa.

     Tudo estava confuso, e eu queria entender.

— Sei quem eu realmente sou? - Questionei sem pensar.

     Uma chama foi acesa em meu peito quando a pequena lua virou para cima indicando minha resposta.

— Não.

     No mesmo instante, as perguntas começaram a rondar em meu cérebro.

— Sair de Londres foi a melhor opção?

— Sim.

— Os sonhos que tenho com a cabana, tem algum sentido maior?

— Sim.

— E os desaparecidos? Eles tem conexão com tudo isso, não tem?

— Sim.

     Meu estômago revirava como um zumbi dentro do próprio caixão, com a sensação de receio e ansiedade quando o sol apontava para cima.

— É o suficiente? – Zõe indagou com os olhos brilhantes de loba.

— Sim. – Assentiu.

     Me ajeitei na cadeira e pigarreei enquanto as pedras eram jogadas, Zõe olhava com expressão confusa para todos os símbolos que estavam virados para cima, eram sete no total.

— O que diz ai? – Perguntei curiosa.

— Essa tiragem é sobre o seu passado.

— E o que isso significa?

     Ela respirou fundo organizando as palavras.

— Olhe, esta pedra – Disse apontando para um desenho de três linhas retas – É a pedra do tempo, em combinação com a pedra das ondas - Observei o desenho de espirais bem desenhados - Diz que existem coisas no seu passado que não ficaram bem resolvidas, coisas que precisam ser expostas.

     Senti as bochechas corarem.

— Como o que? – Perguntei apertando os dedos. Ela observou mais o jogo antes de prosseguir.

— Morte. Houve uma morte e você se culpou por ela, ainda se culpa. – Minha respiração aumentou, recordando dos acontecidos há dois anos. Aqueles que tiraram meu sono por meses, que me trouxeram pesadelos terríveis, gostaria de esquecer tudo e desejava não ter dito coisas em voz alta. 

— E o que mais? – Controlar a respiração era impossível.

— Família. Existem segredos, coisas que se soubesse mudariam tudo o que você é hoje, são grandes mistérios sobre quem eles são e sobre quem você é.

     Apertei os dedos embaixo da mesa confusa, sentindo as pontas esbranquiçarem e o pelos da nuca se eriçarem a cada resposta das pedras, queria entender mais, precisava entender mais. Zõe jogou novamente, as pedras tilintavam batendo na mesa e entre si, ela observava tudo atentamente com expressão hesitante e preocupada como quando estamos lendo alguma notícia preocupante no jornal local.

— Futuro. – Afirmou sem tirar os olhos dos coágulos brilhantes – Não tenho notícias tão boas.

— O que diz ai? – Questionei aflita.

— Num futuro não muito distante você será forçada a fazer algumas escolhas, coisas que influenciarão não apenas na sua vida, mas terão reflexos em todas as pessoas que ama, conhece e até mesmo naquelas que não conhece. Você precisa se preparar, entender quem é, entender qual o seu lugar e a sua missão neste plano, precisa se conhecer, e está ficando sem tempo. Precisa saber a verdade.

— Isso tem algo a ver com a Lua da Serpente? – Tudo aconteceu numa fração de segundos.

     Primeiro a pergunta, e em seguida um urro, um berro forte estridente como se um grande animal selvagem tivesse sido atacado, era tão frio e lancinante quanto um bisturi cortando toda a extensão da coluna, todos os livros guardados nas estantes caíram no chão ao mesmo tempo, as chamas das velas se apagaram, o cálice estourou e o vento fúnebre fazia as ervas penduradas dançarem no ar, todos numa perfeita e horripilante sincronia.

     Não sei por quanto tempo prendi a respiração, meus ossos estavam congelados num choque profundo como se por mais que eu quisesse não pudesse me mover. O ar parecia se tornar cada vez mais sólido, e o ambiente parecia escurecer mesmo com a luz solar entrando pela janela. 

— O que foi isso? – Consegui sussurrar com os olhos arregalados e medo do que quer que tivesse acontecido.

— Precisamos ir até uma pessoa. – Ela guardou as pedras rapidamente com expressão de medo e preocupação.

     Fez uma nova reza e saímos da loja o mais rápido possível, deixando para trás apenas uma pequena placa balbuciante de "Fechado para hora de almoço".


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