Revival escrita por sabrinavilanova


Capítulo 3
Capítulo Três - As Verdades Não Ditas




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― Você só pode estar de brincadeira com a minha cara ― ele falou, surpreso demais para esboçar alguma reação. De verdade, esperava que Todoroki estivesse brincando, fazendo piada com a pouca paciência que lhe restava, mesmo que soubesse que fazer aquele tipo de coisa não era do feitio do amigo. Entretanto, Shouto não apenas negou como mostrou os dados no programa de computador. ― Caralho...

― Todas eram crianças “milagrosas”, tinha algum tipo de especificidade estranha. ― Lambeu os lábios secos, tomando mais alguns goles da bebida amarga. ― É como se uma espécie de caça às bruxas bizarra estivesse acontecendo. E o pior…

― Por favor, não me diz que os caras de ontem estavam planejando nos pegar.

― Tudo bem, não estavam ― ele brincou. ― Mentira, estavam sim. E aposto que ainda estão. Por isso, eu quero que você escute muito bem o que vou dizer: você vai parar com o negócio de ser vigilante por esses tempos.

Ele mal teve tempo de raciocinar e já exibia uma expressão indignada e irritada na face. Ah, sim, Todoroki também podia ser um ótimo piadista.

― Espera, que caralhos? ― Riu, como se tivesse ouvido a melhor piada de todos os tempos. ― Você está zoando, não está?

― Depende da sua definição de zoar, porque eu estou falando muito sério. Você não vai, em hipótese alguma, sair para suas aventuras noturnas, você me ouviu? Seu corpo não aguenta isso. E nem adianta argumentar que você se recupera rápido e quer fazer cosplay de Batman, proteger a noite e pegar os bandidos. Não haverá essa possibilidade se você não estiver aqui, entendeu?

― Porra, Todoroki, você não é minha mãe, okay? ― falou, liberando parte do estresse na voz. ― Você não manda na merda da minha vida e eu faço a porra que eu quiser.

― Não, não sou sua mãe, mas eu a conheço o suficiente para saber que ela não quer ver o filho estúpido com síndrome de herói desaparecido ou morto! ― exclamou com uma seriedade insana na voz. ― Tia Inko não merece isso, entendeu? Lembre do que ela fez e faz por você, porra! Seu irmão está aí fora, sabe como ele chegou aqui? Roendo as unhas de medo de algo sério ter acontecido contigo, não foi você que teve que escutar ele chorando naquela merda de hospital quando você ficou todo quebrado e não foi você que teve que inventar uma história para sua mãe não saber que você estava ali por irresponsabilidade sua. Então pare de ser um imbecil sem tamanho e pense nas pessoas a sua volta!

O silêncio foi sua resposta, e aquilo fez com que soltasse um suspiro pesado. Estava preocupado demais para se importar se o ego do outro havia sido quebrado ou não. Ele levantou e voltou a sentar-se na cadeira, tomando o café que restava na xícara, estava frio e ruim. Mordeu a parte interna da bochecha como forma de desestressar, falhando miseravelmente.

Shouto Todoroki não costumava perder a paciência mesmo nas situações mais tensas de sua vida, acostumou-se a ser um manequim na frente de todos, o filho do grande empresário, frio como o gelo que produzia, porque assim não demonstraria suas fraquezas. O garoto fora criado para ser o orgulho da família, o menino prodígio que não deveria decepcionar a ninguém, sempre cumprindo as expectativas de todos. Não podia perder as estribeiras com nada, nada mesmo. E, por isso, era estranha demais a forma como Bakugou conseguia tirá-lo do sério com sua irresponsabilidade.  

Desde que se conheceram, Shouto não tentou modificar quem Katsuki era, não tentou moldá-lo da forma como queria ― e Bakugou realmente era grato por aquilo ―, sempre havia o apoiado e não costumava meter o dedo onde não era chamado. Só que aquela situação era diferente, Katsuki não era um homem de aço da vida, ele era humano e humanos se machucavam e morriam. Tinha ocultado informações sobre quando o amigo estava no hospital, não só Midoriya ficou desesperado como ele próprio.

Bakugou havia ficado três dias no hospital, ele e Izuku também, sentados em poltronas ou bancos de espera, aguardando o horário de visitas chegar, só para ter certeza de que ainda estava vivo. Era mesmo uma merda!

Porém, seus pensamentos foram cortados antes mesmo que os concluísse, com o barulho dos passos de alguém que ele não esperava que aparecesse ali.

― Merda. ― Mordeu o lábio, exasperado. ― Não sabia que você chegaria hoje.

― É porque eu não avisei ― o homem respondeu, sem apresentar traço qualquer de animação em ver aquela situação.

― Dabi…

― Nada de desculpinhas escrotas, eu quero a verdade. ― Cruzou os braços diante do peito. ― Eu vou pegar minhas coisas, tomar um banho e vir pra cá e nós vamos ter uma longa conversa sobre o que aconteceu. E você não vai ocultar nada. Ouviu? Nada.

Todoroki se calou, colocando a cabeça na mão apoiada sobre o joelho.

― E você ― Apontou para o garoto deitado. ― Nem pense em sair daqui, quando eu voltar, quero fazer uma vistoria.

Katsuki apenas assentiu, engolindo em seco e desviando o olhar. Não havia o que ser dito naquela situação, na verdade, o irmão mais velho de Todoroki não deixaria que aquele evento passasse despercebido aos olhos e o garoto tinha certeza ― bastante certeza ― que vira um traço de irritação muito marcante na expressão que exibia. Ninguém poderia, no mundo, querer ver Dabi irritado, era uma regra a ser cumprinda por todos, nem mesmo Enji parecia querer vê-lo perder a paciência. O rapaz era extremamente assustador naquele estado e, por isso, não era de surpreender que ele fosse filho do Demônio.

Dabi sabia da sua vigilância noturna desde o início do ano, ele não concordava, era claro, mas sabia que não poderia fazer muito para impedir. Só ficou um pouco preocupado quando seu irmão mais novo demonstrou interesse em ajudá-lo, aquilo sim tirou boas noites de sono do primogênito da família. Mesmo com todas as suas questões, ele não havia tentado reprimi-lo. Entretanto, desde o que ocorreu nos meses anteriores, o Todoroki tinha adotado uma postura mais rígida sobre suas aventuras, principalmente porque havia sido ele a cuidar de Bakugou no hospital quando o garoto fora internado.

Não gostava muito de contrariar o rapaz, porque sabia que, em um piscar de olhos, tudo o que acreditava poderia acabar. E aquela era a razão pela qual não se deixou mexer, mesmo que sentisse os olhos frustrados de Shouto sobre si e ouvisse a colher raspar o interior da xícara vazia. Péssima hora para se machucar.

 

X.X.X

 

Respirou fundo ao sentir o estetoscópio tocar o tórax sobre a blusa de material fino, o olhar do médico que o examinava não chegava perto de ser gentil, mais parecia uma mistura doida entre a concentração e a irritação que esboçava na voz anteriormente. De qualquer forma, Bakugou precisava de um banho, seu corpo precisava daquilo, mas com seus músculos doendo daquele jeito, não conseguiria sair dali em um bom tempo.

Dabi havia pedido para o irmão sair assim que entrou e Katsuki não tinha um bom pressentimento sobre aquilo. Sem Shouto ali, não teria proteção alguma, estava totalmente indefeso ao olhar incisivo que o moço lhe mandava. Não havia pontos de fuga naquele caso. Por isso, engoliu em seco quando Dabi tirou o instrumento das orelhas, levando-o ao cobertor que não mais o cobria.

O rapaz suspirou, coçando os olhos antes de mandar-lhe um sorriso pesaroso.

― Katsuki ― ele falou em um tom calmo, bastante diferente daquele que fora direcionado para si há poucos instantes. ― Eu não quero ter essa conversa contigo de novo.

Engoliu em seco.

― Pirralho, eu vou ser franco, não sei o que está acontecendo e, sinceramente, não me importo. Eu só sei que não quero ver você nesse estado de novo, ouviu? ― Bagunçou o cabelo, coçando a orelha cheia de piercings em seguida. ― Da última vez que conversamos, você me prometeu que teria mais cuidado com os buracos onde se mete, mas olha aí onde você está de novo.

― Dabi, eu…

― Se você não parar com isso já, eu vou ser obrigado a falar com Inko. E você sabe que eu odeio me meter em assuntos de família ― disse, sem dar chance de o garoto falar. ― Eu sei que seus motivos são bons, querer mudar o mundo é um desejo muito bonito, pirralho, mas você não é herói. Eu falei com seu irmão, ele ainda está aí fora e ele concorda comigo, apesar de tudo. Você tem que começar a pensar mais em ti, moleque. Quantas vezes mais quer se machucar até aprender que seu corpo não é invencível?

O adolescente mordeu a língua, sem conseguir esboçar alguma reação para o que havia acabado de ouvir. Queria insistir, argumentar, espernear, porque era aquilo que se esperava dele, não era? Xingar por todos os cantos, quebrar algumas coisas e gritar com quem fosse o estúpido que ousasse criticá-lo. Só que era Dabi ali. Não era Deku, não havia um drama envolvido. As palavras do irmão de Shouto levavam tudo para uma dimensão real e aquilo era como um soco no estômago para Bakugou. Precisava sair dali, pegar a moto de Kirishima e ir até o fim do mundo para se acalmar. E tudo o deixava mais irritado ainda, o que fazia seu desejo de explodir todas coisas à sua volta crescer. Por isso, fechou os olhos e respirou profundamente antes de assentir sem dizer uma palavra sequer.

Dabi também não quis discutir muito mais, só aconselhou que ele descanse e até o final do dia, antes que sua mãe ficasse preocupada demais com o seu bem-estar; e saiu, deixando-o sozinho mais uma vez.


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