Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 10
Um Pequeno Pânico


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE, a evolução tão necessária. Sinto como se essa história tivesse acabado de começar!

~~ Boa Leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776338/chapter/10

  A vida de Peter se instalou rapidamente em uma rotina confortável, pelo menos para as pessoas ao seu redor que não pareciam tão preocupadas com o que ele fazia.

 Ele acordava as seis e meia todos os dias, saia da Torre na companhia de Happy as sete e vinte, chegava na escola as sete e quarenta, onde se encontrava com Ned e MJ. O trio passava um tempo junto antes da aula e depois, dependendo do dia, se separavam.

 Além deles, Peter acabou criando mais uma amiga: Gwen.

 Acabou que o trabalho sobre A Casa Torta tinha sido um sucesso, resultando um grande e lindo A — o primeiro que Peter viu em longos anos — e agora eles eram “Amigos de Literatura”. Era normal vê-los juntos na aula de Inglês e até mesmo em algum tempo vago quando Ned ou MJ não estavam por perto.

 Gwen era uma completa nerd assim como Peter costumava ser — e secretamente ainda é. Sua lista de amigos era pequena, e isso se devia ao fato de ela estar constantemente se mudando de um lugar pro outro, graças ao trabalho do pai. Por isso ela meio que se limita a conhecer as pessoas e a criar amizades.

 Ainda assim ela era uma grande amiga.

 Gwen podia ser meio sarcástica quando queria, e talvez até mesmo esnobe; porque sim, ela era tão boa quanto Peter — ele já sugeriu a ela várias e várias vezes para que entrasse no Decatlo, mas aparentemente Gwen estava se limitando apenas a banda da escola — e nunca hesita em apontar um erro.

 Eles chegaram ao ponto de fazer dever de casa juntos.

 Supreendentemente, Gwen, Ned e MJ ainda estavam separados, mas isso não o impediu de falar sobre ela sempre que podia.

 Enquanto Peter ganhava uma nova amiga, ele também ganhava um inimigo — talvez essa não fosse a palavra certa, mas ele com certeza não gostava de Flash Thompson.

 Flash agora pegava no seu pé sempre que podia. Independentemente da situação. Ambos tinham a maior parte das aulas juntos, então ele estava sempre ao seu redor. A princípio, Flash comentava da sua aparência, mais frequentemente de seus cabelos compridos demais, ao ponto que os cachos já estavam se tornando indomáveis. Isso até que Pepper chamasse uma cabeleira e então tudo estava em ordem novamente.

 Aparentemente, Flash não tinha problemas em procurar outra coisa para colocar defeito. Ele zoava seus gostos, seus amigos e até mesmo seus modos. Ele zombava do jeito que Peter olhava para Liz — na maior parte do tempo não tinha nada demais, mas todos estavam começando a criar uma espécie de ligação entre os dois apenas porque Liz sorria mais quando ele estava por perto.

 Peter estava lidando com isso, do jeito que ele podia. Isso não quer dizer que ele não estava enlouquecendo lentamente com sua rotina.

 Felizmente, Peter estava mais próximo dos Vingadores agora.

 Mesmo com Clint e Natasha ainda em missão, Peter teve a honra de conhecer mais dois Vingadores que estiveram longe durante suas primeiras semanas na Torre. Wanda e Visão.

 Seu primeiro pensamento foi: “PUTA QUE PARIU! ”

 Peter se lembra vagamente de ter visto algo sobre Visão na televisão apenas alguns dias antes de ele decidir fugir de casa, mas na época sua mente estava tão ocupada com o que viria a seguir que ele nem ao menos parou para pensou no quão incrível ele era!

 Sim, um androide. Era incrível até mesmo olhar para ele na sua versão mais humanizada.

 Wanda era meio assustadora. Não era necessariamente a sua aparência, e sim o fato do seu sentido aranha estar zunindo levemente na base de seu pescoço toda vez que ela ficava muito próxima dele. Não era algo grande, porque Peter já estava acostumado a identificar o grau de perigo com base em seus sentidos, e de acordo com eles, era apenas para ele ficar atento.

 Ele logo descobriu o motivo.

 Wanda poderia facilmente descobrir tudo sobre ele em um piscar de olhos.

 De qualquer forma as coisas não voltaram ao “normal” na Torre. Agora todos passavam grande parte do tempo treinando, o que deixava Peter um pouco mais distanciado. Ele frequentemente visitava Tony no laboratório e o observava de longe.

 O relacionamento deles também progrediu.

 Peter gostava de pensar que aos pouco seu pai iria deixa-lo mais livre, e estava fazendo o possível para se demonstrar digno dessa confiança. Começou com pequenas saídas para a casa de Ned, e então para a casa de seus tios, mas nunca sem que Happy fosse pega-lo.

 Peter sabia que tanto ele quando Happy estavam cansados disso e não ia demorar muito para o chefe de segurança reclamar.

  É claro que com isso a vida se tornou calma, sem muitas preocupações. Peter não conseguia decidir se isso era bom ou ruim.

 Ele tinha conseguido fazer um progresso com os atiradores, usando alguns materiais do laboratório do Tony. Surpreendentemente ele encontrou tudo que era necessário para o fluído de teia também, e por um momento se sentiu contente em não ter que pensar em roubar um pouco do laboratório de química da escola.

 Por fim, eles se estabeleceram em duas pulseiras simples e o novo mecanismo pareceu funcionar perfeitamente. Peter estava apenas esperando o momento ideal para começar a usa-los em ação.

 Uma coisa ruim sobre isso é que agora ele precisa trancar a porta do quarto toda vez que está lá dentro, porque seus hábitos de aranha eram frequentes e, com apenas um deslize, qualquer um poderia encontra-lo pendurado de cabeça pra baixo com o celular ou um livro em mãos.

 Ele não podia evitar, era mais confortável do que ficar sentado em sua cadeira.

 Apesar de todos estarem muito ocupados, era normal em noites de sábado os Vingadores livres se reunirem na sala de estar apenas para assistir alguma coisa, seja um filme antigo ou atual ou até mesmo um documentário — Peter gostava desses, porque geralmente era Tony quem sugeria e sempre era interessante de assistir — Isso estava ajudando a convivência na Torre.

 O problema era que esse não era o ambiente que Peter estava acostumado, não era estilo dele ter uma rotina. Peter estava emburrado, entendido e se contorcendo por dentro para poder sair, para poder voltar a ser o Homem-Aranha e fazer alguma coisa que estivesse fora dessa rotina.

 E agora que fevereiro estava quase acabando e a neve começou a perder força, ele está criando coragem para perguntar ao sr. Stark se ele pode ou não sair, apenas para dar uma volta, não necessariamente para ir até Ned ou até seus tios.

 Seu objetivo principal é passar em uma loja de roupas e tecidos que sempre aparece na ida e na vinda do colégio; um lugarzinho pequeno, mas que ganha destaque em meio as lojas. Não é muito longe e Peter gosta de imaginar que lá dentro vai ter tudo que ele precisa para o traje do Homem-Aranha.

  O problema é que ele ainda está hesitante em pedir as coisas para Tony. Era apenas um pequeno detalhe que estava se tornando insuportável. Desde que ele começou a morar na Torre, Peter foi até a casa de Ned três vezes e visitou seus tios duas. Era simples, mas considerando o tempo quase que infinito que ele passou em seu quarto, as coisas estavam começando a se tornar sufocantes. Por isso Peter estava se sentindo preso e muito hesitante em pedir ao sr. Stark permissão para ele sair.

 Algo fazia com que ele mantivesse um pé atrás.

 Durante esse tempo, Tony não tinha sido nada além de um ótimo pai e Peter está começando a ver ele desse jeito; o que era completamente diferente de apenas saber disso. Era normal encontra-los juntos, seja na sala de estar ou no laboratório. Tony estava se tornando rápidamente a pessoa favorita de Peter.

 Tony fazia questão de deixar bem claro que Peter era mais do que bem-vindo, mas ele ainda estava hesitante com as pequenas coisas; sair era uma delas.

 Mas hoje era o dia!

 A aula já tinha acabado e Peter estava pulando a prática do Decatlo. Era a primeira vez que ele fazia isso e estava rezando internamente para Liz não se importar, o que provavelmente iria acontecer porque a bendita da competição era daqui a três semanas. Toda equipe está dando o seu melhor, mas em sua defesa é a primeira vez que Peter pula a prática.

 Peter estava na frente do colégio, com seu celular na mão e tremendo levemente enquanto pensava no que fazer.

 Seus dedos estavam pairando sobre o teclado do Starkphone, sem realmente fazer algum movimento. Ele estava considerando o que escrever, em como abordar o assunto, qualquer coisa, mas a ansiedade estava deixando ele nervoso.

 Peter respirou fundo antes de decidir ir direto ao ponto.

 “Ei senhor Stark

 Posso ir na casa do Ned hoje? ”

 Era uma mentira.

 Uma mentira descarada e por isso ele se sentiu mal em usar Ned desse jeito, mas era a única forma de conseguir ludibriar tanto Tony quanto Happy — que pareciam sempre estar na sua cola. Peter engoliu o nervosismo e decidiu pelo menos tentar.

 O que o sr. Stark iria fazer afinal? Deixar ele de castigo? Peter tinha que pelo menos tentar.

 Felizmente, Tony não demorou muito para responder, e Peter só se sentiu mais nervoso com a resposta.

 “Agora? ”

 Peter realmente gostava do seu pai. Ele amava o seu jeito de ser e a forma como o homem sempre arrumava um tempinho para lhe dar atenção; ele se sente como alguém de sorte, alguém que tem tudo depois de não ter nada.

 Mas Tony consegue ser bem chato em alguns momentos.

 Ele estava se tornando muito protetor, quase que sufocando Peter. Isso era algo que o jovem aranha não estava acostumado e ainda depois de alguns meses estranhava — ele nunca vai se acostumar a ter um adulto ali, esperando explicações do que ele faz ou deixa de fazer, durante um bom tempo ele esteve completamente sozinho. As coisas eram diferentes agora, mas vai levar tempo até que Peter se acostume com isso.

 Ele sabia que era apenas o jeitinho de Tony; a forma como ele está lidando agora que seu filho, desaparecido por onze anos, estava de volta.

 Mas ainda assim era sufocante.

 “Nós temos um trabalho de história”

 Outra mentira.

 Peter tentou jogar a culpa de lado e focar no presente, mesmo que tivesse um nó de nervosismo em sua garganta. Ele tinha que fazer isso se quisesse fazer o traje do Homem-Aranha, afinal, tecidos não vão simplesmente aparecer do nada na Torre. Ou vão?

 Não é como se ele estivesse se sentindo confortável com isso, era apenas necessário.

 Tony demorou um pouco mais para responder, e cada segundo foi como uma eternidade para Peter — isso estava deixando ele cada vez mais inquieto. Suas mãos já estavam começando a suar de nervosismo e as luvas estavam se tornando incomodas. Peter tentou afastar o sentimento por abrir e fechar as mãos repetidas vezes, mas não adiantou.

 Ele estava nervoso.

 E agora também estava começando a ficar com frio, ali, parado na frente do colégio, mesmo que não houvesse neve e o sol já estivesse se esgueirando pelas nuvens de forma tímida.

 Peter estava ansioso pela primavera, em parte porque finalmente iria poder voltar a ser o Homem-Aranha. Mas esse não era o único motivo; ele estaria bem longe do frio e vai ser como se sua nova vida finalmente pudesse finalmente se instalar. Ele vai poder sair e entrar na Torre sem restrições, sem a desculpa da escola.

 Pelo menos ele esperava que fosse assim.

 Peter se sentiu ansioso quando seu celular vibrou mais uma vez, tirando-o dos seus devaneios.

 “Happy vai te buscar as 6 hrs”

 Peter nem ao menos se deu ao trabalho de reprimir um gemido descontente, deixando mais do que claro a sua insatisfação. Ele inclinou a cabeça para trás e respirou fundo, pensando no que fazer agora. O ar frio encheu os seus pulmões e isso foi como um calmante.

 Happy iria estragar completamente seus planos se ele não fizesse alguma coisa.

 O jovem aranha piscou, tentando pensar em alguma coisa, qualquer coisa que fizesse Tony mudar de ideia.

 Ele acabou pensando em algo que poderia ou não funcionar, mas ninguém podia julga-lo por ao menos tentar.

 “ñ precisa pai

 Eu sei que o Happy odeia dirigir de noite

 Posso pegar o metro”

 Peter sabia que estava jogando sujo, afinal, ele ainda não consegue chamar Tony de pai abertamente. Talvez tivesse escapada uma ou duas vezes, mas apenas quando ambos estavam sozinhos. Era quase como um reflexo involuntário. Essa é mais uma das mudanças que ele precisa fazer para se acostumar com a nova vida, mas primeiro ele precisa parar de chamar o homem de “Sr. Stark”.

 Por enquanto ele vai jogar sujo e rezar para que dê certo.

 “Peter

 Não comece”

 Peter gemeu, se sentindo frustrado com tudo isso. Ele esfregou as mãos no rosto, já podendo sentir que uma dor de cabeça estava se formando em seu lóbulo frontal — e não tinha nada a ver com os seus sentidos sensíveis.

 No fundo do seu coração uma pontada de raiva e revolta surgiu. Ele estava sendo obediente, okey? Ele sempre passava um bom tempo com Tony no laboratório, ele estava na escola todos os dias, ele se empenhava em fazer o dever de casa sozinho, ele nunca entrou em briga apesar de Flash Thompson estar praticamente implorando por isso.

Tudo que ele está pedindo agora é pra sair um pouquinho daquela bendita Torre! Será que isso é muito?

 Peter respirou fundo várias vezes, contando até dez silenciosamente enquanto tentava acalmar seus pensamentos que já estavam começando a divagar e se tornando, involuntariamente, hostis. Ele olhou para a tela do celular e engoliu em seco, sentindo dificuldade ao fazê-lo por causa do nó em sua garganta.

 “Vc pode confiar em mim? Só dessa vez? ”

 Peter encolheu os ombros e se sentou no meio fio, mais para buscar algum tipo de apoio. Ele enfiou o rosto entre os braços, sentindo um certa aflição e impotência que ele não sentia a muito tempo, algo que fez seu coração se acelerar dolorosamente e ele sentiu que precisava de alguns segundos para se acalmar.

Peter não estava olhando para o celular quando o mesmo tremeu levemente, junto com um zumbido, ele também demorou um pouco mais para visualizar.

 “Esteja em casa as 5”

 Peter sentiu seu corpo tremer em antecipação e soltou um suspiro trêmulo, relendo a mensagem apenas para se certificar de que ela não estava errada. Ele abriu um sorriso enorme e cheio de dentes, uma nova onda de excitação passando pelo seu corpo. Peter se impulsionou para cima e praticamente deu um pulinho de felicidade enquanto respondia.

 “Pode deixar!

 Obrigado senhor Stark! ”

 Peter ajeitou a mochila nas costas e não hesitou em começar o seu caminho até a loja, que não ficava muito longe da escola. A essa altura, ele já tinha decorado o caminho apenas olhando pela janela do carro.

 Seu celular tremeu mais uma vez e ele poupou um rápido olhar.

 “ Tome cuidado”

  Ele ampliou ainda mais o seu sorriso — mesmo que isso parecesse impossível — e por um instante, Peter se perguntou o que ele tinha feito para merecer alguém como Tony Stark em sua vida.

 Ele simplesmente tinha o melhor pai do mundo!

 Com esse pensamento, Peter não pode conter o entusiasmo e praticamente correu pelas ruas, escorrendo na neve meio derretida algumas vezes, mas graças aos seus reflexos ele conseguiu ficar de pé.

 ...

 Peter passou um bom tempo dentro da loja de tecidos, em parte olhando para as suas opções sem ter um exemplo em mente, mas as suas ideias ainda estavam ali para ajudá-lo. Assim como o planejado, ele optou por elastano, pelo menos por agora — talvez, mais pra frente, ele mude isso quando adaptar melhor o seu traje.

 O jovem aranha não teve muitos problemas em comprar os materiais, já que nas últimas semanas ele veem guardando o dinheiro do lanche, pensando exatamente nesse momento. Não que isso fosse algo muito difícil já que Tony nem ao menos pensava em economizar.

No final, ele saiu da loja com três metros de elastano azul, três metros de elastano vermelho, fios pretos, uma revista sobre costura, uma tinta de tecido preta, tesoura, fita métrica e mais um monte de agulhas. Secretamente ele estava rezando internamente para que isso fosse tudo o que ele precisasse.

 Seu conhecimento sobre costura ainda era vago, mas Peter passou grande parte do seu tempo livre estudando sobre isso e ele estava se sentindo um pouco confiante.

Peter deu um rápido olhar para o relógio no seu celular e soltou um suspiro estrangulado quando percebeu que já eram quatro e meia. Ele tinha que estar na Torre em meia hora se quisesse conquistar a confiança de Tony — o que, particularmente, é realmente importante agora.

 Ele respirou fundo, guardando as coisas dentro da mochila de forma desajeitada. Peter realmente queria dar uma passada no seu antigo “apartamento”, apenas para pegar seu ursinho e sua mochila velha, mas hoje ele estava sem tempo.

 Talvez outro dia.

 Por enquanto ele vai apenas correr para a estação de metrô mais próxima.

 ...

 Surpreendentemente, o lugar estava mais vazio do que Peter se lembrava — ele ainda estava de pé, mas o vagão em si estava quase vazio se comparado a movimentação normal em Nova York —, talvez fosse a época do ano ou o fato de ser sexta-feira, mas ele estava grato por não ser soterrado por gente.

 Ele estava apenas tanto prestar atenção no lado de fora, mas não tinha muito o que ver. Peter, surpreendentemente, demorou mais do que o normal para identificar a presença de Gwen Stacy a poucos metros de distância; em sua defesa, ela parecia estar escondida em seu enorme casaco.

— Ei Gwen! — Ele a cumprimentou, se aproximando um pouco mais. A jovem se assustou por um segundo e então se virou para encara-lo.

 No mesmo instante um sorriso floresceu em seu rosto, e então ela puxou os fones de ouvido para baixo.

 — Pete... — Ela disse, e então olhou ao redor meio confusa. — É a primeira vez que te vejo no metrô

 — Digo o mesmo — Brincou, sabendo que Gwen detesta quando algo óbvio é apontado. Ele estava descobrindo os pontos certos para irrita-la, de brincadeirinha, claro.

 Em resposta, Gwen bufou, revirando os olhos.

 — Tá indo pro centro? — Peter perguntou. Ele sabia que Gwen tinha um estágio em Manhattan, mas ela nunca falou mais profundamente sobre isso.

 Os dois tinham coisas mais loucas para conversarem, como sobre o clube de teatro, que era horrendo.

 Gwen acenou, ajeitando sua própria mochila no ombro. Assim como todas as vezes que Peter a encontra, ela está carregando pilhas de livros, tentando equilibra-los em uma mão enquanto se segura com outra.

 Esse era meio que o superpoder dela.

 — Sim. O negócio do estágio — Ela explicou e depois soltou um suspiro. — Minha colega saiu então estou me dividindo por duas. É... frustrante

 — Mas... eles não podem encontrar outro estagiário? — Peter perguntou, levantando uma sobrancelha.

 Gwen riu, como se essa tivesse sido a coisa mais engraçada que ela já ouviu.

 — Duvido que o dr. Connors vá atrás disso agora

 Foi como se o mundo tivesse parado.

 A citação do dr. Connors enviou um calafrio pela espinha, um medo e uma ansiedade estranhos para ele.

 Peter nunca analisou tanto um documento quanto aquela bendita pasta. Ele chegou a passa horas olhando a fórmula, chegando ao ponto em que decorou cada pequena parte da equação. A esse ponto, estava apenas esperando o inverno acabar para poder, em fim, ir até o cientista.

 Ele não pode esconder sua surpresa ao descobrir que Gwen, mais uma vez, estava com um pé a frente.

 — Connors? Curtis Connors? — Ele perguntou, já sabendo a resposta, mas era como se ele precisasse de uma confirmação verbal.

 Gwen olhou para ele levemente assustada, não esperando uma reação como essa.

 — Sim... — Ela balançou a cabeça, como se para deixar os pensamentos de lado — Eu faço estágio na Oscorp... pensei que tivesse comentado com você sobre isso

 Não, ela não comentou, porque se tivesse comentado, Peter com certeza se lembraria.

 — Não, você não comentou... — Ele afirmou, balançando a cabeça meio que perdido em pensamentos. Ele tentou se recompor e então perguntou: — Você gosta de trabalhar com ele...? — A pergunta veio naturalmente, e talvez tivesse um pouco de apreensão em sua voz, mas ele não conseguiu disfarçar e esconde-la.

 Gwen levantou uma sobrancelha para ele, parecendo um pouco cética. Mas ela pareceu ignorar isso e simplesmente continuou com a explicação.

 — É legal. Tem toda essa dinâmica de lagartos... aranhas, ratos. Eu costumava fazer apenas algumas coisinhas, na maior parte do tempo era guia turística — Ela disse, e então franziu os lábios em linha reta. — Mas então a Anya saiu e agora eu faço tudo... tudo

 Ela parecia casada, agora que Peter a analisou de perto. Por um momento ele se perguntou como Gwen conseguia lidar com o estágio e com a escola ao mesmo tempo. Apenas a escola, por si só, conseguia ser exaustiva. Ele decidiu fazer o possível para anima-la.

— E você é uma boa guia? — Perguntou, um sorriso travesso em seu rosto. Gwen revirou os olhos para isso.

 — Eu acredito que sim — Ela concordou com a cabeça, parecendo agora um pouco mais tímida, mas não recuou. — Pelo menos ninguém nunca foi reclamar

 Peter riu, um som que trovejou em seu peito. Suas conversas com Gwen sempre eram confortáveis.

 — E você? O que vai fazer no centro — Foi a vez de ela perguntar, provavelmente tentando puxar assunto.

 — Eu moro no centro — Ele disse, limitando as informações apenas a isso por motivos óbvios.

 — Você mora? Meio longe de Midtown, não acha? — Gwen franziu os lábios para isso e Peter sentiu a necessidade de explicar, obviamente, omitindo muitas outras coisas por trás.

 — Meu pai é meio exigente... ele queria que eu estudasse em Midtown e como é um lugar meio familiar eu decidi aceitar — Ele deu de ombro, como se apenas isso explicasse toda a situação.

 Não era uma mentira. Tony podia ser muito exigente quando queria. Na verdade, ele era exigente a maior parte do tempo, mas Peter não estava reclamando disso — ele estava começando a se acostumar.

 — Te entendo. O meu também consegue ser bem exigente — Ela disse, prolongando a palavra “bem”. — Acho que é coisa de pai

 — Deve ser... — Peter concordou.

 O jovem aranha desviou o olhar da loira na sua frente por um milésimo de segundo, apenas para dar uma olhada ao seu redor.

 Gwen começou a falar alguma coisa, completamente entusiasmada —algo sobre seu pai e a polícia —, mas Peter simplesmente não conseguiu prestar atenção porque seus olhos capitaram uma pessoa, sentando no banco mais distante do vagão, mexendo no celular sem nem ao menos olhar o mundo a sua volta.

 Seus cabelos eram de um loiro grisalho e ele estava usando um casaco azul, a postura curvada e parecendo bem cansado e exausto. Peter não podia ver seus olhos, mas algo lhe disse que eram azuis.

 Por um instante seu corpo congelou.

 Era Skip.

 O pânico que dominou seu peito era inexplicável, chupando todo o ar de seus pulmões. O jovem aranha arfou e puxou o capuz da jaqueta para cima de forma quase que desesperada, como se isso fosse ser capaz de esconde-lo de alguma forma e ele estava realmente contando com isso.

 Era praticamente a única coisa que poderia lhe proteger agora.

 Sua postura se tornou rígida, ombros tão eretos quando uma parede de tijolos. Peter ainda era capaz de sentir seu próprio coração batendo a mil por hora, de forma tão dolorosa que o simples ato de respirar se tornou doloroso.

 Ele podia sentir o medo rastejando pelas suas costas, fazendo as marcas invisíveis coçaram — apenas uma lembrança que constantemente estava pairando sobre a sua cabeça. Peter fez o possível para desviar o olhar, se escondendo em seu canto enquanto rezava internamente para o homem não lhe reconhecer.

 Se possível nem olhar na sua direção.

 Seu pânico foi tão grande que ele nem notou a ausência do seu sentido aranha.

 Não importa o quanto ele tentasse, simplesmente não podia se concentrar na voz de Gwen.

 Talvez Peter devesse ter ouvido o sr. Stark, ter planejado melhor a mentira ao ponto de realmente terminar na casa de Ned. Talvez ele tivesse evitado isso, talvez ele nunca tivesse encontrado com Skip novamente.

 Peter se sentiu desprotegido, vulnerável, e desejou profundamente que seu pai estivesse aqui, só para enrola-lo em mais um dos seus abraços e brincar com seu cabelo como ele sempre fazia. Ele queria estar em casa, na Torre, junto com as pessoas que agora são sua família.

 Uma família desgovernada, estranha e irregular, mas ainda assim uma família melhor do que Skip jamais fora.

 Ele piscou e de repente lágrimas estavam nublando sua visão.

 Peter se encolheu contra o apoio, tentando parecer menor e se esconder atrás de Gwen e das demais pessoas no vagão. Era um ato desesperado, mas ainda assim era a sua melhor aposta no momento.

 Ele não estava preparado quando o homem virou o rosto para dar uma olhada ao redor do vagão.

 Foi só então que Peter percebeu que não era Skip ali, era apenas um homem muito parecido com ele. Até mesmo as rugas eram as mesmas, mas seus olhos eram castanhos, bem diferentes do azul gelo que estava gravado em sua mente.

 Peter soltou o ar que estava preso em seus pulmões, sentindo todo seu corpo amolecer junto dele. Ele se sentiu fraco, sobrecarregado, e precisou apoiar a cabeça no apoio para não deslizar para o chão.

 O medo ainda estava ali, claro como a água. E se fosse de fato Skip? O que ele faria? Não poderia simplesmente quebrar a janela do metrô e pular para fora.

 Peter se sentiu tonto.

  — Você está bem? — A voz suave de Gwen perguntou, quebrando seus pensamentos bagunçando e desesperados. Talvez ela tivesse notando o estado de Peter, o quão pálido seu rosto estava.

 O jovem aranha precisou respirar fundo e mudar seu olhar para longe do homem sentado, só assim ele poderia se concentrar em outra coisa — mesmo que ainda extremamente consciente da presença logo ali, do outro lado do vagão. Buscando apoio, ele encarou o rosto levemente confuso de Gwen.

 — Estou bem... — Ele disse com a voz trêmula, meio ofegante. Seu coração ainda estava agitado, mesmo que não tivesse perigo ao redor.

 Peter congelou, mortificado por um momento quando as portas se abriram e ele pode ver de soslaio quando aquele mesmo homem se levantou. Ele sabia que não era Skip, mas isso não tornou a presença menos desconfortável. Era apenas algo inconsciente, um medo enraizado em seu corpo. Ele encolheu mais contra o apoio, como se isso fosse capaz de fazer seu corpo desaparecer, mas a única coisa que ele pode fazer foi esperar.

 Não demorou muito e logo as portas fecharam e o metrô voltou a andar.

 Com os olhos arregalados, Peter olhou de soslaio para trás, esperando ver o homem bem mais perto do que antes — talvez até mesmo pairando sobre ele —, mas para a sua surpresa, ele estava longe de ser visto.

 Peter soltou todo o ar que estava segurando, fazendo até mesmo seus ombros caírem em alivio claro. Seu coração ainda estava martelando loucamente em seu peito. Só então ele foi capaz de perceber que seu sentido aranha nunca foi alterado.

 Isso por si só já era um forte indicio de que ele estava bem, seguro, e apenas indo para casa como um adolescente normal faria todos os dias de tarde. Foi a única coisa que ele teve para se agarrar, confiando em seu sentido aranha.

  Ainda assim a sensação de medo e terror estavam rastejando pelas suas costas. Isso provavelmente iria se arrastar pelo resto do dia.

 — Você não parece muito bem— Gwen apontou, chamando sua atenção mais uma vez.

 Peter tentou forçar um sorriso, algo que demonstrasse que ele estava bem — pelo menos por agora —, mas ele não tinha tanta certeza de que tinha funcionado. Seu coração ainda estava acelerado e ele tentou controlar a respiração e se acalmar um pouco.

 — Acho que minha pressão caiu... desculpa — Peter deu a desculpa fajuta, a melhor que ele pode pensar, mas pareceu convencer Gwen por agora. — Do que você estava falando?

 — Ah certo. Eu estava falando sobre, você sabe, uma possível excursão que pode ter esse ano para a Oscorp — Ela disse, ainda um pouco apreensiva, mas dessa vez Peter conseguiu prestar atenção.

 Ele tentou focar apenas nela, em seu rosto calmo e no pequeno solavanco de suas sobrancelhas.

 — Pra nossa escola? — Peter não pode evitar a pergunta, sentindo finalmente que a tensão estava se esvaziando do seu corpo.

 Ele ainda se lembra quando a sua antiga escola fez uma excursão à Oscorp — como esquecer? —, a ideia de voltar lá não é desagradável, apenas um pouco estranha. Talvez ele até possa ver as aranhas novamente e descobrir algumas coisas.

 — Mais ou menos — Gwen disse, mudando o peso de um pé para o outro. — A Visions Academy pode ir com a gente no mesmo dia. Mas isso não muda o fato de que eu vou ser a guia — Ela revirou os olhos para a última parte, algo que fez Peter sorrir, finalmente sendo capaz de pelo menos se distrair um pouco.

 — Isso é legal — Ele disse. Deveria haver um entusiasmo em sua voz, ele não pode forçar isso. — Pelo menos todo mundo vai saber que você é inteligente o bastante para fazer um estágio na Oscorp

 Gwen riu, um som doce e cativante, algo que ele ouviu poucas vezes desde que se conheceram.

 Para a surpresa dos dois o metrô parou e só então o jovem aranha notou que essa era a sua estação.

 — Você desce aqui também? — Gwen perguntou, se afastando do apoio para ir em direção as portas, Peter a seguiu.

 — Sim — Ele concordou com um aceno.

 Os dois sairam do metrô lado a lado, ainda conversando sobre a possível excursão. Gwen estava demonstrando seu entusiasmo com o estágio, mesmo que parecesse cansada, ainda tinha um brilho claro em seu rosto. Foi só quando chegaram na rua que Gwen parou para se virar e encarar Peter.

 — Acho que é aqui que nos separamos— Ela disse, oferecendo um pequeno sorriso. — Vejo você segunda Parker

 — O mesmo Stacy, e tente não se sobrecarregar. Você pode sempre pedir demissão — Peter brincou, apenas para fazer a sua mente e o seu corpo voltarem a funcionar normalmente.

 Gwen riu, e então balançou a cabeça negativamente.

 — Connors morreria sem mim, não posso fazer isso — Ela disse meio melodramática.

 Os dois riram, o clima finalmente descontraído. Peter se permitiu acenar.

 — Até — Ele se despediu mais uma vez.

 Os dois se separaram, Gwen estava indo para a esquerda, em direção a Oscorp, já Peter se virou para a enorme Torre que não estava muito longe dele, mas ainda assim omitia a luz e quase alcançava os céus. Ele se sentiu ansioso só de pensar na Torre, como se o que estivesse esperando por ele ainda fosse difícil de acreditar.

 Ele sorriu, aceitando que essa era a sua vida agora — bem longe de Skip — e começou a andar em direção a sua casa. No caminho, Peter olhou para as novas mensagens em seu celular.

 “Liz vai te matar”

 Foi a única coisa que MJ mandou.

 Peter revirou os olhos, respondendo a mensagem rapidamente. Ele podia lidar com Liz mais tarde, por agora ele vai apenas correr pelas ruas de Manhattan apenas para alcançar a Torre antes que seu pai surte. Porque sim, Tony podia facilmente surtar quanto a isso.

 Peter entrou na Torre com seu crachá de aceso em mãos. Geralmente ele não precisa usá-lo já que Sexta-Feira o conhece, mas hoje ele está entrando pela porta da frente e isso é obrigatório para passar pela catraca.

 Nenhum dos funcionários estranhou sua presença, o que foi bom já que ninguém perguntou quem ele era e como tinha o acesso livre a Torre. Peter passou pela catraca com uma certa pressa e foi para o elevador pessoal — tanto dos Vingadores quanto do sr. Stark.

 — Bem-vindo de volta Peter, já avisei ao chefe que você chegou — Sexta-Feira o cumprimentou e Peter sorriu para o teto, mesmo sabendo que ninguém estava vendo ele.

 — Obrigado Sexta — Ele disse, soltando um leve suspiro cansado.

 Por um momento Peter fechou os olhos e respirou fundo, esperando que isso fizesse seu corpo relaxar, apenas um pouquinho. Ele tentou deixar as lembranças de Skip para trás e se concentrar no presente. Era a única coisa que ele podia fazer agora.

 Logo as portas se abriram e ele se viu na sala que aos poucos estava se acostumando a chamar de “casa”.

 A primeira coisa que Peter notou, ainda quando estava dentro do elevador, era que Tony estava esperando por ele na poltrona — a qual ele só usa quando está lendo ou trabalhando no celular —, mexendo em seu celular distraidamente. A televisão estava desligada e o silêncio na sala era mortal.

 Ele se sentiu receoso apenas com essa atmosfera diferente.

  — Oi — Ele disse, anunciando sua chegada mesmo que Sexta-Feira já tenha feito isso antes.

Peter entrou, avançando pela sala. A primeira coisa que ele fez foi abaixar o capuz, esperando que isso fosse ajudar um pouco na sua aparência. O jovem aranha tirou a mochila e esperou silenciosamente que seu pai dissesse alguma coisa.

 Tony estava olhando pra ele, analisando suas feições como se estivesse buscando por algum machucado ou hematoma, claramente tenso. Peter resolveu oferecer um sorriso, apenas uma pequena garantia de que ele estava bem.

 Isso pareceu trazer o bilionário de volta.

Por fim, ele viu quando Tony soltou um suspiro cansado e levantou o olhar para o filho, quase como se estivesse tendo uma luta interna por um momento. Seus olhos estavam brilhando de uma forma ansiosa, um sentimento que Peter não conseguiu entender claramente.

 Bem, era apenas Tony agindo. As vezes ele podia agir de um jeito bem diferente.

 — Talvez eu devesse confiar um pouco mais em você garoto — Ele disse, voz cheia com um misto de sentimento. Peter pode ouvir a angustia e ao mesmo tempo o orgulho ali.

  Foram pequenas palavras, mas pra ele foi a melhor coisas em todos os tempo. Peter não conseguiu conter ou reprimiu seu sorriso.

 Talvez Tony estivesse apenas aceitando o fato de que ele não é uma criança indefesa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Meu Deus do céu vocês não sabem o quanto esse capítulo foi difícil de escrever! Eu não conseguia decidir se já estava na hora dele ou não, mas resolvi ir mesmo assim pq já estava enrolando demais! Para ter uma noção do tamanha do minha enrolação esse era para ser o capítulo 6! CAPÍTULO 6!

Acabou sendo o 10.

Mas tudo bem né, vida que segue. Peço desculpa pelos possíveis erros, to mortinha...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Protocolo - Bebê Aranha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.