Ela era luz, embora aqueles cabelos rosados negassem com veemência aquela afirmação. Era o que Sasuke pensava naquela noite de completo breu em que foi embora.

A verdade era que não queria ir. Mas ela era calor, apesar da pele branca e do verde pálido daqueles olhos. E ele precisava de um coração rochoso, da pedra lisa em molde, da frieza do ódio em suas veias.

Cada um de seus passos era marcado por sim e não naquela hora. Porque ela era amor, apesar de toda a morte que o cercava. Mas eram as lembranças daquelas mortes de que precisava. Do sangue vermelho pelo chão batido, do rangir da madeira e do som da lâmina conforme o luar transformava um garoto em assassino.

Ela era remédio e cura, e Sasuke sabia precisar das rachaduras e feridas abertas, da batida dolorosa de um coração partido.

Partido. Sasuke partiria.

Pois ela era rio a desaguar num mar de vida. Era a cheia fértil em meio ao deserto interminável. E ele necessitava beber das próprias lágrimas salgadas, ao invés de saciar sua sede naquelas águas primorosas.

Queria tê-la ali, mas não podia ficar, e nem levar. Então seguiria sozinho, veria a si mesmo secar, murchar e cair até que outra semente nascesse, alimentada pela necessidade sádica e vigorosa pela brutalidade fatal.

E não lhe parecia certo, mas não precisava ser. Visto que ela era a certeza, Sasuke colocou a venda da herança Uchiha, decidido a trilhar caminhos marcados à brasa, disposto a ganhar cicatrizes além das que levava consigo.

Ela era a verdade. Ele, por conseguinte, necessitava do fingimento, das mentiras que contava à si mesmo, e até das que não sabia seguir ou ouvir. Precisava daquela armadura de inverdades jogadas aos quatro ventos, dos muros que construíra ao seu redor.

Ele devia ser ira. Mas como ser ira, se ela era felicidade?

Mas ela era merecedora de sê-lo. Não Sasuke.

E ele queria vê-la feliz, mais feliz do que ele poderia fazer. Transmitindo o raiar do sol em cada sorriso aberto.

Só que ele era raiva. Então foi.

Sasuke partiria. E partiu.