Seven Warriors escrita por Naru


Capítulo 8
Não diga "conte comigo" - parte 2




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     Os dois homens se juntaram e se entreolharam, como se tivessem encarando um homem completamente louco e então apressaram seus passos para o mais longe possível dali. Dylan percebeu que exagerou um pouco na sua reação e se culpou mentalmente por isso, ele estava bem cansado, imundo, atordoado e agora completamente preocupado. Sem perceber, sentou na escada que levava a varanda e escondeu o rosto em suas mãos sujas, que se entrelaçavam em seu cabelo. Ele precisava de um momento em silêncio para então organizar seus pensamentos e ir atrás de Adrien de alguma forma.

   Após algum tempo perdido em seus próprios pensamentos, Dylan resolveu procurar Adrien nos locais mais óbvios em que uma pessoa ferida poderia estar. Primeiro ele se deslocou até o hospital, ficando decepcionado ao descobrir que ninguém naquelas características havia dado entrada no dia. Logo depois ele recorreu a delegacia, porém, também não havia rastros de nenhum caso daquele tipo e ele não podia ainda dar entrada em um pedido de desaparecimento. Com isso, após carregar a bateria do celular ainda na delegacia, causando o descontentamento dos policiais, ele enviou mensagens a Sarah e Ryan para saber se eles tinham contato com algum familiar de Adrien ou ao menos o contato dele ou endereço.

Como ele esperava, nenhum deles sabia ou já tinha visto algum parente de Adrien, porém, para sua surpresa, Sarah tinha o número de celular dele pois era a representante de turma e tinha o número de todos os alunos. Eles estavam muito curiosos devido ao interesse de Dylan nessas informações tão de repente mas ele não tinha tempo para explicações e acabou deixando ambos sem respostas. Enquanto caminhava em direção a floricultura, pois era o único local que já havia visto Adrien fora da escola, ele discou o número que Sarah havia passado, levando o celular ao ouvido e desejando em seu peito ouvir alguma voz do outro lado, mas o telefone chamou intensamente sem ninguém atender.

— Droga! Onde você se meteu? – Dylan suspirou ao vazio no meio da rua enquanto olhava a tela do celular. Ele tinha uma sensação de culpa muito forte devido a situação, havia um medo grande de que o ex colega de escola tivesse morrido, ou pelos ferimentos, ou por alguém mal-intencionado.

   Ele resolveu continuar ligando para o celular que Sarah havia passado, torcendo para não ser um número antigo. Ao se aproximar mais da floricultura, ele praguejou internamente ao avistar que ela estava fechada e sem rastros de pessoas, da mesma forma que estava mais cedo. Quando já ia desligar o celular e desistir daquele meio, ele afastou o aparelho do ouvido para escutar uma música baixa vinda do estabelecimento, de forma sincronizada com as chamadas que ele estava fazendo. O celular estava dentro da floricultura! Ao perceber isso, ele correu o máximo que podia até o local, gritando o mais alto que conseguia:

 ― Adrien! Adrien! É o Dylan! Você está aí? Abre para mim! ― Mas o silencio se mantinha na loja, aumentando ainda mais com o fim do toque de celular. ― Você está bem? Não consegue abrir? Eu vou invadir se não abrir!              

    Ao esperar alguns minutos e notar que não havia nenhum movimento no interior, Dylan não pensou duas vezes e pulou a mureta baixa da floricultura, derrubando alguns vasos em sua aterrissagem. A única coisa que o separava do interior da loja era uma porta de vidro, que por mais que ele se esforçasse para olhar por ela, não conseguia ver se havia alguém dentro do local, devido a escuridão. Assim, após pensar em algumas alternativas e não encontrar nenhuma, ele envolveu a mão em seu casaco e em um soco único quebrou o vidro da porta em vários pedaços, conseguindo então abrir pela tranca interior.

   No interior da loja ele conseguiu perceber que de fato o local estava vazio e que Adrien não parecia ter aparecido por ali, pelo menos não nas últimas horas. Ele andou alguns passos conseguindo ouvir o tilintar dos vidros se quebrando embaixo de seus sapatos molhados. Seguiu direto até uma porta atrás do balcão que parecia ser o caixa e então tentou abrir a porta já acreditando que estaria trancada, porém, para a sua surpresa, ele conseguiu entrar e deu de cara com a escuridão total, o que fez ele tatear a parede um pouco atrapalhado e encontrar o interruptor, deixando que o cômodo todo se iluminasse.

    O local era minúsculo e parecia ser um quarto onde cabia apenas um armário de gavetas e uma cama de solteiro, ambos arrumados como se ali vivesse uma pessoa extremamente cuidadosa. Ali, em cima do único armário, ele avistou o celular de Adrien e percebeu que o outro havia apenas esquecido o aparelho ali. Do lado desses móveis havia uma outra porta entreaberta onde ele rapidamente conferiu se tratar de um banheiro, que por incrível que parecia era de um tamanho considerável e tinha uma banheira confortável.

     Pelo pouco que conseguiu averiguar, aparentemente Adrien dormia ali algumas noites.O que martelava em sua cabeça era: por que ele fazia isso? Será que a sua casa era longe demais e de vez em quando ele precisava dormir por ali? Na realidade, ele não conseguiu encontrar o endereço de Adrien, nem mesmo quando havia procurado na delegacia, o que era muito estranho. Ele nunca havia conhecido alguém da escola que já tinha ido na casa de Adrien, nem mesmo para um trabalho escolar, na verdade, o colega tinha fama de rejeitar a ajuda de qualquer pessoa e preferia fazer quase todos sozinhos.

         Dylan sentia-se frustrado por não ter conseguido encontrá-lo e por mais que a loja estivesse completamente vazia, esse era o local mais provável que ele fosse aparecer em algum momento, por isso, ele nem pensou duas vezes ao decidir que passaria a noite ali de guarda, pelo menos para garantir que o veria caso ele voltasse. Porém, ele sentia um medo terrível subir em seu peito ao pensar no que faria caso o colega não aparecesse em momento nenhum.

      Após tomar a decisão, ele sentou na cama, pegou rapidamente o celular e digitou uma mensagem para sua mãe informando que Oliver estava de visitante na cidade e que ele iria dormir na casa do amigo aquela noite. Aquele era o melhor amigo de escola de Dylan junto com Sarah e Ryan e que, devido a faculdade, tinha se mudado para New York no ano anterior. Com certeza a sua mãe acreditaria. Tão logo ele pensou isso e enviou a mensagem, ela respondeu com um “ok, cuide-se” seguido de emojis carinhosos. Ele encarou a tela do celular com um leve sorriso pouco antes de não perceber que seus olhos estavam praticamente fechando sozinhos, o dia tinha sido extremamente longo e cansativo, não só para seu corpo mas também para seu psicológico, assim ele pegou no sono ali mesmo, sentado.

    Dylan sonhou que estava andando pela cidade no meio da madrugada em um momento onde não havia ninguém na rua. Seus passos estavam calmos e precisos, porém, ele avistou algumas pegadas manchadas de vermelho bem ao seu lado no asfalto. Após forçar um pouco a visão, se alarmou ao notar que se tratavam de pegadas de sangue e com isso se apressou ao máximo para encontrar a vítima que estava naquela situação.

       Um pânico tomou a sua mente ao pensar que poderia se tratar de algum conhecido, ele não entendia o porquê, mas em seu interior ele sentia que sabia a quem pertencia aquele sangue. Tão logo andava sem rumo na própria rua quando avistou um corpo jogado entre os arbustos da sua casa, o que fez com que seu coração acelerasse na mesma velocidade que seus pés e então ele se aproximou rapidamente do corpo. Todas as suas células gelaram ao que ele teve certeza de quem se tratava, os fios loiros quase brancos, as feições finas e todo aquele sangue, ele percebeu na hora de quem se tratava e o pânico tomou conta de suas ações pouco antes de tudo aquilo se esmaecer em seu cérebro e então, acordar em um grito único e bem alto:

― Adrien!! ― gritou em meio a um solavanco do corpo, sentando enquanto apoiava as mãos na cama.

      Ele sentia seu corpo extremamente molhado de suor e estranhou ter uma coberta em cima de si, já que não se lembrava nem ao menos de ter deitado para dormir. Como havia uma pequena janela no quarto que dava para a lateral da loja, ele viu os raios solares entrando pelo vidro, iluminando o local e o impedindo de abrir os olhos completamente, aparentemente ele estava cansado ao ponto de ter dormido a noite inteira.

     Quando finalmente esfregou os olhos com ambas as mãos e conseguiu abrir as pálpebras de uma só vez, ele sentiu sua boca abrir lentamente em um ato de perplexidade ao que viu Adrien sentado em uma cadeira a sua frente: a face completamente serena como se nada tivesse acontecido. Dylan abria e fechava os lábios como se estivesse procurando palavras para falar algo, porém, o outro de forma simples e utilizando um tom calmo apenas proferiu:

― Oi.

     Dylan continuava perplexo olhando aquela situação. Os cabelos de Adrien pareciam extremamente alinhados, a pele branca estava limpíssima sem nenhum vestígio da lama onde ele estava jogado no dia anterior e as roupas em nada se pareciam com a espécie de quimono que ele estava usando horas atrás. Ele estava com uma calça marrom e uma blusa de manga comprida, impecavelmente branca e com botões na parte da frente. Quanto mais ele encarava o homem sentado, menos ele entendia o que estava acontecendo. Até que percebeu o que o outro disse e respondeu de forma enfática:

― Oi?!? Oi?!?! ― Dylan levantou da cama, jogando as cobertas para o lado e se aproximou de Adrien com uma expressão furiosa em seu rosto ― Eu te encontro coberto de sangue e quase morrendo na floresta no meio de uma tempestade, ando com você nas minhas costas por quase uma hora, peço que você fique em um lugar esperando enquanto eu busco ajuda, você some e eu te procuro pela cidade inteira. De repente, você reaparece com a maior cara de tranquilidade do mundo e me diz “Oi!”? ― Ele parecia completamente irritado e gritou a última frase em uma mistura de raiva e preocupação ― Você deveria estar agora em hospital, sabia?

― Me desculpa.

― Me desculpa? A gente não tem tempo pra esse tipo de coisa, deixa eu só ver...― Ele se aproximou de Adrien em um movimento rápido e levantou a camisa do loiro de forma ligeira, impossibilitando que o outro o impedisse, porém, seus olhos se arregalaram ao notar que não havia mais nenhuma ferida ou gota de sangue na região. O abdômen de Adrien estava perfeitamente torneado e branco como mármore, nada fora do lugar. ― Mas que porra é essa?

         Adrien conseguiu tirar a blusa dos dedos de Dylan e voltou a cobrir seu corpo, porém, tarde demais. Os dois se encaravam naquele momento, o primeiro como se pensasse em alguma explicação para aquilo, os olhos azuis não se desviaram em nenhum momento das feições do outro mas continham uma insegurança que parecia não ser o usual. Já o segundo encarava com certa confusão misturada com uma indignação, notando isso, Adrien explicou:

― Eu fui ao hospital.

― Você vai mesmo brincar com a minha cara agora? ― disse em indignação, desviando o olhar para outras partes do corpo de Adrien procurando algum outro sinal de sangue, sem sucesso.

― Eu realmente fui, eles viram que era uma ferida superficial e...

― Na boa? Vai se foder! ― Os olhos azuis de Adrien ficaram mais aparentes pelo susto com aquela frase agressiva e Dylan sentiu ter ido um pouco longe demais ― Desculpa! Mas eu estou realmente indignado com isso. Onde você acha que foi o primeiro lugar que eu fui procurar um cara com um ferimento que nem o seu? No hospital! E adivinha? Você não estava e nem nunca esteve lá. Outra coisa, você espera mesmo que eu acredite que alguém que estava quase morrendo, que sangrou por vários minutos, tinha apenas um ferimento superficial que não deixou uma cicatriz sequer? Você deve realmente estar subestimando minha inteligência.

― Eu nunca faria algo assim. ― A voz de Adrien parecia ainda mais calma, mesmo com os nervos exaltados de Dylan.

― Você está fazendo! Isso tudo não faz sentido... ― Ele voltou a sentar na cama, apoiando as mãos no joelho e olhando pela primeira vez com calma para o homem a sua frente ― eu realmente fiquei preocupado. Achei que você ia morrer e que por mais que eu tenha tentado te ajudar, fiquei me culpando o tempo todo.

― Desculpa. ― Adrien parecia perdido em encontrar palavras para responder aquilo.

― Você não tem que me pedir desculpas, você só precisa me explicar o que aconteceu. Por que você estava naquele estado no meio da floresta vestido daquele jeito? Por que você sumiu? O que aconteceu com seus ferimentos?

― Por que você sempre faz um monte de perguntas?

― Antes? Por curiosidade e para brincar com você. Agora? Porque eu realmente tenho o direito de saber o que aconteceu e sinto que você precisa de ajuda. Você estava ferido, alguma coisa aconteceu, a gente precisa reportar isso para polícia!

― Eu não posso te contar.

― Por que? ― disse de forma direta, fixando o olhar no azul dos olhos de Adrien como se aquilo fosse intimidá-lo.

― Eu só não posso e eu não vou.

       Dylan deixou que um suspiro saísse de sua boca e fechou os olhos na tentativa de colocar os pensamentos no lugar, talvez ainda estivesse um pouco cansado e ter aquela conversa agora realmente não fosse levar a nada. Então, ele levantou em um movimento único e evitou olhar na cara de Adrien, parecendo extremamente frustrado com a situação.

― Da próxima vez eu vou deixar você morrer. ― Dylan praguejou.

― E você é capaz disso?

― Talvez! ― Ele se virou para o outro apresentando uma feição sarcástica na face.

― Não. Você não é. ― disse em um tom baixo, porém, sem conter nenhuma dúvida.

― Você não me conhece o suficiente para saber isso.

― Eu te conheço mais do que você sabe.

― Mais do que eu sei? Nós mal trocamos algumas frases ao longo desses anos. Então, por favor, me conta que parte de mim você conhece que eu não sei!

                   Adrien fechou os olhos lentamente e engoliu o ar na mesma velocidade, parecendo juntar paciência e calma para poder falar:

― Você é bom, extrovertido, pode fazer amizade com qualquer um que se mexa, flerta com um monte de garotas e gosta de fazer muitas perguntas. Porém, não sabe controlar muito bem os seus sentimentos e quando algo o aborrece, deixa se levar pela raiva.

― Isso está errado! Eu consigo facilmente controlar minha raiva quando não é algo sério! ― Ele voltou a se aproximar de Adrien, ameaçando apontar o dedo na cara do outro, porém, se controlando com a ação em seguida. Então, jogou os cabelos exasperadamente para trás, prendendo os fios atrás das orelhas com força ― O ponto é que a coisa que eu vi ontem não foi nada simples ou baboseira, você estava machucado e quem o ajudou a sair daquela floresta foi eu. Você tem noção de que provavelmente teria morrido lá? Como eu não poderia ficar com raiva ao te ver aqui na minha frente bem, sem nenhum arranhão e não querendo me contar nada do que aconteceu!

― Você está com raiva por que eu estou bem?

― Não seja tão idiota comigo. Eu não poderia estar mais feliz por te ver bem... ― Dylan sentiu uma leve timidez o ao proferir isso, porém, sacudiu a cabeça para se livrar da sensação e continuar o raciocínio ― o ponto é que isso não faz o menor sentido. Eu sinto que você está em perigo e não quer me dizer! Eu sei que não somos as pessoas mais próximas do mundo e que nunca conseguimos ser amigos, mas eu te ajudei lá, eu te carreguei nas minhas costas e você ainda não percebeu que pode contar comigo.                        

Dylan sentiu um leve solavanco de surpresa em seu coração ao ver que Adrien tinha fechado os olhos e deixado um leve, quase imperceptível, sorriso em seus lábios finos. O ato foi tão rápido que ele pensou ter sido uma ilusão criada pelo seu cérebro. Naquele momento ele percebeu que nunca havia visto um sorriso na feição do loiro e que aquilo não devia ser normal. Então, após abrir os olhos novamente, Adrien proferiu com a voz calma e o semblante leve:

― Obrigado.

― Você não precisa dizer obrigado. ― Dylan se sentiu levemente envergonhado pela simples palavra, seus dedos foram novamente nos fios escuros de seu cabelo, posicionando-os atrás da orelha.

― Eu posso dizer mais uma coisa sobre você.

― O que? ― Dylan voltou o olhar para Adrien, curioso com aquela afirmação repentina.

― Você tem a tendência de mexer em seus cabelos forma insistente quando está aborrecido ou não sabe lidar com a situação. ― Dylan sentiu seu rosto queimar com a informação, Adrien tinha estudado com ele por dois anos, porém, ele não tinha percebido que o outro havia notado os seus trejeitos dessa forma ― Mas eu não consigo dizer se você está aborrecido ou...

― Eu estou é atrasado, preciso ir ou vou perder o emprego. ― Ele preferiu interromper o assunto fingindo olhar no celular, não queria discutir se estava ainda com raiva pela atitude de Adrien ou apenas sem graça pelas informações de suas manias.

― Ok.

― Uma coisa, ― Ele voltou a encarar o outro, recuperando a sua imponência de antes e atraindo a atenção dos olhos azuis e curiosos para si ― eu preciso ir agora, mas não pense que você vai fugir das minhas perguntas, Adrien Warren. Você se lembra, eu posso ser muito irritante e insistente quando quero.

― Eu sei.

― Uma outra coisa... ― Adrien apenas levantou as sobrancelhas como se já esperasse que a fala do outro fosse ter uma continuação ― saiba que você pode contar comigo.


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Notas finais do capítulo

Fim do capítulo! Sim, esse tem só 2 partes!

Pessoal, queria muito receber mais feedbacks de vocês pra saber se estão gostando ou não ok? Para os mais tímidos, me mandem e-mail narurodrigues@gmail.com

Próxima postagem dia 25.04 entre 20hs e 22hs ok?

Love ♥



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