Seven Warriors escrita por Naru


Capítulo 3
Não me peça para abraçá-lo - parte 2




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O resto do dia passou rapidamente e qualquer estresse da manhã foi esquecido, ainda mais no horário de almoço, onde o movimento da lanchonete era absurdamente grande, eles não tinham nem como parar para pensar em problemas com a correria que estava o estabelecimento. Para a sorte de Dylan, seu chefe pareceu ter se esquecido que ele prometera ajudar no almoço com os hambúrgueres e até mesmo que levaria um para ele experimentar.  Assim, ele se limitou a sua função usual de atender as mesas com um sorriso no rosto. Essa parte ele sabia fazer muito bem e acabava sendo elogiado pela maioria dos clientes devido a sua simpatia, mesmo vez ou outra esquecendo dos pedidos ou trocando os pratos das mesas. Parecia que isso tudo era perdoável devido a sua personalidade aparentemente cativante.

― Mocinho, mocinho, eu já cheguei há algum tempo e ainda não fui atendida! - Uma senhora levantou as mãos frágeis em direção a Dylan, que pareceu não reparar em ser solicitado. Com isso, Sarah se prontificou a andar o mais rápido possível até a mesa para atendê-la.

― Já decidiu o que deseja, senhora? ― Ela se curvou sutilmente, deixando um sorriso se desenhar em seus lábios finos.

― Sim, sim...mas das últimas vezes que eu vim aqui aquele jovenzinho me atendeu, e ele me atendeu tão bem! Tem como chamar ele, por favor? ― Ela parecia bastante sincera e não percebeu sua indelicadeza ao dispensar a jovem a sua frente. Essa por sua vez deixou um suspiro no ar, como se já estivesse acostumada com a situação.

― Um momento então, já vou chamá-lo. ― Forçou um sorriso final e foi até o colega de trabalho, que parecia completamente distraído com algo que acontecia fora da lanchonete ― Dylan! A senhora da mesa dez está te chamando há vários minutos e ela e-xi-ge que você atenda ela.

― Ah, eu sei quem é. Pode ficar tranquila que já já eu vou lá. ― Ele não desviou o olhar do exterior da loja nem por um instante.

― O que você tanto olha lá?

― A floricultura só está abrindo agora, olha lá! ― Ele apontou com a cabeça para o estabelecimento pequeno e delicado que ficava do outro lado da rua ― Ele não tem um horário fixo, os clientes devem ficar malucos com isso! Semana passada ele deixou a floricultura fechada por três dias! Será que é só ele que trabalha lá mesmo? Você já viu algum outro funcionário?

― Nunca vi, mas é porque não fico prestando atenção assim na vida dos outros. O que te importa quantas vezes por semana ele abre a loja ou que horas ele abre? Vocês nem ao menos são amigos!

― Você não se importa em ajudar seus antigos colegas de turma? Eu queria dar umas dicas de como o negócio dele pode alavancar! Se ele ficar abrindo a loja quando bem entende, isso logo vai falir.

― Eu acho que o Adrien sabe muito bem como dirigir um negócio, na verdade, tão bem quanto você! No fim do ensino médio não foi ele que acabou levando a melhor como aluno destaque, te deixando em segundo lugar? ― Sarah tentou provocar Dylan com a informação, porém, o mesmo não se incomodava com esse tipo de pódio.

― Eu ainda acho extremamente estranho que um cara como ele, que podia ter a carreira que quisesse, resolveu abandonar tudo e abrir sua própria floricultura aqui em Delphos.

― E quem é você pra falar algo? Você não está exatamente na mesma situação? ―Ela parecia indignada por ele não perceber que a vida que ele escolheu não se diferenciava em nada da vida do outro colega.

― Isso é diferente! Eu ainda vou me decidir, talvez eu vá seguir uma carreira de médico ou então monte minha própria banda, são muitos destinos que podem me esperar. ― Ele definitivamente não sabia que rumo seguir, mas gostava de jogar no ar algumas opções ― Adrien não está tirando um tempo pra pensar, ele realmente já decidiu e abriu um negócio. Será que era o sonho dele ter uma floricultura?

― Por que você não pergunta a ele diretamente? ― Ela brincou, sabendo que era improvável que ele fizesse isso, devido ao histórico pouco amigável que os dois tinham desde a época de escola.

― Você está certa! Vou falar com ele. ― disse de forma óbvia, se estranhando por não ter pensado nisso antes.

― O que? ― Sarah arregalou os olhos, achando improvável e ao mesmo tempo engraçado, pensar naquele tipo de diálogo entre os dois.

― É isso mesmo, vou lá pessoalmente dar uns conselhos a ele.

― Você só vai lá perturbar ele, como você costumava fazer. ― Ela balançou a cabeça negativamente, não querendo se meter nas coisas aleatórias que Dylan falava.

― Quando foi que eu perturbei ele? ― Ele parecia falsamente indignado.

― Você é muito cara de pau. ― Suspirou parecendo desistir do assunto ― Antes de ir perturbar ou “ajudar” qualquer pessoa, será que você pode ir atender a senhora? Ela vai criar raízes já já e eu não quero o Sr. Davidson reclamando no meu ouvido sobre isso.

 Seguindo as orientações da amiga, Dylan seguiu com suas tarefas, desempenhando a função muito melhor do que normalmente fazia, porque queria que o restaurante esvaziasse o quanto antes para que pudesse tirar o seu horário de intervalo. Depois de mais de uma hora de correria e de servir mais de vinte mesas, finalmente ele conseguiu respirar mais aliviado, tirando rapidamente o avental e escondendo atrás do balcão.

― Intervalo! ― informou a Ryan, que o encarava desconfiado de todo seu ânimo ― Volto já.

   Ele correu pela porta dos fundos e deu a volta na lanchonete, avistando de longe o seu objetivo: a pequena floricultura do bairro. Um homem de pelo menos 1,80 metros estava na porta com um avental azul claro, parecia os tons usados em roupas de bebê, embaixo do avental havia uma blusa branca fechada até seu último botão, não deixando uma parte de seu tórax de fora.  Seu corpo era bem torneado e, apesar de esguio, parecia forte. Seus olhos combinavam perfeitamente com o tom do avental, eram azuis como o céu e se escondiam atrás de óculos com armações finas, que pareciam ornamentar com suas feições marcadas e ao mesmo tempo angelicais. O cabelo liso e loiro fazia com que ele se diferenciasse de qualquer norte americano comum, porque diferentemente da maioria da população, o tom de seus fios se assemelhava ao cinza em vez do amarelo, fazendo pensar de que se não fosse pela sua aparência jovem de no máximo vinte anos, poderia se tratar de um cabelo grisalho.             

    Mas tudo em sua aparência combinava perfeitamente a ponto de chamar a atenção da maioria das pessoas, sendo mulheres ou homens, por ser algo que beirava a um ser celestial. Ao visualizar as feições de seu antigo colega de escola, Dylan lembrou de como era difícil conviver na mesma turma que ele, afinal de contas, as garotas não conseguiam encarar nenhum homem da mesma forma depois de avistarem Adrien. Ele realmente elevou o padrão. Porém, Dylan não se importava com isso, porque mesmo não tendo a aparência angelical e perfeita, ele conseguia ganhar a simpatia das garotas com seu jeito claramente mais amigável, já que o outro nunca havia demonstrado nenhum interesse em ser simpático com alguém. Enquanto Dylan amava falar, se gabar, contar histórias e se aproximar das pessoas ao máximo possível, Adrien era o completo oposto, era educado, porém, calado, comedido, evitava contato físico e até mesmo visual com outros, era o típico altivo e sério.

   Eles eram como gelo e fogo no mesmo ambiente.

 Devido a essas diferenças, os dois nunca conseguiram ser amigos. Por mais que Dylan tentasse se aproximar, da mesma forma que fazia com todo mundo, o outro nunca pareceu interessado em nada da personalidade dele, muito pelo contrário, o seu jeito parecia incomodar bastante o outro, como se fosse inapropriado. Dylan acabava se aproveitando disso em alguns momentos quando queria se divertir com algo e naquele momento queria saber se isso ainda funcionava.

― Hey! ― Ele acenou despretensiosamente ao loiro que estava parado na frente da floricultura, uma cliente parecia se despedir com um lindo buquê de girassóis em mãos, ao ver ele sozinho, Dylan percebeu que podia se aproximar ―  Lembra de mim?

― Dylan Rockefeller. ― pontuou o nome dele lentamente como se fosse óbvio, encarando o outro e se perguntando no olhar o porquê dele estar ali.

― Nome e sobrenome? Quando escuto isso parece que somos completamente estranhos e que nunca nos vimos na vida. Por que você sempre fala como se tivesse 40 anos? ― disse rindo de forma despretensiosa.

― Dylan.

― Viu só? Imagina se eu chego aqui e falo “Adrien Waren, como vai você?” ― O outro pareceu surpreso com a frase e logo Dylan entendeu ― O que? Achou que eu não lembrava do seu nome completo?

― Sim. ― Apesar das frases monossilábicas e temperamento frio, Adrien falava olhando diretamente nos olhos dele sem desviar por um segundo. Dylan se lembrou que isso sempre o deixava intimidado.

― Eu trabalho na frente da sua loja há pelo menos dois meses e você nunca foi falar comigo, posso me sentir ofendido? ― Ele se aproximou um pouco mais do outro, tentando manter um tom amigável.

― Não. ― Antes que Dylan pudesse retrucar as respostas monossilábicas, Adrien resolveu ampliar a frase ― Eu não sabia que você trabalhava ali.

     Dylan pareceu incrédulo pelo que tinha acabado de ouvir, não tinha como Adrien nunca tê-lo visto, eles já até tinham cruzado olhares sem querer em alguns momentos, porém, quando ele ia tentar cumprimentar o outro, sentia que tinha sido completamente ignorado. Vendo a mentira descarada, ele resolveu que não ia pegar leve.

― É mesmo? Então, depois de tanto tempo sem ver a minha cara, você deve estar com saudade, não? Que tal me dar um abraço de colegas? ― Abriu um largo sorriso enquanto se aproximava do outro levantando os braços para o contato.

     Dylan sabia que Adrien não era do tipo caloroso e que iria receber um gesto desse com naturalidade, ele ia travar completamente como se estivesse fora de seu corpo. Nos dois anos que estudaram juntos ele podia jurar que não tinha visto o outro trocar gestos de amizade ou carinho com ninguém. Sabendo disso, ele esperava o olhar de espanto e o afastamento que ocorreu em seguida.

― Por que um abraço? ― Adrien parecia assustado com a proposta.

― Porque é isso que colegas fazem depois de passarem um tempo sem se ver! O que foi? Tem medo que eu faça algo? Que tipo de coisa eu poderia fazer?

― Você sempre se aproximava assim das garotas quando queria algo com elas, não consigo encarar isso tranquilamente. ― Dylan não se segurou e deixou que algumas risadas altas escapassem de seus lábios enquanto relaxava os braços para tranquilizar o outro.

― Você está realmente se comparando a uma garota, Adrien? Será que sua fama de cara mais bonito da escola subiu tanto a sua cabeça a ponto de você pensar que todo ser humano tem uma queda por você? ― Um som levemente ríspido saiu da boca de Adrien, indicando o quanto aquilo tinha o irritado.

― Eu não estou dizendo esse tipo de coisa, é só que... prefiro não ser abraçado ― Ele parou um pouco como se pensasse em algo – por você.

― Oh, isso machucou! ― Não tinha machucado na realidade, porém, a ênfase no “por você” o incomodou um pouco ― Vou começar a achar que isso tudo é medo de não resistir ao meu charme.

― Na verdade, não.

― Então, sem abraços? ― O outro apenas negou com a cabeça como se estivesse lidando com uma criança e logo depois indagou:

― Posso te perguntar uma coisa? ― Dylan se sentiu vitorioso com isso, porque parecia que pela primeira vez em muito tempo ele estava conseguindo fomentar um diálogo com a figura ilustre da sua turma, o intocável.

― Até duas!

― Por que você está aqui, conversando comigo? ― Ele parecia realmente intrigado com aquilo.

― Aquela garota dos girassóis também estava aqui falando com você.

― Ela é uma cliente.

― E eu não posso ser um cliente? ― Ele estava tentando disfarçar a resposta, pois não queria dizer que estava ali para se distrair do tédio pelo trabalho.

― Você quer algum girassol? ― Mesmo que sério e polido, ele tinha debochado levemente e Dylan percebeu isso.

― Depende. Eu combino com girassóis?

― Não.

― E com o que eu combino? ― Os orbes azuis de Adrien, que nunca se desvencilhavam de seu olhar, pela primeira vez desviaram do caminho e encararam o rapaz por inteiro, como se estivesse analisando para então dar uma resposta concisa.

―Hm... você combina com algo que eu não tenho aqui, desculpa.

― Mas é uma flor? Qual o nome?

― Nyen. ― A palavra parecia estrangeira e fez com que Dylan encarasse com estranhamento.

― Nyen? Mas o que é isso? Nunca ouvi falar!

― Já imaginava que não conhecia. Mas sim, é uma flor.

― Você pode me mostrar alguma? ― Ele realmente estava curioso em saber como um florista o interpretava.

― Um dia quem sabe. No momento, não tenho nenhuma aqui. – Ele finalmente se desfez da pose rígida e se virou como se estivesse mexendo em algumas plantas da loja que ficavam pela calçada. Dylan percebeu que aquela seria uma deixa para pessoas educadas se despedirem e irem embora. Mas ele não se considerava um cara dos mais educados.

― Agora, eu posso fazer uma pergunta? – Adrien pareceu tentar negar, porém, ele mesmo tinha solicitado a autorização de uma pergunta antes, seria indelicado dizer não.

― Faça. Mas que não seja uma de suas gracinhas de sempre, eu preciso trabalhar ainda.

― Não é gracinha ou piada. ― Ele se debruçou meio entediado em um balcão que continha gérberas de diversas cores ― Na verdade, é sobre trabalho. Assim, por que você não abre a floricultura todos os dias? Por que ela não tem horário fixo? Você trabalha sozinho aqui? Por que? De onde teve a ideia desse tipo de negócio? É um sonho seu, vocação?

― Isso são quase dez perguntas! ― Ele parecia levemente bravo, apesar do tom de voz não ter se alterado.

― Desculpa! Não consegui me conter, eu sou um cara curioso ― e de fato era – você pode respondê-las?

― Não. Eu nem ao menos me lembro de todas elas.

― O melhor aluno da turma que terminou o ano com resultados impecáveis não consegue se lembrar de seis perguntinhas? Você quer mesmo que eu acredite nisso? Você está se saindo como um grande mentiroso, Adrien Waren. ― Seu tom era leve e claramente estava brincando com a indignação.

― Uma.

― Ok, uma pergunta! Mas eu não sei qual quero saber mais... ok! Melhor você escolher, escolhe uma pergunta e responde.

O outro olhou pra baixo em meio a um suspiro como se pensasse em qual poderia responder e após algum tempo fixou os olhos em Dylan novamente, respondendo de forma séria:

― Sim, isso é um sonho meu.

― Um sonho que você sempre teve?

― Não...

― E há quanto tempo tem esse sonho? ― Dylan resolveu continuar as perguntas para ver até onde ia, porque percebeu que o homem a sua frente tinha ficado levemente perdido em seus próprios pensamentos.

― Há mais de treze anos.

― Então, você ama isso?

― Chega ― disse de forma extremamente educada enquanto desviava o olhar, voltando a virar o corpo para ajeitar alguns vasos que claramente não precisavam ser ajeitados ― eu preciso trabalhar.

― Ok! ― Dylan tinha se dado por vencido e estava bastante satisfeito do que tinha conseguido extrair de Adrien, por mais que isso não fosse mudar em nada sua vida, essa tinha sido provavelmente a conversa mais longa que tinha conseguido ter com o antigo colega de turma. ― Meu intervalo está acabando também... você pode me chamar aqui no dia que você tiver uma Nyen para me mostrar? Quero muito ver alguma!

― Ok.


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