Eu nunca havia me sentido tão humilhada em toda a minha vida, sempre falei abertamente sobre sexo e coisas do tipo, mas eu estava me sentindo tão exposta depois da escola inteira ter visto aquela foto. Depois que sai do banheiro na festa, Mike me trouxe para casa e foi embora, me deixando sozinha no meu quarto, onde me deitei e chorei até dormir. Matt não deve ter demorado para chegar, acordei quando ele entrou no meu quarto e me pediu desculpas, acho que ele pensou que eu estava dormindo.

O dia amanheceu enquanto eu chorava sentada no chão do banheiro, eu não sabia quanto tempo eu tinha ficado ali, meu corpo estava anestesiado de tão mal que eu estava. Escutei meu despertador tocando no quarto e me levantei para desligar, haviam muitas mensagens do Liam, desesperado para saber como eu estava, mas eu não respondi, apenas coloquei minha playlist para os piores momentos e começou a tocar All I want, do Kodaline. Entrei no banho e deixei a água quente tirar toda sujeira do meu corpo, mesmo assim eu não me sentia limpa, eu sabia que eu não tinha feito nada de errado, mas mesmo assim eu me sentia imunda. Eu troquei de roupa e sai do quarto, queria andar até a escola, não tinha condições de ir de ônibus com todo mundo olhando para mim. Matt estava prestes a bater na porta do meu quarto quando eu a abri.

—Alex, como você tá? Se quiser ficar em casa hoje eu posso inventar para a mamãe e para o papai que você tá doente. — Eu nunca tinha visto meu irmão tão preocupado comigo dessa forma.

—Não precisa, não posso me esconder disso pra sempre— dei um meio sorriso e ajeitei a mochila no ombro.

—Por que você não me contou sobre o Lucas, Lexie? Eu super apoiaria vocês namorarem, ele é o meu melhor amigo.

—Não, você não ia, você quase parou de falar com ele quando descobriu que a gente se beijou, e eu não quero namorar com ele, eu só gosto da companhia dele, nada além disso— respirei fundo e chequei as horas no meu celular— Agora, Matt, eu preciso ir, não quero chegar atrasada.

Ele me puxou para um abraço, o que foi estranho e bom ao mesmo tempo, me senti protegida.

—Eu não estou bravo com nenhum de vocês, eu fique irritado quando percebi que vocês foram juntos para o jogo e quando achei que ele tinha enviado a foto, mas não to com raiva mais. Te amo.

—Obrigada, Matt, eu também te amo, mas eu realmente preciso sair agora.

Ele se afastou e me deixou descer as escadas, passei pela cozinha onde meus pais estavam e avisei que estava saindo, não queria comer nada, mas peguei uma maçã para eles não me perturbarem.

Fui andando para a escola escutando música no meu fone, mas eu estava tão dispersa nos meus pensamentos que nem reparei quais músicas estavam tocando. Vi algumas pessoas passando por mim e me olhando, mas eu não podia fazer nada, eu não queria mandar ninguém parar de olhar, não ia adiantar mesmo. Só percebi que tinha chegado quando Liam se chocou contra mim, me envolvendo com seus braços como se eu pudesse quebrar se ele apertasse demais, Mike veio atrás e apoiou a mão no meu ombro.

Eles me perguntaram como eu estava me sentindo e eu só balancei a cabeça, não queria falar sobre aquilo, não ali, não nesse momento, então apenas fomos para a sala em silencio, Liam de um lado e Mike do outro, como se fossem meus seguranças particulares, mas eu não me sentia segura. Eu fiquei rabiscando no meu caderno enquanto as pessoas entravam na sala, fingi não escutar as diversas frases como  “coitada, mas isso que dá transar com qualquer um” , “Bem feito, ninguém mandou deixar tirar foto dela” ou até mesmo “foi ela que pediu pra espalharem essa foto, ela gosta de atenção”. As lagrimas queimavam no fundo da garganta, mas eu não podia chorar ali, não queria que as pessoas tivessem mais coisa pra falar de mim. Comecei a ficar tonta e senti o mundo querer escurecer.

—Alexandra, você está bem? — A professora perguntou, todo mundo olhava pra mim— Você não parece estar se sentindo bem.

—Ela não está se sentindo muito bem, professora—Mike respondeu por mim.

—Ela tá passando mal desde que acordou—Liam falou— Mas ela não podia faltar a sua aula.

—Aposto que ela deu pra esses dois também—Uma menina falou para outra, ignorando que a professora iria escutar—mas aí eu até entendo ela, né.

—Um dos dois cavalheiros poderia levar ela para tomar um ar e beber uma água, e vocês duas que estão fazendo comentários indesejados sobre a vida sexual da sua colega vão direto para a sala da diretora.

Senti Mike segurar meu braço e me ajudar a sair da sala, fomos até o pátio e eu me sentei em um banco enquanto ele pegava um copo d’agua pra mim. Ele se sentou do meu lado e me entregou o copo, minhas mãos tremiam, mas eu peguei e bebi tudo.

— Obrigada, não precisava.

—Liam queria vir com você, mas era capaz dele infartar aqui de tanta preocupação.

—Eu nunca achei que fosse acontecer comigo, Mike, sempre lutei contra isso, mas nunca pensei que ia ter que lidar diretamente com isso— não aguentei e comecei a chorar desesperadamente— não sei o que fazer.

—Não chora, não sei o que fazer quando mulheres choram— Ele me abraçou com força enquanto eu tremia e as lagrimas rolavam pelo meu rosto— a culpa não é sua, não se culpa por isso, e também não fique com vergonha, você só fez o que qualquer adolescente faz, sexo. Bem, não todo adolescente, por que eu não, mas a maioria.

—Você nunca transou? — parei de chorar de tão surpresa que fiquei, um menino lindo daqueles, com 17 anos nas costas e nada— não é possível!

— Pois é, sou meio estranho— Ele riu, me soltou e se inclinou pra trás— tem uma história por trás disso, qualquer dia eu te conto, agora é melhor você enxugar esse rosto porque a gente tem que voltar pra sala.

Ele se levantou enquanto eu limpava meu rosto e esticou a mão para mim. Fomos andando para a sala, eu estava me sentindo um pouco melhor apesar de tudo e era graças ao Mike, que sempre me salvava desde que apareceu.

A aula passou devagar, mas graças a professora ter colocado as duas meninas pra fora de sala ninguém mais comentou nada sobre a foto ou sobre mim. Todas as aulas correram bem, o único problema seria na hora do intervalo porque estariam todos no pátio e não ia ter professores pra me defender dos comentários maldosos dos outros alunos, mas pelo menos eu tinha meus amigos.

A cada passo que eu dava em direção ao pátio eu sentia os olhares das pessoas me seguindo e escutava o som de várias pessoas cochichando ao mesmo tempo. Sentei em um banco no canto do pátio com Liam, Mike e Luna, que tinha chegado na segunda aula, Violet sentou com a gente logo depois. Vi meu irmão conversando com os amigos dele, incluindo Lucas que me olhou com um semblante triste no rosto. Luna e Liam estavam sentados em pontas opostas e todas as vezes que seus olhares se cruzavam os dois ficavam vermelhos, acho que eles ainda não tinham conversado sobre o que aconteceu na noite anterior. Violet olhava sem parar para Anne, que também olhava para ela, mas nenhuma das duas fazia nada em relação à outra. Lucas andou até mim e todo mundo começou a olhar para gente.

—Lexie, a gente pode conversar? — Ele olhou para o Liam que estava encarando-o, e depois para o Mike, que tinha se levantado— sozinhos, de preferência?

—Tudo bem, já volto gente— Me levantei e segui Lucas para perto dos bebedouros, todo mundo olhava para a gente, não sei o que eles estavam esperando que acontecesse ali— O que você quer falar comigo?

—Eu quero pedir desculpa, não deveria ter tirado aquela foto sua, o que aconteceu foi culpa minha—ele parecia muito arrependido e triste—por minha causa todo mundo tá falando de você.

—Lucas, você não tem culpa de nada, eu vi a foto, eu escolhi não apagar, eu que coloquei como seu fundo de tela, o seu único erro foi confiar naquela garota ridícula. Eu não te culpo, e todo mundo sempre inventou coisas para falar de mim, agora eles têm alguma verdade pra falar, né?

—Você tem certeza? Porque se quiser eu sumo da sua frente agora e nunca mais falo com você.

—Tenho, você é um cara incrível, e isso também te afeta porque eu sei que muitas meninas aqui acham que você que mandou a foto— Olhei para todo mundo e depois sorri para o Lucas— Inclusive vou esclarecer isso agora mesmo.

—Lexie, o que você vai...— Subi em um banco no centro do pátio e todo mundo olhou pra mim—...fazer?

—Queria que todo mundo ´me escutasse, principalmente as meninas dessa escola!— Sorri para o Liam que enfiou o rosto nas mãos—eu sei que vocês receberam uma foto minha, vinda do celular do Lucas, sim gente era eu mesma, sim, saiu do celular do Lucas, mas não foi ele que enviou. Essa foi tirada ontem de tarde, na casa dele, eu vi a foto e não quis apagar, coloquei como fundo de tela dele, mas durante a festa ontem a ex do meu irmão que eu não vou falar o nome, todo mundo sabe quem é, pediu o celular do Lucas emprestado, e ele como o menino incrível que é, emprestou, ela, que nunca gostou de mim, viu a foto no fundo de tela e resolveu enviar para todo mundo, apenas pra me magoar, mas que saiu perdendo foi ela, porque agora todo mundo sabe a pessoa horrível que ela é. É isto, obrigada pela atenção, e se vocês quiserem falar de mim, falem, mas não sejam hipócritas.

Alguém começou a bater palma e outras pessoas começaram a fazer o mesmo. Lucas me ajudou a descer do banco e me abraçou rapidamente. Meus amigos estavam rindo e me olhando com cara de “você é doida”, até que suas expressões mudaram e eu senti alguém cutucar o meu ombro e me virei. Era a diretora e ela não parecia muito feliz comigo.

—Alexandra Martin, por que as confusões que acontecem nessa escola sempre te envolvem?

—Sra. Johnson, me desculpa por isso, eu...

—Não quero saber, você, seus amigos Liam, Michael e Lucas venham comigo, agora!

Seguimos para a diretoria quietos, não tínhamos feito nada de errado e eu não entendi por que chamar o Liam e o Mike também, mas não falei nada para não piorar a situação. Nós cinco entramos na sala e eu e Lucas nos sentamos, enquanto Liam e Mike ficaram cada um de um lado da minha cadeira, eu estava começando a gostar deles fazerem isso.

—Então, quem vai falar o que foi aquela cena no pátio? — A diretora indagou, ela devia ter uns 40 anos, no máximo, era alta, magra e muito bonita, tinha o cabelo curtinho e preto.— Alexandra? Lucas?

—Sra. Johnson, eu...— Comecei a falar, mas fui interrompida pelo Liam.

—A Lexie não fez nada de errado, ela só se defendeu!

—Liam, eu perguntei para a Alexandra e para o Lucas, estou dando a chance deles se explicarem.

—Eu estava me defendendo e defendendo o Lucas pois ele ia sair como errado numa história, sendo que ele só confiou na pessoa errada.

—A Alex só quis defender nós dois, ela não fez nada de errado.

—Tudo bem, eu sei do que vocês estão se defendendo, no primeiro horário tive a visita de duas alunas que falaram coisas sobre a Alexandra durante a aula e a professora mandou elas virem pra minha sala—Ela se ajeitou na cadeira e continuou— foi por isso que eu pedi que vocês dois viessem junto, Liam e Michael, sei que os comentários das suas colegas envolvia os dois.

—Eu não ligo para o que elas falaram, eu sei que não é verdade, não tenho por que ligar—Mike falou e olhou para o Liam— e acho que meu primo também não se importa.

—Vocês podem não ligar, mas eu precisava conversar com vocês sobre isso, vocês quatro terão que frequentar o psicólogo da escola pelo menos duas vezes na semana, até ele falar que está bom, e seus pais serão comunicados sobre o motivo.

—Mas...—Lucas começou a falar, mas a diretora interrompeu.

—Sem “mas”, é minha responsabilidade como diretora dessa escola, agora estão dispensados das aulas do resto do dia, podem ir pra casa, a situação de vocês tem causado muito tumulto.

Saímos da sala sem entender nada,  mas obedecemos e fomos para casa mais cedo. Eu estava precisando daquele descanso extra depois de tudo, então fiquei agradecida.