Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776184/chapter/7

Charlotte Williamson era exatamente o contrário do que Elisabeta esperava. Quando a viu entrar em sua casa, ao lado do irmão, Elisabeta mal pode acreditar no quanto eram diferentes. Charlotte tinha os olhos claros, como o pai e o irmão, mas seus cabelos eram de um louro angelical. As duas foram apresentadas por Darcy, e Elisabeta novamente foi surpreendida quando a mais nova a abraçou de uma forma fraterna.

Quando Archibald viu a filha na mansão dos Green, seus olhos marejaram. Bastou um olhar para que Elisabeta entendesse o quanto era importante para ele que os filhos estivessem por perto. Charlotte foi acomodada em um quarto ao lado do de Petúlia, e embora o cômodo fosse menor que os outros, a mais nova dos Williamson parecia satisfeita por ter um espaço apenas para ela.

Naquela primeira semana de convivência Charlotte deixou a timidez de lado, e Elisabeta percebeu que estava lidando com uma pessoa cheia de personalidade. Se frequentassem o colégio na mesma época, Elisabeta tinha certeza de que Charlotte seria o terceiro elemento de confusão, junto à ela e Ludmila. A garota parecia ter sempre uma resposta na ponta da língua, que muitas vezes deixava seu pai e seu irmão desconcertados.

Elisabeta estava achando muito divertido ter praticamente uma irmã mais nova, e, para o desgosto de Archibald, levara Charlotte às compras, renovando todos os vestidos da menina. Também matriculara Charlotte em uma das melhores escolas de Londres, e quando a mais nova demonstrou o desejo de frequentar à universidade, Elisabeta garantiu que a apoiaria em seus planos.

Embora Archibald estivesse extremamente grato por Charlotte ter a proteção de Elisabeta, não era de seu perfil aceitar de bom grado qualquer gentileza de quem pagava seu salário. E era por isso que seu mordomo estava parado em meio à seu escritório, com os olhos nos dela.

— Lizzie, é claro que aprecio tudo que está fazendo por Charlotte e Darcy, mas não é necessário que gaste tanto dinheiro com minha filha. – o olhar dele era de súplica.

— Archie, sua filha é uma menina adorável e está passando por um momento delicado. – Elisabeta sorriu. – Não há qualquer razão para que não possa ter alguns vestidos e livros.

— É claro que há. Charlotte não poderá manter tal padrão de vida. – Archibald olhou para os próprios pés.

— Charlotte irá para a universidade, será uma profissional qualificada. Tenho certeza que tem todos os planos de pagar pelos próprios vestidos um dia. – Elisabeta revirou os olhos.

— Lizzie, você já está dando um teto para mim e para os meus filhos. É suficiente. – Archibald a encarou novamente.

— Archie, você e Darcy tecnicamente trabalham para mim. Eu apenas ofereço moradia, como à todos os meus empregados. Se não estivessem aqui, estariam recebendo um auxílio para o aluguel. – Elisabeta levantou-se. – E Charlotte é minha convidada.

— Lizzie... – o homem suspirou.

— Archibald Williamson, você pode não recordar, mas quando eu retornei à esta casa após ter perdido os meus pais, tudo parecia fora de lugar. – Elisabeta aproximou-se dele. – E então eu o vi com um chocolate quente nas mãos.

O homem ficou em silêncio. Evitava conversar sobre os pais de Elisabeta, sobre a morte deles.

— O que talvez tenha sido um ato de gentileza para você, foi um sopro de esperança para mim. – Elisabeta sorriu, chegando perto de Archibald. – Se você e Petúlia estavam nessa casa algo ainda estava no lugar.

— Era nosso dever. – ele suspirou.

— Você poderia ter procurado outro emprego. Deus sabe o quanto deve ter sido inseguro imaginar que toda a fortuna dos Green estava nas mãos de uma menina de dez anos. A maioria dos outros empregados foi embora.

— Eu jamais faria isso. – Archibald olhou nos olhos de Elisabeta.

— Eu sei. – Elisabeta segurou as mãos dele. – E é por isso que eu jamais pouparei esforços por você ou seus filhos. Não importa o quanto você resmungue.

Archibald suspirou novamente.

— O único motivo de você não passar seus dias de chinelos, exigindo que Petúlia lhe traga biscoitos, é sua insistência em trabalhar. – ele sorriu com as palavras de Elisabeta. – Archie, você sempre terá uma casa onde eu estiver. Você e sua família.

— Lizzie, eu não mereço tanto. – Archibald disse – Você me tem em alta conta, mas eu não sou merecedor.

— Você é. Você foi leal à meus pais e à mim, você cuidou de mim por todos estes anos. Não tire de mim a única forma que tenho de retribuir.

Archibald segurou com firmeza as mãos de Elisabeta, olhando em seus olhos. Os olhos dele estavam marejados, e Elisabeta sabia que não haveria mais discussão sobre aquilo. Naquele momento Darcy entrou no escritório, sua expressão tomada por surpresa ao ver Elisabeta conversando com seu pai.

— Me desculpem, eu não queria interromper. – Darcy disse. – Só queria avisar que o carro está pronto.

— Não está interrompendo nada. – Elisabeta sorriu, e Archibald soltou suas mãos. – Eu estava apenas usando um pouco de chantagem emocional para fazer Archie me deixar comprar vestidos para Charlotte.

Os dois sabiam que não era nada daquilo. Mas Archibald deu um sorriso pequeno para Elisabeta e voltou seu olhar para Darcy. Darcy olhava de Elisabeta para Archibald, sem entender muita coisa.

— Pai, eu não acho que haveria nada que o senhor pudesse fazer que impediria Elisabeta e Charlotte de se unirem contra o senhor. – Darcy deu um sorriso tranquilo. – Especialmente se vestidos estiverem envolvidos.

— Talvez você tenha razão. – Archibald sorriu para o filho. – Obrigado, Lizzie.

Archibald saiu do escritório, ainda com os olhos marejados. Darcy encarou Elisabeta assim que o pai se afastou.

— Devo ficar preocupado? – perguntou, com a sobrancelha arqueada.

— Não. – Elisabeta deu de ombros. – Mas foi um pouco de ressentimento que eu ouvi na sua voz?

— Ressentimento? Por você e minha irmã comprarem vestidos juntas? – Darcy arregalou os olhos, e então sorriu. – Pode apostar que foi.

— É mesmo? – Elisabeta revirou os olhos, pegando sua bolsa. – Você quer que eu compre alguns vestidos para você?

— E ofuscar você e Charlotte com a minha elegância? – Darcy fingiu pensar. – Eu tenho amor à minha vida.

— Se tem amor à sua vida, vamos logo. Eu estou atrasada.

Os dois caminharam até o carro, e Darcy passou à frente de Elisabeta para abrir a porta do carro para ela. Elisabeta revirou os olhos, como sempre fazia. Ele entrou no carro em silêncio, e deu partida no carro.

— Meu pai é muito grato à tudo o que você faz. – Darcy disse, após alguns minutos em silêncio.

— Eu sei. – Elisabeta sorriu. – Ele apenas não consegue aceitar que alguém possa cuidar dele.

— Ele sempre cuidou de nós. – Darcy suspirou. – Eu e Charlotte nunca pudemos fazer muito por ele.

— Tudo que Archie fez sempre foi pensando em garantir o melhor para vocês. Tenho certeza que o mais importante para ele é tê-los por perto.

— Ainda assim, seria nossa obrigação, e não sua. – ele a encarou pelo espelho.

— Archie é como um pai para mim. – ela deu de ombros.

Darcy ficou em silêncio por alguns segundos, e então um sorriso irônico surgiu em seus lábios.

— Isso nos faria irmãos? – Darcy arqueou a sobrancelha.

Elisabeta gargalhou com a pergunta.

— Eu não acho que seria apropriado. – ela respondeu por impulso.

Darcy deu um assobio longo.

— Agora eu estou ofendido. – Darcy fingiu um tom de tristeza.

Ele não estava. É claro que não estava. Porque além da ideia ser absurda, ela não olhava para ele de forma fraterna ou inocente, e Darcy parecia saber disso. E não era incomum que ela sentisse haver algo a mais nas palavras dele.

— Eu não saberia lidar com um irmão tão requisitado pelo sexo feminino. – Elisabeta disse, irônica.

— Ciumenta, então? – Darcy perguntou, em um tom baixo.

— Eu fui filha única. – ela piscou para ele.

Havia algo em Darcy que fazia com que ela tivesse vontade de flertar. Sabia que brincava com o perigo, que estava em um terreno desconhecido. Mas era leve, era apenas um jogo de palavras. Quase inocente.

— Também não acho que saberia lidar com uma irmã como você. – Darcy sorriu com certa malícia. – Toda aquela história sobre inspetores...

Elisabeta quase corou, mas não havia motivo para tal. Darcy não havia mencionado as palavras de Ludmila até agora, mas Elisabeta sabia que em algum momento ele o faria. Era uma história apetitosa demais para alguém com o humor de Darcy.

— Inspetor. – Elisabeta corrigiu. – Foi apenas um.

— Apenas. – Darcy riu.

— Não foi o único inspetor que quis namorar comigo. – ela deu de ombros, desdenhosa.

— Não, eu imagino que não. – Darcy a olhou pelo espelho.

— Talvez você tenha razão, eu não seria uma irmã fácil. – Elisabeta riu.

— Que bom então que não somos irmãos. – Darcy comentou, com um sorriso brincalhão. – Daríamos muita dor de cabeça um ao outro.

— Tenho certeza que sim. – Elisabeta concordou.

Logo estavam na primeira empresa, e quando Elisabeta retornou ao carro trazia consigo um dos sócios. Darcy dirigiu até a parada seguinte, e assim até o final do dia. Chegaram em casa quase na hora do jantar, e Petúlia, Charlotte e Archibald esperavam por eles. Charlotte atualizou à todos sobre o seu primeiro dia de aula, e tiveram uma refeição leve e divertida.

Elisabeta sentia-se exausta. Há alguns dias não dormia bem. Estava sobrecarregada com os assuntos da empresa, e quase todas as noites ficava acordada até tarde tentando fechar todos os balanços. As reformas na Vila estavam saindo mais caras do que o esperado, a medida que novos problemas apareciam. Por isso ela foi para seu quarto após o jantar, preparou um banho e tentou esquecer os problemas.

Jamie e Olive estavam completamente entregues à Charlotte, e se não estivesse tão cansada, Elisabeta os teria chamados de traidores. Mas o dia havia sido tão complicado, com tantas reuniões, que sua cabeça latejava e parecia até uma benção ter uma noite sem interrupções. Não era seu dia de sorte, porém, e tão logo Elisabeta saiu do banho e vestiu uma de suas camisolas mais confortáveis, um barulho no canto do quarto chamou sua atenção.

Bastou que ela se aproximasse para que um morcego saísse voando por seu quarto, e Elisabeta segurou um grito de pavor. Odiava morcegos desde criança. O colégio interno costumava ter morcegos por todos os lados, e Elisabeta apenas detestava quando um deles estava em seu quarto. Mas a diretora ameaçava colocá-la de castigo se reclamasse, e por isso Elisabeta passava noites em claro observando os animais voarem por seu dormitório.

Não o enfrentaria sozinha, é claro. Petúlia ou Archibald precisariam resolver o problema. Elisabeta saiu do quarto com cuidado, com medo de ser seguida pelo animal voador. Não percebeu, porém, que seu banho havia sido um pouco longo. As luzes da casa já estavam apagadas, e quando desceu as escadas não havia mais ninguém de pé. Ao menos não na sala.

Elisabeta voltou ao corredor e tentou ouvir os quartos. Se houvesse qualquer sinal de que Petúlia ou Archie estivessem acordados, ela bateria em suas portas. Mas é claro que a vida não seria tão generosa. Portanto o único quarto com algum som era o de Darcy. E a ideia de Darcy em seu quarto era um pouco menos assustadora do que a ideia de um morcego sobrevoando sua cama. Por isso bateu de leve na porta.

Não demorou mais do que alguns segundos para que Darcy aparecesse na porta. E certamente ele esperava encontrar o pai ou a irmã, de outra forma não abriria a porta daquele jeito. Darcy estava com os cabelos molhados, a calça do pijama, e mais nada. Elisabeta sentiu sua boca salivar apenas ao vê-lo. Ele tinha os músculos definidos, sem exageros. Uma camada fina de pelos recobria seu peito e seu abdome, e Elisabeta quis tocá-lo.

Levou alguns segundos para que seu cérebro funcionasse, e quando finalmente conseguiu olhar para o rosto de Darcy ele tinha aquele sorriso de lado, que ela já sabia identificar. Não havia qualquer constrangimento no rosto dele. Tão pouco constrangimento que ele baixou os olhos, passeando-os pelo corpo dela. Elisabeta sentiu o ambiente esquentar.

Não estava vestida de forma vulgar, é claro. Era apenas uma camisola, que talvez não deixasse tanto à imaginação. Ainda assim, com aquele olhar, desejou estar vestindo algo mais provocante. Ou não estar vestindo nada. Havia aprovação no olhar descarado dele, que lentamente subiu até seu rosto, como uma carícia provocante. Então ele arqueou a sobrancelha, fazendo a pergunta silenciosa.

— Tem um morcego no meu quarto. – Elisabeta disse, sem rodeios.

— O que? – o sorriso dele se alargou.

— Um morcego, Darcy. – ela revirou os olhos. – No meu quarto.

— E você quer que eu vá até lá? – ele cruzou os braços e Elisabeta controlou-se para não inspecioná-lo novamente.

— Sim. – Elisabeta disse, como se fosse óbvio.

— Eu não tenho certeza se o meu trabalho de motorista engloba morcegos. – Darcy encostou-se no batente da porta.

— Engloba, à partir de hoje. – ela disse, decidida.

— É uma ordem? – Darcy provocou.

— É uma ordem. – Elisabeta suspirou. – Vá até lá e resolva o problema, por favor.

Darcy sorriu, por fim. Passou por ela de forma lenta, o braço dele roçando de leve no dela. O cheiro de sabonete fez Elisabeta ficar atordoada, e logo Darcy estava em seu quarto. Elisabeta parou no batente da porta, sem entrar. E arrependeu-se de seu pensamento anterior. Darcy vestindo apenas uma calça de pijama em seu quarto era muito pior do que um morcego. Ela poderia lidar com o medo de morcegos, mas não com o desejo que sentia por Darcy.

A começar, Darcy mal olhou para o morcego ao entrar no quarto dela. Era a primeira vez que ele estava lá, e Elisabeta o viu olhar para cada detalhe de sua privacidade. Havia algo de íntimo em ter um homem como ele olhando para suas coisas, e Elisabeta não encontrou nenhum motivo para impedi-lo de fazer aquilo. Darcy não olhava para ela, mas era como se estivesse vendo sua alma.

Ele passou pela cadeira onde ela estendeu o vestido que usou no dia anterior. Olhou para a peça por alguns segundos, e então passou dois dedos por ele, de forma lenta. Elisabeta prendeu a respiração. Parecia que Darcy estava tocando nela, e ele permanecia controlado, como se estivesse tocando em um pano de chão da cozinha. Por fim ele finalmente olhou para o canto onde o morcego estava.

— É um animal muito pequeno. – ele disse, com desdém, e a voz grave dele fez Elisabeta ficar arrepiada.

Ela não respondeu, e por isso Darcy a encarou.

— Não é possível que você esteja com medo. – Darcy riu.

Não estava mais, é claro. Não havia como pensar em morcego quando as costas de Darcy se contraiam, quando a visão que ela tinha agora era a de um homem saído de um dos romances de Ludmila. Ele sorria com malícia, sabendo exatamente onde estavam os pensamentos dela. Caminhou pelo quarto como se fosse dele, abriu a janela e espantou o morcego até que o animal saísse voando.

— Pronto. – ele disse, se aproximando dela. – Mais alguma coisa?

O que ele faria se ela dissesse que sim? Se desse alguns passos em direção à ele e beijasse seu pescoço, arranhasse a pele de seu peito, encostasse o corpo no dele? Ele engoliu em seco, e Elisabeta imaginou se ele sabia o que estava fazendo com ela. O olhar de Darcy vacilou para sua boca, e então desceu por seu corpo novamente. Deu a ela a sensação de poder, de ser desejada por um homem como ele.

Elisabeta aproveitou para observá-lo novamente. Deixou que seus olhos descessem mais, e quase suspirou ao notar que havia um volume a mais na calça dele. Seria possível que ele a desejasse dessa forma sem que ela sequer o tocasse? Nem podia lembrar quando fora a última vez que um homem ficara assim por ela. Certamente não seu marido, que precisava de muito mais do que olhares.

Os olhos deles se encontraram, e os olhos de Darcy pareciam escurecidos. Seu maxilar estava mais tenso do que o habitual. Elisabeta sorriu para ele, então. O sorriso que ela guardava para a sedução, o que sabia que continha mistério e ao mesmo tempo revelava o suficiente. Queria testar o poder que tinha nele, se é que havia algum.

— Acho que é só. – ela disse, em uma voz rouca. – Obrigada.

Darcy não vacilou por um segundo sequer, e abriu um sorriso pecaminoso.

— Às ordens. – disse, andando em direção a ela.

Elisabeta ainda estava parada no batente da porta, mas Darcy não vacilou por causa disso. Passou no pequeno espaço que ela não ocupava, fazendo seus corpos se tocarem o suficiente para sair faísca. Ela virou-se para observá-lo retornar ao quarto. Darcy então parou no corredor, com um sorriso malicioso.

— Já ouvi muitas desculpas para me levar para o quarto. – ele riu. – Mas um morcego é a primeira vez.

Elisabeta sorriu, provocando-o.

— Eu sou uma pessoa criativa. – ela disse.

E antes que pudessem cometer qualquer loucura, os dois entraram em seus quartos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Need You Now" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.