Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 23
Capítulo 23




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Um lindo casal. Era isso o que Darcy e Angel eram. Um casal. Um casal de ex-namorados. Ex-namorados que talvez quisessem deixar de ser ex. Elisabeta admirou o seu controle. Admirou o fato de não ter levantado da mesa e feito uma cena. Admirou o fato de ter conseguido manter a mastigação. Admirou ainda mais não ter engasgado ao ouvir as palavras de Elisabeta. Darcy e Angel tinham um passado.

Ela sentiu os olhos de Darcy nela por alguns segundos. Não olhou para ele, é claro. Não faria aquilo. Mais humilhante do que descobrir que hospedou a ex-namorada do homem por quem estava apaixonada, seria fazer uma cena em plena sala de jantar. Elisabeta tomou gole de suco, e desejou imensamente que fosse algo mais forte. Talvez algo com álcool o suficiente para fazê-la esquecer onde estava.

Elisabeta tentou manter seu olhar fixo em algum ponto que não envolvesse Darcy, Angel ou Charlotte. Tentou agir com naturalidade, fingindo talvez nem ouvir a conversa, fingindo que não estava ali. E foram segundos eternos os que passaram antes de algum deles falar alguma coisa. Foi Charlotte quem falou novamente, em um tom completamente exagerado.

— Ora, esta comida não está uma delícia? – a mais nova dos Williamson falou.

Darcy concordou com a irmã, mas não passou despercebido por Elisabeta que nem ele e nem Angel responderam a pergunta. E foi algum grau de implicância e ego ferido que fez ela engolir em seco, montar um sorriso no rosto e falar em tom completamente neutro.

— Então quer dizer que Darcy e Angel namoravam? – sua voz soou um pouco fria, enquanto ela olhava para os dois.

Darcy tinha um olhar cauteloso, enquanto Angel parecia completamente no controle da situação.

— Oh, sim. – ela disse, em voz angelical. – Faz muito tempo.

— Eu nunca me conformei. – Archibald disse. – Vocês sabem que não gosto de me meter na vida dos meus filhos, mas sempre disse a Darcy que dificilmente encontraria alguém como Angel.

— Ora, papai. Que visão catastrófica. – Charlotte riu.

— Não é. Angel é uma menina de boa família, educada, instruída. Seria uma excelente esposa para Darcy. – Archibald sorriu para Angel e Elisabeta sentiu uma náusea.

— Papai, você deve lembrar que foi Angel quem terminou nosso relacionamento. – Darcy disse, com um sorriso debochado.

— E você nunca mais foi o mesmo. Era um garoto muito mais centrado antes disso. – Archie deu de ombros.

— Nisso eu preciso concordar. – Charlotte endossou.

— Eu agradeço os elogios. – Angel sorriu abertamente. – Também tenho grande carinho por vocês. E por Darcy.

— Ainda não desisti de ter você como nora. – Archie piscou. – Espero que este cabeça dura aproveite a oportunidade.

Darcy riu, balançando a cabeça, e Elisabeta quis voar no pescoço de cada membro da família Williamson. Era tudo um plano, então. Todos queriam juntar a maravilhosa Angel com Darcy. Darcy, com quem Angel havia terminado o namoro. Sequer fora uma escolha dele. É claro que ele estaria bobo com a oportunidade. Havia caído no colo dele uma nova chance com aquela mulher que todos achavam perfeita.

Talvez a noite anterior sequer fosse sobre eles dois. Talvez Darcy a tivesse procurado apenas pela frustração de não ter Angel. Porque era evidente que ele não trataria Angel da forma como a tratava. Não conseguia sequer imaginar Darcy tocando em Angel sem permissão. Certamente ele não seria capaz de sussurras promessas picantes para uma pessoa tão doce.

Charlotte finalmente teve sucesso em mudar o assunto, e Elisabeta terminou sua refeição o mais rápido que conseguiu. Enquanto todos aguardavam o chá ser servido, ela educadamente pediu licença para recolher-se. Havia muitos motivos para estar irritada e precisava com urgência pensar antes de falar ou agir. Especialmente falar ou agir com Darcy.

Não poderia culpá-lo por ser apaixonado pela ex-namorada. Também não era culpa dele que seu pai, o homem mais discreto que Elisabeta conhecia, deixasse de lado a cautela apenas para bancar o cúpido. Mas poderia culpá-lo por não ter dito nada. Não havia motivos para que Elisabeta precisasse saber assim, de surpresa, sem poder reagir à nada. Ele poderia ter dito na noite anterior ou naquela manhã.

Archibald e Charlotte também haviam dito que Darcy era outra pessoa após o fim do relacionamento. E era de se esperar. Provavelmente Darcy era a única pessoa que Angel já havia magoado no mundo. E ainda assim não o suficiente para que ele guardasse qualquer rancor. Elisabeta sentou-se na cama, suspirando. Era por isso que não se deixava levar por sentimentos. Odiava essa sensação de que mais uma pessoa sairia de sua vida.

Sabia que não deveria se envolver com Darcy. Deveria ter mantido seu motorista apenas em seu carro, no máximo em sua cama. Mas havia permitido que ele invadisse seu coração, e esse era um erro. Não poderia comparar-se à uma mulher como Angel. Tudo nelas era diferente. Angel se vestia de forma simples, com roupas claras, uma maquiagem que era quase imperceptível. Elisabeta era o contrário. Cores mais fortes, seu batom carmim característico.

E havia a personalidade. O simples fato de tentar encontrar defeitos em uma pessoa que parecia encantar a todos já falava muito sobre Elisabeta. Duvidava muito que Archibald fosse descrevê-la como a mulher ideal para o filho. E aparentemente nem Darcy a consideraria a mulher ideal. Ao menos não a mulher que desejaria antes de ter seu coração partido.

Era provavelmente o contraste que ele buscava, ela pensou. Talvez fosse uma escolha deliberada se envolver apenas com mulheres que não se assemelhassem à alguém como Angel. E era amarga a sensação de que tudo o que ele buscava nela era não ser como alguém que ele amava. Elisabeta fechou os olhos, tentando desviar esses pensamentos. Havia um grau de drama neles, e ela não era uma pessoa dramática.

Trancou a porta, de qualquer forma. Tudo o que não queria era conversar com Darcy. Não queria ouvi-lo falar sobre Angel, ouvi-lo admitir que estava apaixonado pela ex, que iria mesmo aproveitar a chance que tinha em mãos. Queria fechar os olhos e dormir, e foi o que fez. E se Darcy tentou abrir a porta naquela noite, ela nunca soube.

Na manhã seguinte ela não queria encontrar Darcy. Por isso saiu cedo de casa, chamou um carro de passeio que passava por ali, e foi até o escritório de Ludmila. É claro que chegou muito mais cedo do que a amiga, o que deu tempo suficiente para que fizesse ainda mais raciocínios ilógicos sobre tudo aquilo. Ludmila apareceu quase duas horas depois.

— Ah, não. O que você está fazendo aqui a essa hora? – Ludmila reclamou. – Eu certamente não cometi nenhum erro no trabalho.

— Ela é ex-namorada dele. – Elisabeta disse, sentada na cadeira de Ludmila.

— Quem, criatura? – Ludmila jogou sua bolsa em qualquer lugar.

— Angel, Ludmila. – Elisabeta bufou. – O anjo caído.

— É ex-namorada de Darcy? – Ludmila arregalou os olhos. – Eu não imaginaria.

— Aparentemente ela deixou Darcy, e desde então ele se tornou o que é hoje. – Elisabeta afundou na cadeira.

— E o que foi que ele disse? – a ruiva sentou-se em frente à Elisabeta.

— Eu não falei com ele. – Elisabeta admitiu.

— Não? – Ludmila cruzou os braços.

— Eu não sei o que falar, Lud. Charlotte comentou no meio do jantar, Darcy sequer me contou sobre isso. – ela resmungou.

— Você deveria ter perguntado sobre o relacionamento, Elisa. – Ludmila revirou os olhos. – Não é possível que eu tenha que guiar todos os seus passos.

— Qual foi a parte que Darcy não me contou que você não entendeu? – Elisabeta bufou.

— Provavelmente ele imaginou que você agiria assim. – deu de ombros.

— Eu não reagi de forma alguma. Você pode me ajudar ao invés de me criticar?

— Você não me deixa alternativas, minha amiga. Você está completamente apaixonada por ele, descobre que está hospedando a ex-namorada de Darcy, e ao invés de falar com ele, você se esconde no meu escritório. – Ludmila sorriu. – E eu sei que você se escondeu porque o bonitão não está lá fora.

— Angel é a perfeição em forma humana, Ludmila. Eu estou procurando motivos para culpá-la por tudo isso, mas a verdade é que eles não existem. – Elisabeta suspirou, cansada. – E a forma como ele olha para ela... dói.

— Você precisa perguntar à Darcy como ele se sente, e não imaginar que sabe de tudo. – Ludmila suspirou. – Ele é louco por você, Elisa.

— Archie e Charlotte disseram que ele mudou depois dela, Lud. E eu sou tudo o que ela não é, ou ela é tudo o que eu não sou. Talvez a única coisa que deixe Darcy louco nisso tudo é o fato de eu ser diferente de Angel.

— Eu não sei como você consegue chegar à tantas conclusões sem conversar com ele. – Ludmila riu.

— Por que é que você o defende tanto? Isso é irritante. – Elisabeta reclamou.

— Eu não estou defendendo Darcy. Estou defendendo você. – Ludmila ficou séria. – Eu sei que você odeia quando eu faço isso, mas a verdade, Elisa, é que Darcy é a primeira pessoa que você deixou entrar na sua vida desde a morte dos seus pais.

— Isso não é verdade. – reagiu.

— É verdade, sim. Eu estive ao seu lado durante toda a sua vida, desde que você era uma menina sonsa e certinha. E não tente citar Xavier como exemplo. Nós duas sabemos que você nunca o amou.

— Mas Darcy não é a primeira pessoa... – Elisabeta parou no meio da frase.

Darcy era a primeira pessoa que ela deixava se aproximar de verdade. Em uma vida onde suas relações mais importantes foram formadas antes da morte dos pais: Petúlia, Archibald, Ludmila. E todo o resto envolvia um mar de seres humanos que estavam por perto em algum momento, e logo iam embora. E Darcy... bem, talvez ela quisesse que Darcy ficasse.

— Mas não importa. – Elisabeta limpou uma lágrima que rolou em seu rosto. – Não importa como eu me sinto em relação à ele.

— É claro que importa. Você precisa ouvi-lo. E na pior das hipóteses Darcy vai confirmar tudo o que a sua cabeça já imaginou. Em todas as outras, você vai se surpreender.

— Quando foi que você ficou tão sábia? – Elisabeta sorriu.

— Eu sempre fui mais inteligente do que você. – Ludmila revirou os olhos. – Agora venha cá me dar um abraço.

Elisabeta saiu mais aliviada, apesar de igualmente confusa. Ludmila tinha aquele efeito de grilo falante. Um irritante grilo falante. Mas eram assim desde criança, grandes conselheiras, grandes confidentes. Ludmila ligava para a sua casa a qualquer hora do dia, aparecia em sua porta sem avisar, e Elisabeta fazia o mesmo com ela. Não havia nenhuma grande decisão que não passasse por aquela amizade.

Ao colocar os pés do lado de fora da empresa, porém, Elisabeta o avistou. Darcy estava de braços cruzados e usava óculos escuros. Ela sabia que ele estava olhando diretamente para ela, e toda a conversa com Ludmila foi por água abaixo. Continuava com uma grande vontade de chutá-lo e gritar com ele. Não havia outra opção, porém, a não ser ir até ele.

— O que está fazendo aqui? – ela perguntou, ao se aproximar.

— Como é que você chegou aqui? – Darcy perguntou, sério. – A que horas você saiu?

— Não interessa a que horas eu sai. – Elisabeta resmungou.

— Você saiu quando o sol mal estava no céu. Poderia ter acontecido alguma coisa. – Darcy disse, em voz baixa.

— O que é que você está fazendo aqui, afinal? – ela repetiu o tom dele.

— Você está me evitando. – ele suspirou.

— Eu não estou...

— Está. E eu deveria ter imaginado que seria assim, mas eu preciso conversar com você. – Darcy passou a mão pelos cabelos.

— Eu não quero conversar. Eu quero andar um pouco. – Elisabeta revirou os olhos.

Darcy a puxou pela cintura de repente, girando os corpos deles até que ela estivesse presa entre o carro e ele.

— Você está louco? Alguém pode nos ver. – ela tentou empurrá-lo.

— Eu não me importo. – Darcy segurou a nuca dela com delicadeza.

Elisabeta mal percebeu que ele aliviou a pressão no corpo dela, deixando que ela escapasse facilmente se quisesse. Darcy acariciou sua nuca e Elisabeta suspirou, fazendo ele aproximar os lábios dos dela.

— Você me deixou fora do seu quarto. – ele sussurrou.

— Você mereceu. – Elisabeta disse, sem se afastar dele.

— Você poderia ter me avisado, assim eu não daria com o nariz na porta. – Darcy encostou o nariz no dela.

Elisabeta o empurro de leve, desviando-se dele.

— Você poderia ter me avisado, assim eu não precisaria descobrir entre uma garfada e outra que você e a miss perfeição tem uma história de amor. – Elisabeta cruzou os braços.

— Você quer conversar sobre isso aqui? – Darcy apontou para a fábrica.

— Não tenho o que conversar sobre isso. – Elisabeta bufou. – Ficou tudo bastante claro ontem.

Elisabeta tentou passar por ele, e Darcy segurou seu braço de leve.

— Não tem nada claro. Eu e Angel namorados por um curto período quando éramos jovens.

— E então ela abandonou você, casou com outro em algum momento, ficou viúva e agora voltou. Eu entendi bem. – ela respondeu, irônica.

— Que inferno, Lizzie. Me deixa explicar. – Darcy pediu, puxando-a novamente para perto do carro.

— Você não me deve satisfações, Darcy. – ela suspirou, encostando-se novamente no carro.

— Mas eu quero explicar. – Darcy tirou os óculos, olhando nos olhos dela. – Eu sei que você está irritada e no seu lugar eu também estaria.

— Irritada? Por qual motivo? – ela fingiu não entender.

— Para com isso. – ele acariciou o rosto dela, se aproximando. – Há muito tempo não existe nada entre Angel e eu. E nem vai existir.

— Não é o que parece quando você olha para ela. – Elisabeta disse, séria.

— Ela era minha amiga muito antes de ser qualquer outra coisa. Foi só isso o que sobrou. – Darcy encostou a testa na dela. – Eu só não encontrei o momento de contar isso pra você.

— Dá pra ver que você sente muitas coisas por ela. – ela o empurrou de leve. – E você não precisa me explicar. É a sua vida.

— Você ouviu alguma coisa do que eu falei? – Darcy passou a mão pelo cabelo novamente.

— Ouvi. – Elisabeta respondeu, cansada. – Mas eu não tenho nada a dizer sobre isso. Por que você não tira o dia de folga?

— O dia de folga?

— Isso. Faça o que você quiser fazer. Leve Angel pra conversar, conhecer a cidade. – Elisabeta se afastou dele. – Pra um encontro romântico, eu não sei.

— Lizzie... – Darcy suspirou.

— Aproveite sua chance. É o que sua família quer, e sua ex-namorada não viria para a sua casa sem querer o mesmo. – Elisabeta tentou sorrir.

— Lizzie, por favor. – Darcy foi até ela. – Não vá embora. Me escuta.

— Me deixa pensar, Darcy. – ela sussurrou. – Outra hora conversamos.

Ele não insistiu, e Elisabeta foi embora com um nó na garganta.

 


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