Need You Now escrita por oicarool


Capítulo 2
Capítulo 2




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Elisabeta não gostava do silêncio. Lembrava-se das noites que passava na mansão quando seus pais ainda eram vivos. Seus pais adormeciam e Elisabeta era tomada pelo escuro e pelo silêncio, e odiava aquela sensação. Gostava dos dias de lua cheia, quando havia algum tipo de iluminação. E desde pequena habituou-se a prestar atenção nos sons da natureza, nos animais que se movimentavam no bosque, os pássaros.

No colégio interno Elisabeta sentia-se menos solitária. Ouvia as outras crianças se preparando para dormir, os risos nos outros quartos, e havia uma sensação reconfortante em tudo aquilo. Não podia lembrar-se de um só dia em que não desejou ter irmãos. Mas, quando seus pais faleceram, Elisabeta desistiu de uma vez por todas de uma ideia tão distante.

Hoje em dia dava-se conta que, mesmo que a tragédia não se abatesse sobre os Green, era improvável que Elisabeta tivesse irmãos. Percebeu, muito mais tarde, que seus pais eram mais velhos, e que era inclusive um milagre que ela mesma houvesse nascido. Ainda assim, com a morte dos pais, Elisabeta ansiava cada vez mais pelo movimento do colégio interno.

Quando estava em casa com seu tio, o lugar era ainda mais silencioso. Seu tutor nunca estava em casa, os empregados dormiam na pequena casa nos fundos do terreno, e a sensação que tinha era a de que estava completamente sozinha. Mais tarde, acostumou-se a dividir o quarto com Xavier, mas houve apenas um pequeno período de tempo para que isso acontecesse. Tão logo ficou doente, Xavier optou por ter um quarto apenas para ele.

Os sons da casa se modificaram naquela época, quando seu marido necessitava de cuidados as vinte e quatro horas do dia. Era comum que acordasse sobressaltada com os passos apressados no corredor, os sons das bacias sendo transportadas, as conversas com o médico que sempre era chamado as pressas. Quando Xavier faleceu, a casa novamente foi tomada pelo silêncio.

Dois dias após a morte do marido, Elisabeta determinou que seus empregados mais próximos deveriam ocupar os quartos da ala familiar. Não houve protesto, por parte de Archibald, Petúlia e seu antigo motorista, Venâncio, que fosse capaz de dissuadir Elisabeta de sua ideia. Logo vieram Jamie e Olive, e novos sons passaram a fazer parte da rotina de Elisabeta.

Sabia que tinha os ouvidos aguçados, treinados para qualquer nuance. Por isso ouvia as movimentações no quarto de Archibald e Petúlia. Quase podia imaginar suas rotinas pelos sons dos objetos no quarto, da água corrente na pia. Havia também a respiração tranquila de seus cachorros, que dormiam em confortáveis camas costuradas por Petúlia, ao pé da cama de Elisabeta.

Havia, porém, um som novo, vindo do quarto ao lado do seu. Aquele quarto nunca havia sido ocupado, pelo que Elisabeta recordava-se. Era, antigamente, seu quarto de brinquedos. Ocupado por bonecas caras, instrumentos musicais de brinquedo, e uma série de sonhos infantis que o dinheiro era capaz de bancar. Seu tio, John, havia iniciado uma reforma no cômodo, mas nunca chegou a vê-lo pronto. E agora era de seu novo motorista.

Elisabeta esperava que Darcy fosse ocupar o quarto antigo de Venâncio, porém Archibald informara que as paredes estavam infiltradas e precisariam de uma boa limpeza, talvez uma reforma. Dessa forma, Darcy agora ocupava o quarto ao lado do dela. Havia uma maior proximidade do quarto dele, e por isso os sons pareciam mais nítidos, mais intrigantes.

O filho de Archie era um homem interessante. Não poderia ter mais do que um par de anos a mais do que ela. Sabia de antemão que era letrado – a prioridade de Archibald sempre fora a educação dos filhos. Era um homem muito bonito, também. Viu-se pensando se Darcy teria uma namorada, talvez uma noiva, alguém com quem planejasse uma vida em conjunto.

O som de metal batendo no chão tirou Elisabeta de seus pensamentos e fez Jamie e Olive acordarem em um susto. Os cães começaram a latir e Elisabeta riu ao ouvir um praguejar vindo do quarto ao lado. Jamie correu até a cama de Elisabeta, colocando as duas patas dianteiras em seu colchão e encostando o focinho gelado no braço de Elisabeta. Olive latiu novamente, olhando para a porta.

Elisabeta adorava seus cães. Adorava suas personalidades diferentes, a forma como pareciam saber quando estava triste ou quando estava alegre. Havia, porém, uma única coisa que ela detestava, e era o fato de que seus cachorros acreditavam que qualquer hora era digna de um passeio. E então latiam, choravam, lambiam suas mãos e a cutucavam até que Elisabeta abrisse a porta e os deixasse sair.

No primeiro ano costumava ir até o jardim com os dois, observá-los correr pelo campo no meio da noite, e então retornavam exaustos para mais um período de descanso. Com o passar do tempo, porém, Elisabeta simplesmente mandou construir uma portinhola para que saíssem e retornassem quando queriam. E ao voltar, arranhavam sua porta até que Elisabeta abrisse. Ainda assim, valia a pena ter a companhia de Jamie e Olive, mesmo quando suas noites eram perturbadas.

Elisabeta por fim levantou-se e abriu a porta. Os cachorros saíram em disparada, no mesmo momento em que Darcy também abriu a porta de seu quarto. Ele usava uma regata branca que deixava seus braços à mostra, seus cabelos estavam úmidos e um pouco bagunçados, e o primeiro pensamento de Elisabeta foi o quanto parecia pecaminoso vê-lo daquele jeito. E o segundo foi perceber que não usava mais do que uma camisola, e era completamente inadequado ser vista daquela forma.

— Me desculpe, eu acordei a senhora? – Darcy disse, olhando em seus olhos, parecendo genuinamente preocupado.

Elisabeta ergueu a sobrancelha. Era um treinamento com todos os seus empregados, até que parassem de usar formalidades.

— Elisabeta. – Darcy disse, com um sorriso tímido. – Me desculpe, eu não estou acostumado.

Elisabeta fora um nome escolhido por sua mãe, que era brasileira. Era comum que os ingleses tivessem alguma dificuldade na pronúncia, por isso quase todos os seus empregados a chamavam de Lizzie, e seus sócios em geral optavam por chama-la de Elizabeth. Ela não se importava, mas gostava de como Darcy parecia se esforçar para pronunciar corretamente seu nome.

— Você não me acordou. – ela deu de ombros. – Mas acordou os cães, e não importa o que os acorde, eles sempre precisam passear após uma soneca.

— São cães muito bonitos. – Darcy mantinha aquele sorriso traquilo, e Elisabeta assentiu.

— Está bem acomodado? – perguntou, curiosa.

— É o quarto mais luxuoso que eu já tive. – os olhos dele se estreitaram. – Prometo parar de fazer esforço para destruí-lo.

Elisabeta riu baixo com o comentário.

— Por favor, Darcy. Embora eu não cobre dos meus empregados os objetos estragados, talvez você tenha problemas se me deixar acordada a noite inteira.

Ela ouviu mentalmente a frase, tão logo saiu de sua boca. E embora não fosse sua intenção, parecia haver alguma malícia implícita. Elisabeta quase corou e desculpou-se, mas Darcy tinha um olhar indecifrável. Elisabeta poderia apostar que ele estava prestes a responder, a flertar com ela. Então os lábios dele se curvaram e Darcy sorriu, inocente.

— Eu prometo que não vai mais acontecer. – Darcy respondeu em tom neutro.

Elisabeta o estudou por alguns segundos, mas a expressão dele permanecia igual. Havia algo em seu olhar, talvez. Algo que a aquecia. Ou talvez fosse apenas sua imaginação. Talvez fosse apenas o jeito de Darcy.

— Ótimo. – Elisabeta sorriu, por fim. – O café da manhã é servido às sete, imagino que seu pai já tenha informado.

— Ele comentou. E bastante contrariado me disse que temos que sentar à mesa. – Darcy sorriu abertamente.

— Archie reclama há anos de ter que realizar as refeições comigo. – ela riu. – Nos primeiros dias ele resmungava durante todo o café da manhã. Espero que não tenha o mesmo problema.

— Eu costumo ser mais silencioso. – Darcy respondeu, e novamente Elisabeta teve a impressão que ele engolia as palavras.

— Não foi o que pareceu. – Elisabeta apontou o quarto dele.

Darcy deu um sorriso de gato, e antes que Elisabeta pudesse pensar sobre isso, Jamie e Olive apontaram no corredor, correndo em sua direção. Pararam, porém, aos pés de Darcy. Rabos balançando e línguas pra fora. Darcy sorriu e acariciou as orelhas dos dois cachorros. Elisabeta preferiu não refletir sobre a imagem mental que teve ao ver a cena.

Os cachorros então passaram por ela, acomodando-se em suas camas. Elisabeta então sorriu, e voltou os olhos para Darcy, que olhava de volta para ela.

— Boa noite, então. – Elisabeta disse.

— Durma bem. – Darcy respondeu. – Não vou acordá-la novamente.

Elisabeta fechou a porta de seu quarto e retornou à sua cama. Ouviu a porta de Darcy se fechar e os passos dele pelo cômodo. E pela primeira vez refletiu o quanto era perigoso ter um homem como aquele em casa. Estava acostumada à seus empregados idosos, homens que não despertavam mais do que carinho e admiração. Definitivamente não estava acostumada à bíceps musculosos e olhos azulados no quarto ao lado.

Elisabeta adormeceu em seguida, e no outro dia, quando desceu para tomar café da manhã, Darcy já ocupava uma das cadeiras. Não demorou até que Archie e Petúlia se juntassem à eles, e Elisabeta quase esqueceu da noite anterior.


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