Familiar escrita por Melody Holy


Capítulo 1
Vulnerável




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Os olhos se fechavam com força, as mãos estavam apertadas em punhos e a respiração descompassada. O corpo trêmulo indicava o estado alterado em que a ruiva se encontrava, o maxilar trincado e as pequenas lágrimas que se revelavam timidamente sob as pálpebras diziam apenas que ela não estava bem.

Como líder, era errado demonstrar fraqueza, e mesmo que seu cração doesse e o sangue gelasse, era inevitável para a cavaleira deixar-se desmoronar, perder a pose que deveria manter a todo custo.

Infelizmente, perder essa pose significava ter a atenção de todos os outros sobre si. Não sabia o que fazer. Não podia contar com o sigilo que Lire e Arme poderiam oferecer, uma vez que a elfa estava em uma viagem até a Ilha Eruell e a maga havia aproveitado a estadia do grupo em Serdim para sair em uma “expedição” com Lass e Jin para alguma área que somente a Elite tinha acesso.

Sem as duas ali, Elesis se sentia vulnerável. As lembranças de encontrar com Elsculd a perturbavam, as memórias de uma infância rígida a fazendo mal de um jeito que não deveria. Mas era inevitável. Seu pai era um idiota, mas isso não justificava o impulso que a fazia chorar naquele momento.

Sentia o olhar dos outros voltados para si, e não se lembrava da últimas vez que teve vontade de xingar os amigos.

Já se preparava para manda-los cuidarem da própria vida quando um “saiam daqui” foi ouvido. A voz grave e raramente baixa como estava naquele momento a assustou, fazendo seus olhos se abrirem e encararem a figura parada à sua frente de costas para si, expulsando os outros guerreiros do recinto. Respeitando seu momento de fraqueza.

As íris prateadas a fitaram com preocupação, e Elesis até estranharia o momento de não tivesse sido puxada para um abraço reconfortante e coberta pelo casaco que o Imortal sempre levava pendurado nos ombros. Permitiu-se fechar os olhos e retribuir o abraço, perdida pensamentos e lembranças de um pai exigente e uma infância duvidosa.

Estranhamente, o abraço de Sieghart a fazia sentir-se confortável, pequena ali, que remetia uma sensação nostálgica de quando era criança e podia se esconder do barulho da chuva forte sob as cobertas do pai, quando não precisava ser a cavaleira vermelha impenetrável que tinha se tornado. Era bom, quente e familiar, e quando percebeu, a presença do Imortal já tinha sido o suficiente para cessar suas lágrimas, dissipando a angústia que lhe dominava e deixando em seu lugar uma sensação quente que lhe fazia sentir bem.

Apartou o abraço hesitante, arregalando levemente os olhos quando sentiu uma mão do Avatar segurar em seu queixo e erguer seu rosto, os olhos que geralmente não demonstravam nada senão sarcasmo e sadismo, agora a analisavam o rosto com atenção, as íris claras refletindo preocupação e algum sentimento próximo ao afeto.

Viu um sorriso carinhoso surgir nos lábios do outro e os polegares limparem os rastros das lágrimas em suas bochechas. Um beijo foi deixado em sua testa antes de o Highlander se afastar de fato, lhe dando as costas.

“Família serve pra ter dar suporte, criança” Sieghart disse, como se soubesse exatamente o motivo que a fazia chorar à pouco. Bom, não duvidava que realmente soubesse. “Se ela te fizer chorar por algo ruim, ela não é sua família.” E, antes que ela pudesse responder, ele se virou para a ruiva novamente, o sorriso afetuoso que não combinava em nada com o que o Imortal costumava ser. “Siegharts cuidam uns dos outros. Lembre-se disse, pirralha”

Elesis assentiu, assistindo meio embasbacada Sieghart sorrir prepotente, como se não tivesse acabado de mostrar seu lado humano, e sair do cômodo, cantarolando uma cantiga infantil que devia pertencer à outro século, e a deixando ali, sorrindo e se sentindo pequena por ainda ter o casaco do outro sobre seus ombros.

Guardou as palavras do antepassado em seu interior. Ercnard não era tão imbecil quanto demonstrava, e talvez, carregar o nome Sieghart pudesse ter algum benefício além da fama, se é que havia interpretado direito as palavras do Imortal.


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