Aconteceu enquanto te Odiava escrita por BeaFonseca


Capítulo 1
Capítulo 1 - Digerindo Ódio




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Pov. Emma Bennet

Na faculdade, eu costumava ouvir um professor citar a frase de um grande filósofo oriental, chamado Cafúcio: “A maior glória não está em nunca cair, mas sim em levantar-se sempre, depois de uma queda”. Lembrando disso agora, eu só conseguia pensar em que momento eu sentiria essa glória tão almejada.

         Eu trabalhava arduamente em uma empresa chamada STAR, mais especificamente, e atualmente, no escritório de advocacia, no centro de Central City. No total, eram cinco advogados, sendo duas mulheres – Íris Thawne e Laurel Lance -, e três homens – Oliver Queen, Barry Allen e Martin Stain -, este último era o principal chefe do escritório. Cada advogado tinha seu próprio secretário, onde eu me encaixava, exatamente – e temporariamente -, na porta do inferno, mas conhecida como sala do Sr. Barry Allen.

Nossa relação não era das melhores, e nos últimos três meses, tornou-se ainda pior. Felizmente, não era para sempre, o que me motivava todos os dias.

O departamento de advocacia, ocupava apenas um andar de um prédio enorme, cheio de especialidades. Era, literalmente, um local administrativo em geral. O CEO responsável pela empresa STAR, era Harrison Wells.

Embora o Dr.Wells fosse o principal responsável pelo circo armado na atual situação, de todos naquele prédio, ele era o homem mais sensato e sábio. Um homem muito respeitado, que dificilmente cometia erros. Particularmente, eu acreditava que seu único erro era ter me colocado à disposição de Barry Allen.

Era fato que o Dr. Wells havia me contratado para essa empresa pessoalmente quando descobriu que eu era filha de um velho amigo, mas eu não sabia que contava tanto assim com a minha boa vontade. Ele havia sido claro que por esse motivo, eu devia-lhe uma ajuda. Mas em nenhum momento ele foi rude ou ameaçador. Foi tudo em um tom bastante divertido, que muito depois vir a descobrir que ele estava se divertindo as minhas custas. Eu teria ficado com muita raiva se eu não soubesse que o Dr. Wells era um homem realmente de bom coração.

“Eu estava tão feliz na recepção do T.I...”— Pensei, lamentando.  

— Srta. Bennet... – Barry atravessou a porta de vidro que separava a sua privacidade da minha. Termo usado com todas as palavras em uma de nossas muitas discussões. – Preciso que adiante o relatório de casos deste mês, com dados, motivos e resultados.

         Barry se quer me encarava, tamanha concentração em uma pasta qualquer. Mas eu sabia que ele não estava lendo coisa nenhuma e era um de seus métodos infantis de dar uma ordem sem querer ser contestado.

         Olhei para o relógio preso na parede, e que quase pude enxergar os ponteiros crescendo e dando ênfase no horário que normalmente, deveria ser do almoço.

— Certo... – Concordei, mas antes que ele retornasse a sua sala, fiz questão de dar uma tossidela. Sabia o quanto isso o irritava profundamente, porque era quase sempre acompanhado de um “mas”. – Mas farei após o almoço, e prometo que deixarei o relatório em sua mesa antes das 17h.

         Como pensei que faria, ele finalmente me encarou. Em sua testa, estava destacado com todas as letras a frase: “Não deveria ter dito isso”.

— Preciso realmente para hoje. – Ele grunhiu. Seus olhos esverdeados não se destacavam mais que suas sobrancelhas juntas em um complô de irritação.

— Como eu disse, antes de 17h, na sua mesa. – Sorri. Eu sabia que o sorriso era o que ele mais odiava depois que era contrariado.

         E por falar em contrariar. Allen cruzou os braços mantendo os olhos semicerrados em minha direção. Obviamente, em nenhum momento mostrei medo ou surpresa. Era o que ele esperava, e eu já o conhecia o suficiente para saber o que viria em seguida.

— Eu sou o seu chefe, e você nunca faz o que eu peço. – Eu não sabia dizer se era algum tipo de ameaça, mas estava bastante tranquila, e isso era um fato. – Porque? – E finalmente ele conseguiu arrancar uma expressão de surpresa da minha parte. Essa pergunta havia sido imprevisível, porque geralmente, ele parava na primeira frase, acompanhado de um resmungo e uma cedida.

Por enquanto...— Murmurei debochada.  

— O quê?! – Sorri, fingindo-me inocente diante da sua expressão de desgosto.

— Sr. Allen... – Me levantei, cautelosamente e cruzando as mãos com toda a paciência que eu conseguia extrair. - ...como pode ver, estamos em um horário de refeição importante de expediente, e espera que eu organize um relatório estando mais concentrada em meu estômago rocando? – Ele descruzou os braços, parecendo ter sido atingido em cheio. – Isso não é a definição de um trabalho saudável. – Suspirei. – Como poderei ser eficiente?

— Você é muito sínica. – Ele soltou, e por um momento, acreditei que toda aquela minha paciência era apenas uma amostra grátis de um produto que eu tinha certeza que jamais teria completo. – Passou a amanhã inteira comendo besteira na cozinha desse departamento, e quer que eu acredite que ainda está com fome?

— O quê?! – E lá se vai os últimos resquícios da bendita paciência. – E o que tem a ver o fato de comer besteira, com o horário O.B.R.I.G.A.T.Ó.R.I.O de descanso de qualquer estabelecimento de trabalho? – Esbravejei, ciente de que estaria saído de compostura. – Além do mais, eu não disse que me negaria a fazer o relatório, só lembrei que, no momento, estou no meu direito de adiar. – Cruzei os braços, bastante satisfeita com a minha resposta, embora não fosse algo que eu devesse me orgulhar. Era sempre terrível o clima que permanecia.

Você é terrível! – Barry socava o ar, bastante contrariado. – Três meses! Três meses!— Resmungava ele. Era algo do qual concordávamos, afinal. Três meses era o que faltava para a minha carta de alforria desse cargo e o retorno ao meu antigo cargo.

Oh, nem me fale! Soltarei até fogos de artifício, se quer saber!— Esbravejei e sussurros. – Eu terei a minha liberdade, enfim!— Jogava as mãos para o alto, percebendo que Barry, claramente, me encarava com desdém. – Agora sei como os escravos se sentiam... – Continuei.

         E era esse o nosso nível de relacionamento, se querem saber. Ele abria a boca para falar besteiras, e eu rebatia, e vice e versa. Eu não me lembro de um dia se quer que tenhamos nos dado bem ao menos por meros segundos. Eu sinceramente, não entendia os motivos para o Dr. Wells, vendo tudo isso, manter a minha estadia nessa sala infernal, porque se em algum lugar nesse mundo existia o inferno, o Sr.Allen era o próprio Diabo atentando.

— Porque está sendo tão dramática? – Questionou ele, fingindo-se de inocente.

— Você é um advogado! – Rebati. – Como pode não cumprir a lei básica do trabalhador?! – Fazia gesto no ar, realmente irritada.

— Tudo bem, Srta. Bennet... – Barry pôs as mãos no bolso da calça, parecendo estranhamente tranquilo. – Está liberada para almoçar. – Dizendo isso, apenas retornou a sua sala, me deixando com a pior cara na história da frustração.

Não acredito que ele fez toda essa palhaçada apenas para se sentir no direito de me autorizar para algo que já é OBRIGATÓRIO! – Resmunguei, batendo em todo tipo de gaveta e pasta que eu encontrava pela frente, antes de puxar minha bolsa e casaco e seguir porta a fora. – Eu devia processá-lo?! Deveria! Mas que irônico!

         Eu sabia que Barry Allen, desde o início não tinha qualquer interesse em ter outra secretária, assim como eu não tinha nenhum interesse em ser a escolhida para tal cargo embora eu fosse a única com a experiência necessária para quebrar o galho do Dr. Wells. Eu estava muito feliz trabalhando na recepção do departamento de T.I com Cisco, meu melhor amigo, e também meu chefe. Era muito menos tenso e irritante.

Eu acreditava, piamente, que o objetivo de Barry Allen era me ver desistir de tudo isso, mesmo depois do Dr. Wells ser bem claro sobre eu permanecer no cargo até que Kendra – a secretária anterior do Sr. Allen -, retorne da sua licença maternidade. Eu tinha apenas mais três meses.

Como eu torcia para que esse tormento acabasse.

— ...e eu acho que ele está levando isso a outro nível. – Caitlin lamentou ao meu lado na mesa. Ela era a secretária da recepção principal do Dr. Wells. Estava a bastante tempo no cargo e conhecia bem cada chefia.

— Não é a toa que Barry Allen é conhecido por ser um advogado extremamente persistente. – Cisco comentou.

— Sabe, por mais que eu acabe falando muita bobagem na frente de Oliver, ele nunca cogitou a minha demissão. – Felicity soltou, se arrependendo prontamente depois da minha expressão de quem estava achando realmente desnecessário jogar isso na minha cara. Pelo menos ela tinha sorte de ter um chefe tão bonitão e compreensivo, mesmo ele dando muito medo com toda aquela seriedade absurda.

— Íris é, definitivamente, a melhor chefe.  – Monel gabou-se. – Além de ser muito bonita.

— Tenho certeza que o marido dela também acha. – Kara retrucou, de modo que Monel parecesse decepcionado, de repente. Ambos tinham uma relação de amizade invejável, embora eu acreditasse na possibilidade de que a própria Kara via o amigo com outros olhos. Mas isso jamais foi confirmado ou suspeitado por ninguém, até agora.

A loira era secretária pessoal de Laurel Lance, e incrivelmente, também se tornou uma relação de chefe e funcionária mais perfeita da história. Ambas pareciam uma dupla em extrema sincronia logo depois de Barry e Kendra. A morena, assim como Caitlin, tinha muito tempo de experiência no cargo.

— Cisco, eu prometo nunca mais reclamar dos seus refrigerantes em cima da minha mesa! – Juntei as mãos, implorando. – Há alguma possibilidade de retorno urgente?

         Ninguém, no entanto, sabia que eu era próxima do Dr. Wells – e nem poderiam - que já o havia incomodado várias vezes ao dia pedindo o meu retorno, que foi muito bem ignorado e contornado com seus discursos de o quanto eu era importante naquele escritório por alguns meses. E por esse motivo, talvez eu precisasse realmente de alguém intercedendo por mim.

— Uau! – Felicity riu. – Pensei que Cisco tivesse mais moral.

— Ei! – Ralhou o latino. – Eu sou um chefe maravilhoso, e não me oponho à vontade de um empregado se expressar. – Fingiu-se de ofendido. – É diferente.

         Na realidade, todos sabiam que o fato de Cisco ter uma gerência, não mudava em nada a sua performance de trabalhar em equipe. Ele se misturava entre os subordinados e quase sempre agia como se nem mesmo fosse uma chefia, o que tornava a nossa relação extremamente tranquila.

         Cisco era Gerente do Departamento de T.I do prédio inteiro, que era o principal responsável pela manutenção e melhorias de todos os computadores da empresa.

— Se eu pudesse, já teria feito. – Cisco por fim disse, suspirando. – Mas o Dr. Wells foi bastante claro quando disse que você deveria continuar lá, por enquanto. – Deu de ombros. – É bem estranho essa necessidade, na verdade...

         Dei uma tossidela discreta, afim de ignorar a observação de Cisco. Mas o que consegui, foi mais desconfiança e atenção. No entanto, ninguém questionou.

— Veja pelo lado bom, ele está te pagando muito bem para aguentar a barra! – Caitlin sorriu, amigável. Era visível a sua curiosidade em meu rosto, talvez estivesse esperando que eu dissesse alguma coisa que pudesse me comprometer.

         Eu realmente não poderia contar a verdade, ou pensariam que eu fosse uma aproveitadora. O dinheiro era bom, mas não era a minha prioridade, e sim a experiência de poder ser dona do meu próprio nariz. Era muito bom ter amigos, sem que te julguem pelo que você é ou faz. Era bom ser normal.

— Sinto que não ta valendo muito apena. – Murmurei, murcha, fingindo-me irritada. Mas não era uma total mentira.

— E por falar em valer a pena, alguém sabe o paradeiro da Srta. Dunny? – Felicity perguntou de repente. Todos lembraram-se da mulher de personalidade horrível.

         Mary Dunny era a definição perfeita de demônio em pessoa, fora Barry Allen. Era secretária do Sr. Stain, mas a dias não comparece ao serviço, o que fazia Kate ficar um pouco sobrecarregada, já que o Sr. Stain e Laurel Lance tinham suas salas, praticamente, uma do lado da outra. Era sorte que a Srta. Lance tivesse tão pouco serviço por esses dias, tendo em vista que estava bastante ocupada organizando sua lista de casamento com Tommy Merlin, um CEO de uma Empresa de Tecnologia, parceira da nossa Empresa.

— Eu soube que ela estava envolvida em uma polêmica sobre roubo, e o Dr. Well precisou demiti-la. – Caitlin soltou rapidamente. Todos a encararam perplexos.

— Eu também soube, mas não sabia se poderia contar. O Dr. Wells não deixou isso claro... – Kate mordeu os lábios, justificando o seu silêncio.

— Mas e o Sr. Stain? – Perguntei, esperando que essa seria uma boa oportunidade para me safar de Barry.

— De qualquer forma, ele vai se aposentar. – Caitlin sorriu com doçura. Ela tinha um enorme carinho pelo Sr. Stain e isso era óbvio. Ele era seu padrinho.

— Então vamos perder um chefe? – Felicity estava surpresa.

— Pelo que sei, Stain sugeriu alguém, mas não sei dizer quem ainda. – Respondeu.

— Só temos duas certezas então.. – Monel se manifestou e eu quase esqueci que estivera ali o tempo todo. O que era surpreendente, porque ele estava sempre tagarelando. – Ou um dos nossos chefes será o escolhido pro cargo, ou teremos um novo colega de trabalho. - E ta ai o motivo para ser ignorado. Ele sempre fala o óbvio. 

         “E eu vou continuar nesse inferno...”— Pensei de repente, fazendo a minha pior expressão de desgosto e desesperança.    

— Três meses! – Felicity tentou me animar percebendo enfim, o motivo de eu ter ficado assim. – Ânimo! Você consegue! – Fez gestos de empolgação.

         Dei de ombros. Três meses.

         Eu contava cada dia, hora, minuto e segundo.


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