O final de semana passou voando para minha tristeza. Depois de tudo o que havia acontecido no baile de boas vindas, pensar em encarar o Guss e a Lindsay era uma tortura.

Tudo isso conseguia ser pior do que ter que olhar pra minha mãe me lançando olhares tristes pelas verdades que eu falei pra ela. – Comecei a pensar que talvez aquele não fosse o momento para ter dito aquelas coisas, mas nada do que eu falei era mentira. – Porém tinha consciência de que entre mim e ela, eu ainda era a mais madura, apesar dela ser a mãe. Então eu pediria desculpas a ela, antes que a qualquer momento ela começasse a chorar como uma adolescente.

No domingo a noite meu celular vibrou, Izzie havia me ligado e me convidado para ir a lanchonete – que era bem próxima aqui de casa. – Eu tentei recusar, mas Izzie sempre me fazia aceitar suas propostas.

Então as oito horas eu já estava pronta, não havia me arrumado pelo fato de que nem querer sair, eu queria.

Quando desci as escadas vi minha mãe sentada na sala, ela estava com a cabeça baixa e olhava algumas fotos.

— Vou a lanchonete com a Izzie... – Avisei já indo em direção a porta de saída.

— Tudo bem, querida. – escutei sua voz sair embargada.

Ah droga! Ela estava chorando.

Fechei os olhos e respirei fundo antes de voltar e ir até a sala. – Me sentei ao lado dela no sofá e vi que ela olhava minhas fotos de quando eu era um bebê.

— Mãe?! – chamei.

Antes dela levantar a cabeça e me olhar a vi enxugar as lágrimas com as costas das mãos.

— Está tudo bem, Rose May. Pode ir...

— Me desculpe por aquele dia... Eu realmente passei dos limites, não deveria ter dito certas coisas! – falei e ela me olhou.

Pensei que ela fosse chorar ainda mais, mas ao invés disso ela me abraçou com força e eu me sentia sufocada.

— Ah querida! Me desculpe também, eu não fazia ideia que você se sentia assim! – Ela continuava me abraçando e me apertando.

— Mãe eu preciso ir agora...

— Sim, é verdade! – Ela me soltou e eu levantei do sofá rapidamente e logo estava do lado de fora esperando a Izzie.

Esperei ela por cerca de uns três minutos. – Izzie vinha caminhando pela rua com uma expressão de irritação.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupada.

— Nada demais! Só o Brian me ligando umas cinco vezes hoje e me mandando várias mensagens! – Izzie revirou os olhos e eu ri.

— E qual o problema nisso? Ele gosta de voce...

— Você acha que ele gosta de mim! E o problema seja que talvez eu não goste dele! Talvez não, eu realmente não gosto.

— Então por que aceitou ir ao baile com ele? – indaguei enquanto andávamos.

— Quis dar uma chance... Achei que ele não fosse igual aos outros garotos do time!

— Mas ele não é. O Brian é até legal... – falei enquanto ela me olhava.

— Sei que ele é legal! Mas nós não temos nada em comum... sabe? Absolutamente nada! Se ele fosse pelo menos igual a Briana, ela quebra qualquer estereótipo de líder de torcida patricinha. – Izzie disse com admiração.

Durante o caminho Izzie não parou de falar em Briana e em como elas tinham coisas em comum. – Como Briana era legal e diferente do que ela imaginava por ser uma líder de torcida.

— Ela me disse que faz parte das líderes de torcida porque realmente ama dançar, e que pretende seguir essa carreira... Ela também faz balett contemporâneo, e que quer muito cursar dança moderna.

— Vocês conversaram muito no baile, né?! – falei assim que entramos na lanchonete e nos acomodamos em uma mesa mais afastada.

— Sim! Inclusive eu te peço desculpas por ter te deixado meio de lado! – Izzie me olhava culpada.

— A culpa não é sua! Para Izzie. Fico feliz que pelo menos você se divertiu! – sorri pra ela que parecia um pouco mais aliviada.

— Você não faz ideia de como eu quis matar o Guss! – Izzie disse com irritação. – Quando ele me disse sobre a Lindsay... que você tinha visto eles...

— Ele te contou?!

— Contou! Mas é claro que o tapado não consegue ver um palmo a frente dele e não entendeu porque você ficou magoada com isso.

— Eu não... – falei mas Izzie me interrompeu.

— Não tenta negar que você é apaixonada pelo Guss!

— Izzie! – repreendi ela.

— O meu irmão é um idiota May. Você merece alguém melhor. – Izzie disse com convicção.

Pensei no que ela havia dito... Mas ainda achava que alguém como ele nunca olharia para uma garota como eu. Mesmo Guss tendo agido feito um idiota.

Fizemos os nossos pedidos e comemos. – Izzie me contou mais algumas coisas sobre o baile e que ela e Brian dançaram uma música juntos.

— Ele só sabia falar de futebol! Era quase uma tortura. – Ela reclamou enquanto eu ria. – Mas uma das garotas do grêmio disse que viu você e o Elliot saindo juntos... – Izzie me olhou analítica e um sorriso malicioso brincava em seu rosto.

— Meu Deus! Como essas pessoas são fofoqueiras! – reclamei sentindo meu rosto corar violentamente.

— Você não ia me contar não?! – Izzie indagou ainda sorrindo.

— Ele me levou em casa... Me acompanhou, na verdade. Foi só isso! – disse tentando encerrar o assunto.

— Só?!

— Só Izzie! O que mais haveria de ser? – indaguei com irritação.

— Nada... Só não parece meio estranho o garoto que você diz ser um idiota te acompanhar até em casa? – Ela sorriu largo vendo que conseguia me deixar realmente constrangida.

— Uma coisa não altera a outra! – falei revirando os olhos.

— Sei que você gosta dessas briguinhas com o Elliot... – Izzie provocou. – Mas já ouviu falar que amor e ódio costumam andar um bem ao lado do outro?

— Chega de falar dele! – falei com irritação e Izzie levantou as mãos em sinal de rendição.

— Só estou avisando. – disse sorrindo.

A porta da lanchonete se abriu e Briana e mais uma garota entraram. Elas sorriam divertidas uma para outra. – Assim que Izzie a viu começou a ajeitar o cabelo curto rapidamente, ela enrolada uma mecha curta da nuca nos dedos. – Esse era um toque que ela tinha quando ficava nervosa, conhecia bem Izzie pra saber disso.

Izzie parou quando Briana acenou para nós. Ela e a garota vieram até nossa mesa.

— Izzie, você aqui! – Briana sorriu chegando mais perto de nós. – Olá May... – Ela me cumprimentou com um beijo na bochecha, depois foi até Izzie abraçando-a mais demoradamente.

A garota que estava ao lado dela sorriu educada para nós enquanto Briana se afastava de Izzie.

— Caramba, que coincidência ver você aqui! – Izzie falou sorrindo enquanto Briana olhava dela para a garota.

— É... Não imaginaria encontrar vocês hoje. – Briana respondeu. – Essa é Nina... Minha namorada. – Briana apresentou a garota para nós.

Vi os olhos de Izzie perder o brilho de alegria que haviam iluminado eles quando Briana entrou.

Um silêncio constrangedor se instalou depois daquela frase. – Briana olhava Izzie com um olhar constrangido.

— Eu sou May... – Me levantei cumprimentando a garota com um beijo na bochecha.

Não queria que aquele silêncio de constrangimento permanecesse.

— Sou Izzie! – Ela pareceu despertar e logo cumprimentou a garota educadamente como eu.

— Foi bom ver vocês hoje. – Briana se despediu indo se sentar em uma mesa com a garota.

Antes dela ir lançou um olhar significativo a Izzie, que o sustentou. – Preferi não falar nada, sabia que esse seria um assunto delicado pra ela.

Não nos demoramos mais, Izzie logo quis ir embora, nossa volta pra casa foi silenciosa.

Quando eu estava no oitavo ano e Izzie no sétimo, ela havia se trancado no banheiro e chorado como uma criança, por causa de uma garota. – Izzie nunca quis entrar em detalhes do que realmente havia acontecido naquele dia, e eu não insisti. Só permaneci ao lado dela, para qualquer coisa que ela precisasse. – Ela nunca quis me dizer nada sobre isso, se realmente gostava de meninas, sempre foi delicado pra ela quando fazíamos uma mera menção a isso. – Diferente de mim, Izzie já havia beijado alguns poucos meninos, e ela sempre reforçava isso quando o assunto era sexualidade.

— Você está bem? – perguntei quando paramos na frente da minha casa.

— Sim May! – Izzie se apressou em responder.

Não acreditei nela, havia algo diferente em como Izzie olhou Briana hoje. Não havia percebido isso no baile.

— Nós vemos amanhã?! – indaguei.

— Claro! Boa noite May. – Ela me abraçou e caminhou pela rua.

Esperei até que pudesse ver que ela havia entrado em casa, eu tinha essa visão por nossas casas serem na mesma rua.

Quando entrei em casa não demorei a pegar no sono. – Dei apenas boa noite aos meus pais que estavam na sala e logo fui para o quarto dormir.

As horas se passaram tão rapidamente que eu já estava parada na frente de casa esperando Izzie para ir ao colégio. – Tudo o que eu desejava era minha cama quente.

Olhei a hora do meu celular e eram exatamente seis e quarenta. – Izzie no tardou a aparecer e começamos a caminhar em direção a escola.

— É tão torturante ter que ir a aula! – Ela reclamou e eu concordei.

Hoje teria que encarar Guss, agradecia mentalmente a Izzie por não ter pedido para que ele nos levasse de carro. Porque eu realmente não entraria no carro dele.

— Torturante é pouco! – falei baixo mais audível.

Assim que entramos no colégio caminhamos até nossos armários. – Izzie estava ao meu lado esperando que eu recolhesse meus livros e colocasse-os na mochila.

Lindsay vinha caminhado com imponência pelo corredor. – Mais duas garotas que costumava estar sempre com ela andavam ao seu lado. – Ela passou por nós ostentando em sorriso vitorioso.

O olhar de superioridade dela estava me irritando, o que me fez bater com força a porta do armário.

— Você já acorda irritada assim mesmo? – Elliot indagou logo atrás de mim.

Me virei olhando pra ele. – Izzie ao meu lado nos observava segurando o riso.

— O que você quer? – perguntei grosseiramente. Elliot abriu um sorriso discreto.

— Você não acreditaria se eu te contasse, Rose May. – Pela primeira vez vi um sorriso malicioso pairar brevemente pelos lábios dele. Elliot pareceu ficar ainda mais satisfeito ao meu ver ruborizar de vergonha. – Mas por hora, só quero abrir meu armário. – disse, notei que estava parada bem na frente do armário dele, que era ao lado do meu.

— Vamos, Izzie! – falei saindo dali rapidamente. – Que idiota. – xinguei quando já estávamos a certa distância.

— Ele tava dando em cima de você! – Izzie sorria divertida.

— Cala boca! É claro que ele não estava, ele queria me irritar, e conseguiu! – falei, ela fez menção em falar mais alguma coisa. – Chega desse assunto!

Izzie foi pra aula dela, e eu pra minha. – Tive as primeiras aulas longe do Guss, o vi apenas de relance no corredor, mas logo tratei de mudar o meu trajeto. – Confesso que não queria falar com ele, o que quer que fosse.

Mas não poderia fugir pra sempre, minhas duas últimas aulas seriam de química. – Então seria ele e Lindsay juntos, bem na minha frente, naquele laboratório, com aquele professor horrível e Elliot como meu parceiro.

Não poderia ser pior. – Era o que eu pensava durante o intervalo. Izzie falava sem parar enquanto comia suas batatinhas chips no fundo da biblioteca. – não conseguia prestar muita atenção no que ela dizia.

Quanto mais a aula de química se aproximava, mas nervosa eu ficava. Até pensei em dizer que estava com fortes cólicas, e pedir pra ligarem para minha mãe vim me buscar.

Quando o horário da aula chegou, não tive mais como fugir. – Caminhei sem pressa pelo corredor até o laboratório de química. – A cena do Guss e da Lindsay se beijando no baile não saía da minha mente, como uma tortura.

Pensei que suportaria vê-los juntos. – Guss já havia ficado com outras meninas, mas Lindsay era realmente pra acabar comigo. – Tinha que ser logo ela?

Antes mesmo que eu passasse da porta da sala os vi. – Eles estavam sentados juntos, Lindsay estava com os braços ao redor do pescoço dele, enquanto Guss enrolada uma mecha do cabelo dela em seus dedos. Ele sorria pra ela, apaixonado demais pra notar a minha presença.

Quando vi o rosto deles se aproximarem, não suportei mais olhar aquela cena. – Antes que eu me virasse e saísse dali vi Elliot observando-me, não sustentei o olhar dele, pelo contrário. Dei as costas e sai apressada dali.

No corredor o professor perguntou de maneira hostil pra onde eu estava indo. Não o respondi.

Caminhei apressadamente, sem rumo, deixei com que minhas pernas me levassem pra qualquer lugar.

Quando dei por mim estava na sala de reunião do grêmio. – Não havia ninguém, pois era horário de aula.

Percebi o quanto minha respiração estava alterada, e que algumas lágrimas haviam molhado meu rosto.

Escutei a porta atrás de mim se fechar e uma voz familiar quebrar o silêncio.

— É por causa dele? – indagou.