O dia tão esperado do baile de boas vindas chegou. – E até mesmo eu que não era “chegada" a esse tipo de coisa estava sentindo um frio na barriga.

Izzie apareceu aqui em casa pela tarde, me livrando do tédio.

— Queria poder ir de calça pro baile... Me sentiria mais confortável! – Ela protestou e minha mãe que passava pela sala nos escutou.

— Izzie, o baile é uma tradição! Os vestidos são tão lindos... – minha mãe disse com os olhos brilhando.

— Isso é tão cafona e antiquado! – ela fez uma careta de quem jamais usaria algo assim.

— É chique Izzie! Uma tradição! Um baile sem roupas sociais? Seria uma coisa horrível, é o mínimo que tem que ter! – mamãe institui.

— Acho que cada um deveria usar o que se sente melhor! E convenhamos que aqueles vestidos são bem desconfortáveis! – eu falei e dessa vez ela me olhou feio.

— Se você escolher o vestido certo, isso não será um problema! – minha mãe nos olhava com reprovação.

— É fácil pra senhora falar Tia! Na sua época a senhora já era linda... qualquer vestido se encaixaria no seu corpo! – Izzie falou e eu vi o olhar da minha mãe se encher de orgulho.

Aquelas palavras foram o bastante pra ela falar por quase uma hora e meia sobre os bailes da época dela, mostrar álbuns de fotos e até falar dos concursos de beleza que participou.

— Sempre achei que se tivesse uma filha menina, ela seguiria meus passos... – minha mãe falou reflexiva enquanto olhava para aquelas fotos.

Sua palavras me atingiram mais do que eu imaginei. – De alguma maneira eu sabia o quanto ela reprovava o meu corpo. E mesmo que não falasse isso diretamente, várias vezes ficava claro pra mim.

Izzie olhou imediatamente em minha direção. – Tentei não transparecer que aquilo havia me magoado, mas ela me conhecia bem.

— Vamos Izzie? – falei me levantando do sofá. Izzie fez o mesmo e fomos em direção às escadas para o meu quarto.

— Mas já meninas?! – minha me indagou.

E eu não conseguia nem olhar pra ela.

— Precisamos de privacidade! – falei de maneira rude e logo subi as escadas.

Izzie entrou no quarto após mim e eu bati a porta com força quando ela passou pelo batente.

— May...

— Está tudo bem Izzie!

— Eu sei que não está. – falou me olhando nos olhos. – Diz o que você está sentindo...

— Ela é tão egoísta! – falei com raiva e decepção. – Só se preocupa com ela mesma! – Me sentei na cama sendo acompanhada por Izzie.

— Entendo você! Minha mãe também não pega leve comigo... sempre dizendo o quanto o Guss é o filho perfeito... Então eu entendo May, sei exatamente como é! – Izzie me abraçou com carinho e eu a agradeci. – Se vamos a esse baile, então vamos pra nos divertir! – Ela sorriu e eu retribui.

Depois da Izzie implorar e me ameaçar decidimos ir com roupas parecidas. – Meu vestido era preto com mangas compridas um pouco acima do joelho, o dela era da mesma cor, só que tomara que caía e um pouco mais curto. – Ela conseguiu me persuadir a usar meu coturno preto de salto – Que eu dificilmente usava. – Aceitei usar apenas para ver a cara da minha mãe quando me visse, eu não iria mesmo dar o gostinho de usar um vestido cor de rosa que ela havia deixado em cima da minha cama. – Para finalizar o look dela Izzie ainda finalizou com uma jaqueta de couro.

— Será que vão nos deixar entrar? – indaguei rindo.

— Depois do Sam Scott ter me feito ajudar a decorar aquela porcaria, eu acho bom ele nos deixar entrar!

Passamos mais algum tempo juntas até dar a hora de nos arrumarmos. Izzie voltou pra casa dela que ficava no final da rua e eu fui tomar banho para me arrumar.

Fiz uma maquiagem não muito carregada, mas caprichei no batom vermelho. – que eu quase não usava.

Coloquei a roupa. – Deixei meu cabelo como estava, ele era ondulado, castanho claro e estava em um tamanho grande, perto das costas. – Meu cabelo era o que eu mais gostava em mim.

Me olhei no espelho e uma das poucas vezes me senti um pouco bonita. – Mordi o lábio nervosa.

Olhei a hora no relógio e era quase oito. – Pensei no Guss e se ele já estava pronto, se já estava vindo... – comecei a ficar ainda mais ansiosa.

Sai do quarto fechando a porta logo atrás de mim. Desci as escadas e quando apareci na sala meus pais imediatamente me olharam.

— Querida, você está linda! – Meu pai veio até mim sorrindo gentil.

— Obrigada pai! – retribui o sorriso.

— Cadê o vestido que eu deixei no seu quarto, Rose May? – minha mãe indagou analisando-me incrédula.

— Ele continua no mesmo lugar mãe! – respondi sentindo uma leve irritação.

— Eu gosto mais desse. – Meu pai falou ainda sorrindo.

— Mas você nem viu o outro, Finn! – minha mãe respondeu com indignação.

— Não preciso ver, sei que a minha filha tem um ótimo gosto! – Ele sorriu ainda mais largo vendo que havia conseguido irrita-la. – Tira uma foto nossa, Rachel?!

— Pai eu acho melhor não... – eu não gostava muito de tirar fotos. Na verdade eu detestava que tirassem fotos minhas.

— Preciso registar esse momento, filha. – Ele falou e eu cedi.

Minha mãe tirou várias fotos e nos fez fazer outras poses, e depois foi a vez dela tirar foto comigo. – Eu já estava quase tendo um colapso nervoso quando a campainha tocou.

E o nervosismo só piorou. – Ele havia chegado, o Guss chegou. – Senti meu estômago revirar, e meu coração acelerar.
Enquanto percorri a curta distância até a porta tentei parecer mais calma. – Como se eu não estivesse esperando por aquilo desde que ele me fez o convite.

Pensei no que poderia dizer, mas Guss me conhecia muito bem, então pensei que ser só “eu" seria o melhor.

Meus dedos tocaram a maçaneta da porta – o ar entrou em meus pulmões de maneira pesada – girei a maçaneta e abri.

O sorriso involuntário que havia surgido em meus lábios antes da porta ser aberta desapareceu.

— Ele não pode vim. – Izzie estava lá, de pé na minha porta. – Eu sinto muito May!

Tentei não transparecer a decepção que havia me atingindo em cheio, mas estava difícil. – Ele não veio, Guss não estava aqui.

Ao mesmo tempo que eu desejava saber o porquê, eu só queria subir para o meu quarto, tirar essa roupa e me trancar lá.

Izzie me olhava com tristeza, não queria que ela sentisse pena de mim. Não aceitaria isso!

— O que houve? – perguntei sentindo minha voz falhar.

— Ele disse que encontra a gente lá... – Izzie falou de um jeito estranho, como se estivesse escondendo algo. – O Brian veio me buscar de carro... ele vai levar a gente até o baile. – Izzie falou e só aí notei o veículo parado em frente à minha casa.

— Izzie eu posso ficar em casa... – Ela me interrompeu antes mesmo de concluir a frase.

— Nem pensar! Eu sem você naquele baile?! Não vai rolar! De jeito nenhum!

Olhei pra ela que me encarava ameaçadoramente, sabia que se recusasse Izzie não falaria comigo por pelo menos um mês.

— Já vou indo... – Eu e ela entramos na minha casa mais uma vez só pra avisar meus pais.

— Bom baile, meninas! – minha mãe desejou a nós e meu pai disse para nos cuidarmos.

Caminhamos em direção ao carro do Brian. – Izzie a contragosto e timidez sentou na frente, e eu atrás.

— E aí May?! – Brian me cumprimentou simpático.

— Oi Brian. – sorri o mais gentil o possível.

Mas meus pensamentos ainda atormentavam minha mente. – Por que Guss não havia vindo? – era doloroso pensar nisso. – Tentei me agarrar no que Izzie disse sobre ele nos encontrar no baile.

Um silêncio estranho se instalou no carro até Izzie ligar o rádio. – Brian comentou algumas coisas sobre as músicas e só aí Izzie pareceu conseguir dizer algo, deixando clima menos tenso.

Ainda assim eu estava imersa nos meus pensamentos... – Desejando mais do que tudo que ele estivesse no baile.

— Você disse pra ela que o Guss teve que ir até a casa da Lindsay?! – Só quando eu escutei essa frase sair da boca do Brian que voltei a prestar atenção no que eles falavam.

Izzie fuzilou ele com o olhar, mas Brian não entendeu. – Ela me olhou pelo espelho retrovisor, mas eu desviei o olhar.

— O Guss o que? – indaguei.

— Ele teve que ir até a casa da Lindsay... ela ligou pra ele chorando dizendo que teve uma discussão feia com a mãe. – Brian explicou.

Izzie olhava incrédula pra ele, pensei que ela começaria a xinga-lo naquele momento.

Só voltei a dizer algo quando ele nos deixou na frente do colégio e foi estacionar o carro.

— Quando você pretendia me contar, Isabelle? – perguntei com raiva.

— Não queria que você se magoasse mais, May!

— Ele vai vim até aqui?! Ou você inventou isso?

— Ele me disse que viria, May! Olha eu tentei mostrar pra ele que aquela vadia estava fazendo aquilo de propósito, mas o Guss as vezes é tão idiota feito uma porta! – Izzie disse – Me desculpe, deveria ter falado a verdade pra você, só não queria te ver ainda mais triste!

— Eu não deveria ter vindo. – falei engolindo em seco.

— Não fala assim vai! – Izzie passou seu braço por cima do meu ombro. – Você tem a mim, não é muita coisa, mas...

Brian não demorou para se juntar a nós duas novamente – Mas Izzie permaneceu com o braço sobre meus ombros, deixando ele apenas caminhar ao lado dela.

— Acho que vocês deveriam estar de braços dados. – falei baixinho no ouvido dela.

Izzie me olhou com deboche e ignorou o que eu havia dito. – Sabia que ela estava mais do que irritada por ele ter me falado sobre Guss e Lindsay dentro do carro.

Entramos no colégio e fomos em direção a quadra esportiva onde seria o baile. – A escola já estava cheia de alunos, e quanto mais nos aproximavamos do local, parecia surgir mais pessoas.

Bem na frente da quadra estava Sam Scott e as duas garotas do grêmio, ele parecia resolver algum detalhe do evento.

— May, Izzie... – Sam nos cumprimento ajeitando os óculos nervosamente. – São tantos detalhes nesse baile, que eu estou quase enlouquecendo!

— Você deveria relaxar Sam, desse jeito vai ter um treco! – Izzie disse rindo.

Adentramos a quadra que estava muito bem decorada por nós. – Um palco havia sido improvisado, mesas estavam distribuídas de um lado, e no meio uma pista de dança era ocupada por algumas pessoas. Uma mesa com bebidas – Não alcoólicas – e comida também foi disposta.

Procuramos uma mesa e nos acomodamos.

— Izzie eu vou ir falar com uns amigos... – Brian avisou.

Ficamos só nós duas sentadas ali observando os outros alunos. – Alguns dançavam, a maioria conversava e outras já trocavam olhares e sorrisos.

Minha mente me traiu mais uma vez e eu pensei nele. – Que agora Guss estava com ela. E como entre mim e Lindsay ele sempre a escolheria. – Me senti ainda pior com isso.

— O Brian tá vindo com alguém até aqui? – Izzie perguntou e eu olhei na mesma direção.

Uma garota bonita vinha acompanhando ele. – O cabelo cacheado volumoso e exatamente lindo era o que mais chamava atenção nela. – A pele morena e o corpo bonito também eram valorizados no vestido cor de vinho com um decote em “v” que ela usava.

Só quando eles já estavam muito próximos que eu fui perceber a semelhança entre os dois.

— Essa é a minha irmã, Briana. – Ele apresentou ela para nós duas.

Briana me deu um beijo na bochecha e eu também disse meu nome a ela. – Depois ela foi até Izzie e fez o mesmo.

— Você eu já conheço... Izzie. – Briana sorriu e Izzie retribui tímida.

— Também sei quem você é, líder de torcida! – Izzie falou e Briana riu.

— Por favor não sou mais uma estereotipada! – Briana falou sentando ao lado dela.

— Bom garotas eu vou deixar vocês conversando... – Brian piscou pra Izzie antes de sair.

Briana e Izzie se deram tão bem que eu comecei a sobrar na conversa delas. – Mas fiquei feliz de ver minha amiga se divertindo. – Elas conversavam entretidas nos próprios assuntos e sorriam uma pra outra sempre que viam algo em comum entre si.

Digo com toda a certeza que Izzie se deu muito melhor com Briana do que com Brian, que estava nitidamente afim dela.

Olhei a hora no meu celular e um bom tempo já havia se passado e nada do Guss aparecer. – Pensei em ligar pra perguntar se estava tudo bem, mas não tive coragem. – Então enquanto Briana contava algo no ouvido de Izzie eu levantei e elas nem me viram sair dali.

Andei um pouco pelo local do baile, que estava agora realmente cheio. Decidir sair dali pra respirar um pouco.

Passei por Sam Scott na entrada, ele parecia ainda mais irritado do que antes.

— Que inferno essa escola! – ouvir ele dizer.

Havia algumas pessoas no pátio e um casal na área aberta da escola. – Fui caminhando até onde minhas pernas me levaram e só aí me dei conta de que estava no campo de futebol.

O ar frio da noite entrou em meus pulmões, aqui era muito melhor pra respirar do que lá dentro com aquela aglomeração de pessoas.

Só nesse momento que vi alguém mais ao longe no campo.

— Guss? – indaguei baixo.