Ouvi um barulho agudo, que cortava o ar. O tilintar de mim mesma. Senti a mão que me segurava apertar cada vez mais rigidamente, como se temesse minha perda. Senti algo molhar a empunhadura. Sangue? Será que em seu braço havia um corte profundo o suficiente para fazer sangue escorrer até a mão? Perguntava-me até perceber que na verdade, o homem apertava com tamanha força que machucava os próprios dedos. Talvez... O homem no qual me portava mostrava alguma importância por mim, uma espada que poderia, facilmente, ser substituída por outra qualquer.

“A minha mera existência poderia ser importante a alguém” pensei sorrindo por meu interior, até eu perceber que estava errada. O rapaz finalizou a luta, cravando-me no peito do adversário, em um golpe mortal e direto. Seus olhos castanhos, por um momento, não eram os olhos de um lutador dedicado, e sim de um assassino. Enxugou o suor de sua testa com um pano e jogou-me em um canto. O fato de sua mão sangrar, não era por medo de que me perdesse, e sim de um corte em sua mão. Como pude ser tão fútil e tola? Em um suspiro, logo me juntei a uma pilha de lixo qualquer, tendo como uma ultima visão, presenciar o jovem no qual lutava comigo ir embora, para depois vivenciar uma escuridão fria e sem vida.

Acordei ouvindo vozes. Muitas delas, sem sincronia nenhuma, como se cada uma quisesse gritar mais alta que a outra. Eu estava em um baú, agora aberto, mas permanecia no mesmo coliseu que o homem de olhos castanhos havia morto o adversário. Observei ao meu lado. Muitas outras espadas estavam ali, na mesma arca que eu. Encalhadas. No mesmo problema que o meu. Na mesma angustia, na mesma solidão. Percebi que, uma a uma, as espadas foram sendo levadas por guerreiros que combatiam sem apresentar algum motivo. Fui sendo rejeitada até que um jovem segurou em minha empunhadura revestida de couro e levou-me para a arena. A mudança repentina da luz cegou-me por instantes, até eu acordar com o tilintar de mim mesma. Iria começar tudo de novo.