Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 14
Capítulo 14




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Natalie, Gabe e William estavam no refeitório. Tinham perdido o horário do Jantar devido ao trabalho montando os cartazes, que por sinal tinha demorado mais que o esperado, mas aquilo não os impediria de pelo menos irem atrás de alguma comida. Estavam famintos.

— E cadê a Jessica, hein? — William perguntou com um sorriso divertido nos lábios, mordendo um pedaço de seu salgado. O menino de cabelos curtos estava afobado com alguma coisa desde que saíram da biblioteca, e aquilo não passou despercebido para a irmã gêmea. Conhecia de longe aquela cara suspeita.

— Ela foi pro dormitório, eu acho. — Gabe respondeu, dando de ombros. De repente William pareceu querer segurar a risada.

— Isso é sério? — Questionou, e o capitão do time assentiu. — Ela é tão engraçada com ciúmes... — Comentou, avoado. — Aposto que ainda está brava comigo.

Natalie cruzou os braços, deixando de lado o bolo de pote que comia.

— O que você aprontou com ela, William? — Questionou seriamente.

— Nada. — O irmão deu de ombros, ainda com aquele sorriso de quem realmente aprontou alguma.

— Will... — Disse em tom de advertência. — Então você tinha mesmo ido atrás dela na biblioteca àquela hora, não é? O que foi que você fez pra ela não querer nem vir comer com a gente?

O menino alto fez gesto de zíper na boca em resposta, para descontentamento de Natalie, que retrucou:

— Tudo bem, pergunto pra Jess depois. — Deu de ombros.

— Duvido muito que ela vá responder alguma coisa sobre o assunto.

Gargalhou, e então se levantou.

— Eu já vou, então chega de questionários maninha. — Falou. — Vejo vocês amanhã.

O garoto nem sequer deu tempo da gêmea mais nova responder, pois logo saiu andando tranquilamente com seu salgado na mão. Idiota. Natalie conhecia muito bem o irmão que tinha, mas não imaginava que tipo de coisa poderia ter feito Jessica sequer ir jantar. Tinha que descobrir isso depois.

Deu mais uma colherada em seu bolo de pote, e então notou os olhos do outro garoto na mesa sob si. Gabe rapidamente desviou o olhar, prestando atenção no seu copo de milk-shake de amora.

— Eu falei com a Jessica mais cedo... — Comentou aleatoriamente, ainda sem levantar o olhar.

Um sorriso magicamente brotou dos lábios de Natalie.

— E aí? ­— Ela perguntou, animada.

— E aí que ela aceitou as desculpas. — Deu de ombros, e finalmente arriscou olhar para a menina à sua frente, que sorria brilhantemente.

— Eu disse que era super simples. — Ela disse com um tom vitorioso, embora não fosse capaz de esconder a satisfação que aquela notícia lhe trouxera. Nem ela mesma entendia o motivo de estar tão feliz assim por Gabriel.

— É, você disse... — O garoto riu fraco. — Acha que eu consigo falar com os outros também?

— Não acho que você precise falar com os outros. É só... ser um cara mais simpático com eles.

— Vão me chamar de louco bipolar, você sabe disso, né?

— Isso não deixa de ser verdade... — Falou, vendo Gabe revirar os olhos, rindo.

O garoto deu um longo suspiro.

— Obrigado por botar fé em mim mesmo eu sendo o cara mais chato do mundo. — Disse, sinceramente, com os olhos presos nos da menina de cabelos cacheados.

Ela riu.

— De nada. Eu admito que não foi um trabalho muito fácil, mas Natalie Campbell é pau pra toda obra. — Disse num tom divertido, o que fez com que o garoto risse novamente.

— Eu não entendo o motivo de você fazer isso. — Gabe deu de ombros.

— Isso o quê?

— Ser legal comigo. Quer dizer, não tão legal assim, mas o suficiente pra alguém que me detesta.

Natalie pensou um pouco, e deu de ombros. Também não entendia ao certo seus motivos pra ter deixado de lado toda a sua raiva por Gabriel Mitchell e começado a se importar com ele. Foi algo que só... aconteceu.

— Essa sua pose de cara chato e mal-humorado não cola mais comigo. — Disse com sinceridade. — Eu sei que você é legal no fundo, você só tem problemas pra mostrar isso pros outros, e acho que não custa nada eu ajudar.

Gabe assentiu, pensativo.

— É um bom argumento. — Observou, e logo resmungou: — É irritante como você está quase sempre certa sobre mim.

— É um dom. — Natalie sorriu com satisfação no olhar.

— Ser irritante? Eu concordo. — Gabe falou, num tom brincalhão que Natalie tinha quase certeza que nunca ouvira vindo dele, e a menina revirou os olhos.

— Esse é o seu dom, Gabriel. — O fitou acusadoramente, com um sorriso divertido nos lábios. — Bom... acho que já tá na hora de eu subir pro dormitório. Tenho que ver o que aconteceu com a Jess antes que ela decida ir dormir.

Gabriel riu.

— O que foi? — Natalie questionou enquanto pegava o pote vazio de cima da mesa.

— Acabei de perceber o quanto você é intrometida, Campbell. — Comentou, se levantando assim como a garota.

— Ah tá, disse o garoto que estava espionando o treinador.

— Era por um bom motivo. — Gabe fez uma careta. — Agora eu duvido que você tenha um motivo pra querer saber o que rolou entre o seu irmão e a Jessica mais cedo.

— Meu bom motivo é a suspeita de que aquele pamonha tá perturbando minha amiga. Eu conheço o irmão que eu tenho, tá? Isso já não é motivo o suficiente?

Gabriel negou com a cabeça.

— Isso pra mim é ser intrometida. — Falou, sincero.

— Tá bom, vovó fofoqueira que espia os superiores, eu sou intrometida. — Revirou os olhos, rindo da expressão de descontentamento no rosto do menino.

Os dois então saíram andando juntos do refeitório. Gabe tomou um gole de seu milk-shake, e logo voltou a conversa:

— Agora que você comentou do assunto do Vermont, eu me lembrei de uma coisa. Ele estava menos estressado hoje.

— É, eu reparei nisso também, mas tenho quase certeza que foi por causa da volta da Jess. — Disse. — Será que aquela pessoa da outra vez continua a ir lá de noite?

Gabe deu de ombros.

— Não sei, é provável.

Foi então que, alguns metros a frente, avistaram uma figura alta com uma expressão um pouco perturbada andando na direção deles. Natalie imediatamente acenou, sorrindo para o homem que se aproximava. Era o professor Julian.

— Olha só, os dois nadadores prodígio por aqui. — O homem de barba rala disse, formando um sorriso desajeitado no rosto. — Isso é um encontro que eu estou atrapalhando ou algo assim?

Gabe engasgou com aquilo, e Natalie o olhou com certa indignação.

— Não! — Exclamaram ao mesmo tempo.

Julian riu.

— Certo, certo, não é um encontro. — Falou. — Estou um pouco aliviado de não ter atrapalhado nenhum beijo adolescente. Seria realmente frustrante para vocês dois.

Aquela foi a vez de Gabe lhe lançar um olhar indignado, fazendo o professor gargalhar.

— Como se isso fosse possível, né, professor. — Natalie disse com um tom de desdém. — Meu nível não é tão baixo assim.

Gabe a fitou com uma careta.

— E nem o meu. — Rebateu.

Julian balançou a cabeça em desaprovação, sem parar de rir dos dois alunos.

— Enfim, eu tenho que ir. Estava só de passagem mesmo, vejo vocês dois na aula. — Acenou.

Natalie e Gabe se despediram, vendo o homem sair andando para o lado oposto deles, e logo sumindo de sua visão. Os dois nadadores então voltaram a andar trocando apenas algumas palavras sobre coisas aleatórias, e quando perceberam, estavam em frente ao dormitório feminino.

— Não era meu plano te trazer até aqui, antes que se sinta lisonjeada. — Gabe falou, com um falso ar superior.

A menina de cabelos cacheados riu baixo, balançando a cabeça em desaprovação. Por algum motivo Gabe se sentiu afobado ao ver aquele sorriso tão genuíno, e mentalmente anotou que gostaria de vê-lo mais vezes. Não sabia exatamente o que estava acontecendo com sua cabeça para pensar aquelas coisas, mas... que mal havia?

— Certo, senhor "não se sinta lisonjeada". — A garota brincou, arrancando uma risada do capitão. — Eu já vou subir. Nos vemos amanhã.

— Até amanhã então — Acenou. — Boa noite, Campbell.

— Boa noite, Mitchell.

E, com mais um sorriso, Natalie se afastou, subindo as escadas do bloco C e deixando o garoto de olhos castanhos para trás. Assim que não pôde mais ver a menina, Gabe suspirou. É, definitivamente Natalie era um problema para sua cabeça.

Xx

Tina estava cansada e sua barriga ainda doía quando chegou à escadaria da quadra. Fazia algum tempo que tinha terminado o trabalho com Jamie e, depois de comer rapidamente alguma coisa com os outros garotos, saiu correndo para encontrar Alex. Péssima ideia. Na verdade, ela nunca aconselharia ninguém a comer e sair correndo, digamos que não é uma experiência tão boa assim.

Subiu as escadas resmungando de dor, mas imediatamente ficou em silêncio ao ver a figura de cabelos bagunçados e óculos recostada no canto da quadra. Alex estava dormindo.

Tina sorriu e se aproximou a passos leves do garoto para não acordá-lo. Sua expressão naquele momento era tão serena que chegava a admirá-la. A menina de cabelos curtos então sentou-se ao lado do garoto que, como se sentisse sua presença ali, se remexeu um pouco e deitou em seu ombro.

— Ei, Alex. — Ela sussurrou, rindo, enquanto mexia nos fios acastanhados do menino na tentativa de despertá-lo. — Folgado.

Ele abriu os olhos lentamente e demorou um pouco até se situar, piscando algumas vezes. Se levantou do ombro de Tina vagarosamente e a encarou, dando um pequeno sorriso de lado.

— Parece que não sou eu a única a dormir por aqui. — A menina disse.

Alexander riu, tirando os óculos e esfregando os olhos, para então colocá-los novamente.

— Pelo menos eu não falo dormindo. — Brincou, com um tom preguiçoso.

— Será?

— Tenho quase certeza que não. — Riu novamente, olhando para o relógio do celular. — O que está fazendo aqui essas horas?

Tina pigarreou. É, não tinha parado pra pensar o quanto seria estranho aparecer meia hora antes do toque de recolher sem um motivo aparente – ou pelo menos sem um que poderia contar.

— Estava passando e pensei que poderia estar aqui. — Deu de ombros. — E o que você está fazendo aqui essas horas, Alex?

— Sei lá, tinha acabado de sair da sala do conselho estudantil e precisava falar com alguém. Achei que estivesse aqui, mas aí eu acabei dormindo...

O coração de Tina saltou em felicidade. Então o conselho estudantil tinha mesmo falado com ele.

— Desculpa não estar aqui mais cedo, tive que colar uns cartazes pro clube por aí. — Explicou-se. — Mas... por que estava na sala do conselho estudantil? — É, Christina já poderia ganhar um Oscar em se fazer de desentendida.

Alexander suspirou, e se ajeitou no seu lugar. Deu um sorriso triste, fitando o chão, para então olhar novamente nos olhos de Christina.

— Estou com problemas de faltas no clube. Vão me repetir se eu continuar afastado ou não me transferir pra outro clube temporariamente.

Tina já sabia da situação, mas ouvir aquilo sair da boca do descontente Alex fez tudo parecer um pouco mais preocupante. Ela lhe lançou um olhar um pouco surpreso, apenas pra não deixar óbvio seu conhecimento de tudo, e disse:

— E o que você vai fazer?

— Eu sei lá. — Encostou-se novamente na grade da quadra. — Sem cogitação voltar pro atletismo, e eu não tenho muita certeza se algum outro clube me aceitaria sabendo que eu fui afastado.

— Deveria tentar vir pro meu clube. — Tina comentou, como quem não quer nada. Não tinha mais paciência apara ficar enrolando sobre aquilo. — Estamos precisando de gente. Inclusive os cartazes que eu estava colando mais cedo eram sobre isso.

Alex pensou um pouco.

— Natação? Não seria um pouco... estranho?

— Por quê?

— Porque eu era do clube de atletismo e magicamente vou me transferir pra um esporte completamente diferente. — Explicou.

— Acho que não tem nada a ver. Você precisa de um clube, nós precisamos de membros... — Deu de ombros. — E além do mais, você já conhece o pessoal do time também, eles iam curtir você lá.

— É... pensando por esse lado, você tem razão. Embora eu não tenha nenhuma experiência com natação, eu vou pensar no seu caso.

Tina sorriu para o amigo.

— É pra pensar mesmo, ouviu? — Disse, o vendo acenar positivamente como resposta. — Nada de deixar isso pra lá e repetir de ano.

Alex riu, e então voltou a se deitar no ombro da garota, suspirando mais uma vez.

— Como foi o seu dia? — Ele perguntou.

Tina riu.

— Isso é estranho, você nunca me perguntou algo assim. O que houve?

— Ah, certo, então é crime querer saber sobre o seu dia? — Alex levantou o olhar à garota, que gargalhou. ­— Estou falando sério.

— Bom, senhor super sério, meu dia foi bem cansativo. Eu estava até agora com o Jamie pendurando os cartazes pra atrair mais membros. — Respondeu. — O treinador ficou meio desesperado com o fato de que Rachel vai sair da escola, e aí a gente foi dar uma mãozinha.

— Espera aí. Você passou o dia com o Jamie? Quer dizer, o seu Jamie? — Alex questionou, brincalhão.

— Não existe o "meu Jamie". — Fez aspas com os dedos. — Mas sim, estávamos juntos. Não que tenha acontecido algo demais, a gente só... conversou um pouco e andou pra lá e pra cá com papéis e fita adesiva.

— E quando chega a parte que você desmaia?

— Idiota. — Ela deu uma cotovelada em Alex. — Não foi nada de extravagante. A vezes eu acho que o Jamie realmente só me vê como uma amiga e eu quem fico me iludindo.

Alexander ficou em silêncio, se lembrando da conversa que tivera com o menino de olhos pequenos da outra vez. É, não parecia haver algo a mais nos sentimentos dele, de fato.

— Ele não sabe o que está perdendo. — O menino de óculos pensou alto.

— Não está perdendo nada, na verdade. — Tina riu. — Ele tem a super incrível Thais lá. Ela é melhor que eu em tantos graus que eu fico triste só de pensar.

Alex revirou os olhos.

— Você é muito idiota. ­— Falou. — Se ele não gosta de você, eu te garanto que não é porque te falta alguma coisa. Você é tão incrível quanto ela.

— Você é um doce, Alex, mas é difícil acreditar nisso. — Riu, suspirando.

— Não sei por quê... — O menino resmungou.

Tina balançou a cabeça, decidida a mudar de assunto.

— Você acredita que ele acha que eu sou afim de você? — Questionou, cruzando os braços, com um rosto levemente corado.

— Por que ele acha isso? — O menino riu.

— Porque eu... — Coçou a nuca. Merda, como explicaria que era porque estava praticamente tendo um surto de preocupação com ele mais cedo? Ela pigarreou. — ... eu tinha falado alguma coisa sobre você. Não lembro o que era, mas ele simplesmente concluiu isso.

— Eu deveria me sentir lisonjeado pelo fato de ser o assunto entre você e seu crush? — Brincou, arrancando uma risada da garota.

— Com certeza.

Ficaram em silêncio depois daquilo. Alex continuou recostado no ombro da menina de cabelos curtos, que acariciava seus fios castanhos e balançava os pés, distraída. Ele achava engraçado que, em determinados momentos que estavam juntos, não sentiam necessidade de trocar palavras ou manter algum diálogo. A presença um do outro ali já era bem mais interessante do que uma conversa inteira com qualquer outra pessoa, e o silêncio, diferente do esperado, nunca era constrangedor. Não era atoa que haviam vezes em que passavam o almoço inteiro sem conversar, e saíam dali com um sorriso no rosto.

Ele nunca imaginou que aquele seria o tipo de pessoa que mais faria diferença em sua vida. É, talvez nem toda aquela sua amargura pudesse impedi-lo de se apaixonar por ela, afinal.

Xx

Os dias se passaram com uma velocidade incrível. Sendo a última semana de Rachel, o time de natação inteiro fez questão de passar todos os dias comendo na mesma mesa no almoço, ocasionalmente sendo acompanhados por George ou Thais. Além disso, com a ajuda de Vermont e liderança de John, tinham planejado uma grande festa surpresa de despedida para a garota na piscina do clube — e felizmente Rachel era lerda demais para desconfiar de alguma coisa, o que facilitava em todo o processo.

Era, finalmente, a noite de domingo: o dia da festa de despedida surpresa. Os membros do clube de natação tinham literalmente passado o dia todo enrolando Rachel para que ela não desconfiasse de nada — o que incluiu também um almoço do time feminino no shopping local, fingindo ser a badalada festa com bebidas que tinham prometido anteriormente. Todos já estavam preparados, o clube já estava decorado e com todos lá, e Jessica, encostada no corredor do dormitório, apenas esperava pelo sinal verde para que pudesse arrastar Rachel pra a festa.

"Caramba, eu já posso ir?" Ela digitou impacientemente a mensagem para William, que infelizmente era o encarregado da função de avisá-la do momento certo para chamar Rae. "Só mais um minuto. Além de ciumenta é esquentadinha também?" foi o que recebeu como resposta quase que imediatamente. Suspirou, irritada com a demora dos amigos e mais ainda por ter que estar se comunicando com aquele traste engraçadinho por mensagens. Anotou mentalmente que nunca mais deixaria colocarem John para organizar uma festa; ele era péssimo em dar funções.

Não demoraram nem dois minutos para que recebesse, finalmente, a confirmação do garoto: "Já pode vir, madame impaciente. Avisa quando estiver aqui na frente".

Respirou fundo, revirando os olhos, e então finalmente bateu na porta do dormitório 22. Quem abriu foi uma garota de cabelos tingidos de vermelhos e óculos, que sorriu ao vê-la. Brianna, uma das roommates de Rachel.

— Ah, oi Jessica. — A menina cumprimentou. — Veio falar com a Rae, né? Vou chamar ela.

Não demorou para que Rachel aparecesse na porta, com um olhar sonolento.

— Estava dormindo? — Jessica perguntou.

— Cochilando. — A menina baixinha corrigiu. — Mas o que foi, Jess?

— O Vermont me pediu pra te chamar, ele quer falar com você. — Disse, com naturalidade. Ah, se a amiga soubesse quantas vezes tinha repassado aquela fala...

— Sobre...?

Oh, droga. Não tinha combinado aquela parte.

— Acho que é alguma coisa sobre a sua transferência, eu não sei. — Improvisou. Caramba, já podia ganhar um prêmio pela atuação tão realista. — Ele não me contou detalhes, só me pediu pra vir te chamar.

— Ah, tá bom então. — Deu de ombros. — Só espero que não seja nada ruim. — Riu.

As duas então saíram andando juntas pelo campus da S.S. Jessica, que normalmente era quem se irritava com as lerdices da amiga, pela primeira vez deu graças aos céus por aquele detalhe que vinha dela. Era tudo tão óbvio que qualquer outra pessoa perceberia o caroço no angu de primeira.

Quando já estavam próximas da praça ao lado do ginásio, Jessica discretamente puxou o celular no bolso e enviou a mensagem de aviso para William: "Estamos quase chegando".

"Certo, já está tudo pronto, chuchu". Aquela resposta fez a loira mais uma vez rolar os olhos, embora um lado seu tivesse a feito corar. Will era definitivamente o garoto mais idiota da história do universo.

— Que cara é essa, Jess? — Rachel questionou, para a infelicidade da amiga.

— Nada. — Respondeu, abrindo um largo sorriso para a outra. — Só estava pensando em... em como o William pode ser irmão da Natalie, sendo que ele é tão idiota.

A morena riu.

— Vocês nunca vão se acertar, né? Eu estava achando que tinham começado a se dar bem ultimamente...

— Acredite, estamos bem longe disso. — A menina de cabelos loiros balançou a cabeça.

Chegaram ao ginásio pela porta da frente e as luzes estavam apagadas, como combinado. Rachel olhou ao redor, estranhando a escuridão.

— Cadê o Vermont? — Questionou, curiosa.

— Hã... eu tenho a impressão de que ele está lá na piscina tirando as raias. — Jessica tentou contornar a situação. — Vamos la.

Ela então puxou a amiga pelo braço antes que pudesse fazer mais questionamentos, e passou pela porta que levava à piscina, a deixando caminhar sozinha pelo lugar mal iluminado. Bastaram alguns passos dela até que as luzes se acendessem, e todos os membros do clube surgissem gritando "SURPRESA!" em meio às bexigas e fitas que estavam espalhadas pelo lugar, surpreendendo a garota.

Rachel olhou ao seu redor boquiaberta, sem saber muito bem o que dizer. Estava tudo decorado, com uma enorme mesa cheia de comida e refrigerantes ao canto da quadra, uma faixa enorme onde havia escrito em letras brilhantes: "Boa viagem, campeã!", e diversas bexigas flutuando pela piscina.

— Vocês fizeram mesmo uma festa, seus idiotas? — Foi o que conseguiu dizer, com olhos marejados.

— Achou mesmo que deixaríamos você ir pro outro lado do mundo sem fazer uma despedida digna? — Tina se pronunciou, sorrindo.

Aquelas palavras foram o suficiente para que Rachel começasse a chorar, o que fez todos os amigos se aproximarem com sorrisos no rosto. Jessica, Tina e Natalie também tinham lágrimas nos olhos, e bastou alguns segundos até que se juntassem para um abraço em grupo.

— Nós vamos sentir sua falta, Rae. — Jessica falou enquanto as lágrimas corriam por seu rosto descontroladamente. Sempre fora a mais chorona do grupo.

— Eu sei que vão. — Rachel disse, bem humorada.

— Não se esqueça da gente, ouviu? — Natalie falou, arrancando uma risada da amiga.

— Como se isso fosse possível.

Os garotos do time, que estavam de fora do abraço, se entreolharam.

— Ei, ei, ei — John chamou a atenção de todas. — Sem baixo-astral aqui, garotas. Já podem parar de chorar, isso é uma festa.

— Dá pra deixar a gente ser sentimental? — Natalie ralhou.

— Não. — John fez uma careta. — Deixem o abraço em grupo pro final, vamos curtir agora.

— Por mais que me custe admitir, ele está certo. — Rachel riu. — Vamos aproveitar isso aqui sem chororô.

As outras três se entreolharam, dando de ombros. E foi então que Henry chegou com a caixa de som e ligou uma música alta e bem agitada, perfeita para espantar o clima triste.

Não demorou para que os adolescentes pulassem na piscina, que tinha sido liberada por Vermont, e realmente começassem a festa com direito a comida, bexigas e algumas bebidas que John conseguira trazer escondido.

Enquanto todos aproveitavam o momento, Jessica se recostou na mesa de comidas, com um sorriso alegre no rosto. Realmente gostava daquele tipo de comemoração, ainda mais com os amigos, e estava realmente surpresa pelo fato de que até mesmo Gabe estava presente — e inclusive conversava com Natalie e Henry no canto da piscina. Suspirou, mas seu momento de paz foi atrapalhado pela voz grave que surgiu ao seu lado:

— Está aqui de guarda da comida ou algo assim? — William parou ao seu lado, com um sorriso no rosto. Merda, aquele sorriso a irritava tanto.

Jessica imediatamente revirou os olhos com o comentário.

— Eu não posso nem ficar parada por um instante que o bonito quer vir me importunar, né? — Reclamou.

— Calma aí, só estou brincando. — Ele gargalhou com a expressão insatisfeita no rosto da menina. — Você se estressa muito fácil, sério.

— Fala logo o que você quer, William.

— Conversar. — Ele deu de ombros. — Já decidiu parar de me evitar?

— Se eu pudesse, continuaria te evitando até morrer. — Cruzou os braços. — Infelizmente é impossível fazer isso com alguém que nem você.

— É porque eu sou irresistível, não é? Pode admitir. — Levantou e abaixou as sobrancelhas, recebendo um soco no braço como resposta.

— Não, é porque você não me deixa em paz mesmo. — Fechou a cara, desviando o olhar dele.

O menino de cabelos escuros sorriu, apertando uma das bochechas da colega de clube.

— Acho que eu já te disse que você fica muito adorável brava, não é, loirinha? — Falou, a fazendo corar imediatamente e assumir uma expressão ainda mais irritada. — Está tentando me seduzir, por acaso?

— Me erra, Campbell! — Exclamou, tirando a mão dele de seu rosto e saindo dali, batendo os pés furiosamente.

William gargalhou com aquilo. Tinha sido hilário provocar a garota todos aqueles dias depois da cena de ciúmes na biblioteca – coisa que também não podia deixar de ter achado uma graça. Ele definitivamente considerava agora Jessica Carter uma das coisas mais incrivelmente irresistíveis que já tinha visto na vida.

Enquanto isso, na piscina, Tina conversava casualmente com Jamie, Rachel e John.

— Sem chances. — Tina disse, desacreditada. — As duas terminaram com você?

— É... — John disse, na beirada da piscina, tomando mais um pouco de alguma bebida que tinha misturado. — E sabe qual a pior parte? Eu nunca nem desconfiei que elas pudessem se conhecer!

— Fala sério, John, você é um idiota também né. — Rachel gargalhou.

— Eu ia dizer exatamente isso. — Jamie falou. — A parte errada começa quando o cara namora duas meninas ao mesmo tempo e acha que nenhuma delas vai suspeitar disso.

O loiro suspirou.

— Eu já disse, galera, eu sou um cara de muitos amores. — Justificou-se.

— Isso aí se chama ser um galinha. — Tina falou, rindo.

— Nada disso, mocinha. — O menino tomou mais um gole de bebida. — Coração do John é que nem coração de mãe, tem sempre espaço pra mais uma.

Os outros três se entreolharam antes de começarem a gargalhar pela comparação ridícula.

— Até chegar a hora que não tem mais nenhuma. — Rachel falou, e o menino pôs a mão no peito.

— Ouch, essa doeu aqui. — Disse. — Mas olha aí, têm vagas abertas agora. Se quiser se candidatar, eu não tenho problemas com namoros a distância.

— Cai fora! — A menina jogou um pouco de água nele.

— Olha lá, Rae, namorar com o John é pedir pra tomar um chifre... — Jamie resmungou, vendo as duas amigas assentirem.

— Olha, Jamiezinho, também não tenho problemas em relações homoafetivas com meus colegas de clube, viu? — O loiro brincou, mandando um beijinho no ar para o amigo.

— Sinto muito bonitão, já sou comprometido com o George. — Jamie entrou na brincadeira, mandando uma piscadinha para o maior. — Mas quem sabe num futuro próximo.

— Estarei esperando, meu chuchu.

Tanto Rachel quanto Tina não conseguiam parar de rir escandalosamente com a cena dos dois colegas. Alguém definitivamente deveria gravar aquilo.

O restante da noite passou voando cheio de música, comida, água e um John completamente bêbado reclamando da vida. A festa tinha sido a melhor de todas para Rachel, que conseguiu aproveitar cada segundo com todos os amigos, embora soubesse que nada era o suficiente para suprir a saudade que iria sentir quando estivesse fora do país. Os adolescentes socializaram, cantaram enlouquecidamente, fizeram guerra de água com bexigas, transformaram Henry numa múmia de fitas coloridas, e finalmente um a um se despediu da amiga principal da festa com saudade nos olhos.

Ao final de tudo, ainda tiveram que gastar algum tempo para limpar o lugar — já que essa era a única condição dada por Vermont para que pudessem ficar lá. Antes mesmo do horário do toque de recolher, já estava tudo pronto, limpo e arrumado, com luzes apagadas e as sobras de comidas sendo carregadas pelos membros do clube.

A noite acabou com o quarteto do time feminino indo para o dormitório aos risos, enquanto Jamie e Gabe carregavam John bêbado para o quarto e William e Henry filmavam tudo. É, aquela definitivamente fora a melhor festa de despedida de todos os tempos.

 


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