Aquele que foi embora escrita por ALL


Capítulo 1
O Destino e o Acaso




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Eu não acreditava em destino.

Crer que algo está destinado a acontecer em nossas vidas, com tanta coisa que pode acontecer - aonde cada esquina que pegamos diferente muda o rumo do nosso futuro - Para mim, o meu ideal foi nunca acreditar que isso pode ser possível.

Mas quando eu conheci ele, isso tudo começou a fazer um pouco mais de sentido.

 

 

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A internet, alem de facilitar a vida de todos, nos ajuda a construir laços que podem durar para a vida toda. Fico grata por ter nascido nessa era digital e por ter conhecido ele, através dela. As vezes eu penso que se caso fosse em uma época aonde as pessoas ainda se comunicavam por cartas, se eu o teria conhecido.

Acho pouco provável. Mas é ai que o destino entra.

 

 

Foi em uma noite qualquer de 2013, onde velhos hábitos me fizeram entrar em um jogo online que eu costumava jogar quando mais nova, chamado Habbo Hotel.

É um jogo bem conhecido com intuito de criar quartos, criar seu personagem e fazer novos amigos.

Eu já não jogava esse jogo des de 2010, porem nessa noite, me veio uma vontade súbita de entrar. 

E sempre que me bate essas vontades assim, eu logo as sigo.

 

 

Entrei na minha conta e pelo navegador do jogo, apenas cliquei em um quarto qualquer, de algum novato. 

Me lembro que na indicação de pessoas dentro do quarto, haviam 3 pessoas.

 

E foi assim que eu o conheci.

 

Eu o vi, com mais um amigo, tentando se comunicar com o novo jogador. E assim que eu entrei no quarto, fui logo me juntando a eles.

Pensando hoje em dia, foi a melhor decisão que tomei naquela noite, ter entrado nesse jogo.

 

Logo nos adicionamos no jogo e posteriormente, no skype, ferramenta da época mais fácil para conversarmos.

Qualquer pessoa pensaria que isso é normal, certo? Apenas entrei em um jogo e fiz um amigo.

Pois até hoje eu fico pensando que se eu tivesse decidido não entrar, ou até então, se eu tivesse entrado e ido para qualquer outra sala do jogo diferente, eu não teria conhecido ele.

Ele que, naquela época, também já não jogava mais o jogo e decidiu entrar também naquele dia por acaso.

O melhor acaso de todos.

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Alguns meses se passaram e nós só ficávamos mais próximos.

Começava a cogitar a ideia que, esse garoto que conheci pela internet, me conhecia melhor do que amigos que estavam ao meu lado, na vida real.

 

Falávamos sobre vários assuntos, envolvendo família, amigos, interesses em comum, coisas que gostávamos. Gosto de lembrar que era tudo muito puro, na época eu tinha 14 e ele 16. 

Foi dessa forma simples e inocente que começamos a nos gostar, cada vez mais.

As férias da escola chegou em julho e eu me lembro que passamos o mês inteiro conversando, foi um mês que eu dificilmente saia da frente do computador. Mas não quer dizer que por isso tenha sido ruim, me recordo como uma das minhas melhores férias escolares.

Era encantador a forma como nos entendiamos bem, ainda nos entendemos, até hoje. Nos conhecemos tanto que ele foi e ainda é um dos meus melhores amigos, ele me entende e gosta de mim pelo o que eu sou. Imagine só, uma amizade que saiu pelo acaso, de um jogo, dar assim tão certo.

 

Não lembro exatamente após quanto tempo de conversa tivemos, provavelmente alguns bons meses, que conseguimos admitir um para o outro o amor que estávamos sentindo. 

Foi lindo, como eu disse, era algo tão puro e inocente, aonde as coisas fluíam tão bem e a sinergia era tão compatível. Dentre varias declarações de amor por uma tela de computador, tentávamos também cada vez mais tornar aquilo tudo ''palpável'', tornar aquilo tudo cada vez mais ''real''.

Tivemos então a ideia de usar alianças, você as comprou e teve a brilhante ideia de me mandar por correio. Bom, meu pai não achou a ideia tão legal assim, foi ele quem pegou a correspondência e logo já conseguiu sentir o anel dentro do envelope.

Lembrando disso hoje em dia, é até engraçado, mas na época foi assustador contar que eu estava namorando virtualmente, para a minha surpresa, meus pais até entenderam bem, aliás, que mal faz um relacionamento pelo computador, onde sua filha não corre riscos?

 

Mais algum tempo se passou e a vontade de se ver pessoalmente foi cada vez ficando mais forte.

Mesmo sendo um relacionamento muito saudável e lindo, aquele amor juvenil, a gente ainda tinha o problema da distancia.

Sentir todo esse amor por alguém e não poder ver a pessoa, não poder tocar e senti-lo, eram realmente coisas difíceis de suportar. 

 

Até que em uma hora, a vontade não cabia mais dentro de mim, estava explodindo para fora do meu peito e a unica coisa que eu pensava era pegar um ônibus e acabar logo com os 314km que nos separava.

Essa quantidade de quilômetros até que não é tão grande, em questão de horas eu poderia estar perto de você.

Com meus 15 anos foi quando eu novamente criei coragem e fui conversar com meus pais que eu queria te ver, ou então, que você iria vir me ver.

 

Eu acho que foi ai que tudo saiu dos trilhos.

 Fui muito desencorajada por eles. Eu apenas tinha 15 anos e ainda dependia deles, que pais em sã consciência deixaria a filha viajar para ver alguém conhecido da internet? 

E meu pai me disse a seguinte frase que me lembro até hoje ''Quando você fizer 18 anos e não depender mais da gente, vai poder fazer o que quiser.''

Eu, claro, fiquei em prantos.

Ainda faltava 3 anos para os meus 18 anos, isso parecia a eternidade.

 

Quando eu fui contar para ele, que meus pais não tinham gostado da ideia de nos vermos e, que se fosse para isso acontecer, ainda demoraria mais alguns anos, ele foi compreensível, resolveu permanecer. 

Eu gosto disso nele, dessa calma que ele tem.

E eu me lembro que depois, pouco conformados, ficávamos falando ''3 anos não é tanto tempo'' ou ''vai passar rápido''.

 

Mal sabíamos nós que demoraria um pouco mais que isso.

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Nós ficamos juntos namorando aproximadamente por 1 ano, era um amor que não tinha defeitos, tirando a parte da distancia.

Algumas pessoas dizem que namoro a distancia da certo, só basta o casal querer.

Mas tenta aplicar isso em dois adolescentes, que estão na flor da pele. 

E foi quando veio a carência e tudo de ruim que ela traz.

 

Eu me lembro que foi próximo dos meus 16 anos e eu tive que tomar uma decisão muito difícil, que foi até uma decisão por nós.

Pela carência, por todos os momentos que imaginei nós juntos, mas também por todos os momentos após que imaginei que isso ainda estava longe de acontecer.

Eu tomei a decisão de terminar o relacionamento.

Foi algo realmente muito difícil, ficamos muito mal, principalmente ele. Na época me senti culpada, triste, mais carente do que nunca. 

 

Mas eu fiz isso pelo fato que precisávamos viver.

Ia ser muito egoismo da minha parte se eu o fizesse ficar 3 anos se privando da liberdade e dos prazeres da vida, ele tinha que conhecer alguém por lá, para ele passar por todas as fazes que um adolescente normal passa, não é? Namoro real, real no sentido de pessoalmente, experiencia, essas coisas.

Era difícil cogitar a ideia que eu estava terminando com ele, para ele ir viver a vida dele, durante esses 3 anos. Mas e se quando eu fizesse 18, ele não me quisesse mais? E se ele estivesse em um relacionamento, se tivesse encontrado alguém. E se eu estivesse?

Diante todas as incertezas, tomei essa decisão por nós dois, como já dito antes. Até hoje penso que foi uma decisão sensata e o melhor a ser feito. 

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Mas não foi pelo termino que paramos de ser amigos, quer dizer, as coisas ficaram estranhas no começo, principalmente as conversas. Mas sempre deixei claro que eu só queria o bem dele e sempre que ele precisasse conversar, eu estaria lá por ele.

E foi assim que ficamos, após o termino, nos apoiando, voltou aquela amizade do começo, um pouco tímida, porem por razões diferentes. No começo foi por ainda não nos conhecermos bem e naquela época foi pelo fato do termino recente.

 

Mas o mais importante foi que nunca deixamos de ser amigos, sempre nos atualizávamos da vida um do outro, todas as conquistas e todas as dificuldades também, sempre estávamos conversando sobre. 

 

Porem nunca entravamos muito em detalhes sobre a nossa vida amorosa, por que né, pelo fato de sermos ex.

 

E foi ai que todos os meus medos vieram a tona.

Ele encontrou alguém legal na cidade dele e começou a namorar.

Você deve estar pensando ''não era isso que você queria quando terminou com ele?''

 

Bom, sim e não.

Sim por que eu queria que ele tivesse as experiências da vida dele, ele tinha que passar por isso e não era eu e meus pais super protetores que o privariam de o deixar viver a vida dele.

E não pelo fato do ciumes que no começo era quase incontrolável.

Foi quase 1 ano após o nosso termino que ele começou a namorar de novo e bom, meus sentimentos por ele ainda estavam lá intactos, não foi por que terminamos que eu deixei de ama-lo. Mas depois de digerir a informação bem devagar, eu comecei a entender e aceitar que a pessoa que eu ainda nutria um forte sentimento, estava namorando outra.

 

E eu também tive as minhas experiências, namorei e terminei algumas vezes e sinceramente? Eu acho que precisava ter passado por isso, me tornou mais forte para certas questões e é assim que é a vida, certo? Experiências que nos fazem mudar o modo de viver, de pensar e nos torna melhor para si próprio e para o mundo.

 

E ele esteve lá comigo, conversava comigo a cada termino e me aconselhava, me acalmava como só ele sabe fazer e me ajudava muito.

É claro que não sentíamos o melhor dos sentimentos a cada informação sobre relacionamento amorosos que dávamos um ao outro, mas eu penso até hoje que somos realmente verdadeiros amigos por saber tratar de tantos assuntos delicados dessa forma, com o amor entre nós ainda existindo.

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O tempo novamente passou e eu me lembro que a cada aniversario meu que passava, o pensamento que vinha em minha mente era ''um ano a menos para ver ele''.

Era como uma contagem regressiva, 

lentamente regressiva.

 

Ele continua namorando, no mesmo namoro des da época após o nosso termino.

E eu? bem, eu quebrei a cara com as pessoas algumas vezes e também arrumei alguém que pude compartilhar os anos, após isso.

 

E foi quando eu fiz 18 anos, era 2016.

Foi um grande alivio chegar a essa idade, pois era uma idade muito aguardada por mim, dentre os desejos de fazer minha primeira tatuagem, poder agora comprar bebidas alcoólicas e claro, finalmente vê-lo.

 

 

E os meus antigos medos se tornaram realidade e tudo o que eu mais temia, consequências das experiências que tivemos nesses 3 anos, estava nos impedindo de agora, finalmente conseguir nos encontrar.

A vontade de se ver, mesmo após anos, ainda existia nos dois. Incluindo o aperto no peito toda vez que eu pensava na possibilidade de acontecer alguma coisa que encerasse a vida de algum de nós dois e assim, sem avisar, vir a morte e o arrependimento de nunca ter o conhecido pessoalmente.

Quando eu fiz 18 anos, cada dia que passava eu sentia que era uma perda com o tempo que eu ainda estava tendo em não correr para viajar.

Mas agora, eu tinha a permissão que esperei durante anos, que era a questão da minha idade. Mas por amores que arrumamos pessoalmente, as coisas ficavam meio difíceis quando tentávamos programar de se encontrar.

 

 

É engraçado como acontece essas coisas da vida, geradas por uma decisão que tomamos.


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