— Eu digo que devíamos matá-lo, antes que se transforme e morda algum de nós. – repetiu Alan.

— Como pode isso tão calmo assim? – esbravejou Nicholas.

— Estou sendo racional. – explicou Alan enquanto rodava sua faca nas mãos.

Hiey permanecia calada olhando para suas mãos cruzadas. Era sua culpa se Hayden havia sido mordido e agora seus amigos estavam sendo forçados a decidir entre mata-lo antes da transformação ou não.

— Esta é uma situação complicada, – começou Tsubasa, líder do grupo, que ate então apenas ouvia todos em silêncio. – Hay é nosso amigo e companheiro, salvou a cada um de nós incontáveis vezes, porém não posso ignorar que estou colocando todos em perigo mantendo-o conosco. Acho que não tenho escolha.

Aquelas palavras para Hiey soaram a sentença final. Levantou-se para sair, mas não sem antes expressar sua opinião.

— Você está certo, Hayden é nosso amigo e matá-lo ainda consciente apenas por que tem a certeza de que ele vai se transformar não é uma libertação, mas sim assassinato. – disse ela e saiu.

Tsubasa impediu Saki que se levantou também para ir atrás de Hiey.

— Deixem-na sozinha por agora.

— Hiey e Hayden eram muito próximos, mas do que qualquer um de nós. Isso está sendo muito mais difícil para ela, principalmente se acrescentarmos que Hayden foi mordido justamente quando era ela que ele estava salvando. – comentou Jack.

— Mas infelizmente não podemos mudar a realidade, principalmente para o bem de Hiey Hayden precisa ser eliminado.

E com as palavras finais de Alan, cada um dos cinco membros restante ali saíram em silêncio.

No quarto improvisado que dividia com Saki, Hiey segurava uma boneca de pano feita a mão, uma das poucas coisas que carregava fora o essencial. Havia ganhado de Hayden algum tempo depois de se juntar ao grupo e sabia que tinha sido da sua filha. Ela havia sido uma das muitas vítimas feitas pela epidemia zumbi. Ele estava sempre se lembrando de sua querida Aurora e no quanto elas eram parecidas. Não era certo que o deixasse passar seus últimos momentos sozinho e isolado. Decidida colocou em sua mochila todo o matéria que precisava para os primeiros socorros e seguiu para o porão, onde Hayden havia sido deixado.

Já fazia vinte minutos que Tsubasa estava encostado em uma parede afastada do porão. O que ele, o líder, precisava fazer já estava bem claro e decidido, mas e a pessoa por trás da responsabilidade. Matar Hayden ainda consciente ou esperar pela transformação? Qualquer que fosse a sua decisão não deixaria de estar matando um valioso companheiro, seu melhor amigo e conselheiro. Foi interrompido de seus pensamentos quando a passos apressados viu Hiey com sua mochila nas costas caminhar sem hesitar até onde estava Hayden. Com cuidado para não ser percebido foi logo atrás.

O porão daquela casa era dividido em três cômodos, Hayden havia sido levado para o mais distante, e quando chegou a porta o viu amarrado a uma viga. Ele havia sido mordido na perna esquerda, e Hiey pensava que ele ainda estava inconsciente quando sua voz rouca falou.

— Tsubasa, é você?

Hayden mal reconhecia a própria voz. Fazia poucos minutos que havia acordado. Sentia sua perna queimando onde o maldito zumbi havia mordido e pouco se lembrava do que havia acontecido. Se lembrava de terem entrado em um hospital em busca de medicamentos e qualquer outra coisa útil, mas logo foram cercados pelos pacientes que haviam sido infectados ali. Lembrava-se também que quando tentaram escapar por uma janela mais alta Hiey não conseguia alcançar e ele não pensou duas vezes antes de pular para mesa e ajuda-la a subir a tempo de ser ele o mordido pelo zumbi e não ela. Não se arrependia, de maneira alguma. Talvez apenas por deixar o jovem líder do seu grupo com um fardo tão pesado nas costas.

— Desculpe por levar você a ter que fazer isso. Sei que é responsável e sabe que isso é necessário, mas não deixa de ser cruel com alguém tão jovem. – com a respiração pesada Hayden apoiou a cabeça na viga atrás de si. – Prometa-me apenas que continuará cuidando de Hiey por mim.

— Por que não me odeia? – perguntou Hiey, com a voz baixa. Ela que havia parado na penumbra assim que ele havia começado a falar apareceu no campo de visão de Hayden, pálida e incrédula. – É minha culpa por ser tão inútil que você foi mordido.

Era ela quem devia ter sido mordida, era ela quem deveria ser morta. Desde o inicio, desde que se juntara ao grupo nunca havia feito nada demais, estava sempre sendo um peso morto para o grupo.

— Preciso sempre ser protegida por você e pelos outros. – as lágrimas começaram a cair, quentes. – Se não tivesse voltado era eu quem estaria aqui agora. Sou tão inútil que nem mesmo para isso servi.

— Você tem razão Hiey. Foi exatamente isso que eu pensei a primeira vez que eu te vi.