Vossa majestade escrita por Hamona Wayne


Capítulo 13
Mate as cobras




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  Ser um sonserino após a Segunda Guerra bruxa não foi e nem é nada fácil. Temos que aguentar acusações mesmo alguns não tendo feito nada. Ainda lembro que poucas pessoas restavam na nossa mesa e alguns pediam para não estar lá. Já certos grifinórios tiravam proveito disso.

  Lia um romance na mesa quando uma corvina derramou suco nela.

— Opa! Sinto muito, não vi.

— Tudo bem. – Sussurrei, tirando o livro da mesa

— Sabe como é: lixo no lixo.

  Foram embora rindo. Suspirei cansada disso. Se ter Parsy me incomodando era ruim, pior era toda escola. Teve uma vez que eu tomava banho e ouvi uma conversa.

— Estou cansada disso, Hestia! Cansada!

— Relaxa, Flora.

— Relaxa? Como vou fazer isso com todo mundo apontando pra mim e rindo? Sei que posso ter sido chata algumas vezes, mas nunca humilhei alguém de verdade! A culpa não foi minha, ‘tá?

— Isso vai passar, está bem? – Abraçou a irmã – Não se preocupe.

  Ah, ela devia se preocupar. Todo mundo cai matando em cima de nós. O que você disse quando sua filha recebeu o convite? E de quebra, ainda tinha que aguentar as chatices de Daphne e Susan. Nem depois daquela declaração fofa, na Batalha de Hogwarts, elas pararam de brigar por causa de Nott.

— Você não vê que ele ‘tá te usando? – Argumentou Susan, nos corredores

— Em quê? – Questionou Daphne – Ele me adora.

— Você faz tudo o que ele manda!

— O que custa agradar o namorado?

— Daphne, ele não gosta de você! Você é um fantoche dele!

— Ele cuida de mim! Me protegeu todo esse tempo! Se importou de verdade! E o que você fez? Nada além de reclamar! Não passa de uma egoísta, invejosa!

— Inveja de quê? Disso?

— De ter alguém que proteja você! Nunca teve ninguém! Alguém que te adore! Que te ame! Nunca amou ninguém assim! Então não venha falar do que não sabe!

— Pois saiba que eu tenho alguém que amo muito sim! Só que... Parece que não se toca, que não me vê.

— Tomara que fique sem você, porque ninguém te merece!

  Diferente do que eu imaginei, Susan não bateu nela, saiu chorando. Dessa vez, foi dela de quem eu cuidei à noite.

— Vo-você acha... Acha que não m-mereço ninguém? – Perguntou em meu quarto

— Claro que não! Olha, Daphne falou da boca pra fora. É claro que ela te ama e quer o seu bem. Só ‘tá irritada com essa implicância que você tem com Nott.

— M-Mas, Astória. – Olhou nos meus olhos – Ela não o ama, não é apaixonada por ele. Não pode ser! Não pode! Não pode!

— Por quê?

— E-Ele não presta! Não presta! Não presta!

  Se as coisas estavam difíceis para Susan e Daphne, estavam melhores para mim e Francis. O cara vivia me

— Olhando – Sussurrou Hestia, na aula de poções – Menina, ele ‘tá na sua!

— Bobagem. – Falei – Ele só é um colega de classe com quem falo de vez em quando.

— Quem dera se falasse comigo. – Desejou Flora – Um gato.

— Pode ficar, é todo seu.

  O tempo frio me agrada. Gostava de usar uma capa de chuva verde com capuz. Tinha um tecido grosso e rastejava um pouco pelo chão. Sentava embaixo de grandes árvores e lia, pois ninguém me incomodava por lá.

— Me deixa em paz!

  Preferiam incomodar outras pessoas.

— Que foi, cobrinha? Está com medo, é?

  Atrás da árvore, vi dois alunos maiores mexendo com uma sonserina do segundo.

— Vão embora! Eu não fiz nada pra vocês!

— Olha só, ela. Vai chorar!

— Deixem ela. – Pedi gentilmente, saindo do meu cantinho

— Ou o quê?

  Abaixei o capuz e os fitei com frieza.

— Meus pais tem um cemitério particular e anseiam por novos corpos. – Me aproximei e peguei na camisa de um deles – Podíamos fazer ótimos negócios.

  Mostrei uma adaga de prata bem pontuda para eles. Não deu outra, saíram correndo.

— Obrigada, Astória. – Disse Genésia, entrando comigo em Hogwarts – Eles já estavam me chateando a um bom tempo.

— Não pode controlar o universo, mas pode equilibrar como deve reagir na frente dos outros.

— Entendi. Uma pergunta, por que anda com uma adaga por aí?

— Isso? – Quebrei na metade – Papel machê. Uso para entender os movimentos do príncipe Alcolt.

— Ah, entendi. – Chavos e Arcolo a chamaram – Tenho que ir. E obrigada, de novo.

— Não tem de quê.

  Controlamos nossas reações perto dos outros, certo? Mais ou menos. Fazia meu prato de café da manhã. Na hora de me levantar, ela propositalmente esbarrou em mim e se sujou de batata frita. Katy Dove deu um grito tão alto que todos se viraram.

— Ah, minha nossa! – Murmurei assustada – M-Me de-desculpa!

— Mas o que está acontecendo aqui? – Interrogou você, vindo até nós

— Olha isso! Aquela Greengrass derrubou meu lanche em mim de propósito! É parte do plano dela de arruinar minha vida! E os amiguinhos comensais dela estão por trás disso também! Isso não está nada certo!

— Não está nada certo esse seu casaquinho ridículo de última moda! – Intrometeu-se Parsy – Você esbarrou nela e se melou! Olhando assim, até que fica mais bonita!

— Olha como fala dela, abre perna de criminoso! – Brigou Mcloggen

— Falou o que da minha namorada, filho da puta? – Irritou-se Blásio – Repete pra ver se não quebro sua cara!

— Bate em mim também, mauricinho! – Enfrentou Zacarias Smitch – Era pra todos serem expulsos! Já não bastou a Segunda Guerra bruxa pra mostrar a verdade?

— Que verdade, idiota? – Questionou Dean Winchester

— Que todos vocês são um bando de fracassados e que estragam a vida de todo mundo!

— Não foi o que seu pai disse ontem, na cama.

  Nem acredito que fui que disse aquilo. Apenas falei e todos os sonserinos gostaram.

— Greengrass.

  Pena que o chato professor de Aritimância não pensava o mesmo.

— Detenção.

  Em três anos agindo como doidinha, não ganhei detenção. Nos outros três anos de invisibilade, poucos professores lembravam meu nome. E no justo dia que dou uma de ousada, o professor que nunca lembra de nada me vê e me dá uma detenção?! Qual é!

  No mesmo dia, passei a noite organizando a tabela de números dele. Não foram poucos. Fui liberada lá para as nove horas.

— Greengrass! – O líder da banda me chamava, no corredor – Greengrass!

— Oi, Lowes.

— Oi, Greengrass. Vejo que voltou tarde.

— É, eu estava na detenção.

— Ah, é. Eu soube da confusão. Katy veio falar comigo.

— Katy?

— Katy Dove. Nossa, como ela é maravilhosa. Tem um cheiro tão bom, acredita que usamos o mesmo tipo de hidratante?

— Surpreendente.

— E como! Temos muito, muito em comum. Acho que vou chamar ela pra ir à Hogsmeade. Acho que ela ‘tá na minha.

— Com certeza. Ela vai até rir de tanta felicidade em ser convidada.

— Obrigado. Ah, está fora da banda.

— Quê?

— É, eu e Katy estávamos conversando e achamos melhor não ter pessoas agressivas na banda da escola.

— Sério isso? Foi um acidente!

— Outro ponto, não podemos ter desastrados. O que a nova diretora diria de nós?

  Que são um bando de babacas.

— Espera aí, ela nem é líder! Não pode fazer isso comigo, Lowes!

— Eu posso e eu fiz. Devia ser mais gentil com Katy, ela é muito legal.

— Legal vai ser quando ela te der um fora, seu bundão!

  Fui irritada para o salão comunal. Chegando lá, todos bateram palmas para mim.

— E abre alas, que a nova rebelde está vindo! – Brincou Daphne – E olha ela, com essa cara de má! Me diga, sra. Malvadeza, qual será seu próximo plano diabólico?

— Bater em Boggie Lewes – Sentei na poltrona – Acredita que o babaca me expulsou da abanda porque ele e Katy não gostam de pessoas “agressivas”.

— Ué, não era você que reclamava de ser tão chato? Devia comemorar. – Falou Nott

— É, só que... – Não queria dizer que fazia parte para me sentir um pouco importante, vergonha tem limites – Queria uma boa reputação pro meu currículo.

— Ainda bem que você não vai trabalhar, ‘mô. Não queria te ver se rastejando pelos outros. Sem querer ofender, Astória.

— Tudo bem, ‘tô acostumada.

— Como foi lá, Greengrass? – Questionou Flora, no quarto

— É... Muito chato. Tive que arrumar uns negócios e ainda fui expulsa da banda. Que ótimo dia.

— A banda do viciado? – Quis saber Hestia

— Hestia! – Brigou sua irmã – Não pode falar isso assim!

— Isso o quê? – Não responderam – Por favor, me deixaram curiosa.

— Ok, eu digo – Cedeu Flora – Ano passado, flagramos Boggie Lowes fumando, embaixo das arquibancadas.

— Não brinca! Por que não contaram?

— Ele ficou fazendo nossos deveres de casa pelo resto do ano até vermos que não era muito correto.

— Não me arrependo nem um pouco. Ele é um bosta.

— Interessante. Ele tem alguma hora especifica?

  Sim, ele tinha. Às cinco e quinze, Boggie Lowes se escondia debaixo das arquibancadas para fumar uma. Não fiz porque fiquei com raiva dele, detesto fumantes. E eu tinha um plano.

  Bati na porta de Slughorn – nosso novo diretor – e fiz meu teatro. Ele mandou Parsy verificar se Lowes estava lá e ela voltou com ele. Minutos depois, sentava na sala de McGonagall, cabisbaixa. Fechei minha mente para não correr riscos de ser pega.

— Está aqui! – Parsy entrou com ele – Estava tentando fugir pela privada. Drogado.

— Greengrass, poderia me contar novamente? – Pediu a diretora

— Sim, professora. Há alguns meses, vim desconfiando do meu líder da banda, estava com o comportamento um tanto estranho. Certo dia, o encontrei... O encontrei fumando embaixo das arquibancadas. Ele me viu e disse que me mataria se eu falasse algo.

— Mataria?!

— Acho que não faria isso, estava drogado. Mas fiquei com medo e acreditei. Um tempo depois, vi ele muito agressivo. Quando voltou ao normal, disse que ele devia se tratar e então, me tirou da banda. Sei que parece que estou exagerando, mas cresci com um pai fumante e não desejo isso a ninguém.

— Isso é verdade, Lowes?

— Sei lá, tia.

— Está liberada, Greengrass. Você também, Parkinson. Dez pontos para cada.

 - Obrigada, professora.

  Nós duas saímos.

— Mentiras têm pernas curtas, Greengrass. – Falou

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que quando ele voltar ao normal, vai negar tudo o que disse e talvez seja expulso ou transferido por não admitir o que fez. Como sua monitora, estou orgulhosa que tenha o denunciado.

  O que ela quis dizer foi:

— Quero dizer que você mandou muito bem com aquele bosta, mostrando seu lugar! É bom que seja expulso, não gosto nem um pouco dele!

  Por uma grande cagada, Lowes era mesmo um viciado e foi internado na Suíça.

— Um brinde – comemorou Daphne, erguendo seu copo de suco – à minha irmã malvada!

  As gêmeas, Francis, Daphne e Nott fizeram tim-tim, no salão comunal.

— Não acredito que fez mesmo isso – Falou Flora, no banheiro – Foi tão legal! Acho que não teria coragem.

— Não pareceu quando jogou minhocas no cabelo da Abbott. – Recordou sua irmã

— Isso foi há dois anos!

— O cabelo dela ainda deve feder!

  Gostei daquilo, daquele poder. Mas eu sabia as consequências, não podia mudar. Não podia me deixar levar.

— Qual é! — Reclamou meu reflexo, do vidro do Três vassouras – Vai dizer que não gostou disso? De ter esse poder? Foi maravilhoso! Astória, se continuar assim, pode parar de ser essa rejeitada e ter tudo nas mãos! Sua mãe te amaria assim! Tome mais um gole! Só um gole!

  Joguei água e passei a esponja.

— Aí está o seu gole.

  Claro que não era nem um pouco fácil lutar contra esse vício – lutar com nenhum vício é fácil, na verdade. Sempre que pensava em tomar mais um gole, apertava o rabo de cavalo ou mordia o lábio. 

  Perto do natal, fiz um extra no trabalho. Só não contava que o irmão de Susan esperava pela minha saída.

— Oi, Astória!

— Ah... Oi. Oi, Francis. Oi... Francis.

  Pode perceber como eu não era uma boa especialista na arte do amor. E ele havia ficado bem atraente com o passar dos anos.

— Está bonita. Você sempre está bonita.

  Só queria sair dali, aquilo não podia rolar. Só ele me prendeu na parede. E não foi nem um pouco legal, principalmente quando começou a mexer no meu cabelo. Ninguém pode mexer no meu cabelo.

  Acho que o problema era eu mesmo. Francis era um cara legal, sempre respeitou todo mundo. Só que eu não queria beijar ele. Digo... Aff! Nunca tive vontade de beijar ou namorar alguém. Por isso, só beijei pela primeira vez aos dezessete. E não foi Francis. Minha mente enlouqueceu, ele tocou meu rosto. Seus lábios já vinham em direção dos meus.

— O que é aquilo?

— O quê?

  Não me orgulho de ter fugido de lá como uma covarde. Não tive medo da Batalha de Hogwarts, mas tremia em pensar que aquilo podia acontecer. Corri para o mais longe possível, entrei numa floresta cheia de árvores sinistras e muita neve para atrapalhar, nem sabia onde estava. Acabei que tropeçando em uma pedra bem forte, caí rolando e fiquei lá. Minha perna nunca doeu tanto.

  Não conseguia me levantar, nem sabia onde estava, era um lugar deserto. Podia ser caçada facilmente.

— Esse é meu fim – Me deitei na neve, de olhos fechados – Eu vou morrer aqui, sozinha! E ninguém nunca se lembrará de mim!

— Como você é dramática.

  O céu foi coberto, alguém me olhava com aquele típico sorriso idiota que fazia quando mais novos.

— Draco, me ajuda! – Implorei numa voz manhosa

— E o que eu ganho com isso?

  Foi como se voltássemos no tempo, como se voltássemos a ser crianças. Lágrimas brotaram de meus olhos, isso só fez ele rir mais.

— ‘tá doendo!

— ‘tá, deixa eu ver.

  Se abaixou e tocou onde machucava, não evitei em gritar.

— Dói?

— O que você acha?

— Nem um pouco grossa.

— Draco!

— Ok. Bom, eu vou ter que te levar.

— Pra Ala hospitalar, não!

  Não gostava de ir porque meus pais seriam notificados e mandariam dinheiro e doces todos os dias para mostrar aos outros como eram legais e amáveis. Essa falsidade me irritava profundamente.

— Relaxa, garota – Ele me pegou no colo – Vai conhecer o melhor doutor que existe.

  Isso é verdade, não é porque é meu marido, ele é eleito o melhor doutor há treze anos. Me carregou até a Casa dos gritos – aparentemente, ninguém ligava muito. Claro que me deu um pouco de calafrios, Snape tinha sido morto lá. Entretanto, o corpo já tinha sido levado e a casa, um pouco arrumada.

  Me deitou no sofá e pegou uma bolsa com poções. Ficava tão bonitinho, trabalhando. Me lembrou que quando tratamos os torturados. Ou melhor, ele tratou e eu tentava acalma-los.

— Por que ‘tá me olhando assim? – Questionou

— Fica tão bonitinho cuidando de mim.

— Nunca tive outra escolha.

— Sei que me ama.

— Cala... A boca.

— Você me ama, Draco Malfoy me ama!

— Besta. – Molhou uma poção na toalha – O Expresso de Hogwarts vai daqui uma semana, vai pra casa?

— Não tenho casa, só durmo em uma mansão de vez em quando. Depois que sair de Hogwarts, vou achar um cantinho onde eu e minha irmã possamos ficar.

— Já sabe onde?

— Talvez no Caldeirão Furado, não sei muito bem. E você? Vai?

— Vou, mamãe precisa de mim.

— E seu pai?

— Ainda em julgamento. Não pode sair de casa e nem usar magia.

— Talvez seja absorvido, sua família fez coisas boas.

— Pra quem? Mamãe ajudou Potter e eu... Bom. E meu pai? Não fez nada além de fugir.

— Ah, Draco – Segurei a mão dele – Tudo vai ficar bem. Estou do seu lado, lembra?

  Dei um beijo nas costas de sua mão e fiquei acariciando.

— Estava pensando... – Ele enrolou a toalha em volta do canto dolorido - Você não me parece muito disposta e não quer ser tratada na Ala hospitalar, e-então... Minha casa...

— Quer me convidar pra passar o natal na sua casa?

— Vo-Você quer?

— Ah, depende – passei o dedo indicador no rosto dele – se o doutor cuidar bem de mim?

  E como cuidou. Draco sorriu malicioso e me encarou com desejo.

— Pode deixar que eu sei muito bem como tratar de casos especiais.

  Claro que eu não poderia ir para a casa dele sem um certo alguém.

— Quer dizer que a gente vai passar as férias na casa do seu namorado?! – Animou Daphne, no Três Vassouras, enquanto servia as mesas

— Draco não é meu namorado.

— Foda-se! Eu vou ficar naquela casa do caralho!

— Ei, que boquinha suja é essa, mocinha?

— Quê? Aposto que deu grito no seu travesseiro.

— Não dei não. 

— Por que gritou? - Quis saber Luna, na mesa de vocês

— Nada de mais. - Respondi

— Claro que não - Ironizou Daph - Só o simples fato de Astória está louca por passar o natal agarradinha com o gostoso do caralho do Draco MaAAAAAAAAAHHHHHHHH!

Dei uma pisada forte no pé dela.

— Opa, eu te machuquei? - Fingi - Por que não se senta antes que eu pise acidentalmente no seu outro pé.

Daphne estirou a língua e foi sentar.

— Então, Malfoy? - Se interessou Luna

— E-Eu... Não... Não... Eu... Vocudadedaphe.

Sentei ao seu lado e o kit de poções.

— Valeu mesmo, em. Paguei o maior mico.

— Quê? Não é verdade?

— Oi, Astória. Oi, gata.

  Nott abraçou Daphne por trás e beijou seu pescoço. Deu para perceber que ela não estava mais curtindo ele. Se bem que ela nunca curtiu tanto assim, Susan exagerava de vez em quando.

— Oi, Theo. – Falou sem animo

— Seja mais alegre, Daphne. Não ‘tá achando ela mais deprimida, Astória? Meninas bonitas ficam sempre sorrindo.

— Então devia namorar uma dentista.

— Olha, não gosto do jeito que fala comigo! E eu nem sei o que é isso!

— De besta que é! Se estudasse mais...

— Com licença.

  Aquilo já estava me irritando, Susan estava coberta de razão. Eu tinha que falar com Daphne.

— Garçonete!

  Só não podia ser agora.

— Ei!

  Se tinha o prêmio de cliente mais chato, com certeza eu daria a Mclaggen – nem Zabine era assim, Parcy deu uma prensa nele depois do namoro. Ele nunca me assediou fisicamente, mas suas cantadas eram tão ruins que eu tinha vontade de enfiar a cabeça na privada só para sair o odor da humilhação.

— Fala, Greengrass. Me dá você de presente e te faço fazer muito ho-ho-ho.

  E claro que os idiotas dos amigos dele ficavam rindo.

— O que você quer?

— Um pedacinho de você, meu bem. – Riram de novo – Agora é sério, eu quero a sua carta.

  Não entendo porque os caras acham graça nisso. Não me importaria nem um pouco de jogar uma bomba nele. Ok, talvez eu esteja sendo um pouco exagerada. A maldição Crucciatus já bastava.

  Porém, tinha algo que eu podia fazer. Quando se trabalha com comida ou alguma mercadoria que deve ser entregue a alguém que você não gosta, pode contamina-la. Não me arrependo nenhuma vez que fiz. Naquele dia, joguei um pouco de água de vaso sanitário nas batatas fritas dele. Espero que tenha gostado do gosto.

  Uma das coisas que me fizeram gostar do meu trabalho era cantar. Claro que não era na frente de todos com um microfone e tudo. Era eu cantando baixinho para mim, toda hora. Algumas pessoas até me elogiavam.

— Canta bem, Astória. – Elogiou Luna

— Ah... Obrigada.

  Cantar para mim é uma dádiva, não tem coisa melhor. É triste ter deixado a velha Astória para trás. Provavelmente, ela seria muito popular e enfrentaria tudo. Me perguntava algumas vezes porque não fui à Grifinória. Hoje entendo o porquê. Outras pessoas não gostavam tanto assim da minha voz.

— Isso ‘tá horrível!

  Katy Dove, um nome tão zoado quanto ela. A garota que me tirou da banda. Por algum motivo da conspiração, Dove era louca por Maclaggen e detestava o fato dele sempre me querer e não a ela. Embora não fosse o motivo de sempre me humilhar.

— Para nós, está muito bom – Defendeu-me madame Rosmete – Se não gostar, não faremos questão de que fique.

  Dove revirou os olhos e voltou a comer. Quando madame Rosmeta saiu, derrubou seu copo de propósito.

— Apanhe!

  Como sonserina e ter o sobrenome nos Vinte e oito Sagrados, Dove sempre esfregava na minha cara o quanto eu era um lixo e fazia questão de tornar minha vida um inferno.

— Qual o nome da sua mãe, Greengrass? Queria saber qual a vaca que lambeu a droga desse seu cabelo.

  Ouvia coisas assim todos os dias. E só iria piorar. Na hora de limpar os cacos de vidro do copo, derrubou mostarda no meu cabelo.

— Foi sem querer. Achei que combinava.

  É, chegamos naquela faze bosta adolescente parte... Duzentas? Sei lá, bullying. Limpava meu cabelo no banheiro, podia ouvir algumas pessoas rindo.

— Ei! Ei! – Chamou meu reflexo – Vai continuar assim, é?

— Vai embora... – Sussurrei, tentando manter a calma – Você não existe, é tudo da minha cabeça.

— Não me trate como se fosse seu amiguinho imaginário, Astoria! Você sabe como precisa de mim! Você precisa de mim! Precisa de mim!

  Não, eu não preciso dela. Mesmo passando alguns meses que não havia tomado goles, ela ainda vinha me incomodar. Só não toda hora. Porque eu ainda não tinha vencido.

— Pergunta você!

— Não, você pergunta!

  Estudava no meu quarto quando percebi que as gêmeas tinham uma pequena discussão, olhando para mim.

— Oi, Greengrass. – Falaram

— Ah... Oi.

— Nós... Temos duas amigas, sabe?

— Elas são da Sonserina, você não conhece elas. Não devem nem estudar com a gente, são bem inteligentes.

— Umas delas, nem tanto.

— Cala boca, Hestia! Bem... Nós... Digo, elas querem te perguntar uma coisa. Uma coisa um pouco besta, mas bem importante. Por isso que pediram pra gente falar, já que não querem ser descobertas e-

— E como consegue aguentar e ficar linda e plena?

— Desculpe, aguentar o quê?

— Qual é! – Hestia sentou na ponta da minha cama – Todo mundo sabe que você sempre foi zoada e vem piorando a cada ano. Com todo respeito, claro! Só... Não entendemos. Digo, ela não entendem como continua assim.

— Assim como?

— Assim como? – Flora sentou também – Poxa, olha só você. É bonita, inteligente e muito legal. Até com esse cabelinho boi lambeu você fica bonita.

— Bem, eu... Obrigada. E sobre ser zoada é só... É só seguir sua vida e não deixar que interfiram.

— Fica difícil com todo mundo apontando e xingando.

— Elas!

— É, fica difícil pra elas. E... Achamos que como parece de boas com isso, poderia ajudar.

— Elas, ajudar elas.

— Ajudar elas? – Pensei um pouco – Digam a elas para não deixar de ser quem são. E... Pensarem no que fizeram e se estava certo. Vários sonserinos estão pagando e alguns nem tem culpa. Digam as amigas de vocês que são incríveis e nunca deixem dizer o contrário.

— Cacete – Soltou Flora – Você... Não acredito que zoamos você! É sempre tão legal assim?

  Dei de ombros um pouco constrangida.

— Viu? Eu disse que seria uma ótima ideia falar com ela! – Exclamou Hestia

  Fiquei a andar um pouco com as Carrow. Conversávamos sobre os exames e como as coisas andavam estranhas. Não tínhamos outros assuntos porque não falava a língua dos sapatos. Ainda.

— Fico feliz que tenha feito novas amigas. – Alegrou-se madame Rosmeta

— Não sei se somos amigas, madame Rosmeta. Mal as conheço. 

— Você vai ver, terá muitos amigos.


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