Doce Lis escrita por Dri Viana


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Enfim consegui finalizar essa one.

Espero que gostem.

Momentos da Lis principalmente com o pai.



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— Vem cá, minha linda!

Da mesa do escritório Grissom sinalizou com uma das mãos para sua menina, parada perto da porta. Há coisa de dois segundos, ele ergueu despretensiosamente a cabeça para alongar o pescoço já cansado de ficar inclinado enquanto corrigia provas e trabalhos da ULV onde há mais de três anos lecionava. E acabou encontrando Lis lhe espreitando da porta, com sua cara sapeca e um sorriso tão perfeito e lindo  quanto aquele pingo de gente era.

Diante de seu chamado ela não hesitou e correu até o pai segurando com uma das mãos, a coroa de flores que enfeitava o topo de sua cabecinha de lindos cabelos castanhos. Adorava flores. Quase sempre estava com tiaras ou coroas com disto enfeitando sua cabeça.

Com os braços abertos Grissom a recebeu carinhosamente e a trouxe para se acomodar em uma de suas coxas após ter lhe beijado o rosto e ajeitado melhor a coroa que havia ficado torta em sua cabeçinha.

— Sua mãe dormiu, não foi?

Para ela ter vindo atrás dele, sabendo que não podia porque ele estava trabalhando era decerto por causa que Sara acabou cochilando. 

— Não. Ela está no banho. Tia Cath ligou e... Ela falou que precisava da mamãe. - Lis contou enquanto olhava minuciosamente a caneta bonita do pai que apanhou de cima da mesa. Ela tinha essa mania de olhar tudo com muita atenção que nem o pai fazia às vezes sequer mesmo.

Grissom imaginou que se tratava de coisa de trabalho, talvez um chamado de emergência mais cedo e sendo assim sua esposa teria que ir.

— Assim que ela sair do banho vai procurar você, mocinha. Devia ter avisado que vinha aqui no escritório com o papai.

— Ah, ela não ia deixar. Há um tempinho eu pedi, mas ela disse que você estava trabalhando e não podia ser interrompido. Você já acabou o trabalho?

Ele sorriu de sua desenvoltura. Para uma menina de recentes cinco anos, Lis falava e articulava muito bem as palavras. Sem contar que tinha uma inteligência aguçada, era questionadora e falante como a mãe, e adorava insetos como o pai. Joaninhas eram seu ponto fraco. Lis vire-mexe encontrava uma no jardim de casa, quando estava ajudando o pai na jardinagem.

— Não. Mas o papai vai parar por aqui o trabalho. Já cansei dele.

Ele viu um sorriso lindo enfeitar aquele rostinho angelical que era a sua razão de viver, juntamente com sua adorável esposa.

E falando nela...

— Aí está você, né mocinha?!

Eles olharam para Sara parada na porta do escritório enrolada em uma toalha.

— Oi, mamãe. - ela acenou para Sara com a carinha mais inocente do mundo.

Tanto Grissom quanto Sara se encararam e seguraram-se para não sucumbirem ao riso da filha.
— A mamãe não disse que o papai estava trabalhando, filha? - Sara cruzou os braços e se encostou ao batente da porta.

— Mas ele já parou. Disse que cansou.

A mulher olhou para o marido e recebeu uma piscadela seguida de um sorriso seu. Mais cedo ele tinha dito que havia muito trabalho da Universidade e que talvez fosse passar uma boa parte da tarde enfurnado no escritório por conta disso. Porém, bastava Lis aparecer requerendo sua atenção para ele largar tudo para atendê-lá.

— Além do mais... - a menina se pronunciou novamente atraindo a atenção de sua mãe para si. - Eu já tava sentindo falta do papai. Ele tá um tempão aqui. - foi após o almoço que ele veio para o escritório e já fazia quase quatro horas que ali já permanecia, e para sua filha já era muito tempo longe do pai de quem ela quase não se desgrudava.  - Aposto que ele também já estava sentindo a minha falta, não é?

Lis ergueu sua cabeça castanha e olhou para Grissom. Dessa vez ele não conseguiu se segurar e caiu na risada diante da esperteza de sua menina em fugir da puxada de orelha que Sara estava tentando lhe aplicar. Sua esposa também não conseguiu se conter e sorriu. Lis era impossível. Usava de seu jeito doce para dobrar a quem quer que fosse.

— Sim, minha menina linda. - ele beijou sua testa. Como amava aquele pinguinho de gente que só trouxe alegrias para sua vida e de Sara. Tudo ficou melhor desde que Lis chegou. - Papai já estava sentindo falta da abelhinha dele, quase ficando triste por isso.

— Viu só mamãe. - Lis olhou para Sara encostando a cabeça no peito de Grissom. - Eu fiz bem em vir aqui com ele. O pobrezinho do papai já tava ficando triste. - ela levou uma de suas mãos miúdas ao rosto de Grissom.

Sara balançou a cabeça se rendendo ao fato de que Lis tornava difícil, quase impossível mesmo qualquer chance de ralhar com ela.

— Ai, Lis... Você é impossível. - a menina apenas sorriu com timidez assim como seu pai costuma fazer. Era o mesmo sorriso. Se ela quando bebê era idêntica a ele, agora mais crescida alguns de seus traços e  trejeitos herdados de Grissom se acentuaram mais. E Sara via o quão orgulhoso seu marido ficava toda vez que alguém comentava que Lis se parecia muito com ele.

Mas apesar de Lis ter muitas coisas de Grissom, ela também carregava consigo algumas manias e sutis características  herdadas de Sara.

Se fosse colocar na balança Sara podia precisar que 80% da filha era o pai todinha e 20% era ela. E isso jamais lhe incomodaria. Muito pelo contrário! Ficava feliz por Lis se parecer tanto com o pai e amá-lo de uma maneira tão gigantesca, que chegava a emocionar. A menina era louca pelo pai. E Sara era louca pelos dois. Sua filha e seu marido eram os bens mais preciosos que ela tinha na vida.

— Você fica com ela enquanto me arrumo para ir ao laboratório, querido? Ecklie pediu para Catherine nos convocar mais cedo para auxiliar o pessoal do intermediário.

Com a saída de Grissom do laboratório há quatro anos, Catherine assumiu o cargo de supervisão. E a pedido da nova supervisora, Sara foi remanejada de volta ao noturno para alegria de seus antigos companheiros de trabalho e tristeza do pessoal da manhã onde ela ficou por quase dois anos.

— Claro, querida.

Ficar com a filha era sua função  preferida e a que mais lhe enchia de alegria. Sua decisão de deixar o laboratório foi justamente por causa de Lis, que na época tinha um ano e um mês.

Ele queria acompanhar seu crescimento mais de perto, algo que a rotina quase incessante de trabalho no laboratório vinha lhe boicotando.

Sara o apoiou quando ele resolveu sair do laboratório. E seus amigos entenderam quando ele os informou de sua saída revelando seu motivo principal para tal fato.

Sem mais a rotina maçante, Grissom passou a se dedicar mais ao seu papel de pai e em tempo integral. Era a melhor função do mundo. Cuidar de Lis, poder embalá-la toda noite antes dela dormir e estar ao lado de seu berço para ver seus olhinhos coloridos se abrirem cedinho toda manhã ao despertar da bebê, lhe fazia o homem mais realizado.

No primeiro ano de vida dela, ele teve poucas oportunidades de exercer seu papel de pai, porque o trabalho lhe tragava. Os índices de crimes em Vegas subiram em níveis alarmantes em consequência o trabalho dos peritos também. Mas Grissom fazia todo o possível para se permitir aproveitar os momentos de folga com a filha e a esposa.

O problema quase sempre era quando o trabalho lhe interrompia justo nos poucos momentos que tinha com a família. Aí, em certa manhã, olhando Lis dormindo em sua cama, ele decidiu que era hora de parar com aquela rotina maluca e desgastante de trabalho. Parou e não se arrependia disso. Fechar aquele ciclo lhe abriu as portas para novas e menos atribuladas funções, como a que lhe surgiu de ser professor na universidade local.

— É pra ficar comportada com o papai, Lis.

— Sim, senhora. - respondeu sem olhar para Sara, já que naquele instante rabiscava numa folha que Grissom lhe deu.

Coisa de uma hora mais tarde, pai e filha estavam acomodados na enorme cama de Grissom assistindo ao filme preferido de Lis, uma animação da Disney que narra as desventuras das irmãs reais de Arendelle.

Lis amava aquele filme, principalmente o boneco de neve chamado Olaf, inclusive ela tinha um de pelúcia que era idêntico ao do filme. Meses atrás a menina tinha visto o boneco em uma vitrine do shopping durante um passeio com os pais e a avó que tinha vindo passar uns dias com eles. Ao ver Olaf, Lis ficou encantada. Vendo seu fascínio pela pelúcia Grissom resolveu comprar na mesma hora aquilo para a filha. Jamais ia esquecer sua alegria ao receber o boneco. Ela o abraçou apertado. Foi a coisa mais linda.

— Papaizinho querido. - Lis o chamou toda manhosa em determinado momento do filme.

Seu coração de pai toda vez entrava festa quando ela lhe chamava por aquele termo carinho.

A primeira palavra que Lis prendeu foi papai. Depois quando já tinha três anos o papai virou papaizinho e há alguns meses ela agregou o "querido" que sua mãe costuma usar para chamar o pai, e passou a chamar Grissom de papaizinho querido.

— Diga minha abelhinha linda. - ele beijou sua cabeça que estava apoiada sobre o peito dele, enquanto uma de suas perninhas estava jogada em cima da barriga de Grissom. Era a mesma posição que Sara adorava ficar quando eles dois estavam deitados na cama.

— Eu queria ter uma irmã igual a Anna tem a Elza.

Ele paralisou diante de sua fala.

Lembranças amargas retornaram a sua mente no mesmo instante.

Há dois anos Sara tinha descoberto uma nova gravidez. Foi um susto assim como a de Lis, já que ambas não foram planejadas. Mas o casal ficou igualmente feliz com a vinda de um segundo filho que encheria de mais alegria a casa junto com Lis.

Contentes começaram a reviver as rotinas desse período. Consultas, ultrassonografias e desta vez ao quarto mês eles quiseram saber o sexo do bebê: outra menina. Grissom ficou radiante. Mais uma mulher na sua vida!

Com a descoberta de que seria outra menina, o casal  começou a fazer planos, escolher nome, comprar enxoval novo e moveis. Tudo estava se encaminhando para uma gravidez tranquila. Nora era espertinha vivia se mexendo dentro da barriga de Sara.

Mas aí, teve um dia quando já estava no final do sétimo mês indo para o oitavo, Sara ficou muito, mas muito inchada. Ligou para seu médico que não era mais Carol, pois esta mudou de cidade. Doutor Bennet disse ser normal, pois fazia muito calor, era verão em Vegas.

Poucos dias depois, com ela já completando 34 semanas de gravidez, foi com Grissom até a clínica fazer mais um ultrassom de rotina de Nora. Estava na reta final e a ansiedade era demais para o casal em ter a filha em meus braços.

Antes de estar ali, Sara já vinha sentindo que os movimentos da bebê haviam diminuído. Nora passou a se mexer bem pouco, mas mexia. Em sua cabeça a perita achou que sua filha pudesse estar muito grande e o espaço menor, por isso que as mexidinhas tinham diminuído.

Porém, no dia do ultrassom veio a pior notícia. O médico disse que Sara estava com líquido zero, que era impossível mensurar.

A perita e o marido se olharam um pouco temerosos. Ainda sem entender direito a gravidade que aquilo significava, ela questionou se eles então iriam a maternidade, para que sua bebê nascesse de oito meses.

Foi então que o médico junto do ultrassonografista, lhe disse em um tom mais doce e ao mesmo tempo mais triste possível: “Não, Sara, não há mais batimentos cardíacos em seu bebê”.

Tanto ela quanto Grissom perderam o chão. O coração de ambos se partiu em pedaços. Sara se sentiu impotente. Acabava de perder sua filha e só queria que aquilo fosse um pesadelo.

Eles foram encaminhados para o consultório de Bennet. O médico lhes disse que era melhor induzir o parto por diversas questões. Ainda em choque, Sara mal sabia responder por si e aceitou o que  Bennet disse, mas só pensava em uma coisa: queria ver sua filha após o parto! Grissom ainda tentou intervir nessa ideia. Ver o bebê deles mortos não seria bom para ela e nem para nenhuma mãe. Mas Sara bateu o pé e seu médico lhe assegurou que a deixaria ver rápido o bebê.

O parto foi exatamente como o de Lis, tirando é claro a intervenção de ter sido induzido. Durou algumas horas desde a primeira indução. Durante o processo Sara teve que lidar com a dor do parto, com a dor no coração e a dor na alma. 

Ela sentiu cada contração, exatamente tudo como havia sido com Lis. Cada fase, cada necessidade de sentir seu corpo dizendo que estava vindo para os seus braços seu outro amor do mundo. Porém, no fim, ela não teve a premiação de tamanha luta, não ouviu o chorinho mais lindo que toda mãe quer ouvir quando dá à luz ao filho. E isso doeu.

Por segundos ela pode não só ver Nora como segurá-la. Grissom não teve essa coragem. Com tristeza ela viu aquela carinha linda, redondinha, a boquinha miúda, pés e mãos cumpridos iguais aos dela. Então a enfermeira lhe tomou delicadamente Nora e só lhe restou o vazio dos braços sem a filha.

No dia seguinte houve um batismo simbólico e fizeram o enterro sem velório, pois, para Sara, não se vela um anjo. E assim ela e Grissom se despediram de Nora. 

Depois do ocorrido, a perita buscou explicação de seu médico quanto ao que lhe aconteceu. E depois de uma bateria de exames o diagnóstico: trombofilia. Sua placenta infartou com uma trombose.

Por dias ela não pode evitar se isolar e chorar pela perda. Contou com o apoio incondicional de Grissom, que mesmo com os pedidos de Sara para lhe deixar sozinha não saiu de seu lado um instante sequer. O tempo todo ele e Lis ficaram o mais junto possível de Sara. E isto surtiu efeito, pois logo, a perita resolveu parar de chorar e sofrer pela perda. Sua maior motivação para voltar a ficar bem foi sua primogênita, Lis, que era ainda muito pequena e precisava dela.

— Papai!

— Oi! - ele levou um pequeno susto diante do tom elevado com o qual Lis o chamou. Havia se perdido nas lembranças amargas do passado, que por um momento esqueceu de onde estava e com quem estava.

— Por que você ficou calado e triste?

Ela era esperta e sagaz como Sara.

— É que o papai lembrou de algo triste.

— Hum... E por que eu não tenho uma irmã?

Depois da perda de Nora, Sara conversou com o marido e de comum acordou, eles optaram por ela não engravidar mais, por isso a perita passou a fazer uso de métodos contraceptivos. Mas como Grissom ia explicar a sua menina de cinco anos algo tão complexo, que envolvia uma tragédia por trás?

Optou por algo simples que fosse rapidamente compreendido por Lis.

— É que o papai e a mamãe só quiseram você de filha.

— Mas eu queria ter uma irmãzinha.

Ele suspirou. Não era a primeira vez que ela externava aquele desejo. Há quase três meses, Sara lhe contou que Lis comentou isso com ela enquanto estavam no supermercado e ela viu duas garotas que eram irmãs andando de mãos dadas.

Grissom sentia um pouco dó da filha. Sabia bem o que era ser filho único e não era legal. Fazia falta uma companhia para brincar. Ainda mais para Lis que era hiperativa até as orelhas.

— Que tal um chocolate? - ele resolveu tirar o foco dela daquela conversa propondo algo que ela não resistia.

— Com biscoitos de leite?

— Com certeza!

Ele desligou a TV e a pedido de Lis a levou pendurada nas costas feito uma macaquinha. Ela adorava aquilo.

Longe dali, em uma cena de crime...

— Já contou pra ele, Sara?

Ela parou por um instante de embalar a evidência coletada e lançou um olhar à Catherine.

— Não. - respondeu Sara dando um suspiro. E levantando-se do chão, ela prosseguiu, dizendo: - Pretendia contar hoje, mas não tive coragem.

— Precisa contar logo.

— Eu sei. Mas estou com medo da reação dele. Foi uma decisão que tomei sem consultá-lo.

Nesses anos de casados ela jamais o excluiu de uma decisão como a de dois meses.

— Ele vai ficar louco de felicidade, Sara. E a Lis então nem se fale. Você não disse que ela queria um irmão.

— Irmã. - corrigiu Sara com um sorriso.

Ela imaginou a alegria da filha com aquela notícia. Foi por causa dela que Sara fez aquilo.

— Tenho certeza disso. Mas não consigo evitar sentir medo.

— Pelo que houve no passado? - ela confirmou com a cabeça. Ficou o trauma daquela situação. - Vai dar tudo certo dessa vez, minha amiga. Você vai ver.

Era o que ela torcia. Não ia aguentar outra perda como a da gestação anterior. Perder um bebê já foi difícil, mais um seria horrível.

— De quanto tempo você está grávida?

— Quatro semanas.

Há três dias tinha recebido a notícia de seu médico após ter feito o exame de sangue. E, desde então vinha ensaiando contar a Grissom isso, já que sem consutá-lo ela suspendeu seu métodos contraceptivos após consentimento de seu médico.

— Será que vem outra menina?

— Só quero que ele ou ela nasça. E nasça vivo e com saúde desta vez.

****

Grissom estava na cozinha terminando de ajeitar a mesa do almoço, quando escutou sua menina entrar ali feito um furação varrendo tudo.

— Papaizinho... Papaizinho... - ela estava soada e parecia elétrica.

Ele pegou-a no colo e viu Susy, a moça que ajuda nos cuidados da casa surgir pela mesma porta que Lis passou.

— O que foi minha abelhinha? Porque está soada assim?

— Ela veio me arrastando pelo caminho, dr. Grissom. Viemos praticamente correndo, porque ela tinha pressa para perguntar algo ao senhor ou a dona Sara. - Susy explicou, pegando um copo e se servindo de água. Correr quase três quarteirões não foi mole. Lhe fez repensar seu sedentarismo.

— Mamãe já chegou?

— Ainda não.

Sara havia ligado há uma hora avisando que não viria ainda para casa. O caso em que todos trabalhavam ganhou grandes proporções e os peritos estavam se vendo as voltas com o xerife mordendo seus calcanhares para agilizarem o processamento das evidências.

— Então você pode me responder isso, já que ela não está.

— E o que o quer que o papai responda pra você, minha linda. - ele a colocou sentada no balcão de mármore que dividia a cozinha.

— E como eu fui parar dentro da barriga da mamãe?

Ele arqueou as sobrancelhas e olhou para Susy pedindo socorro com aquela questão. Mas ao invés de lhe ajudar, a mulher o jogou na fogueira sozinho.

— Vou levar as coisas da Lis para o quarto dela. Boa sorte aí, dr. Grissom. - ela sorriu sordidamente para ele. Adorava deixar seu patrão as voltas com as perguntas mirabolantes de Lis. Era engraçado vê-lo se enrolando todo para explicar as coisas à filha. Mas desta vez Susy não quis ficar para ver como ele se sairia sozinho.

"Susy, você me paga depois.", pensou o ex-supervisor ao ver sua ajudante malandra lhe deixar sozinho para enfrentar aquela situação.

— Então papai, responde! - Lis cobrou diante de seu silêncio.

Ele puxou de leve sua própria orelha num gesto típico de quando não sabia o que dizer.

"Vamos lá, Grissom. Você é um cientista renomado, capaz de inventar uma boa história para dar como explicação a sua filha de cinco anos."

— Lis... - ele começou enquanto encarava aquela carinha de anjo sapeca que lhe observava ansiando por sua explicação. - É o seguinte filha... - pigarreou -  Você era uma... sementinha que... Chegou pelo correio. - quase quis rir do despautério que estava inventando. Mas se conteve. - Aí, a mamãe engoliu você com um copo de água e assim você foi crescendo dentro da barriga.

Se sua esposa estivesse ali ia com certeza, achar aquilo um tremendo absurdo. E quando estivessem longe dos olhos de Lis, ela se renderia as risadas.

— Se eu era uma semente, por que não virei árvore? - ela fez uma cara confusa e imitou o gesto do pai de puxar a orelha de leve.

"Que ótimo! Saio de uma roubada para cair em outra!"

— É porque existem sementes que viram gente e não planta.

"Olha o absurdo que está contando a sua filha.", uma voz dentro de sua cabeça caçoou dele e teve que dar a devida razão a ela. Era um absurdo mesmo aquilo.

— Hum... - ela resmungou e Grissom rezou para ela não lhe indagar mais nada. Teve suas preces atendidas. - Tô com fome, papaizinho.

Ele sorriu e pegando sua menina no colo a levou até a pia para lavar as mãos. Naquele instante Susy retornou à cozinha. 

— E aí, tudo certo? - ela olhou matreira para seu patrão.

— Sim.

— Susy, eu sou uma semente que veio pelo correio pra mamãe. - ela contou toda contente enquanto enxugava as mãos no guardanapo.

— Como é?

A mulher morena chegou a se engasgar com ar. Depois caiu na risada. Grissom se sentiu ridículo por ter inventado aquilo, porque ouvindo aquela história da boca de Lis pareceu absurdamente ridículo.

— O papai que disse.

— Nossa, então, eu também sou uma semente e não sabia. - riu a ajudante lançando um sorriso ao patrão.

Grissom não achou a menor graça na zombaria dela.

— Que tal almoçarmos, abelhinha? Você disse que estava com fome.

— Muita fome.

***

— Doutor Grissom já estou indo. - Susy apareceu na sala avisando.

Seu patrão e Lis estavam no sofá vendo TV.

— Tudo bem.

— Tchau, minha linda. - ela beijou a cabeça de Lis. Adorava aquela garotinha e os pais dela. Eles eram excelentes pessoas que ela aprendeu a gostar verdadeiramente.

— Susy, você traz a Duda amanhã pra brincar comigo?

Duda era a sobrinha de Susy que as vezes ela trazia (com o consentimento de seus patrões) para brincar com Lis.

— Ih, Lis, amanhã a Dudinha vai sair com a mãe dela. Sinto muito, princesa.

A menina fez uma cara de decepção. Susy se despediu outra vez de Lis com um beijo e acenou para Grissom.

— O que foi minha abelhinha? - ele notou sua carinha triste.

— Queria brincar com a Duda.

— Bom... Não tem a Duda, mas tem o papai... Não serve? - ele abriu os braços para a filha que sorriu, desfazendo sua carinha triste.

Lis se atirou em seus braços e depois se alinhou em seu peito feito uma gatinha manhosa.

— Papaizinho quando a gente vai ver a vovó de novo?

— Podemos ligar e pedir pra ela vir passar uns dias conosco de novo, porque agora não dá para irmos na casa dela. A mamãe tá trabalhando direto e você tem a sua escola.  Está com saudades da vovó?

Ele assentiu.

De repente eles ouviram o barulho da chave na porta e imediatamente do sofá olharam na direção da entrada da casa. Viram Sara entrar.

— Oi, meus amores!

Ela tinha um ar cansado de quem trabalhou e bastante.

— Mamãe.

Lis abandonou o colo do pai e correu até Sara, que logo já tinha lhe tomado nos braços. Ambas trocaram seu costumeiro beijinho de esquimó que era a forma especial que tinham de se cumprimentar.

— Você demorou.

— Mamãe junto com os titios tiveram muito trabalho hoje. Oi, querido. - ela se sentou ao lado dele no sofá e eles trocaram um beijo rápido, ouvindo uma risadinha de Lis por conta do beijo.

— Conseguiram concluir o caso?

— Ainda não. Mas Catherine  liberou a mim e Greg para irmos para casa descansarmos um pouco.

— O que é isso mamãe?

Lis observou um envelope escapando da bolsa de Sara.

Quando ela chegava em casa viu o carteiro e este ia colocar o envelope na caixa de correspondência, mas ao vê-la achou de lhe entregar aquilo em mãos.

— A foi carteiro que me deu.

Lis sorriu e olhou para o pai com uma alegaria que Grissom não conseguiu entender de imediato.

— Já sei. É a minha irmãzinha que chegou, né? - Lis começou a pular com alegria.

— Irmãzinha? Que história é essa Lis?

Grissom levou a mão direita ao rosto e quis que abrisse um buraco no chão para ele se atirar lá dentro.

— É que o papai disse que eu era uma semente que chegou para você pelo correio. Então esse papel aí foi a minha irmã que chegou né?

Rindo Sara olhou para o marido, que naquele momento a fitou sem graça.

— Sinto muito! - foi tudo que ele conseguiu dizer a seu favor para o absurdo contado a Lis.

— Tudo bem. - ela tocou seu ombro ainda rindo.

Teriam que dar um jeito de consertar aquela história maluca que ele inventou, mas não agora. Aproveitando o gancho daquele despautério, Sara revelou ao marido e a filha a boa notícia que tinha.

— Então, Lis... - ela ajeitou atrás da orelha uma mexa castanha do cabelo da menina. - Não é a sua irmã. - Lis fez uma cara triste e baixou a cabeça assim que ouviu isso. -  Mas ó não fique triste... - prossegui Sara segurando no queixo de sua filha e fazendo a menina olhar em seus olhos. - Sabe por que não é ela? - Lis negou com a cabeça. Sara sorriu e lançou um olhar ao marido que prestava atenção nelas. Retornando seu olhar a menina, Sara então revelou a boa nova: - É que a sua irmã ou irmão já está na barriga da mamãe. E logo vai estar aqui para ser seu companheiro de brincadeira.

A reação dela foi a melhor. Seus olhinhos se arregalaram e ela levou as mãos a boca, depois começou a pular de alegria.

— Eba! Vou ganhar uma irmãzinha! - ela parecia a felicidade em pessoa, mas de repente a menina parou. - Como a sua barriga não tá grande ainda?

Sara riu.

— É que leva um tempinho pra isso, filha. - explicou, lançando um olhar divertido ao marido. Só então notou que ele estava estático e pálido.

— Vou contar para o Olaf que vou ganhar uma irmã. Já volto. - Lis saiu desembestada rumo ao seu quarto.

— Gil, você está bem, querido?

— Você está grávida? - ele conseguiu balbuciar a pergunta.

— Estou. 4 semanas.

— Mas e as injeções?

— Parei de tomar há dois meses. Eu sei que devia ter te consultado sobre isso, me desculpa. Mas...

Ela não teve mais chance de concluir a fala, porque Grissom lhe puxou para um beijo que só teve fim porque a necessidade de respirar falou mais alto.

— Outro bebê? De três passaremos a ser quatro! - sussurrou Gil encostando sua testa na da esposa e sorrindo todo bobo por saber que seria pai de novo.

— Se tudo der certo até o fim dessa vez, seremos.

Ela tinha medo do final dessa nova gravidez ser igual a anterior. E vendo isso estampado em seus olhos, Grissom tento tranquilizá-la.

— Vai dar tudo certo, meu amor. E aí,  seremos: eu, você, a Lis e esse bebê. - com os olhos cheios de lágrimas sua mão repousou sobre a barriga lisa da esposa.

FIM


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Notas finais do capítulo




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