Eu estive por todo o mundo, fiz tudo o que pode ser feito 

Mas você sempre será a casa para qual eu quero voltar. 

Backstreet Boys – No Place 

Os dedos compridos batucavam o joelho direito com impaciência. O trânsito das seis horas da tarde em Konoha estava deixando—o maluco dentro daquele pequeno taxi. Ele afrouxou a gravata que ainda utilizava e suspirou pesadamente. Seu corpo estava moído, dezesseis horas dentro de um avião – sem direito a um assento na primeira classe – e mais de quarenta minutos dentro do carro num trajeto que levaria pouco mais de dez minutos para ser feito. 

Uchiha Sasuke estava extremamente puto. 

Inspirando e expirando profundamente para acalmar os nervos ele passou uma das mãos pelos fios negros e puxou o celular do bolso da calça social, procurando uma notificação que não estava ali. O arquiteto perdeu alguns segundos observando a foto que brilhava na tela e sentiu o coração bater mais calmo só de observar a aparência serena da esposa. Ela estava sentada na beirada da famosa atração turística Cliffs of Moher e a natureza só não era mais bela que a jovem que sorria abertamente, os fios longos e escuros movimentados pelo vento constante. 

Mesmo de longe, numa mera imagem em seu celular, Hinata tinha poder sobre ele.   

Dedilhando uma rápida mensagem dizendo que estava preso no trânsito, Sasuke desligou a tela do celular e guardou o aparelho no bolso novamente. Ele fechou os olhos escuros e deixou sua mente mergulhar em lembranças que envolviam a Sra. Uchiha. 

Quando a conheceu, nunca pensou que um dia estariam juntos de alguma forma. Hinata era calma demais, gentil demais. Boa demais. Ele quase brigou com Naruto por aquele encontro às cegas— dois meses após seu divórcio com a prima do melhor amigo— até que a juíza Hyuuga o surpreendeu totalmente. 

Para uma pessoa gentil como Hinata, ela tinha uma língua afiada e tanto.  

Sasuke já havia se apaixonado antes, fora casado até, mas a perolada fazia com que sentimentos diferentes surgissem em seu peito. Não era infantil como seu amor pela melhor amiga de infância, Sakura, ou carnal como por Karin.  

Até hoje o Uchiha não sabia colocar em palavras o que exatamente sentia por Hinata. 

Ele apenas sentia. 

Como fizera logo no primeiro encontro, a perolada o surpreendeu quando ele descobriu que ela sentia o mesmo. 

Com um pequeno sorriso de lado, Sasuke abriu os olhos e suspirou agradecido ao perceber que seu pequeno devaneio o distraíra o suficiente para que o taxi já estivesse na rua de casa. Quando o pequeno veículo parou na frente do prédio, pagou o motorista e desejou um rápido boa noite.  

Sendo um arquiteto renomado, o Uchiha frequentemente tinha que visitar os locais em que seus planos estavam sendo construídos, mesmo que isso significasse viajar para o outro lado do mundo. Esse, ele sabia, fora um dos motivos para que sua ex-mulher desistisse do moreno.  

Apesar das inúmeras brigas, o divórcio havia ocorrido da forma mais tranquila possível e o Uchiha nunca guardou ressentimentos com a ruiva. Eles mudaram com o tempo e nem todo o sexo selvagem do mundo sozinho poderia segurar um casamento. 

Ainda mais um em que uma das partes estava constantemente viajando. 

Sasuke nunca teve realmente a sensação de pertencer a algum lugar, de lar. Enquanto crescia estava sempre se mudando devido ao trabalho militar do pai e nunca ficava em um lugar por muito tempo. Quando se casou e finalmente teve um lugar para chamar de casa, todas as vezes que viajava a trabalho não ficava ansioso por voltar. 

Sempre havia faltado algo. 

Algo que ele só percebeu o que era quando encontrou Hinata. 

— Boa noite, Uchiha-sama. – O porteiro o cumprimentou com um sorriso. — Algumas cartas chegaram para a senhorita Hinata. 

O arquiteto agradeceu o homem brevemente e pegou a correspondência que ele lhe entregava. Sasuke nunca fora uma pessoa curiosa com as cartas de sua esposa, já que grande parte delas era referente ao trabalho da mesma como juíza, mas algo em um daqueles envelopes chamava sua atenção. 

Enquanto esperava, nem tão pacientemente, que o elevador chegasse, ele olhou atentamente para o símbolo que se destacava em meio dos outros: o Hospital Geral de Konoha. Franzindo o cenho, ele lutou contra a vontade de abrir o envelope e ler seu conteúdo. 

Por que Hinata estava recebendo algo do hospital? Ela estava doente e não havia contado? Alguma coisa havia acontecido? 

Com a mente imersa em conspirações, o Uchiha entrou no elevador e bateu um dos pés impacientemente até que o mesmo chegasse no último andar. Seu coração batia preocupado, mas sua mente racional lhe dizia que se algo estivesse errado sua esposa contaria. Quando o bipe indicando seu andar tocou, ele saiu com certa pressa, deixou os calçados ao lado do elevador e a correspondência na raque logo ao lado.  

— Tadaima!! – Ele gritou, a voz denunciando a preocupação que trazia dentro de si. — Hime? 

Quando ouviu os passos calmos descendo pela escada o coração bateu mais forte. Era incrível como toda vez – toda mesmo – que voltava para casa aquela mesma sensação tomava conta de si. Seu corpo todo clamava pela dona de olhos perolados. 

— Okaeri, Sasuke. – A voz serena da esposa o alcançou e logo ela estava parada em sua frente, com um sorriso belíssimo no rosto e os olhos brilhando. Sem mais delongas, ela pulou em seu pescoço, enterrando o nariz no pescoço masculino. — Senti sua falta. 

— E eu a sua. – Ele confessou, desfazendo o abraço o suficiente para que pudesse beijá-la com carinho e ardor. — Classe econômica apenas para chegar mais cedo. 

A risada melodiosa trouxe um sorriso no rosto masculino. As mãos delicadas seguraram cada lado do rosto do Uchiha e ela o beijou novamente. Hinata sempre tinha gosto de canela, doces e algo que ele nunca pudera identificar, mas que o viciara e fazia com que ansiasse voltar para casa a cada viagem.  

Sasuke sempre temera que seu trabalho fosse colocar um fim em outro relacionamento. E aí a jovem o surpreendera novamente: três anos de casados e nada mudara desde o primeiro dia. Ele acariciou o rosto da esposa e sorriu abertamente.  

O arquiteto havia visitado inúmeros lugares ao redor do mundo, paisagens exuberantes, cidades modernas e antiguidades de tirar o folego. Mas nada se comparava a sensação que tinha ao ter a mulher de sua vida em seus braços. 

— Ei, Hinata. – Disse ao lembrar-se dos envelopes. — Tem alguma coisa errada? Sr. Okinawa me entregou algumas correspondências e no meio delas tinha um envelope do Hospital Geral. 

As bochechas da esposa assumiram um tom rosado e ela se desvencilhou do abraço do esposo e caminhou rapidamente até o local que ele deixara os envelopes. Curioso, e angustiado, ele a seguiu e encarou a mulher abrir o envelope rapidamente com uma ansiedade no olhar que Sasuke não via há muito tempo. 

— Querida? – Perguntou apreensivo. 

Ela não o respondeu. Por vários segundos se manteve quieta enquanto os olhos passavam pelas letras impressas no papel branco. Lendo e relendo, até que ela soltou um gritinho e se jogou nos braços do Uchiha novamente. 

— Nós vamos ser pais! – Hinata disse, a voz embargada pelas lágrimas que começaram a escorrer pelo rosto bonito.  

A primeira reação do arquiteto foi o choque. Todas as possibilidades de doenças que passaram por sua mente no elevador voltaram e se misturaram numa confusão que demorou alguns segundos para que ele se livrasse.  

Depois ele afastou a esposa e pegou o papel das mãos dela. 

Beta HCG: 7.340 mIU/ml.  

Os olhos escuros se voltaram para os perolados em confusão. 

— Você está grávida. – Sasuke não sabia se aquilo era uma confirmação ou uma pergunta. Seu coração batia de forma tão acelerada que ele temia que fosse sair pela boca. Aquilo queria dizer que ela estava grávida certo? Nenhuma doença. 

Grávida. 

— Puta que pariu. – Ele disse sério, largando o papel e abraçando a esposa. Ele a ergueu até que ela enlaçasse as pernas torneadas em sua cintura e a prensou na parede mais próxima. — Eu amo você, Hinata.  

A risada melodiosa foi interrompida por um beijo apaixonado. 

Uchiha Sasuke viajara ao redor do mundo, vira mais belezas do que muitas pessoas poderiam sonhar em toda sua vida, experimentara sensações diferentes e excitantes. Mas nada se comparava ao que estava sentindo ali, nos braços da pessoa que amava profundamente e que acabava de lhe dar a maior dádiva de todas.  

Nada se comparava ao lar que encontrava em Uchiha Hinata.