O amor pela escuridão escrita por GPoison


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem como visão apresentar a personagem Alana.



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— A escuridão -

Bom, acho que será importante que me apresente antes de começar a contar toda a desgraça e tristeza do destino que caíram sobre.

Meu nome é Alana, morava com minha irmã Christine e minha mãe Amy em um vilarejo próximo a floresta. O vilarejo não era muito grande e as pessoas que moravam lá também não eram muito amigáveis conosco.  Mas nossa casa por mais que fosse pequena era tudo que precisávamos, pois tinha um ar totalmente aconchegante e um som familiar com seus pisos de madeira.

Minha infância até os 8 anos acabou sendo bem tranquila, às vezes ficava triste por não parecer com minha irmã, por mais que fossemos de pais diferentes e isso ser algo natural.

Christine parecia um anjo com sua pele pálida e seus cabelos tão dourados quanto o ouro e seus olhos verdes eram iguais aos de minha mãe.

Já eu... Não acabei puxando nenhum traço da minha mãe. Pois tinha os olhos escuros, tão escuros quanto à noite e os cabelos ruivos, que segundo minha mãe era igual aos do meu pai. 

Minha mãe somente comentou duas vezes sobre meu pai.  A primeira foi logo após o parto da minha irmã Christine, onde ela estava um pouco sensível por conta da dor que sentia que acabou resolvendo com muito álcool.

Neste dia minha mãe deixou que eu me deitasse junto a ela em sua cama. Nós estávamos no escuro olhando para o teto quando minha mãe apenas disse:

— Seu pai me prometeu... –ela deu um enorme suspiro e continuou-  Que tudo seria diferente, que eu seria a primeira bruxa a ter uma família completa sem a intromissão das outras bruxas em nossas vidas... Eu tola, bajulada por seus gracejos, acreditei! E agora estou aqui como outra filha de um estranho, onde apenas tenho filhas por obrigação junto ao clã.

Foi com essas palavras que minha mãe deixou toda a sua tristeza aparecer em seu rosto. Seus olhos verdes estavam tão vazios quanto sua alma. Até que ela continuou a falar.

—Você... Tem o sorriso e os cabelos iguais aos do seu pai. Seus olhos... eu pedi aos deuses que fossem iguais aos dele, para que tivesse uma forma de me lembrar dele enquanto ele viajava para encontrar o nosso lugar perfeito! Sem bruxas!

Sim realmente era algo absurdo, mas todas as bruxas do nosso clã, não tinham muito laços familiares por assim dizer, nós éramos ensinadas desde pequenas a ser independentes e com um pouco mais de idade aprendíamos a como seduzir os cavalheiros que iam até as tavernas para apenas darmos “continuidade” a nossa linhagem, apenas com as filhas mulheres. Os filhos homens eram abandonados em algum vilarejo mais longe.

Mas depois de toda essa declaração da minha mãe por mais que eu fosse uma criança pude sentir todo o repúdio e arrependimento dela por ter me dado a vida.

A segunda vez que minha mãe citou meu pai foi quando ela brigou comigo por algo que eu não tinha nenhuma culpa. Durante uma noite de inverno eu levantei de minha cama, porém não estava totalmente acordada, mas meu corpo começou a reagir as minhas emoções mesmo assim. Sai de minha casa e quando fiquei próxima a uma pilha de madeiras que estavam próximas a uma das casas do vilarejo, senti uma enorme tristeza e um medo como se aquela fosse a minha última noite viva e quando as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, o ar parecia ter sumido e chamas começaram a aparecer entre as madeiras até que elas ficassem totalmente tomadas pelo fogo.

Quando acordei, senti apenas as mãos de minha mãe apertando meus braços com toda força que ela podia.  Vários de meus vizinhos estavam gritando e o fogo estava imenso. Minha mãe olhou bem fundo nos meus olhos e me disse com todo o desdém que podia:

—Você acabou com tudo assim como o seu pai!- Suas palavras eram quase inaudíveis no meio daquela confusão- Vá embora eu vou consertar tudo.

Minha mãe me empurrou para que eu pudesse reagir e com isso sai correndo me afastando cada vez mais da multidão e do fogo. Quando olhei para trás pude ver minha mãe seus olhos estavam totalmente brancos seus cabelos balançavam conforme o vento ficava mais forte até que um estrondo bem forte ecoou por todo o lugar e eu pude sentir as gotas que caiam do céu conforme eu ia me afastando aos poucos das pessoas.

Assim que cheguei em casa e tranquei a porta, pude ver pela janela a chuva caindo e o fogo diminuindo aos poucos. Depois de um tempo os vizinhos entraram todos para suas casas e como minha mãe estava retornando para casa eu destranquei a porta e fiquei esperando que ela entrasse. Ela não o fez, assim que chegou em casa ficou  parada na  frente da porta por um tempo sem falar nada. Agoniada por toda situação, abri a porta e fiquei encarando-a  com lábios entreabertos sem conseguir pronunciar nenhuma palavra.

—Você nunca deveria ter nascido!- disse ela em um tom totalmente calmo – Você destrói tudo por onde passa assim como seu pai.

Após as palavras de minha mãe pude sentir um vazio enorme e também me senti sozinha, como se aquele fosse o dia mais solitário de minha vida, um dia que nunca deveria ter existido. Pois eu era apenas uma criança com dons que não compreendia e nem controlava para ter todo o desdém de uma mãe como peso em minhas costas.

A partir desse dia as coisas só pioraram. Comecei a ter visões das pessoas no passado, presente e futuro, mas como era uma criança quando as visões começaram não tinha qualquer controle sobre elas.

Em uma das noites de outono, não muito tempos depois do episódio anterior comecei a ter uma de minhas visões um pouco diferente do habitual onde ficava em transe por alguns minutos, acabei ficando nesse estado por dois dias.

Meu corpo flutuava como se eu estivesse deitada, meus olhos ficaram totalmente pretos abertos como se eu estivesse alerta com alguma coisa que estava para acontecer. Nessa visão eu pude ver uma mulher que eu não conhecia em um quarto que estava bem iluminado, ela era linda, parecia uma deusa com um ar sereno e com os cabelos negros. Mas pude perceber em minha visão que ela não estava bem por mais que estivesse com um ar completamente sereno e o rapaz que estava ao seu lado estava totalmente desolado reclamando em voz alta pelo o fato de ela estar morrendo aos poucos.

—Por que o pecado mortal foi amar como eu te amei?- disse o rapaz a moça de cabelos negros.

Ela não o respondeu apenas fez um sinal para que ele se aproximasse e ficasse junto a ela. Ele a abraçou com uma ternura, porém ela o atingiu nas costas com um punhal. O rapaz começou a agonizar sem entender o que estava ocorrendo.

Eu comecei a me contorcer, sentia meus músculos completamente retraídos, só queria que aquela visão acabasse.

Porém a última cena que pude ver foi o rapaz agonizando até a morte e depois a moça que estava tão serena tinha agora sangue escorrendo por sua boca e ela não se mexia mais, pois também havia morrido.

Quando voltei a minha consciência pude sentir meu corpo bater no chão. Minha mãe só balançava a cabeça enquanto gritava comigo repetidamente a mesma frase:

—Você nos condenou a morte!

Eu não conseguia entender o porquê de minha mãe repetir isso. Quando levantei do chão me dei conta que a nossa casa estava cercada por nossos vizinhos que gritavam que devíamos morrer.

—Você não vai morrer-disse minha mãe com os olhos completamente brancos como na noite do incêndio, enquanto segurava em meus braços - Você vai ser condenada a viver para sempre com seu fardo de desgraça que traz a todos que te cercam.

Antes que os vizinhos conseguissem entrar em casa minha mãe puxou minha irmã para perto de si e cortou o pescoço de dela onde o sangue começou escorrer por todo o seu vestido e depois fez o mesmo com sigo mesma. O chão da casa começou a ficar todo sujo com o sangue delas e tocar meus pés fiquei traumatizada com a cena que foi tão forte, pois minha irmã era tão pequena ainda e tão inocente e teve a vida tirada por minha mãe que estava totalmente vazia. Com todo o nervoso da situação eu acabei desmaiando e os vizinhos acabaram entrando na casa e me tirando dela após testemunharem o que havia acabado de acontecer.

Quando acordei comecei a chorar descontroladamente uma de minhas vizinhas passava as mãos em meus cabelos.

—Calma criança, tudo vai ficar bem!- disse ela com um sorriso tranquilo em seu rosto- Eu já conversei com os outros e você vai ficar comigo agora.

O rosto dessa mulher era familiar, pois já tinha visto conversando com minha mãe. Ela e minha mãe tinham mais ou menos a mesma idade, mas ela era diferente seus cabelos eram ruivos, ela era muito magra, mas ainda sim tinha um rosto angelical.

—Sei que você está confusa meu amor, mas eu vou ser como uma mãe para você agora!- Ela fez uma pequena pausa antes de descarregar todas as informações de apenas uma única vez- Comigo você vai aprender a controlar os seus poderes e entender o seu papel dentro de nosso clã. O que sua mãe não lhe ensinou muito bem, pois ela e o clã não se davam muito bem.

Eu não consegui responder nada, apenas tinha comigo a cena de minha mãe me amaldiçoando e morrendo logo após. Como eu queria que ela estivesse bem e fosse feliz como uma família, mesmo que fosse apenas eu, ela e minha irmã, mas tínhamos umas as outras. Não conseguia entender o que havia feito de tão ruim para minha mãe para que ela tivesse tanto ódio assim de mim. Será que tudo isso era por conta do meu pai?!

Nunca vou saber de verdade o que ela sentia, pois agora apenas havia restado a memória de um rosto que nunca havia sido feliz.

A mulher que havia me abrigado em sua casa se chamava Lilian, ela morava um pouco afastada da minha antiga casa.  Depois de alguns dias consegui falar um pouco com ela. Depois da morte de minha mãe e minha irmã apenas chovia e nesse clima triste e pesado me deparei com a Lilian que estava na cozinha fervendo água para fazer chá, ela estava de costas para mim, mas mesmo assim acabei questionando-a sobre o que ela quis dizer em relação ao clã.

—Lilian... Por que minha mãe não tinha uma relação boa com o clã? E por que você me abrigou em sua casa?

Ela apenas suspirou e não se virou para me encarar, e começou a falar:

—Sua mãe queria ter uma família feliz com um homem, que a abandonou sem dó alguma de uma mulher que carregava uma filha dele em sua barriga.

 Ela então se virou e caminhou em minha direção, me pegou pela mão e me conduziu para me sentar a mesa junto a ela. E então continuou falando:

—Querida, imagina como foi para o clã sabendo que todos são assim e nos abandonam e a coitada ficar nessa situação de angústia e tristeza por conta de um mortal. É por isso que apenas nos relacionamos com homens para dar continuidade ao clã.- Ela fez uma pausa sorridente como se fosse um dia tão feliz que podia ser visto em seu rosto- Como você é filha de uma bruxa do clã então você já sabe eu tinha essa obrigação para com sua mãe e quando estiver mais velha vou ensinar a você todos os truques para que isso nunca mais aconteça tudo bem?!

Eu apenas acenei com a cabeça, não sabia como interpretar tudo isso, pois qualquer coisa era melhor do que ficar sozinha naquele momento.


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