Insane escrita por 96l1n3


Capítulo 1
O início




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Eram apenas três da manhã, o céu já ia perdendo a luz das suas estrelas e a lua ia se escondendo timidamente por trás das nuvens proporcionando ao espectador a visão de uma imensidão negra. No centro, bem no coração da cidade, imperava o grande hospital que atendia toda a região e algumas cidades vizinhas. O prédio que abrigava dez andares estava em sua maioria imerso no silêncio, as madrugadas geralmente eram bem tranquilas no hospital geral de RedVille, portanto aquele dia não era uma exceção.

O único lugar com algum resquício de agitação era o térreo, onde hora ou outra alguém dava entrada com alguma dor, as estomacais eram as campeãs de ocorrência. Uma tela plana, que ficava bem no centro da recepção, era o único televisor ligado reproduzindo um dos jornais locais, ajudando a manter os funcionários plantonistas bem acordados, enquanto isto no restante dos andares os pacientes dormiam e o ressonar podiam ser ouvidos por todas as partes.

Mas, assim como a ventania que anuncia uma tempestade a porta principal  aberta com um solavanco e uma maca desliza para dentro, dois enfermeiros mais próximos correram para prestar atendimento ao que chegava, enquanto rastros de sangue iam maculando o piso branco da recepção à medida que a maca se movia, o rapaz que se encontrava deitado gritava loucamente como se sua vida dependesse daquilo

— O que houve? – A doutora de plantão correu até próximo do homem enquanto amarrava o cabelo que havia se assanhado enquanto tirava um breve cochilo minutos antes.

— Pelo que entendemos foi uma tentativa de suicídio. – O enfermeiro limpou com a costa da mão as gotículas de suor que brotava em sua testa. – A enfermeira Solar fez uma ligação para o hospital durante o caminho e pelas informações recebidas tudo indica que ele tem problemas psicológicos.

— E por que o trouxeram para cá? – Acompanhava a marca que se movia em direção a ala de emergência.

— O sanatório não recebe pacientes neste horário.

— Então ele terá que ficar aqui. – Constatou para si enquanto procurava uma veia no braço do garoto e logo colocava a agulha para transportar o soro para seu corpo.

...

— Boa noite, Delegado Kim NamJoon. – Um homem alto e pardo, com seus cabelos negros em um corte bem curto, falou da porta da sala, na sua mão um objeto dourado brilhava dando autenticidade ao seu cargo, era seu distintivo.

A médica virou-se confusa, não entendia o motivo da polícia se encontrar ali naquele horário e procurando os enfermeiros com o olhar os questionou, sem pronunciar nenhuma palavra, em busca de uma resposta.

— Eu os chamei. – Um deles se pronunciou. – Na verdade, foi um outro homem que havia ligado para a polícia antes de chegarmos e depois do que ouvimos na ambulância resolvi não cancelar o chamado.

A mulher balançou a cabeça em desaprovação, todos que faziam parte do corpo hospitalar sabia, que em caso de pessoas com equilíbrio mental questionável, só deveriam chamar a polícia após um diagnóstico.

— Doutora Hani. – Nem se deu ao trabalho de estender a mão em cumprimento e já foi logo caminhando na direção que o homem estava e o guiou até sua sala particular, não esquecendo de chamar também o enfermeiro para que pudesse relatar o que havia acontecido. Caminhou pesadamente pela sala e tomou o lugar atrás da grande mesa jogando–se sobre o acolchoado e indicou as cadeiras a sua frente para que pudessem sentar.

— Diga logo o que tanto te assustou. – Apoiou o pescoço e gesticulou com as mãos dando a entender que ele deveria falar tudo de uma vez e pudessem ficar livres daquilo. Estava exausta com o peso de um plantão de 48 Horas pousando em seus ombros.

— É que... – Ele gaguejava já temeroso. – Talvez eu tenha feito uma tempestade em um copo d'água, mas no momento fiquei tão confuso que não conseguia pensar direito. Quando chegamos havia outro homem, dizendo ele que viu o garoto se cortando e foi tentar ajudá–lo e o menino acabou atacando-o, tanto que foi ele que ligou para o 911. – Apontou com a cabeça para o policial ali sentado e ele acenou em resposta para que continuasse com a narração e chegasse ao ponto principal.

— Por sorte o ferimento não foi muito grave, fizemos a limpeza ali mesmo na ambulância e ele nem quis vir para o hospital. Já no caminho o garoto começou a falar sobre ter assassinado alguém, algo do tipo. – As palavras se embaralhavam aos sair de seus lábios. – E esse era o motivo dele tentar tirar a própria vida. Pensei que era apenas bobeira, mas depois de ver que ele atacou o homem sem nenhum motivo aparente me fez repensar que talvez não seja apenas uma bobagem.

— Obrigado enfermeiro... – O oficial apertou os olhos buscando no jaleco do homem por seu nome.

— Joe. – Respondeu prontamente.

— Certo, enfermeiro Joe. Você fez o correto em convocar a polícia.

— Bem... – A doutora chama a atenção. – No momento, como você pôde perceber, o paciente encontra–se inconsciente. Portanto, creio que não conseguirá nada por agora. – Hani levanta–se dando a entender que o delegado deveria se retirar.

— Obrigado pela hospitalidade, eu voltarei em breve. – Sorriu de canto. – Ah... não precisa se incomodar em mostrar a saída, eu sei chegar até ela.

═════════ ❃ ═════════ 

Passava das dez da manhã e o garoto ainda dormia, mas desta vez em um quarto particular patrocinado pela família. Ao lado de sua cama havia algumas flores e balões coloridos, acompanhados de um cartão escrito à mão pela própria mãe, que não pôde lhe visitar, pois estava em uma viagem de trabalho. O quarto, localizado no sexto andar, assim como esperado era completamente branco e dispunha de uma TV em um tamanho generoso, banheiro privado e uma grande janela que tinha uma vista privilegiada do estacionamento do hospital.

O local teve sua tranquilidade levemente abalada quando um homem abriu a porta e adentrou o quarto.

— Este é o paciente. – Hani, a doutora que o estava acompanhando desde que chegara, tomou a frente adentrando o espaço e caminhou até a janela e abrindo as cortinas, fazendo com que o sol adentrasse no ambiente e jogasse luz sobre os cabelos claros do garoto deitado na cama

Após o homem, o delegado entrou sentando-se em uma poltrona que havia sido mandada para o quarto.

— Wow, pelo visto o rapaz é um figurão. – Assoviou circulando o olhar pelo local.

— Sinto informar, mas sua presença aqui é desnecessária. – Tentou não ser rude mas, odiava a presença da polícia dentro do hospital investigando algum paciente.

Ela não tinha nada contra os policiais, na verdade eles lhe transmitiam segurança, só não gostava da presença deles dentro dos corredores, próximos ou de olho em algum paciente, pois isso perturbava a tranquilidade deixando os pacientes internos agitados e em especial não gostava da arrogância que transmitia esse tal delgado, queria-o o mais longe possível.

— Me desculpe, doutora. Mas houve um chamado e eu só estou fazendo o meu papel.

— E eu fico muito agradecida por isso. – Suspirou deixando seu tom sair mais gentil. – Já foi buscado a ficha médica dele e já se sabe que ele fazia uso de medicação controlada para depressão

O menino nem se move em seu sono profundo, enquanto isso a terceira pessoa, o médico psiquiatra Jung HoSeok, observava atentamente tudo ao seu redor meio alheio a tensão que se formava entre as duas pessoas a sua frente.

— A família exigiu que ele ficasse internado por mais algum tempo, pois eles não estão na cidade e temem que algo possa acontecer caso ele seja liberado.

— Ele vai ter que ir para o sanatório. – Constatou o óbvio.

— Os pais sabem que o filho tem problemas e o deixa assim sozinho? – O oficial cruzou as pernas revirando os olhos.

O médico nem sequer responder à pergunta, sua atenção foi levada do paciente para a porta fechada.

— Segundo os pais, eles estava bem melhor fazendo grandes avanços, portanto ele tinha acesso a tal liberdade.

— Creio que não teremos mais nenhum trabalho relacionado a esse rapaz então. – Ele insistiu com um suspiro um tanto aliviado.

— Você não vai investigar a denúncia? – O tom da médica saiu mais estupefato do que ela planejava.

— Creio que não será necessário. Tudo indica que o cara apenas é um maluco e o que ele falou provavelmente não tem importância, pois devia estar sobre efeito de remédios ou alguma droga. – Deu de ombros. – Vocês ao menos investigaram para ver se ele não estava drogado?

—NamJoon! – HoSeok o repreendeu.

— O que é? – Um bico se formou em seus lábios na expressão mais inocente que conseguia fazer, mas logo se arrependeu do comentário ao ver a expressão consternado do companheiro.

— Não fale dessa forma.

— Acho que ao menos uma pequena investigação deve ser feita, ele pode muito bem pode ser um sociopata ou até mesmo um psicopata! – A médica tentava controlar seu tom para não soar tão alarmada, já tinha visto vários casos onde não deram a devida atenção pois o suspeito sofria de algum distúrbio e no fim os resultados foram trágicos. – Acho muito interesse ver o interesse que a policia local têm em fazer investigações.

— Você por acaso já parou para pensar que temos coisas mais importantes para fazer? Ameaças REAIS para investigar? – Olhou-a com um riso cínico estampado em sua face.

A médica tentou controlar a respiração na tentativa de manter todas as palavras que jorravam em sua mente trancafiadas apenas ali, conseguiu apenas sorrir contragosto ao lembrar que pensou que policiais lhe transmitiam segurança. Suspirou, e foi neste momento que a voz do médico foi ouvida vindo bem a calhar.

— Eu tratarei de fazer alguns exames e análises dos relatórios médicos antes de diagnosticá-lo, mas não se preocupe, tudo será feito corretamente. – O homem apoiou–se no parapeito da janela mantendo–se virado para dentro do quarto.

— Ainda assim, acho que a denúncia não deve ser descartada.

— Joon? – Seok se virou para o homem com uma sobrancelha arqueada.

— Certo, doutora. Eu mesmo acompanharei esse caso, estarei em contato direto com o doutor HoSeok e veremos o que aconteceu de fato. Satisfeita?

A mulher não emitiu nenhum som, apenas revirou os olhos odiando ter uma atitude tão infantil.

O doutor alheio aos dois a sua frente sentiu um arrepio percorrer seu corpo, as cores iam escurecendo, sua cabeça deu leves giros em uma pequena vertigem, a sua frente uma figura apareceu praticamente do nada. Um segundo atrás não estava ali, agora estava. Tentou controlar a respiração, aquela não era a primeira vez, ainda assim não tinha aprendido como controlar todas aquelas sensações.

Agora, o homem com vestes negras e uma mancha rocha que cobria–lhe o olho esquerdo sentava na beirada da cama do garoto lhe oferecendo um sorriso.

— Será que você conseguirá? – Seu era zombeteiro e continha um desafio escondido ali.

HoSeok deu como resposta um fechar de olhos esperando que mais ninguém ao seu redor percebesse o que ali se passava com ele, logo seu nome foi chamado e ao abrir os olhos percebeu que o quarto estava normal novamente e que dentro dele estava apenas pessoas reais.

Doutora Hani o encarou com uma das sobrancelhas arqueadas esperando a resposta para algo que ele não ouvira.

— Por mim tudo bem. – Inspirou pesado e caminhou até a cama do garoto.

Para sua surpresa o rapaz encontrava-se com os olhos abertos e fixos no teto.

— Desde quando está acordado? – HoSeok perguntou.

— Tem algum tempo já. – Sua voz saiu rouca devido à falta de uso.

— E porque não falou nada? – A doutora se apressou em fazer anotações na prancheta que se encontrava aos pés da cama e verificar os remédios, sobre o a mesa ao lado da cama, que ele deveria tomar.

— Estava esperando que parassem de brincar de Deus, decidido o que fariam com minha vida.

A mulher paralisou por frações de segundos os seus movimentos, mas logo se recompôs para que ninguém percebesse.

— Acho que ele deve ter cortado o braço com a língua, por que ela é mais afiada do que uma faca.

Ambos os médicos nada disseram sobre a fala do oficial para não alterar os ânimos no ambiente.

— Em breve te levaremos para o sanatório. – O doutor apenas reforçou o que ele já sabia por ter ouvido antes a conversa que passava no ambiente. – Provavelmente seus pais lhe mandarão suas roupas e itens pessoais.

Ele sorriu de canto ao ouvir o nome dos seus pais e automaticamente sua cabeça balançou com desdém, logo a virou de lado tentando se concentrar em algo e foi aí que ele a viu em sua janela prendendo totalmente sua atenção. O céu azul acomodava poucas nuvens e ali próximo ao vidro sobrevoavam livres e alegres sem ninguém para impedi-las de fazerem o que quisessem. E ele deveria estar com elas e não preso naquela cama, mas infelizmente ele havia falhado e a única coisa que lhe restava era ficar ali admirando seus amigos que chamava por seu nome, quatro lindas borboletas coloridas, era isso que eles eram agora.


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